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2.2 HACKEANDO O SANEAR AMAZÔNIA

2.2.4 Expectativas do Sanear Amazônia

A incerteza da configuração política brasileira, entre 2017 e 2018, preocupou os envolvidos com o Sanear Amazônia. O grupo idealizador reconheceu que essa política pública é a concretização dos vários anos de luta em prol dos povos amazônicos e um grande ganho para o histórico déficit de acesso à água para os povos da floresta.

No último encontro de avaliação do projeto, ocorrido em abril de 2018, houve o registro de articulações internas entre o MCM, CNS e outras lideranças, para que a ação tenha continuidade, porém os entes perceberam uma mudança no diálogo com os representantes do novo governo, instalado em 201716.

Durante o evento, as discussões buscaram novas formas de financiamento para a continuidade das ações para os extrativistas. Dentre as possibilidades sugeridas estavam: captação de recursos junto ao Fundo Amazônia, que requeria melhoria do formato do Sanear para vincular o acesso à agua ao desenvolvimento; a busca por alternativas de crédito junto a outros entes e ainda uma possibilidade

16 Percepção da pesquisadora durante sua participação (ouvinte) no IV Encontro Sanear Amazônia,

evento do MCM com o objetivo de avaliar a implantação do Sanear Amazônia. Fonte: MCM (2018c)

pautada na pegada ecológica, através da parceria com outros setores que estimularia maior ação da política.

Mesmo em um cenário de incertezas, o governo federal sinalizou a expansão das ações do Sanear Amazônia. Há indícios que a prioridade de atendimento não fique limitada às comunidades de RESEX’s, mas que o benefício atinja um público mais amplo. Um exemplo é o “Cisterna na Escola”, já iniciado.

O marco da continuidade da política pública foi a publicação do Editais de Chamamento Público nº 02/2017/MDS e o nº01/2018/MDS. Os instrumentos visaram a colaboração entre o OSCIP’s e o MDS através da concessão de apoio da administração pública federal para a execução de projetos do Programa junto à Amazônia.

O primeiro Edital estabeleceu como beneficiários famílias de baixa renda, inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, residentes no meio rural, privadas de acesso adequado a fonte de água potável e integrantes do conceito de Povos e Comunidades Tradicionais (MDS, 2017b).

A seleção fixou cinco lotes de atuação e alocou 35 milhões de reais para fomento do acesso à água para consumo humano na Amazônia (ver Quadro 11). Entre as participantes do certame estavam o Centro de Estudos Avançados de Promoção Social e Ambiental, a Fundação de Apoio Instittucional Muraki, a Associação Humana Povo para Povo Brasil, Cáritas Brasileira e ainda o Memorial Chico Mendes, gestor da atual parceria.

Quadro 11 – Novos investimentos no Sanear Amazônia

Lote Estado Microrregião Valor Máximo (R$)

1 Acre - 3.000.000,00

2 Amazonas - 12.000.000,00

3 Pará Santarém e Itaituba 15.000.000,00

4 Pará São Felix do Xingú 2.000.000,00

5 Roraima - 3.000.000,00

Fonte: MDS (2017b)

A grande novidade foi a inclusão do estado de Roraima na linha de atuação do Sanear Amazônia. Agora são cinco estados amazônicos recebendo sistemas pluviais de abastecimento de água. Um dos lotes do estado do Pará, com recursos na ordem de 15 milhões de reais, foi vencido pelo Centro de Estudos Avançados de Promoção Social e Ambiental (CEAPSA) e os demais ficaram sob responsabilidade do Memorial Chico Mendes, que avalizou os 20 milhões restantes.

Através do Termo de Colaboração nº 02/2017/SESAN (nº do Convênio 861469/2017) firmado em dezembro 2017, o CEAPSA já vem promovendo ações. O MCM, através do Convênio nº 862600/2017, prevê iniciar esse novo desafio a apartir de junho/2018. O Termo de Parceria nº02/2014 foi prorrogado até 31/12/2019. O Plano de Trabalho de cada gestor prevê a execução do quantitativo da Quadro 12.

Quadro 12 – Quantitativos da nova fase do Sanear Amazônia

Gestor Estado Tipo de sistema Unidades

M e m o ria l Ch ic o M e n d e s AM

Sistema Pluvial Multiuso Autônomo 145 Sistema Pluvial Multiuso Comunitário 250 Sistema Pluvial Multiuso Autônomo Várzea 160 Sistema Pluvial Multiuso Comunitário Várzea 250 AC Sistema Pluvial Multiuso Autônomo 170

RR

Sistema Pluvial Multiuso Autônomo 30 Sistema Pluvial Multiuso Comunitário 108 Sistema Pluvial Multiuso Autônomo Várzea 20 Sistema Pluvial Multiuso Comunitário Várzea 20

PA

Sistema Pluvial Multiuso Autônomo 30 Sistema Pluvial Multiuso Comunitário 30 Sistema Pluvial Multiuso Autônomo Várzea 10 Sistema Pluvial Multiuso Comunitário Várzea 30

CE

AP

S

A

PA

Sistema Pluvial Multiuso Autônomo 145 Sistema Pluvial Multiuso Comunitário 330 Sistema Pluvial Multiuso Autônomo Várzea 100 Sistema Pluvial Multiuso Comunitário Várzea 125

TOTAL 1953

Fonte: Compilado de SICONV (2018)

Essa expansão do Sanear prevê o incremento de 1953 sistemas. Ao todo serão mais 5 mil famílias atendidas diretamente com tecnologias socias de acesso à água por recursos pluviais. Apesar do número de beneficiários ainda ser pouco, quando comparado a grande demanda existente e ao nível de replicação de iniciativas semelhantes como o P1MC, é notória a forma como o projeto tem impactado as condições de saneamento do povo amazônico.

O mais recente marco da continuidade da política, Edital de Chamamento Público nº 01/2018/MDS, visou além do acesso à água para consumo humano, o incentivo à produção de alimentos e inclusão social e produtiva na Amazônia. Com aporte financeiro do Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolviento Econômico e Social (BNDES), estratégia já discutida por seus idealizadores políticos, o instrumento prevê a implantação de 6.636 tecnologias, especificamente em Unidades de Conservação federais de uso sustentável nas categorias RESEX,

FLONA, RDS, com um investimento inicial da ordem de R$146.315.854,49, como mostra Quadro 13.

Quadro 13 – Expectativa nova fase Sanear Amazônia (2018)

Fonte: MDS (2018)

Essa extensão surge com uma proposta semelhante Programa Uma Terra Duas Águas, vinculado ao P1MC no nordeste. Com a união do Programa Cisternas e o Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais, sua aplicação na Amazônia objetiva facilitar o abastecimento de água para produção de alimentos na região Amazônica, podendo até mesmo ser batizado de Sanear Amazônia Produtiva17. O

Memorial Chico Mendes ganhou todos os lotes, inclusive está em trâmite a contratação de executoras para atuarem nos cinco estados.

Se no início de sua implantação haviam questionamentos acerca dessa “política teste” (AMARAL, 2016), hoje se visualiza uma política mais consolidada, que ainda requer ajustes, mas que vem se configurando de forma continuada e intersetorial. Hoje percebe-se a ausência do controle e acompanhamento das famílias que já receberam os sistemas, desde 2015. Para que se afira a efetividade da política pública é urgente a necessidade de monitoramento do pós-Sanear. A avaliação da real garantia do direito ao acesso à água pelas populações e povos amazônicos, torna-se cada vez eminente. Espera-se que essa pesquisa contribua com essa demanda.

17 Nome apenas sugestivo, não oficial.

UF Unidade de Conservação máx de

tecnologias Acre RESEX’s Riozinho da Liberdade; Cazumbá-Iracema;

Alto Tarauaca; Alto Juruá

1.838

Amapá RESEX Rio Cajari 819

Amazonas

Flonas Mapiá-Inauini; Iquiri; Ituxi; RESEX Médio Purus 1.265 Resex’s Auati-Paraná; Lago do Carapanã-Grande;

Flona Tefé

1.401

Pará Flona Caxiunã; RESEX’s Irini; Rio Xingu, Renascer;

Riozinho do Anfrísio

737

Rondônia Flona Jacundá; RESEX’s Lago do Cuniã; Rio Cautário;

Rio Ouro Preto; Barreiro das Antas