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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.4 A NÁLISE DE PROGNÓSTICO DE OCUPAÇÃO

4.4.1.4 Existência de solo rural em áreas definidas como urbanas

Conforme visto, a legislação não prevê que os aumentos de perímetro urbano impliquem na conversão de todo o solo no interior da zona ampliada para solo urbano. Isto acontece especialmente em grandes aumentos de perímetro urbano e foi abordado anteriormente que esse fato gera consequências do ponto de vista do mercado de terras, bem como leva a uma desestabilização das atividades agrícolas do local e nas proximidades.

Na zona rural de Estância Velha há diversos locais em que há a ocorrência destas situações (Figura 4.26), como as retratadas pelas fotos 2 e 3, que mostram a proximidade da interface entre regiões completamente urbanizadas e a área que estava definida em Plano Diretor como preferencial para preservação ambiental e considerada de risco (delimitação extinta do Plano Diretor em 2012) e que constituía uma barreira entre a zona urbana e a zona rural. No caso da extinção da barreira de zoneamento, essa interface não só foi deslocada como a zona rural deixou de contar com uma área de transição, que foi um elemento importante na regulação da expansão urbana verificado nos subcapítulos anteriores. Outras situações que exemplificam isso são a foto 1, do início da rua 13 de Maio, considerada como perímetro urbano e onde há coexistência de solo rural na área urbana e a foto 30, onde há

uma indústria de artefatos de concreto localizada na zona rural (exatamente no início da mesma). As mudanças na legislação urbanística podem retratar pressões econômicas existentes e aceleram a urbanização e ocupação das áreas verdes, como retratado nas imagens 29 e 30, retiradas do Google Earth, mostrando o avanço do loteamento nas antigas áreas de preservação ambiental do município (ZEP I e II). A placa retratada na foto 22, em área de solo rural dentro do perímetro urbano é um retrato desta dinâmica de pressões imobiliárias. Situação semelhante ocorre na foto 21, que mostra aterramento de banhado localizado em antiga ZEP.

Figura 4.26: Conjunto das fotos 1, 2, 3, 21 e 22 e imagem 1 e 2

Foto 2 - Divisa entre a antiga ZEP e zona completamente urbanizada

Foto 3 – Localização: rua Primeiro de Maio, divisa entre a antiga ZEP e zona completamente urbanizada

Foto 21 – Localização: rua 13 de Maio, antiga ZEP

Foto 30 – Localização: Rua 13 de Maio

Imagem 1 – Localização: antiga ZEP próximo da divisa com a pedreira

Imagem 2 – Localização: antiga ZEP próximo à BR-116

Fonte: fotos feitas por BALESTRO, F. (2018)

4.4.2 Conclusão do subcapítulo

A presente pesquisa elencou quatro usos do solo que foram considerados como indicativos de mudanças no tipo de ocupação e uso do solo, de fins rurais para fins urbanos. Para cada um deles foram apresentadas evidências fotográficas. Todos os quatro fatores têm em comum o fato de que colocam em movimento dinâmicas de mercado, que desestabilizam

as atividades rurais, em favorecimento de um uso urbano da terra. As pressões econômicas relacionadas às mudanças no tipo de ocupação de zonas rurais estão relacionadas à essa coexistência e proximidade de tipos de ocupação, à ocupação desordenada e ao fracionamento dos lotes de terra. Esses usos avizinham atividades que outrora não se encontravam tão próximas e é especialmente nesses pontos de interface – como no limite do perímetro urbano, para Bransão e Feder (1996) – que dar-se-á uma influência maior do mercado. Se o mercado de terras é, como afirma Reydon apud Gonçalves (2002, p. 31), concorrencial e formado por expectativas pode-se supor que a proximidade entre usos gera uma expectativa de que as terras próximas se convertam em outros usos em algum momento, tanto nos agentes imobiliários quanto nos proprietários dos lotes. Nesse ponto, uma das ações que pode decorrer disso é a especulação imobiliária, por parte de proprietários, que esperam sua terra se valorizar para então, convertê-la finalmente ao uso urbano. Torna-se mais lucrativo o mercado de terras do que as atividades rurais tradicionais. E, como consequência, o preço médio da terra sobe na região, o que também inviabiliza a realização de atividades agrícolas, que dependem de grandes extensões de área para prosperarem.

Um outro ponto em comum entre essas atividades é que todas denotam uma mudança no tipo de uso que existe na área rural de Estância Velha. As características tradicionalmente atribuídas às zonas rurais (Cloke ,2006, p. 20), como assentamentos esparsos e a ocupação agrícola não são mais as dominantes no cenário. Outras características apontadas por este autor dizem respeito a uma associação entre problemas de infraestrutura, e consequente menor acessibilidade que estariam mais presentes em zonas rurais e à uma diferenciação entre o modo de vida rural e o modo de vida urbano. Viu-se que tais diferenciações diminuíram com os investimentos em infraestrutura e comunicações (MARICATO, 2000b, p. 130; SANTOS, 1993), que encurtam as distâncias e possibilitaram que o local de moradia estivesse localizado mais distante do local de trabalho. Efetivamente, evidências de lotes pequenos indicam que, no presente estudo de caso, há uma ocupação da zona rural por pessoas que residem na área de forma permanente e cujas atividades econômicas não estão, necessariamente, ligadas a este segmento. Isso confirma o observado por Saraceno (1994), de que a população que se muda para a área rural não está, obrigatoriamente, ligada à terra. A zona rural não é percebida, portanto, como uma localidade inacessível ou distante e a escolha por residir ali é motivada por fatores socioeconômicos e por características de amenidades ambientais, além de melhor qualidade ou menor custo de vida.

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