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2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A MATERNIDADE NO CONTEXTO DA

5.3 Exibição do vídeo

O contato com as pacientes foi um momento de intensas surpresas e emoções. Ouvir seus relatos, aproximar-se da realidade vivida por essas mulheres foi chocante no que diz respeito aos inúmeros problemas por que passam. Muitas não têm o apoio da família e de amigos, por não terem confiança em contar sobre a sua soropositividade. Assim, observa-se que essas mulheres vivem só, em um universo que passa a ser somente delas. Para nele adentrar, é preciso cautela, demonstrar confiança e cumplicidade.

Em seus rostos, era demonstrada pouca alegria da maternidade. O que expressavam eram sentimentos de tristeza, angústia, medo, sofrimento, que se contradiziam com o ser mãe. Isso podia ser constatado quando comparadas a outras gestantes que não eram portadoras do vírus HIV e que ali estavam, no mesmo ambiente, para serem atendidas por outros motivos.

O contato com as participantes do grupo de intervenção iniciava-se por uma conversa informal. Nela, explicava-se o vídeo, o que era apego, a importância deste para o desenvolvimento da criança e a relevância da pesquisa. Seus semblantes pouco mudavam. Quando o vídeo iniciava, suas fisionomias ficavam diferentes. Era como se essas mulheres esquecessem a doença e passassem a

viver o universo da maternidade. Algumas choravam, outras ficavam atentas, sem falar, e outras, no decorrer das cenas, interagiam, perguntando e tirando dúvidas.

As dúvidas mais freqüentes estavam relacionadas à contaminação dos seus filhos, à oferta do xarope, ao enfaixamento das mamas e ao que fazer para esconder da família e dos vizinhos o porquê de não amamentar. Sobre o apego com seus filhos, este foi pouco questionado.

Cada dúvida era explicada. Percebia-se que as gestantes contentavam-se com a explicação, sentindo-se mais aliviadas após o esclarecimento.

Durante a execução do vídeo, as participantes identificavam-se com a protagonista (puérpera soropositiva para o HIV) e com a criança, comparando, muitas vezes, com seu filho que ainda viria. Na fala da entrevistada 1, ocorreu a identificação com a protagonista do vídeo:

Ela (puérpera) está tão feliz... é preciso ficar com as mamas enfaixadas? Quantos meses tem a criança? (ENTREVISTADA 1)

As indagações feitas foram inerentes ao sentimento que a mãe (personagem) transmitia e que, naquele momento, era contraditório com o sentimento da entrevistada. A personagem transmitia alegria e entusiasmo ao estar com o filho, enquanto a paciente, até aquele momento, permanecia com o semblante triste e preocupado. Após alguns minutos de início do vídeo, a fisionomia da paciente passara a ser de surpresa e, ao mesmo tempo, de esperança, de também poder vivenciar aquele momento de intimidade com o seu filho, independentemente da sua condição soropositiva para o HIV.

Para algumas gestantes, as dúvidas mais presentes estavam relacionadas à criança, principalmente quanto à sua soropositividade. Foi o que foi indagado pela entrevistada 6.

Ele (bebê) tem o vírus? (ENTREVISTADA 6)

Por mais que estivessem vivenciando o problema da contaminação do vírus HIV, pelo dilema de contar ou não para a família, as mulheres demonstravam querer ter seus filhos e, apesar de tudo, ter saúde para viver e cuidar bem dele.

Eu sei que ele (bebê) não tem culpa de nada. Não adianta me descabelar, agora o que eu quero pensar é na saúde dele e na minha, pois eu não sei o

que vem pela frente. Assim, quero fazer tudo que a doutora mandar.

(ENTREVISTADA 4)

O futuro, para algumas, foi designado como incerto, estando relacionado ao provável desenvolvimento da aids. Isso as deixava profundamente angustiada ao pensar na possibilidade de morrer e deixar seus filhos pequenos. Logo, a entrevistada 4 destacou essa possibilidade, enfatizando a importância de se cuidar. Nesse momento. ela estava se referindo ao uso do AZT durante a gravidez, à mudança de hábitos, à oferta do AZT xarope para o bebê e a outros cuidados importantes.

Contradizendo-se com a fala da entrevistada 4, a entrevistada 16 era uma paciente que vivenciava situações adversas. Soropositiva havia sete anos, mãe de duas crianças também soropositivas e grávida do terceiro filho, não aderiu ao tratamento. Usuária de drogas, vivia com um parceiro que, segundo ela, não sabia da sua soropositividade. No cartão do pré-natal, estavam registradas apenas duas consultas.

Já sou condenada mesmo...não acredito que esses remédios dê jeito. Eu fico é mal quando tomo eles, prefiro não tomar e ficar bem. Também não dei para nenhum dos meus filhos. De mamar eu não dei não, também me deram um remédio para secar o leite. (ENTREVISTADA 16).

O vídeo foi destacado como sendo muito importante para algumas entrevistadas. Algumas referiram sentir-se bem, felizes e com esperança. Queriam que algumas cenas fossem repetidas, como a cena que aborda a técnica da massagem. Reconheceram a importância do apego para a formação do vínculo.

Esse vídeo é muito importante. Eu nem sabia que o bebê já nasce ouvindo e vendo. E a massagem é muito legal porque acalma e ele fica perto da gente.

(ENTREVISTADA 14).

Ser mãe é legal, curti muito minhas outras barrigas e essa não vai ser diferente. Quando ele nascer, ele vai ser igual aos outros dois (filhos), tenho certeza. Vou cantar pra ele dormir; vou contar histórias... não sabia é que eu já posso começar ele aqui na minha barriga. (ENTREVISTADA 5).

Acho que vou ser a mãe mais besta. Não vejo a hora dela (bebê) nascer vou fazer massagem, conversar com ela, pois nessa vida ela só tem a mim e eu a ela. (ENTREVISTADA 13).

Nos depoimentos acima, as mães relataram atitudes de apego a seus filhos. Demonstraram ter entendido o vídeo, dando-lhe importância. Isso ressalta a relevância do meio audiovisual para uma melhor compreensão do conteúdo

transmitido. Foi algo diferente na vida dessas mulheres. Entraram em contato com um universo que não conheciam, como é o caso das entrevistadas 13 e 14, mães pela primeira vez. Para essas mulheres, o vídeo pode transmitir um pedacinho da realidade que iriam vivenciar após o nascimento dos seus filhos.

Após assistirem ao vídeo, as gestantes do Grupo de Intervenção sentiam- se mais confortáveis, demonstravam alívio por identificarem uma relação amorosa e de felicidade expressa nos atores que contracenaram nas cenas.

O apego foi destacado em todas as cenas do vídeo, mostrando as diversas atitudes que podem promover esse ato de amor: ensinava técnicas de massagem, ressaltando a importância do toque; o falar; o cantar; o contar historinhas para a criança; e o envolvimento que a mãe (protagonista) tinha com o seu bebê na hora de alimentá-lo, independentemente da amamentação, uma vez que esta é contra-indicada para a mãe soropositiva para o HIV.

Foram essas cenas que levaram às mães do Grupo de Intervenção a assumirem uma postura diferenciada das mães do Grupo Controle, constatada nas atitudes de ambos os grupos após o parto, na segunda etapa da coleta de dados.

5.4 Filmagem da díade e avaliação quantitativa e qualitativa da interação mãe e

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