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Exigências funcionais das argamassas de revestimento

Simbologia Alfabeto Latino

2. Argamassas de revestimento

2.4. Exigências funcionais das argamassas de revestimento

Os revestimentos exteriores de paredes obtidos a partir de argamassas, para desempenharem adequadamente as funções que lhe são exigidas, devem satisfazer determinadas regras de qualidade, de que se destacam as relacionadas com os seguintes aspetos: trabalhabilidade, resistência à fissuração, capacidade de impermeabilização em zona não-fissurada, permeabilidade ao vapor de água, aderência ao suporte, resistência aos choques, aspeto estético e durabilidade.

2.4.1. Trabalhabilidade

O comportamento do reboco passa em grande parte por uma boa trabalhabilidade das argamassas. Uma argamassa com boa trabalhabilidade possibilita uma fácil aplicação em alvenarias, proporcionando boa aderência ao suporte, compacidade e um elevado rendimento. Se por um lado esta característica auxilia fortemente a sua aplicação e aspeto estético, por outro, condiciona fortemente o desempenho da argamassa no estado endurecido [37].

A trabalhabilidade pode ser então traduzida pela combinação das características das argamassas relacionadas com a coesão, consistência, plasticidade, viscosidade, adesividade e massa específica [57]. A plasticidade e trabalhabilidade são duas propriedades conjugadas e concordantes. Em argamassas, a plasticidade é definida como a característica que as torna deslizantes e de fácil espalhamento, sem separação da água ou segregação do material sólido da mistura, permitindo assim obter uma argamassa com adequados desempenhos [32].

O aumento do teor de finos, do aglomerante ou da quantidade de água de amassadura são fatores cruciais para melhorar a trabalhabilidade, mas o seu efeito poderá ser extremamente gravoso nas propriedades da argamassa no estado endurecido, nomeadamente nos fenómenos de retração. A obtenção desta propriedade poderá no entanto ser conseguida através da mistura de cal ou da incorporação de adjuvantes adequados [66, 37].

2.4.2. Resistência à fissuração

Segundo Veiga [66], a resistência de um reboco à fissuração é função da capacidade da argamassa para resistir às tensões de tração nela induzidas pelo efeito de restrição da retração, conferida principalmente, pela aderência a um suporte relativamente rígido, e pela intensidade dessas tensões.

Os revestimentos de argamassas devem ser capazes de absorver as deformações intrínsecas (retrações e expansões térmicas higroscópicas) e as deformações da base de pequena amplitude, sem apresentar fissuração visível e sem desagregar [57]. Os principais fatores que influenciam a resistência à fissuração são: a retração, o módulo de elasticidade, a aderência e a retenção de água.

21 A fissuração afeta de forma clara a capacidade de impermeabilização e a aparência de um edifício. Ao facilitar a infiltração de água e a fixação de micro-organismos, compromete gravemente a durabilidade do revestimento e da própria parede, assim como o comportamento das argamassas[67]. Outros fatores para além daqueles estritamente ligados às argamassas, tais como o modo e as condições de aplicação, as características do suporte, a cor e o grau de exposição aos agentes atmosféricos, poderão também ser responsáveis pela ocorrência ou não de fissuração em rebocos [66].

O comportamento do reboco é assim função das tensões induzidas pela retração e da capacidade de deformação do material para dissipar as forças de tração geradas. A situação ideal para o controlo da fissuração em rebocos tradicionais seria assim composta por uma retração reduzida, baixo módulo de elasticidade e uma boa aderência, para além de um elevado poder de retenção de água [66].

2.4.3. Capacidade de impermeabilização em zona não-fissurada

As argamassas são de um modo geral, materiais com porosidade aberta, onde a água pode entrar por permeabilidade ou capilaridade, dependendo da pressão da água e da dimensão dos poros e capilares. A capacidade de impermeabilização de uma argamassa encontra-se assim associada à capacidade de resistir à penetração até ao suporte de água proveniente do exterior e à capacidade de eliminar de forma rápida a água em excesso por secagem. Aparentemente, uma boa permeabilidade à água, um baixo coeficiente de capilaridade e uma elevada permeabilidade ao vapor de água, seriam à partida condições favoráveis para que existisse uma eficaz capacidade de impermeabilização em zona não-fissurada [66].

2.4.4. Permeabilidade ao vapor de água

A água infiltrada através das mais diversas saliências e fissuras das argamassas ou dos mais diversos pormenores construtivos, assim como a água em excesso que não é necessária ao processo de hidratação, logo que possível, deve ser capaz de se evaporar de forma a não prejudicar o desempenho da argamassa [66]. Uma elevada permeabilidade ao vapor de água é assim de elevada importância para que não haja condensações no interior das alvenarias, sendo tanto mais importante quanto mais permeável á água for o revestimento [37].

Uma boa permeabilidade ao vapor de água pode ser conseguida através do isolamento térmico dos edifícios, da correção das pontes térmicas, do aquecimento interior nos meses frios e de uma adequada ventilação, dos locais mais propícios a humidades e condensações. Uma habitação, com uma envolvente exterior permeável ao vapor de água, constitui inequivocamente um fator significativo para o conforto higrométrico [66].

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2.4.5. Aderência ao suporte

Para um adequado desempenho dos revestimentos de argamassas é também fundamental uma boa aderência ao suporte. Define-se aderência como a propriedade que possibilita à camada de revestimento resistir às tensões normais e tangenciais atuantes na interface base-revestimento [57]. Uma boa aderência, para além de influenciar de forma significativa a resistência à fissuração, na medida em condiciona fortemente a distribuição de tensões geradas, é ainda fundamental para o cumprimento das funções de impermeabilização e durabilidade do revestimento [66].

Segundo Martins [37], para se obter uma boa aderência dos revestimentos é necessário que a superfície do suporte apresente rugosidade (textura) e uma absorção adequada. Os suportes com coeficiente de absorção baixos ou muito elevados são indesejáveis sob o ponto de vista da aderência dos revestimentos. Segundo este autor, no primeiro caso, a aderência do revestimento é prejudicada pelo facto do suporte não ter capacidade de absorver a água e os finos que esta arrasta consigo, originando uma estrutura porosa na interface. Relativamente aos suportes que absorvem demais, estes prejudicam a aderência dos revestimentos pelo facto de originarem uma zona de reboco adjacente ao suporte, friável e sem coesão, resultante da dessecação da película da argamassa de revestimento.

No caso dos revestimentos não tradicionais é ainda possível agir sobre a aderência sem prejudicar as restantes características, através da introdução de adjuvantes capazes de melhorar as condições de retenção de água, plasticidade e adesividade das argamassas [66].

O ensaio de aderência é realizado através do ensaio de arrancamento, “pull-off”, Figura 2.7, em argamassas. Neste ensaio podem ocorrer diferentes tipos de rotura, pelo que se enumera em seguida os tipos de rotura passiveis de serem obtidos, Figuras 2.8, 2.9, 2.10 e 2.11:

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Figura 2.8. Rotura pela argamassa de

revestimento [58]

Figura 2.9. Rotura pelo substrato [58]

Figura 2.10. Rotura na interface do

revestimento com a cola [58]

Figura 2.11. Rotura na interface da cola com

o disco [58]

2.4.6. Resistência aos choques

Espera-se que os revestimentos à base de aglomerantes minerais assegurem as resistências necessárias, especialmente se forem aplicadas em suportes tradicionais. No entanto, caso se pretenda conferir aos revestimentos resistências ao choque superiores às comuns, poder-se-á recorrer a técnicas alternativas, como é o caso de reforços com redes metálicas, fibras de vidro, materiais sintéticos, entre outros [66].

2.4.7. Durabilidade

A durabilidade é uma condição que se refere à manutenção de uma estrutura com a sua aparência original, resistência e solidez [32]. Esta propriedade reflete-se com base no período de uso do revestimento no estado endurecido e no desempenho face aos agentes externos a que está sujeito, assim como a sua capacidade para manter inalteradas as suas propriedades físicas e mecânicas com o passar do tempo.

A conjugação dos vários efeitos patológicos a que os rebocos estão sujeitos determina, por vezes, uma resposta deficiente dos revestimentos em termos de durabilidade. Assim como a fissuração, outras anomalias como o ataque de sais ou o desenvolvimento de micro-organismos ou manchas, constituem fatores prejudiciais para as argamassas em termos de durabilidade [37]. A manutenção das estruturas deve ser por isso tida em conta. Muitas vezes estas anomalias poderão ser corrigidas facilmente, sem grandes encargos e possibilitando uma durabilidade e um aspeto estético mais sóbrio e isento de imperfeições para os edifícios.

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A aplicabilidade de argamassas com cal, na fase de construção, poderá ser uma solução a ter em conta para que exista uma menor penetração de água e consequente melhoria da durabilidade, nas estruturas de alvenaria [32].

2.4.8. Aspeto estético

A aparência global de um edifício está fortemente interligada com o seu aspeto estético. Cada vez mais é aceite o papel da estética na qualidade de vida das populações, além de construções eficientes e com bons desempenhos, deseja-se que estas possuam um aspeto agradável, limpo e isento de imperfeições. Aliás, segundo alguns autores, a degradação do património construído faz hoje parte do conceito de poluição urbana, devido ao seu profundo impacto no ambiente urbano[66].

A argamassa de revestimento deverá assim conferir um aspeto estético, com uma adequada textura, cor, regularidade, tipo de acabamento e desempenho, sem o qual a envolvente e o próprio edifício poderão entrar em desvalorização. O aspeto estético constitui uma propriedade que apesar de não ser objetivamente quantificável, transparece a qualidade de um reboco e reflete de forma global a aparência de um edifício. Deseja-se que a aparência visual seja considerada um fenómeno de “saúde” e bem-estar para os edifícios, valorizando-os no mercado construtivo [37]. No entanto, como já é sabido, todos os fatores que afetam a durabilidade do revestimento vão refletir-se no seu aspeto estético a curto/médio prazo, contribuindo para a degradação progressiva do reboco, pelo que uma estrutura com uma elevada durabilidade será à partida uma solução vantajosa nas mais diversas propriedades da argamassa [66].