limites e possibilidades de realização e continuidade na perspectiva dos seus sujeitos
3.4 Expectativa dos entrevistados em relação ao processo de construção do PPP
Para o depoente A2-05, o PPP seria o plano de ação da escola que poderia referendar e legalizar as ações da comunidade escolar em todos os sentidos. Nele, poderiam ser discutidas desde as questões administrativas até as ações pedagógicas dentro da escola.
Porém, para este depoente, o PPP foi mais um, dentre muitos documentos discutidos, que criavam expectativas para melhorar o trabalho dentro da sala de aula. Compara o processo de construção do PPP, realizado na rede, com o processo de construção do Plano Mineiro de Educação, na década de 1980, quando se criou a expectativa de que os educadores poderiam apontar seus anseios para melhorar a educação, mas não se discutiu a questão da valorização profissional e
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financeira, ficando evidente ser impossível falar em qualidade de ensino sem abordar este tema, pois:
Somos massacrados com uma jornada de trabalho intensa, se eu não tiver que dar 36 aulas pra ganhar uma miséria. Não adianta falar que não passa por financiamento porque passa, hoje se o professor está podendo sair pra poder estudar mais um pouco, é porque vai por outro sacrifício. Estão sacrificando algo mais na suas vidas pra estar estudando. E nem todos tem essa determinação (A2- 05).
Nessa perspectiva, os consolidados do documento foram construídos, de forma que cada escola entregou sua documentação na secretaria, dando por encerrado o processo. Assim, nem o órgão público criou mecanismos para que a escola trabalhasse o plano de ação construído coletivamente, nem a escola perseguiu as metas do PPP dentro da escola.
As escolas da RMU/UDI deveriam avançar em várias dimensões, principalmente naquelas baseadas nos eixos trabalhados e que os PPP’s das escolas fossem implementados à luz da Carta de Princípios. Essa era a expectativa dos profissionais do grupo B1:
Ter um currículo que realmente atendesse as necessidades dos alunos. Que a avaliação fosse para incluir e não para excluir. Que a gestão da escola fosse democrática. Bom, todos os eixos fossem realmente implementados. A convivência fosse legal. [...]a expectativa ficou muito grande no governo Zaire, mas ele tinha uma assessoria péssima. E neste sentido essa expectativa, ela foi aumentando e quando a gente viu que conseguiu a Carta de Princípios e viu o Congresso acontecendo. Para nós no último momento a entrega da Carta de Princípios. O João Bittar e o.... Um não querendo nem esperar o outro chegar pra gente fazer a mesa. Vocês lembram a confusão que foi? Aí nesse sentido a gente já viu que íamos ter problemas na próxima gestão e a não continuidade, até então a gente tinha alguma expectativa que algumas pessoas ficassem como convidados a permanecer porque já tinha uma trajetória ali né?! De estudos e de implementação, bobagem nossa. Pensamos que seria possível. Durante o processo teve uma parte de desânimo que o B1-04 já falou, mas quando a gente viu aquilo tudo, assim feito a partir de uma discussão coletiva mesmo. Fiquei emocionada de ver o congresso, o dia inteiro, a gente entrava ia pra os grupos, ouvia alguma coisa voltava. Nós ficávamos brigando, a discussão era tão profunda, mas a gente ainda tinha que tolerar alguém pegar o microfone e falar meia hora, porque que eles (elas) tinham que colocar a relação de gênero que está posta ali. Aquelas relações sociais e éticas. Nesse sentido eu vejo assim nossa expectativa ficou muito grande e mesmo que não tenha dado continuidade nesse processo, não se voltou também ao que era antigamente A questão da vivência cidadã, que a gente propôs como a escola democrática. Mesmo que a democratização que houve fosse entre aspas, eu vejo que a expectativa no final foi bastante alta pra nós e nos elevou até a auto-estima quando viu aquilo concluído, pensamos: Não é possível que a gente desse conta de fazer tudo isso! De participar disso. Eu até nem tanto de construção, mas assim de participação mesmo. É a nossa utopia sendo realizada! Porque a gente pensava isso enquanto utopia em todos os governos que passava (B1-02).
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Embora as expectativas não tenham sido atendidas, não se pode negar que essa história, construída pelos profissionais, mexeu com a rede, que houve um avanço de trabalho coletivo. De acordo, com os relatos nunca havia sido realizado um trabalho como este que envolvesse todos os setores neste processo, promovendo para tanto uma rede de reflexões ampliada.
A expectativa era realmente de mudança de concepção de educação, fato que podemos perceber no seguinte depoimento:
Bom eu vou falar da minha expectativa, eu vou falar, era uma escola democrática, realmente democratizada. De relação individualista que passasse a ter relações de cooperação, na mudança dos valores éticos morais. Eu esperava que a educação realmente fosse propiciar aos alunos uma visão mais emancipatória. Eu acreditava na formação da omnilateralidade O PPP pra mim enquanto intervenção seria como uma mudança interventiva nas práticas autoritárias, nas concepções conformadas, nas visões conformadas dos educadores. Esse mundo da aparência da técnica, do capital e da formação ideológica. Eu esperava uma superação desse estado de cultura que hoje permeia a tarefa de educadores. E esperava também que se instalasse autonomia nos planejamentos e na condução emancipada do processo ensino aprendizagem, e de qualidade. (A gente esperava que a escola se tornasse tudo àquilo que ela não era e que ela ainda é (B1-03).
Em relação às expectativas, no grupo B2, eram maiores, tanto para a depoente B2- 01como para B2-02, porque faziam parte do grupo do Ensino Fundamental, o qual era responsável em repassar as orientações para as escolas.
O mesmo não acontecia com B2-03 que estava na escola, esta relatou que as escolas estavam desesperadas, querendo uma assessoria do CEMEPE, porque tinha que cumprir prazo, mandar o PPP da escola para o CEMEPE. De acordo com a depoente, os professores envolveram-se mais que os diretores.