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4 SE EXISTEM DUAS PALAVRAS, EXISTEM DUAS COISAS

4.1 Media Education

4.1.3 A expansão: 1970-1980

A atenção concedida ao tema da educação midiática a partir deste período tem forte influência de McLuhan. Federov (2008, p. 60) destaca que o canadense foi um dos primeiros a enaltecer a importância da educação para os meios de comunicação na “aldeia global” (MCLUHAN, 1972) na qual, segundo ele, nosso planeta se converteria após a distribuição e o consumo em massa de um amplo espectro de textos da mídia em todas as partes do mundo.

A UNESCO, segundo Soares (2013), também exerceu um papel relevante para a difusão da media education (o processo de ensino-aprendizagem) e da media literacy (o resultado deste processo) a partir dos anos 1970. Foi nesta época que a agência da ONU passou a reunir especialistas e representantes de governos a fim de estudar mais a fundo as relações entre os mundos da educação e da comunicação. Desde então, o resultado desse esforço tem se manifestado em documentos de referência para as políticas de disseminação de projetos dessa interface, na organização de eventos para discutir o tema e na edição de declarações que legitimaram, cada vez mais, a perspectiva da media education como um direito dos cidadãos.

É na fase de expansão da educação midiática, mais precisamente em 22 de janeiro de 1982, que a UNESCO publica o seu primeiro documento a respeito do tema – a Declaração de Grünwald sobre Educação para os Media (UNESCO, 1982). Divulgado no encerramento de um simpósio internacional que reuniu educadores, comunicadores e investigadores de 19 países, o texto afirma a onipresença dos meios de comunicação, ressalta a sua crescente participação na sociedade e prevê uma influência cada vez maior que precisa ser “controlada” pela educação:

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A escola e a família partilham a responsabilidade de preparar os mais jovens para viverem num mundo de poderosas imagens, palavras e sons. Crianças e adultos precisam de ser alfabetizados em todos esses três sistemas simbólicos e isso requererá uma reavaliação das prioridades educacionais. Tal reavaliação poderá muito bem resultar numa abordagem integrada para o ensino de linguagens e da comunicação. A educação para os media será mais eficaz quando pais, professores, profissionais dos media e decisores políticos, enfim todos reconhecerem que têm um papel a exercer no desenvolvimento de uma maior consciência crítica entre ouvintes, espectadores e leitores. A maior integração dos sistemas educacional e de comunicação seria indubitavelmente um passo importante para uma educação mais eficaz. (UNESCO, 1982)

Na França, em 1976, a educação midiática já estava consolidada como parte do currículo nacional das escolas secundárias e projetos como a “Semana da Imprensa na Escola” provocavam a aproximação entre estudantes e jornalistas profissionais. Segundo Federov (2008, p. 60), a regra era uma só: “aprender fazendo”. Por trás de eventos como este estava o pensamento de que para compreender os meios de comunicação e os conteúdos por eles divulgados era preciso desenvolver as habilidades técnicas para operá-los e, tal qual jornalistas, simular a rotina de produção da mídia. Outro marco importante da época, na França, foi a fundação do Centre de liason de l’insegnement et des moyens d’information173, o CLEMI, em

1983. O centro funciona atua nos dias de hoje desenvolvendo projetos de educação midiática. Na Inglaterra, a influência dos estudos culturais deu lugar à semiótica que, por sua vez, permitiu a disseminação de um viés ideológico da media education (FEDEROV, 2008). Na esfera institucional, a década de 1980 registrou uma “vitória” para a educação midiática: em 1988 ela foi integrada ao currículo nacional das escolas, como um conteúdo de Língua Inglesa. No Canadá, de acordo com Federov (2008), a década de 1970 foi de privações, já que as iniciativas de educação midiática perderam o patrocínio e o apoio do Estado. Mesmo assim, data de 1978 a fundação da Association for Media Literacy, em atividade até os dias de hoje. Na década de 1980, a situação mudou drasticamente. Devido aos esforços empreendidos pela associação, a educação midiática se tornou disciplina integrante do Ensino Médio em 1987.

Nos Estados Unidos, a educação cinematográfica foi sendo gradativamente transformada em educação para a mídia diante da crescente influência da televisão junto à audiência. Na década de 1970, o debate esteve centrado na relação entre os programas de TV e a violência. Na década seguinte, se disseminaram programas de educação midiática no contexto do sistema formal de ensino e, também, em iniciativas realizadas fora do ambiente escolar. Aliás, para Federov (2008, p. 61), essa é uma peculiaridade da educação midiática nos Estados Unidos:

143 “Unlike other English-speaking countries (for example, Canada or the UK), the leading media education communities in the USA are located outside the system of academic education174”.

A mesma tendência é observada na América Latina, onde, segundo Citelli (2014, p. 68), os projetos educadores para a comunicação, nesta época, “diziam mais respeito à escolaridade não formal e se vinculavam aos trabalhos realizados com as camadas populares e adultas, em um contexto, muitas vezes, de resistência às políticas comunicacionais levadas a termo pelas ditaduras instaladas no cone sul”. De acordo com o autor, o Programa de Educação Alternativa para a Formação do Receptor a partir da Infância (Plan-Deni) é um exemplo dessas iniciativas:

Tendo se difundido no Brasil, Equador, Peru, Uruguai, entre outros, o programa era apoiado pelo Secretariado Latino-Americano da Oficina Católica Internacional de Cinema (Ocic). As ações do Plan-Deni, ligadas à leitura crítica do cinema e do vídeo, pretendiam construir metodologias de trabalho que permitissem analisar e compreender aspectos específicos da linguagem imagética como fornecer recursos para a elaboração de produtos audiovisuais. (CITELLI, 2014, p. 68)

O autor ainda destaca outros projetos de expressão como o programa de Leitura Crítica da Comunicação (LCC) criado pela União Cristã Brasileira de Comunicação Social (UCBC). Esses projetos inauguram uma nova abordagem da interface comunicação/educação: a abordagem da leitura crítica da mídia como um instrumento de conscientização social.