• Nenhum resultado encontrado

Expectativas futuras e Prosseguimento de estudos: Que dificuldades previstas na concretização dos objectivos

JOVEM InstituiçãoGRELHA ANALÍTICA

10. Apresentação e discussão dos dados

10.4. Expectativas futuras e Prosseguimento de estudos: Que dificuldades previstas na concretização dos objectivos

Segundo Maria das Dores Guerreiro et al (2009) as competências habilitacionais são um dos instrumentos principais que contribuem para o progresso de um país ou sociedade. No entanto nem todos os jovens investem da mesma forma no seu futuro, muitos não querem ou não podem prosseguir os estudos e uma formação profissional. No estudo “Trajectórias escolares e profissionais de jovens com baixas qualificações” Maria Guerreiro et al. (2009) pode auferir que a maioria dos entrevistados reprovou alguns anos antes de desistir da escola. Isto é, segundo a autora muitos jovens desistem da escola depois de ocorrem percalços no seu percurso escolar: “A partir do momento em que o aluno começa a não acompanhar a marcha das demandas escolares, o fim da linha apresenta-se próximo” (Guerreiro et al, 2009). Este não é o caso dos jovens entrevistados, pois todos manifestam vontade não desistir da escola apesar de já terem reprovado (alguns mais do que uma vez) e todos pensam estudar pelo menos até ao 3º ciclo,

[104]

Diversas vezes também surge o problema de não existir uma propensão para agir conforme o sistema educativo, como pudemos referir através de Bourdieu, esforça-se na escola o individuo que aprendeu a fazê-lo e que está disposto a aprender. O caso dos alunos institucionalizados traduz bastante bem esta situação, o facto de serem alunos que não foram socializados deste cedo com uma cultura escolar faz com que tenham pouca disposição para apostar no seu percurso. Mais uma vez o presente estudo, vem neste sentido, comprovar a veracidade da teoria de Bourdieu, apesar de os objectivos futuros destes jovens passarem por continuar os estudos todos optaram por sistemas de ensinos mais facilitados e mesmo assim continuam a ter dificuldades e manifestar falta de vontade em aprender.

Na óptica de Guerreiro et al. (2009) muitos alunos não concebem a escola como um meio decisivo para atingir certas metas. Além desta situação o débil desempenho escolar contribui bastante para que os jovens “hipotequem” os seus sonhos de um futuro profissional, visto que os jovens começam a percepcionar a escola como demasiado exigente. Dos dez casos entrevistados o único que mostra vontade de seguir para um percurso académico é o E2. Como termina o curso de equivalência ao 12º ano no próximo ano lectivo está a pensar prosseguir estudos e entrar para a Universidade para os cursos de gestão ou economia. Contudo admite que senão conseguir entrar na faculdade emigrará para a Suíça, e optará por iniciar uma vida profissional. Contrariamente a este jovem, o E5 pensa depois de terminar o curso procurar emprego e abandonar os estudos

.

O E3 gostava de seguir para o curso de técnico de informática ou de electrónica, no entanto considera que esses cursos não têm vindo a progredir muito pelo que possivelmente irá optar por fazer um curso de hotelaria. Um dos seus objectivos a curto prazo era frequentar um curso de informática, no entanto não tem ainda objectivos futuros, apenas afirma que gostaria de viver bem

.

O E9 considera terminar o 3º ciclo pois acredita que actualmente é difícil encontrar emprego, contudo preferia terminar o 9º ano e iniciar a sua vida profissional. Os restantes entrevistados afirmam todos ter vontade de terminar o 3º ciclo pois compreendem que actualmente é lhes mais difícil encontrar um emprego sem habilitações. No entanto quando questionados sobre as possíveis dificuldades para a concretização desses objectivos, a maioria dos entrevistados afirma que serão algumas disciplinas como inglês e matemática.

[105]

Contrariamente ao que seria de esperar, e aos outros entrevistados, o E4 Pensa que a maior dificuldade aquando a concretização dos seus objectivos é o facto de ter sido anteriormente demasiado protegido nas instituições por que passou. Na sua opinião o facto de os lares de acolhimento os protegerem demasiado faz com que não estejam prontos para encarar o mundo exterior, e que tenham medo perante as adversidades que possam surgir. Esta é uma perspectiva bastante curiosa, pois o senso comum diz- nos que os lares de acolhimento são lugares em que os jovens se sentem sozinhos, abandonados e pouco acarinhados. Contudo o E4 afirma que sempre o acarinharam, principalmente na instituição que frequentou anteriormente, e que isso o impediu de perceber como o «mundo exterior» é mais complicado do que aparenta.

Um outro facto também curioso e que já abordamos anteriormente relaciona-se com o sentimento que lhes é incutido (pela instituição) de que necessitam de estudar para ter uma vida melhor. Quase todos os entrevistados afirmam terem de estudar pois actualmente o mundo profissional está ainda mais difícil, isto é mostram sentir que são impelidos ou como que obrigados a perlongar as suas vidas estudantis, quando provavelmente e no caso de um ou dois entrevistados preferiam começar a trabalhar. Esta obrigação e percepção de que o mundo profissional está cada vez pior e que existem pessoas com mais habilitações que também têm dificuldades alienada com o facto de eles não terem vontade de frequentar as aulas, de estudar e de aprender, torna-os desmotivados e é dai que surge o insucesso escolar.

Contrariamente à ideia inicial a que demos foco na presente investigação, a exclusão e não-integração na comunidade escolar não se manifestam como causas para o insucesso escolar dos jovens do Abrigo de São José. Pelo que pudemos depreender, os entrevistados sentem-se bem integrados no grupo de pares, contudo a falta de motivação, a falta de compreensão do que é a escola, e a inexistente vontade de estudar e aprender é o maior motivo para o fraco sucesso escolar destes jovens. Neste sentido quando falamos em jovens institucionalizados e nos seus comportamentos perante a escola, e após esta resenha empírica a primeira palavra que nos surge é a desmotivação. Todavia no próximo ponto das considerações finais debruçar-nos-emos mais sobre estas questões, tentando perceber se por um lado conseguimos dar resposta aos objectivos que serviram de fio condutor à investigação e que ilações podemos retirar da presente investigação.

[106]