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Expectativa de Evolução dos Shares após a Aplicação do PRC

Custo de investimento operação e manutenção Custos de investimento operação e manutenção Custos ambientais Custos ambientais C. escassez C. escassez Antes da aplicação Após a aplicação

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Esta evolução reflecte o cumprimento da Directiva em relação ao princípio da melhoria do estado dos recursos hídricos num período de 15 anos. Cria-se, assim, um círculo virtuoso ou, dito de outra forma, corta-se com a “Espiral de Degradação dos Recursos Hídricos”, ou com o “Ciclo Económico Vicioso” referidos no capítulo 2 (Figura 6 e 7).

10.6 – Princípios da Política de Planeamento. O Planeamento pela Oferta O planeamento dos recursos hídricos tem, tradicionalmente, sido baseado na previsão de necessidades de consumo futuras para os vários sectores de actividade projectando-se a partir daí, no tempo e no espaço, as infra-estruturas necessárias para as satisfazer. No entanto, as necessidades de consumo projectadas quando são baseadas nos consumos observados e nas projecções de crescimento populacional, aumento de concentrações urbanas e produção agrícola, incluem o efeito que decorre de preços abaixo do custo, longe, portanto, de cumprir o PRC (Easter, 2009).

Por outro lado, a subsidiação a fundo perdido de muitas infra-estruturas, nomeadamente ETAR’s, tem feito com que haja a tendência para prover soluções sobredimensionadas e para as quais não há, na maioria das vezes, capacidade financeira e técnica para operacionalizar e rendibilizar os equipamentos. Tal constatação é observada na literatura em muitas realidades diferentes como, por exemplo, nos EUA (Hirsleifer, 1967; Spulber e Sabbaghi,1998; Easter, 2009).

Assim, um processo de planeamento que adopte a perspectiva tradicional é enviesado por dois motivos:

Só entra em conta com considerações exclusivamente centradas na oferta; e Por outro lado, as decisões baseiam-se na observação de dados sobre a procura que estão na sua génese distorcidos por via de não reflectirem uma eficiente afectação da água.

De facto, os preços da água não reflectindo os custos, embora de forma diferenciada por sectores, dão aos utilizadores um “sinal” de abundância e logo um “convite” ao consumo excessivo do recurso. Se os preços da água reflectissem os seus custos, a procura de água seria menor, o que aliviaria a pressão nos actuais sistemas de abastecimento público e, por esta via, nos próprios recursos hídricos. Por outro lado, as previsões para a procura passariam a traduzir, com mais rigor, a real necessidade (ou não) de ampliação dos sistemas.

Em caso de não aplicação de preços “reais”, mas antes subsidiados, haverá tendência para ter sistemas sobredimensionados. As medidas de gestão da procura têm estado quase sempre arredadas dos processos de planeamento, o que sendo explicável no passado, não é hoje, compatível com uma gestão sustentável da água. De resto, praticamente todas as Organizações Internacionais — refira-se o BEI e o BM — põem como condição prévia à concessão de financiamentos a execução de políticas de gestão de procura.

10.7- As Insuficiências do Actual Modelo de Gestão

Da análise feita nas secções precedentes, bem como, da literatura e relatórios oficiais ressaltam algumas conclusões sobre o actual modelo de gestão português, que em seguida se sintetizam:

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- Promove uma deficiente afectação de recursos em que as soluções ainda

estão longe do objectivo de eficiência económica. Esta situação resulta, em muitos casos, da aplicação de preços da água sub-avaliados, não internalizando os custos externos e de escassez provocados pela utilização do recurso. Esta situação é diferenciada consoante os sectores, sendo mais grave no sector agrícola. No entanto, tem-se verificado uma melhoria progressiva neste aspecto;

- Os recursos hídricos apresentam uma qualidade deficiente. Os serviços de

água, em particular as ETAR’s, têm deficiências de funcionamento. Este mau estado dos recursos hídricos, é diferenciado ao longo do País, assumindo em alguns casos perigosidade para a saúde pública e dos ecossistemas;

- Ainda se afasta em alguns casos do “sentimento de mercado” seguindo,

algumas vezes, uma lógica social em contrária oposição à liberalização que se assistiu na maioria dos outros mercados e sectores nacionais;

- Faz um aproveitamento insuficiente, quer do capital, quer da capacidade de

gestão e know how de empresas privadas nacionais e estrangeiras;

- Baseia-se numa tímida abertura ao capital privado, uma vez que o peso do

Estado, quando comparado com o sector privado, é claramente prevalecente; - O modelo de gestão municipal mostra várias insuficiências, quer por via da

incapacidade de muitas das autarquias em recrutar e motivar meios humanos adequados, quer nas limitações ao endividamento e portanto ao necessário investimento em modernização e melhoria da qualidade do serviço;

- O modelo de gestão municipal não aproveita, por falta de dimensão em boa parte dos casos, as várias economias de que se referiu na Parte I deste trabalho: economias de escala, de gama e de processo;

- Em contraste com o referido no ponto anterior, algumas infra-estruturas, em particular ETAR’s, apresentam-se sobredimensionadas;

- Incipiente aplicação de instrumentos de natureza económica,

nomeadamente de regimes tarifários, para prossecução dos objectivos ambientais, muito embora tenham sido conseguidos progressos nos últimos anos;

- Fraca capacidade de implementabilidade (enforcement) dos objectivos

ambientais consignados na legislação;

- Insuficiente integração dos objectivos ambientais, nomeadamente de

qualidade de água, noutras políticas;

- Insuficiente participação pública;

- Promove soluções pouco flexíveis, tendo dificuldade em fomentar

determinados tipos de sistemas, nomeadamente, sistemas duais, sistemas de dessalinização, sistemas de reciclagem ou de reutilização de água;

- Apresenta insuficiências orçamentais da Administração Central e Local — por força do cumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento — para responder através de uma lógica de “obra pública” aos objectivos da DQA.

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Por todos estes argumentos, o actual Modelo de gestão tem dificuldade em promover soluções flexíveis e atempadas às necessidades do sistema e logo ao cumprimento dos objectivos da DQA nos prazos previstos. Na parte seguinte deste trabalho, propõem-se medidas que possam contribuir para o melhoramento do sector da água em Portugal.

10.8- Principais Conclusões do Capítulo

Resultam como principais conclusões deste capítulo as seguintes:

A água em Portugal apesar de se caracterizar por uma relativa abundância face à procura é, no entanto, caracterizada, por forte sazonalidade e irregularidade interanual;

A qualidade da água para consumo humano tem vindo a melhorar os seus resultados fruto dos investimentos realizados. No entanto, o estado ecológico das águas superficiais está ainda longe de cumprir os requisitos da DQA (só 31% das massas de água têm um resultado aceitável);

Em relação aos serviços de água, estes apresentam grandes deficiências, em particular, no envelhecimento das redes. Os índices de fuga de água são preocupantes e colocam Portugal longe dos valores da maioria dos países da OCDE;

Dada a complexidade crescente de gestão, a necessidade de investimento previsível será significativa;

Finalmente descreveram-se as insuficiências do actual modelo de gestão em Portugal. Na Figura 38 confronta-se o Modelo Tradicional de Gestão dos Recursos Hídricos com aquilo a que se qualificou, na Parte I deste trabalho, de Novo Paradigma da Água. Será com base nesta Nova Visão da Água que se estabelecerá na Parte seguinte as conclusões e propostas de actuação.

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Modelo Tradicional Novo Paradigma da

Água

Lógica exclusiva de

oferta procura/oferta (mercado)Abordagem integrada Preço social ou administrativo Preço de mercado baseado no PRC Afectação de recursos baseada na escolha do planeador Afectação de recursos assente no princípio da participação pública Existência de custos externos

Intervenção com vista à internalização de

externalidades

Política baseada em intrumentos de comando e controlo

Política alargada aos inst. económicos e de

informação

Recurso abundante face às necessidades

Recurso escasso com conflitualidade de uso

Bem público e livre Bem económico

Uso indiscriminado da água sem autorização

e/ou pagamento Licenciamento e pagamento pela utilização da água Quase ausência de quantificação Monitorização da qualidade e quantidade

Soluções parcelares Soluções integradas

Figura 38

Modelo Tradicional versus

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