• Nenhum resultado encontrado

A EXPANSÃO INDUSTRIAL DA DÉCADA DE 1970 E AS ALTERAÇÕES DE

Como está analisado em ampla literatura (DINIZ, 1981; CHAVES, 1990, FERNANDES, 1997; DUARTE FILHO, 1979; SANTOS, 2002), a indústria do estado de Minas Gerais passou por um acelerado processo de expansão na década de 1970. Como analisado no capítulo anterior, o conjunto de projetos nas indústrias de bens intermediários consolidou essa indústria, mas também promoveu a diversificação industrial dentro da própria indústria de bens intermediários e abriu oportunidade para a diversificação dos bens duráveis de consumo e de capital.

Santos (2002) observa que o período foi marcado por diversas características, entre as quais:

Dramáticas mudanças estruturais, quando um grande surto de investimentos veio reverter a perda de posição relativa do Estado no contexto nacional, dando início a um processo de diversificação e adensamento da estrutura industrial, de consolidação de novos setores industriais, e de ampliação da inserção nacional e internacional da Economia Mineira, simultaneamente a decadência histórica da agricultura mineira, foi revertida, com a expansão e incorporação de novas áreas de cultivo. Atrelado ao crescimento industrial, e agrícola, houve grande expansão dos serviços produtivos (SANTOS, 2002, p. 20).

Os anos 70 caracterizaram-se pela forte atuação governamental, com uma plêiade de instrumentos para a promoção industrial, incluídos incentivos fiscais, construção de novos distritos industriais, atração de capital estrangeiro, pressão junto ao Governo Federal para a atração de investimentos e de apoio.

Do ponto de vista da estrutura industrial, como analisa Fernandes (1997), inicia-se o processo de diversificação da indústria estadual, uma vez que houve a substituição da produção de matérias-primas e produtos semielaborados, para a produção de bens de capital e de consumo duráveis. Não obstante, o próprio Fernandes (1997) enfatiza que a nova condição de industrialização não negou a especialização em Minas na produção de bens intermediários. Quanto a este último aspecto, contrapõem-se duas linhas de argumento que merecem ser melhor analisadas. A primeira delas é que a consolidação da especialização da economia

28 mineira, na produção de bens intermediários, teria produzido importantes efeitos no sentido de elevar o grau de elaboração industrial, dando início a um processo de integração vertical nas cadeias produtivas já constituídas da economia mineira. A segunda é que a condição de produtora de bens intermediários e de capital teria tornado a economia de Minas Gerais ainda mais dependente do comportamento dos mercados das indústrias que utilizam seus produtos como insumos e das indústrias que encomendam máquinas e equipamentos.

No mesmo sentido, o grau relativamente pouco diversificado do parque industrial mineiro, concentrado em poucos ramos, e a especialização da indústria mecânica, voltada para a produção sob encomenda para o setor metalúrgico, cimenteiro e de mineração, teriam reforçado a dependência da indústria mineira com relação às demandas provenientes de fora do Estado.

Ainda dentro desta linha de argumentos, destaca-se o fato de que parcela considerável dos investimentos industriais que se dirigiram para Minas na década de 70 refere-se a empresas que transferiram para o Estado apenas suas unidades de produção a fim de usufruírem os incentivos fiscais oferecidos pelo governo estadual, mantendo a sede da administração e departamentos de comercialização nos principais centros industrializados do País (DUARTE FILHO et al., 1979).

Assim, para os que defendem esta linha de argumentos, a despeito das mudanças ocorridas na estrutura industrial nos anos setenta, a economia de Minas Gerais teria se mantido intensamente dependente da economia do resto do país (FERNANDES, 1997, p. 87).

Após a forte expansão industrial registrada na década de 1970, a economia mineira, como a brasileira, entrou em crise na década de 1980. No entanto, como observa Santos (2002), Minas Gerais apresentou crescimento acima da média brasileira, em função do amadurecimento dos projetos anteriormente implantados e do aumento das exportações. Um exemplo de destaque foi o da indústria automotiva, liderado pela FIAT, que iniciou sua produção na década de 1970, passou por forte crise no início da década de 1980 para em seguida se recuperar, inclusive com a atração dos produtores de peças e componentes de outras partes do País e do exterior para se localizarem em Minas Gerais.

De forma semelhante, apesar da crise, os grandes projetos de bens intermediários, seja no setor siderúrgico, seja de alumínio e fertilizantes se expandiram, consolidando a indústria de bens intermediários, mas também promovendo sua diversificação.

29 Haddad (1995) observa que a economia de Minas Gerais, nos anos 70, caracterizou-se como uma das mais dinâmicas economias do País, uma vez que houve o processo de consolidação do sistema industrial. Já a partir da década de 80, Haddad (1995) observa o processo de ocorrência de queda nas taxas de investimento sobre a Economia Brasileira, que se propagou sobre a Economia Mineira. O crescimento entre 1970 – 1985 se deu sobre os setores de equipamentos de transporte, cuja relação produto/emprego saltou de 1,58 para 5,57, nos anos de 1970 e 1985; respectivamente e químico, assim como os setores de máquinas equipamentos elétricos e produtos plásticos. Nota-se o efeito da implantação da planta de produção da FIAT a partir da implantação da refinaria Gabriel Passos.

Em direção oposta, verificou-se que os minerais não-metálicos e produtos alimentares apresentaram queda na participação estadual. A mudança na estrutura produtiva foi acompanhada do declínio da participação do setor têxtil; de maneira oposta, crescimento do setor de vestuários e calçados, sem se desconsiderar o ganho marginal de equipamentos elétricos, papel, plástico, têxtil, e vestuários e calçados. Deste modo, Haddad (1995) observa que entre 1975 e 1985 houve o processo de diversificação da indústria Mineira, acompanhado da re-estruturação da indústria Estadual, uma vez que a implantação da FIAT e da Refinaria Gabriel Passos configuravam-se como fatores responsáveis pela mudança na estrutura produtiva do Estado. Entretanto, há que se considerar, também, que Minas Gerais foi beneficiada pelo crescimento do emprego industrial, no período verificado, em virtude dos incentivos fiscais.

Do ponto de vista da estrutura industrial, dois fatos de destaque são: primeiro, a contínua perda de importância relativa da indústria de bens não duráveis de consumo, cuja participação cai de 40% em 1970 (tabela 5), para 25% em 1985 (tabela 8). O segundo destaque é o crescimento das indústrias de bens de capital e duráveis de consumo, cuja participação sobe de 7,3% em 1970 para 12% em 1977 (Tabela 5), para chegar a 23% em 2007 (tabela 8).

A análise do censo industrial de 1985 mostra que, embora concentrada em bens intermediários, há diversificação dentro dos próprios bens intermediários, com o crescimento da indústria química e da própria metalurgia, com a expansão das indústrias de alumínio, zinco e de produtos metálicos.

O grande destaque, todavia, se dá com o crescimento das indústrias de material de transporte, cujo peso na estrutura industrial do Estado sobe de 2% em 1960 para 4,7% em 1985 e para 12% em 2000 (Tabela 8); aponta a ocorrência de concentração produtiva, uma vez que a indústria de Bens Intermediários era responsável por aproximadamente 55% do

32 Valor da Transformação Industrial do Estado, maior peso da Indústria Química. Porém, é possível verificar a existência de um quadro de diversificação industrial, uma vez que se pode perceber a maior participação da Indústria Química, cuja participação no PIB do Estado era de 2,2% em 1960 e atingiu 14,3% em 1985.

Há também que se considerar o processo de diversificação a partir do Crescimento dos Materiais de Transporte, responsável pela participação de 2% em 1960, e que no ano de 1985 atingiu 4,7%. Aliado a esse processo cabe também mencionar que após 1985 houve a contínua queda dos Bens Intermediários e a escalada dos Bens de Capital e Duráveis de Consumo. Deste modo, torna-se visível a mudança na estrutura de produção, uma vez que a Indústria de Bens Intermediários atingiu estabilidade em 1985; porém, após esse período, leve redução na participação Estadual e uma tendência de estabilidade nos Bens Não Duráveis de Consumo, após a contínua queda que se deu sobre o setor a partir da década de 60, conforme apresentado pela tabela 5, exposta anteriormente.

Tabela 8

Participação dos gêneros no Valor de Transfomação Industrial (VTI) para Minas Gerais: 1985/2007 (%)

Especificação/anos 1985 1989 1994 2000 (¹) 2005 2006 2007

BENS NÃO DURÁVEIS DE CONSUMO 24,8 26,8 23,0 25,2 25,7 22,1 27,0

Produtos Alimentares e Bebidas 10,9 9,3 12,7 19,6 16,5 14,8 15,5

Fumo 1,6 3,4 4,1 1,7 1,6 1,5 0,8

Têxtil 7,5 6,1 3,0 1,6 2,7 2,3 1,8

Vestuário, calçados e artefatos de tecidos 3,6 5,5 0,9 0,1 1,2 1,1 2,7 Mobiliário 1,0 2,1 1,8 0,9 1,6 0,5 2,4 Perfumaria, sabões e vela 0,2 0,3 0,5 1,3 - - - Couros, Peles e Similares - - - - 0,9 0,9 1,4 Editorial e Gráfica - - - - 1,2 1,1 2,4

BENS INTERMEDIÁRIOS 54,6 49,3 47,7 49,5 55,7 58,8 52,3

Papel e Papelão 1,7 1,6 0,9 1,5 2,5 1,9 3,4 Química 14,3 8,9 11,8 13,2 15,2 13,1 26,4

Borracha - - - - 1,6 1,3 3,1

Minerais não metálicos 6,6 11,7 10,3 10,1 5,3 4,3 2,8 Metalurgia 32,0 27,0 24,7 24,7 31,1 38,1 16,6 Produtos de matéria plástica 1,0 0,5 0,3 0,2 - - -

BENS DE CAPITAL E DURÁVEIS DE CONSUMO 7,0 9,7 17,5 12,0 18,6 19,1 20,8

Material elétrico e de comunicação 2,4 2,6 1,3 0,4 0,7 2,5 4,3

Mecânica - - - - 5,3 3,6 5,6

Material de transporte 4,7 7,1 16,2 11,6 12,6 12,9 10,9

Outras (²) 10,6 10,9 9,4 10,3 - - -

Autônomos 1,9 2,8 2,1 2,8 - - -

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO 100,0 100,0 100,0 100,0 100 100 100

Fonte: Censo Industrial do Brasil, 1985. Censo Industrial do Brasil, 1994. PIA/IBGE - 2000,PIA/IBGE (2005), PIA/IBGE (2006), PIA/IBGE (2007) .

(¹) Resultados Preliminares; (²) Inclui Mecânica, Madeira, Borracha, Couros e peles, Produtos farmacêuticos e veterinários, Editorial e gráfica e diversos.

32 A esse respeito, o Projeto Fiat consistiu na atração dos fornecedores até então concentrados no Estado de São Paulo. Isto se traduziu em surtos de produção na região central do Estado, e de maneira simultânea, a produção de componentes industriais no Sul de Minas, alterando a localização industrial, o que será analisado no próximo capítulo.

2.2 A RETOMADA DO CRESCIMENTO E A DIVERSIFICAÇÃO DA ESTRUTURA

Documentos relacionados