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Expansão do ingresso na educação superior brasileira: atendimento à

1. EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA: O CONTEXTO DA PESQUISA

1.2. DUZENTOS ANOS DE EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA

1.2.1. Ampliação e diversificação da educação superior brasileira

1.2.1.1. Expansão do ingresso na educação superior brasileira: atendimento à

Neste subitem, recorremos a dados numéricos sobre demanda e oferta de vagas de ingresso, buscando compreender como se deu a expansão da educação superior brasileira a partir de 1960.

A Tabela 1 apresenta a evolução da demanda e da oferta de vagas na educação superior, no Brasil, no período de 1960-1979. Vale apontar que o número de vagas é superior ao de matriculados por ingresso, mais especialmente nas instituições privadas. Tomando como referência a relação entre candidato e vaga, verifica-se sua intensificação a partir de 1965, que conforme Martins (1981) deve-se à política econômica adotada no país. De fato, durante o período de 1960 a 1965, tem-se como média aritmética do período, por volta de 1,7 candidatos para cada vaga da educação superior. De 1966 até 1975 eram, aproximadamente, 2,2 candidatos por vaga e a partir de 1975 houve um aumento mais forte, chegando a 3,9 candidatos para cada vaga em 1979. A relação no final deste período é maior do que o dobro do seu início. Tem-se, também, um forte crescimento da oferta de

vagas que em 1979 corresponde à cerca de onze vezes a oferta em 1960, mas, note-se, o número de candidatos foi multiplicado por vinte e quatro.

Tabela 1 – Evolução da demanda e da oferta de vagas na educação superior: Brasil 1960-1979 – Inscritos, vagas e relação candidato/vaga

Fonte: MEC/SEDIA/SEEC30

Gráfico 1 - Evolução da demanda e da oferta de vagas na educação superior: Brasil 1960-1979 – Inscritos e vagas

Então, no período de 1960 a 1975, tanto a oferta como a demanda por vagas na educação superior cresceram em ritmo aproximado, mantendo-se uma proporção aproximada de dois candidatos para cada vaga. Já, a partir de 1976, a pressão por mais vagas se acentua chegando a aproximar-se da relação de quatro

30 Dados disponíveis no sítio do INEP. 0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 1.400.000 1.600.000 1.800.000 1955 1960 1965 1970 1975 1980 N° de inscritos N° de vagas

Ano inscritos N° de vagas N° de Candidato vaga Ano inscritos N° de vagas N° de Candidato vaga

1960 64.637 35.909 1,8 1970 328.931 145.000 2,3 1961 70.147 38.971 1,8 1971 400.958 202.110 2,0 1962 70.942 47.295 1,5 1972 449.601 230.511 1,9 1963 86.716 51.009 1,7 1973 574.708 261.003 2,2 1964 97.481 57.342 1,7 1974 614.805 309.448 2,0 1965 110.834 58.334 1,9 1975 781.190 348.227 2,2 1966 123.379 58.752 2,1 1976 945.279 382.418 2,5 1967 183.150 79.630 2,3 1977 1.186.181 393.560 3,0 1968 214.966 89.582 2,4 1978 1.250.537 401.977 3,1 1969 276.904 115.377 2,4 1979 1.559.094 402.694 3,9

candidatos por vaga, mesmo com um aumento do número de vagas bem mais acentuado que no período anterior.

Sobre o aumento da demanda por vagas na educação superior brasileira no período, há que se descartar a influência do crescimento demográfico. Segundo os dados do IBGE31, entre as décadas de 1940 (cerca de 41 milhões de habitantes) e 1950 (quase 52 milhões) este crescimento foi de apenas 26%, índice bem inferior à demanda e também ao aumento de vagas para a educação superior brasileira nas décadas seguintes. Reforça-se, assim, a tese de que mudanças econômicas e sociais do país ampliaram a demanda por vagas neste nível de educação a partir de 1965.

Também se deve levar em conta que o número de candidatos provavelmente devesse ser menor que o de inscritos pelo fato de ser possível e bastante comum a inscrição, pela mesma pessoa, em mais de um concurso vestibular. Mesmo assim, há uma forte pressão para ampliação de atendimento a este nível de educação, no país, não só por um crescimento anual da demanda, decorrente da conclusão no ensino médio, como também, por uma demanda reprimida, de alunos não atendidos nos anos anteriores.

A Tabela 2 permite perceber como se deu o atendimento à demanda, no que se refere à ampliação de instituições quanto à categoria administrativa, se pública ou privada.

Tabela 2 – Instituições de educação superior e número de matrículas por dependência administrativa:Brasil - 1963-1973 Cat eg or ia A dm inistr ativa 1963 1973 Crescimento: de 63 a 73 Matrículas em Cursos de Graduação Número de instituições Matrículas em Cursos de Graduação Número de instituições M atr ícu la s In sti - tu içõe s

total % total % total % total % % %

Pública 62.721 59,6 545 53,4 318.412 39,3 1.306 42,5 507,6 239,6 Privada 42.460 40,4 475 46,6 492.825 60,7 1.764 57,5 1.160,6 371,4 Total 105.181 100,0 1.020 100,0 811.237 100,0 3.070 100,0 771,2 300,9

Fonte: Martins (1981, p. 73)

31Fonte: IBGE - Estatísticas Históricas do Brasil. Dados extraídos da Tabela 1

– Demografia – 1.8 p.

35. Acesso em 19/03/2009, disponível em

http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/visualiza_colecao_digital.php?titulo=Estatísticas %20históricas%20do%20Brasil:%20séries%20econômicas,%20demográficas%20e%20sociais%20de %201550a%201988&link=Serie_Est_Retro_v3#

Em 1963 a maioria das matrículas era em instituições públicas, 59,6% do total de matrícula, enquanto que em 1973 a maioria das matrículas era em instituições privadas, perfazendo 57,5% do total.

Percebe-se um grande crescimento no atendimento por instituições públicas, o número de matrículas quintuplicou. Mas, as instituições particulares tiveram uma ampliação bem mais acentuada, chegando a onze vezes o número de matriculados em 1963. Também se verifica o maior crescimento do número de matrículas em relação ao de instituições, indicando que na ampliação foi priorizada a racionalização dos recursos físicos, ou seja, nos dois tipos de dependência administrativa cresceu a capacidade de atendimento das unidades, especialmente nas instituições particulares, aumentando, de modo geral, o porte das instituições. É neste período, portanto, que as instituições privadas passam a atender mais alunos que as instituições públicas, apesar do forte crescimento do atendimento por estas últimas.

Embora no período de ditadura tenha ocorrido o desmantelamento do movimento estudantil pela repressão, especialmente nas universidades públicas, afirmam Durhan e Sampaio (1995), o crescimento do ensino superior, tanto privado como público, não foi sustado. De fato, como vimos, não o foi, mas a iniciativa privada teve um crescimento muito maior, constituindo-se, esta forma de expansão, como o primeiro grande movimento de privatização deste nível de educação, conforme aponta Sguissardi (2008).

No mesmo sentido, Martins (1981) aponta que a política de atendimento desta demanda privilegia a iniciativa privada no ensino superior e não mais indica a universidade como forma de organização preferencial contrapondo-se aos movimentos estudantis que, desde 1945, protagonizavam as lutas em defesa do sistema público com a “eliminação, por absorção pública, de todo o setor privado” (DURHAN; SAMPAIO, 1995, p.3), culminado com o movimento de luta em 1968.

Em síntese, a partir de 1965 aumentou mais fortemente a demanda pela educação superior no Brasil e, como resposta às reivindicações, há aumento de vagas pela criação de novas instituições e ampliação da capacidade de atendimento das já existentes, com aumento acentuado das instituições privadas, no modelo de instituições isoladas. Uma expansão nos moldes da ocorrida nos Estados Unidos da América, cuja consequência será uma educação superior majoritariamente privada e

em institutos dedicados apenas à formação profissional, ficando a pesquisa e extensão sob o encargo das universidades públicas e de algumas particulares.

Nas décadas seguintes, Tabela 3, observa-se que a demanda por vagas apresentou baixo crescimento até 1993, passando a forte crescimento no período de 1994 a 2002, moderando-se um pouco a partir de 2003, embora ainda forte, e recrudesce em 2008, passando a uma tendência de forte crescimento ao final da primeira década do século XXI. Possivelmente o Programa Universidade para Todos e as novas formas de ingresso para a educação superior estejam contribuindo para o aumento da demanda por vagas.

Tabela 3 - Vagas oferecidas e inscrições em vestibular, por dependência administrativa: Brasil – 1980 a2009

ANO INSCRIÇÕES VAGAS Candidato/ vaga

TOTAL PÚBLICA PRIVADA

1980 1.803.567 404.814 126.940 277.874 4,5 1981 1.735.457 417.348 139.298 278.050 4,2 1982 1.689.249 421.231 141.133 280.098 4,0 198532 1.514.341 430.482 141.274 289.208 3,5 1986 1.737.794 442.314 150.259 292.055 3,9 1987 2.193.861 447.345 147.767 299.578 4,9 1988 1.921.878 463.739 149.793 313.946 4,1 1989 1.818.033 466.794 148.630 318.164 3,9 1990 1.905.498 502.784 155.009 347.775 3,8 1991 1.985.825 516.663 162.506 354.157 3,8 1992 1.836.859 534.847 171.048 363.799 3,4 1993 2.029.523 548.678 171.627 377.051 3,7 1994 2.237.023 574.135 177.453 396.682 3,9 1995 2.653.853 610.355 178.145 432.210 4,3 1996 2.548.077 634.236 183.513 450.723 4,0 1997 2.711.776 699.198 193.821 505.377 3,9 1998 2.858.016 776.031 205.725 570.306 3,7 1999 3.344.273 894.390 218.589 675.801 3,7 2000 4.039.910 1.216.287 245.632 970.655 3,3 2001 4.260.261 1.408.492 256.498 1.151.994 3,0 2002 4.984.409 1.773.087 295.354 1.477.733 2,8 2003 4.899.556 2.002.683 281.163 1.721.520 2,4 2004 5.053.992 2.320.421 308.492 2.011.929 2,2 2005 5.060.956 2.435.987 313.368 2.122.619 2,1 2006 5.181.699 2.629.598 331.105 2.298.493 2,0 2007 5.191.960 2.823.942 329.260 2.494.692 1,8 2008 5.534.689 2.985.137 344.038 2.641.099 1,9 2009 6.223.430 3.164.679 393.882 2.770.797 2,0 Fontes: MEC-Inep

Gráfico 2 - Vagas oferecidas e inscrições em vestibular, por dependência administrativa: Brasil – 1980 a2009

As vagas em instituições públicas tiveram baixo crescimento em todo o período com um pequeno incremento em 2009 que acreditamos possa ser atribuído ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI.

Nos últimos anos, o crescimento no âmbito federal, conforme Sguissardi (2008), tem se dado pela multiplicação dos campi das instituições já existentes e mediante programas de reestruturação do setor. Em 2007, o Decreto n° 6.096/2007 instituiu o REUNI, que expressa em seu artigo 1° o objetivo de "criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais”. Na análise de Lima, Azevedo e Catani (2008, p.23), “trata-se [a Reforma de 2007], em essência, de estabelecer uma política que procura estimular a adesão a um novo modelo de universidade e uma nova relação de trabalho com os professores”. Também em universidades públicas não federais, ocorreu ampliação do atendimento à demanda, como no caso da Universidade de São Paulo, com a criação em 2005, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), com oferecimento de cursos não tradicionais.

Mesmo assim, serão as instituições particulares que virão a atender majoritariamente à demanda, que de 1985 até 1995 apresentou um crescimento

0 1.000.000 2.000.000 3.000.000 4.000.000 5.000.000 6.000.000 7.000.000 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

moderado de vagas, acentuando-se em 1998, recrudescendo seu crescimento desde então. A relação entre candidatos e vagas que no início do período até 1995, oscilava entre 3,5 e 4,9, começa a cair chegando aos índices do início da década de 1960, cerca de dois candidatos por vaga, com tendência de crescimento.

Portanto, a partir de 1998, o atendimento à demanda pela educação superior brasileira, que já era prioritariamente realizado por instituições privadas desde a década de 1970, amplia-se neste sentido, consolidando-se a privatização deste nível de educação.

Vale apontar, com Sguissardi (2008, p. 1000) que a expansão de instituições privadas, ao final do século XX, se faz sob a égide do Decreto n° 2.306/97, “que reconhecia a educação superior como um bem de serviço comercializável”, ou seja, reconhece a educação como mercadoria. Neste sentido, aponta o autor, em 1999 “começam a surgir os dados sobre como se constituía (e evoluía celeremente) em números o mercado educacional no Brasil.” (SGUISSARDI, 2008 p.1001, grifos do autor), atendendo a interesses dos empresários da educação. Este interesse se complementaria com o dos empresários dos demais ramos industriais e comerciais: com a expansão, aumenta o número de profissionais graduados, possibilitando a oferta de salários mais baixos e, também, pela diversificação das instituições atendendo às demandas destes mercados, que abordaremos a seguir.