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2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A MATERNIDADE NO CONTEXTO DA

3.2 Sentimentos, interações entre mãe soropositiva e seu bebê

A partir da Teoria do Apego, observa-se a importância da responsividade materna para que se mantenha uma boa relação mãe-bebê.

Em situações em que existe separação do binômio, por exemplo, o nascimento de bebês prematuros ou em outras semelhantes, o apego torna-se prejudicado. Nesse contexto, a mãe soropositiva para o HIV e seu bebê exposto ao vírus vivenciam experiências de separação, as quais poderão vir a prejudicar a relação de apego entre ambos.

De acordo com o Ministério da Saúde (2007), alguns critérios são preconizados para que a taxa de transmissão vertical seja reduzida. Logo após o parto, o recém-nascido (RN) é separado de sua mãe para que alguns cuidados possam ser realizados. Este deverá receber alguns cuidados diferenciados, tais como o clampeamento imediato do cordão umbilical; a lavagem da pele com água e sabão; a aspiração das vias aéreas, delicadamente; o uso do xarope de AZT nas primeiras horas após o parto, somando-se, ainda, a oferta de leite artificial, pelo fato de a mãe soropositiva para o HIV não poder amamentar.

Podem-se, então, observar as diferenças significativas existentes. Primeiramente, a separação brusca que ocorre entre o binômio, pois a criança é retirada da sua mãe para que os primeiros cuidados possam ser realizados, significando o oposto do que é preconizado para o parto humanizado. Além disso,

há os demais procedimentos já citados que concorrem para a separação entre mãe e bebê, o que remete à idéia de obstáculo ao apego.

A amamentação, notadamente, é um momento importante na relação afetiva entre a mãe e a sua criança para se cultivar a intimidade, o carinho, a segurança do bebê e o apego entre ambos. A mulher soropositiva para o HIV impedida de amamentar deve receber ajuda dos profissionais para ser estimulada a manter o carinho e o apego ao seu filho, independentemente de amamentar.

No Brasil, o aleitamento materno é incentivado, principalmente por meio de campanhas, na mídia e entre os profissionais que trabalham com a clientela específica. Cabe aos enfermeiros identificar outras atividades em que a mãe soropositiva para o HIV possa estabelecer uma situação favorável de apego com seu filho. Destacam-se as atividades da alimentação, do banho, da troca de roupas, enfim, momentos importantes, em que a mãe poderá apegar-se ao seu filho.

Ainda no tocante a tal problemática, outro aspecto relevante são as variedades de sentimentos que permeiam o imaginário da mãe soropositiva para o HIV. São sentimentos de culpa por ter ficado grávida; medo de ter infectado seu bebê e tristeza de sentir-se diferente das outras mães, achando, muitas vezes, que o fato de não amamentar implica distância e diferença entre ela e seu filho.

No estudo de Vinhas et al. (2004), é destacado que a maioria das participantes (puérperas soropositivas para o HIV) tiveram suas gestações não planejadas.

Para Bowlby (1986), um bebê planejado já começa a existir mesmo antes de sua concepção. Será bem-vindo, amado incondicionalmente e esperado. Um bebê não planejado vai demorar a ser aceito. Esse amor deverá ser construído dia a dia, mediante situações geradoras de apego.

A sensibilidade da mãe frente aos sinais do bebê e a capacidade de o bebê sentir que suas iniciativas sociais levam à troca afetiva com a sua mãe são algumas situações geradoras de apego.

Maia (2000) relata atitudes geradoras de apego que podem ser estimuladas: reações de valorização da mãe em resposta às necessidades do bebê; o aconchego; o reconhecimento do corpo do bebê; a consolação imediata do bebê e outros.

A mesma autora diz que o apego é gerado a partir de um processo bidirecional, orientado entre laços afetivos mãe-bebê.

Bowlby (1986) refere que um vínculo bem formado vai proporcionar à criança segurança e bem-estar. Por isso, esse laço afetivo tem que ser estável e harmônico, sem ameaças questionadas. Assim, a soropositividade para o HIV, durante a gestação, torna-se um exemplo de ameaça ao apego entre mãe e bebê.

O evento do nascimento de uma criança exposta ao vírus do HIV, por si só, pode ser vivenciado pela mãe como uma crise. Acrescentam-se, ainda, os sentimentos já relatados que permeiam o cotidiano dessa mãe, além das cobranças dos amigos, familiares e outras pessoas quanto ao fato de não poder amamentar e outros questionamentos resultantes de tal situação.

É necessária uma abordagem multidisciplinar, que possa auxiliar essa mulher, ainda na gravidez, a enfrentar tais situações desencadeadas pela soropositividade. O apoio mediante abordagem em grupo ou individual pode ser uma estratégia utilizada para auxiliar a nova mãe a conviver com tais problemas. Isso amenizará o conflito existente por esta ser soropositiva e estar com um filho que poderá ou não ser portador do vírus HIV – situação que acarreta sentimentos de culpa, tristeza e depressão.

Ao amenizar tal conflito, buscar-se-á proporcionar um novo olhar da mãe para com o bebê, fortalecendo laços afetivos entre ambos, possibilitando um apego eficaz, que será essencial para a formação do vínculo entre a díade.

Vinhas et al. (2004) descreveram que, inicialmente, algumas mães reagem negativamente ao tomarem conhecimento da infecção. Algumas de suas participantes relataram ficar deprimidas pela ausência de cura e diante da consciência de que o vírus tomou de conta do seu corpo e, provavelmente, do seu bebê. Algumas das participantes relataram o desejo que tiveram de abortar; no entanto, não o fizeram por que existe a idéia de que ter contraído aids já foi um castigo do pecado acometido, da conduta sexual anormal, e que praticar o aborto só iria aumentar suas dívidas com Deus.

O amor e a rejeição, seja qual for a situação, repercutem, precocemente, sobre a criança. Assim, até os três primeiros meses de vida intra-uterina, as mensagens enviadas pela mãe são incompreendidas pelo embrião, muito embora

possam causar-lhe desconforto se percebidas como desagradáveis (PAPALIA; OLDS, 2000).

A ansiedade materna é maléfica ao feto, pois perturba o ambiente uterino, perturbando também o bebê. Para se livrar desse desconforto, o bebê começa a elaborar, progressivamente, técnicas de defesa como dar pontapés, mexer-se mais ativamente. Essas técnicas funcionam para a sensibilidade materna como um envio de mensagem de que está sendo perturbado. Assim, se houver sintonia materno- fetal, imediatamente a futura mãe capta essa mensagem e começa a passar a mão delicadamente em seu ventre, o que é percebido e codificado pelo feto como atitude de compreensão, carinho e proteção, portanto, uma atitude tranqüilizadora (SOUZA, 2005).

Um bebê precisa de cuidados para sobreviver adequadamente. Esses cuidados não se restringem apenas à alimentação e à higiene, mas também a um suporte emocional adequado, extremamente importante para o desenvolvimento dessa criança para a vida em sociedade.

Lopes (2007) relata que muito do que um bebê precisa para desenvolver habilidades sociais que lhe permitam interações sociais adequadas em momentos posteriores de seu desenvolvimento e na sua vida adulta depende, em grande parte, de como se estabelece a sua primeira interação com um adulto, ou seja, a interação com a sua mãe.

O bebê tende a preferir a figura materna. Essa preferência persiste mesmo na ocorrência de uma separação, o que denota a capacidade precoce de reconhecimento da criança, afirmando a importância do apego entre a díade mãe- filho.

Para Bowlby (1986), o apego entre mãe-bebê é uma característica universal humana. A sua expressão tem uma base biológica, porém as nuances da relação são moldadas pela natureza da relação genitor-criança. Isso significa que a interação entre a díade dependerá de características exclusivas de cada componente.

Assim, existe a necessidade de um apoio profissional específico ofertado a esse binômio em especial. É necessário estimular a formação do apego. Este será fortalecido por atitudes simples, como o tom de voz materno, o olhar, o contato físico e outras atitudes que servirão para intensificar o afeto entre ambos.

Bowlby (1995) afirma ser essencial para a vida do bebê a vivência de uma relação calorosa, íntima e contínua com sua mãe. Relata sobre a sensibilidade dos bebês e sua atenção frente à voz da mãe, gestos, expressões e a forma como são manipulados. Exemplifica que, ao segurar o bebê no colo, a mãe transmite experiências emocionais, podendo o bebê chorar e ficar ansioso caso a mãe esteja ansiosa.

Lopes et al. (2007) destacam aspectos importantes que determinam o apego materno e o apego da criança. Para a mãe, destacam-se: 1) genótipo para uma personalidade segura e sensível; 2) um ambiente de desenvolvimento que inclua um apego seguro para se tornar uma mãe adequada; 3) uma gravidez e um pós-parto sem estresse; 4) um apoio social de modo que a mãe torne-se fortemente atraída para o seu bebê. Para a criança, os autores destacam padrões de apego, baseados nas características das respostas do bebê: 1) seguramente apegados à mãe; 2) ansiosamente apegados à mãe e esquivos; 3) ansiosamente apegados à mãe e resistentes. Esses comportamentos foram relatados de acordo com o estresse diante da localização e acessibilidade da figura de apego.

Relacionadas às características do apego materno, são observadas facetas importantes que podem estar alteradas na mãe soropositiva para o HIV. Podem-se citar a falta do ambiente seguro devido ao preconceito das pessoas; a gravidez e o pós-parto sob estresse desde a revelação do diagnóstico até a confirmação da sorologia dos seus bebês; a culpa e o medo de morrerem e deixarem seus filhos; e a falta de apoio social, pois a família e os amigos, por não entenderem tal situação, acabam afastando-se da mãe, deixando a puérpera desprovida de apoio e cuidados essenciais nesse momento.

Por isso, cabe aos profissionais de saúde reconhecer esses pontos que dificultam a relação de apego entre mãe soropositiva e seu filho exposto ao vírus e estimular, precocemente, o apego entre o binômio mãe-filho, prevenindo conseqüências em fases posteriores do desenvolvimento.

3.3 Vídeo educativo: recurso para a assistência de enfermagem às puérperas

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