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2. Os Estados Unidos nos livros didáticos

2.3 Expansão para o oeste

Um fato importante, mas constantemente negligenciado, é que a expansão para o oeste se inicia antes da própria independência das colônias. Como apontado na parte relativa à independência, a proclamação do rei de proibir, em 1763, a expansão para além das montanhas que separam a costa atlântica do interior não teve nenhum efeito prático, e apenas criou atrito entre os colonos e a metrópole.

A expansão para o oeste – apesar da mitologia do “destino manifesto” se deu não apenas por uma razão – teve várias motivações ao longo dos séculos XVIII e XIX. O processo de expansão, ao contrário de ser contínuo, alternou avanços e interrupções. A própria idéia de “destino manifesto” é uma construção utilizada em alguns momentos no século XIX para justificar uma expansão territorial ou, no século XX, como termo explicativo para o movimento territorial para o oeste do continente norte-americano e, posteriormente, para o oceano Pacífico e o Caribe.

De início, o primeiro território a ser anexado veio junto com o tratado de paz em que a independência foi reconhecida, e era aquele a oeste das Treze Colônias eoque causara o primeiro choque entre colonos e metrópole.

E como os nossos livros didáticos tratam disso?

Francisco de Assis Silva, em sua obra de 1990, deixa de observar que a expansão para o Oeste fora um movimento que se iniciara antes mesmo da independência. Segundo ele, “depois da afirmação da independência e da consolidação de um Estado soberano, os norte-americanos partiram para a grande expansão territorial”108.

Se, de um lado, ele observa que existiu um movimento espontâneo de milhares de pessoas que se instalaram no oeste, a ponto de fundar uma república independente no Texas a partir da secessão de parte do território mexicano, por outro, não deixa claro que a própria expansão para o oeste teve diversas outras causas.

De certa forma, é assim também que procede Maria Januária Vilela Santos, ao afirmar que existiram três diferentes formas de aquisição territorial: migração de pioneiros, compra de territórios e conquista de territórios de outros países. Apesar de definir quais foram essas conquistas, deixa de lado a questão temporal, ou seja, quando e quais foram as

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motivações que levaram à incorporação de determinados territórios, ou mesmo o porquê de ter havido, em determinados momentos, a escolha clara para não anexar certas áreas.

Os livros analisados focalizam a sua atenção na questão do “destino manifesto” – e sua intencionalidade implícita, mais do que em sua vastidão de sentidos – do que na compreensão da expansão como um processo que teve avanços e recuos. José Jobson de Arruda109 insiste nesse modelo:

Os Estados Unidos, em sua relação com os países europeus, definiram-se por uma política de não-intervenção. Ao mesmo tempo, pretendiam garantir para si mesmos a exploração econômica do continente americano, sem a interferência européia (...) No entanto, em sua política interna, os Estados Unidos adotaram uma política expansionista. Em 1803, compraram o território da Louisiana, que pertencia à França. Em 1819, compraram a Flórida, da Espanha. Entre 1845 e 1848 conquistaram terras pertencentes ao México: Texas, Nevada, Califórnia, Utah, Arizona e Novo México.

É interessante, por exemplo, o processo que levou à aquisição da Louisiana. De acordo com Alan Brinkley,110 houve, a partir de final do século XVIII e início do XIX, a tentativa francesa de ampliação dos seus domínios na América do Norte que foi frustrada pelas guerras travadas na Europa. Bem, o que importa é que o objetivo inicial dos Estados Unidos era a aquisição da cidade de New Orleans e de seu porto estratégico na foz do rio Mississipi. Entretanto, o embaixador americano em Paris, foi além das ordens emitidas pelo então presidente Thomas Jefferson e comprou, não apenas a cidade, mas também todo o território da Louisiana.

A idéia de “destino manifesto” permanece em História em Documento: Imagem e

Texto, de Joelza Ester Rodrigue, de 2001. Afirma ela que:

O tratado de paz que pôs fim à guerra de independência americana, em 1783, garantiu aos Estados Unidos a posse das terras a Oeste, até o rio Mississipi. Mas os americanos não respeitaram esse limite: eles avançaram

109

ARRUDA, José Jobson. História Integrada: 7ª série... São Paulo: Ática, 1996, p. 144. 110

Cf. BRINKLEY, Alan. The unfinished nation: a concise history of the american people. 4ª ed. New York: McGraw-Hill. v. 1, p. 184.

naquela direção, tomando terras por meio da compra de territórios de potências européias, da guerra e da conquista de territórios indígenas, até atingirem o Pacífico, por volta de 1850111.

Os outros livros analisados seguem a mesma linha de Rodrigue ou Jobson. Alguns se diferenciam somente por abordar a questão indígena. De qualquer maneira, “o destino manifesto” está impregnado no próprio modelo explicativo dos livros didáticos.

Eles deixam de perceber, no entanto, que a expansão para o oeste foi um processo com dinâmica complexa, e, não simples, conquista territorial ou obtenção de matérias- primas. Em três casos, pelo menos, houve a repulsa à idéia de conquista de alguns territórios.

No primeiro caso, podemos citar o fracasso de conquista do Canadá, especialmente durante a guerra de 1812 contra a Inglaterra. No segundo, o fracasso da idéia de anexação de todo o México, após a vitória na guerra de 1846-1848, se deu em razão do próprio racismo inerente em algumas das interpretações do “destino manifesto”, ou seja, a superioridade da raça branca não se combinaria com a anexação de um território majoritariamente habitado por pessoas consideradas inferiores, caso do México. O terceiro caso foi a não anexação de Cuba depois da vitória sobre a Espanha na Guerra Hispano- Americana é outro momento em que o “destino manifesto” se mostra imperfeito para explicar o porquê de a ilha não ter sido incorporada aos Estados Unidos.