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PARTE I – Projecto Educativo

Capítulo 1 Revisão da Literatura

3. Apresentação dos resultados – entrevistas aos professores

3.2 Experiência como professor

A questão “pede aos seus alunos para tocarem de cor?” não é consensual. Metade dos professores entrevistados (P3, P4, P5, P9 e P10) refere que pede aos seus alunos para decorar:

“Ao longo destes anos todos tem sido bastante diverso até porque o ensino mudou imenso. Eu insisto para que os alunos memorizem um pouco mais, pois leva a ter mais concentração. Nos tempos actuais tem sido mais comum. Não consigo encontrar um padrão regular em todos estes anos. Nestes últimos tenho insistido bastante nas iniciações até porque leva a uma melhor compreensão musical, e algo também muito curioso sobretudo a partir de certos anos, de certas idades é que há muita resistência. Querem ler a partitura, é difícil para eles não ler. Querem ter o papel à frente.” (P3, pág. 195)

“Antes não pedia, agora peço e dou mais importância. Penso que é importante criar estratégias para eles não estarem tão centrados naquilo que estão a ver e não estarem tão dependentes do papel. Até porque acho que os alunos quando trabalham sem estarem realmente concentrados no que estão a ver, estão mais concentrados noutras coisas. Acontece com os pequeninos em relação à respiração. Eles tem o hábito de respirar nota a nota e quando lhes peço para tocar a frase de cor eles conseguirem e terem reacções mais rápidas.” (P4, pág. 200)

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“Costumo, mas mais as frases, na mesma base do que eu fazia. Quando vejo que eles tem facilidade, peço para tocar em audições, às vezes no ensaio com acompanhamento, mas, secalhar pela minha experiência, não os mando memorizar andamentos ou peças completas.” (P5, pág. 203)

“Sim, quando eles já tem a peça bastante preparada sim. Se não tiverem é melhor não arriscar.” (P9, pág. 219)

“Porque acho que o devam fazer na vida da escola não, mas quando participam em concursos tem que ser porque vem no regulamento. Trabalhei em algumas escolas em que às vezes decidíamos que determinada prova teria uma parte que iria ser de memória. Naquele ano era assim, noutro podia não ser, mas quando era trabalhávamos com as memórias auditivas e visuais para que conseguissem memorizar. (P10, pág. 222)

Por outro lado, três docentes (P1, P7 e P8) dizem que não pedem aos alunos para tocar de cor, e dois (P6 E P2) dizem que depende do aluno:

“Normalmente espero que seja uma coisa que nasça naturalmente da vontade deles.” (P1, pág. 186)

“Não peço (para tocar de cor), as escalas eles tem que saber de cor. As peças depende dos alunos, há alguns alunos que insisto em que as façam de cor, até porque há alguns concursos internos em que é obrigatório tocar de cor.” (P7, pág. 211)

“Deixo com eles essa opção. Por vezes incentivo se eu sinto que o aluno sabe bem. Digo-lhe toca lá sem olhar. Não obrigo nem faço grande esforço para incentivar. Eu sei que há professores que obrigam a tocar de cor e actualmente cada vez mais.” (P8, pág. 215)

“Depende. Não é a minha meta que eles toquem de cor” (P2, pág. 190) “Depende, lá está, compreendo quando não o querem fazer, incentivo. Também não tenho muitas estratégias, nem recursos secalhar para ensinar, porque também nunca o fiz. Lá está, numa primeira fase enquanto são mais pequeninos, sim eles acabam por decorar e fazem esse tipo de trabalho, nunca tive nenhum a tocar de cor numa audição, por exemplo. Por acaso nunca tive e nas aulas eles fazem isso, mas é opção dele desde pequeninos querer a partitura a frente, é uma segurança e também não obrigo ninguém a fazer isso porque também não o fiz.” (P6, pág. 207)

Sobre a questão se ensinam os seus alunos a decorar, sete dos dez (7/10) professores (P1, P3, P4, P5, P7, P9 e P10) referem que sim:

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“Quando naturalmente eles procuram isso. Essas técnicas já estão implícitas na maneira de trabalhar. Depois se quiserem mesmo ter esse objectivo de decorar” (P1, pág. 187)

“Sim, as estratégias são diferentes como é óbvio. Mediante as idades que eles têm. Com os miúdos das iniciações tenta-se mais… Insisto mais é a partir de melodias que eles conhecem, assim torna-se mais simples porque eles já conhecem e já faz algum sentido para eles. Já tocam essa música de qualquer forma, nestas idades eles resistem um bocadinho… Primeiro eu canto e eles tocam e assim vão dominando cada frase e só quando eles dominam bem é que eu lhes dou a partitura para irem olhando.” (P3, pág. 196)

“Sim, concentra-te em memorizar um compasso e depois ir juntando aos compassos seguintes… cortar uma música em pequenos segmentos ou destruturar a música em poucas partes e reconstruir o todo.” (P4, pág. 200)

“Sim (ensino estratégias), as estratégias que também me foram ensinadas. Há uma que não costumo fazer porque acho que não é viável, que é pegar numa folha e escrever novamente a peça, pedi na altura mas acho que nunca ninguém fez. Então percebi que eram uma estratégia que eles não iam pegar, faço outras, em vez de escrever cantar as notas, andar, decorar pequenas frases, ir adicionando notas.” (P5, pág 204)

“Eu não decoro posições, decoro notas e melodia. Tento passar isso para os meus alunos. Peço-lhes para pensarem na música, para dividirem a música e para pensar como é construída. Pode-se começar mesmo na iniciação, às vezes ensinamos músicas de cor aos alunos, eles vão muito facilmente de ouvido.” (P7, pág. 212)

“Sim (ensino estratégias), eu digo-lhes para eles pensarem em trabalhar três aspectos: a memorização auditiva, a memorização visual e a memorização mecânica, do tacto. Se falhar uma podemos ir buscar a outra. Também digo para cantar a melodia, se tiverem um bom ouvido é muito mais fácil, fazer um estudo técnico sem soprar, só com os dedos, e olhar para a partitura e estar com a melodia na cabeça. A repetição é importantíssima.” (P9, pág. 218)

“Cantar, o que faz sentido, as frases, isso (ensino) sempre.” (P10, pág. 223)

Os restantes professores (P2, P6 e P8) dizem que não ensinam a memorizar por estarem preocupados com outros aspectos:

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“Isso não (não costumo ensinar estratégias) … Sim, para mim decorar é estudar muito, muitas vezes, repetir, tocar sem a partitura. Não ensino, de facto não.” (P6, pág. 207)

“Por acaso não sou uma adepta, embora eu muitas vezes toque muitas coisas de cor mesmo na Orquestra … Como já disse os meus principais objectivos com os meus alunos é pô-los a tocar com aqueles aspectos mais importantes que já referi: o som, a articulação e a técnica, como me foco para aí não me preocupo nada com a memorização e deixo ao critério deles.” (P8, pág. 215)

Apenas três dos professores entrevistados (P4, P7, P9 e P10) referem que dariam mais pontuação a um aluno que tocasse de cor em detrimento de outro que não o fizesse:

“Sim (daria mais pontuação), acho que é muito importante ter essa capacidade de se apresentar com a segurança de quem tem um papel e quem não tem, mostra que a música está muito mais interiorizada quando se toca de memória. Acho que há uma segurança enorme quando uma pessoa se apresenta de cor. É de valor.” (P4, pág. 200) “Sim, um aluno que toque de cor com o mesmo nível de um que toque de partitura iria valorizar. Mas só se resultar, tocar de cor por tocar de cor … é melhor não. Acho que tocar de cor é uma mais-valia porque acaba por nos libertar, o músico fica mais solto e isso passa, essa energia passa. Quando ouvimos alguém a tocar de cor com essa energia acabamos por valorizar.” (P7, pág. 212)

“Depende se ele está a respeitar o que está na partitura ou não… Se for um trabalho bem feito, sim, valorizo.” (P9, pág. 220)

“Eu penso que valorizava o aluno que se empenhasse para memorizar, porque isso significa que ele investiu mais tempo e fez um estudo mais organizado. Qualquer pessoa com menos ou mais sucesso, quando toca de memória tem um resultado da obra interessante. Mesmo quando aconteceu comigo, tínhamos que ir a pormenores que não fixaríamos se estivéssemos a ler. O empenho era diferente, a libertação para fazer música acima dos dedos é realmente outra. E o prazer que se tem quando estás só mesmo com a música. Depois há aquela entrevista do maestro, mas penso que ele foi um bocado radical mas também para lançar a polémica. Nas frequências aponto sempre ou coloco um mais quando tocavam as peças de memória. Eu sem ter consciência disso acabo por valorizar.” (P10, pág. 223)

Pelo contrário, os restantes entrevistados (P1, P2, P3, P5, P6 e P8) referem que não dariam mais pontuação por estarem mais atentos ao resultado final:

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“Não. Eu focar-me-ia no resultado final. Aquele que me provocasse ou que mostrasse mais competências, que tivesse a capacidade de comunicar, tocar tecnicamente bem é que valorizava, tocasse ele de cor ou não.” (P1, pág. 187)

“Não forçosamente. A mim o que me interessa é que ele me diga alguma coisa, que me faça sonhar, é que eu goste muito da música que ele está a transmitir. O facto de simplesmente estar a fazer musica e a tocar de cor se não me transmitir nada, não vale nada. Era melhor ter posto um papel à frente e tocar música a serio.” (P2, pág. 190)

“Não necessariamente…Um Júri sabe quando a peça está dominada ou não independentemente de estar a ser tocada de cor ou não.” (P3, pág. 197)

“Não costumo valorizar … Eu nunca prejudiquei ninguém por tocar com o papel.” (P5, pág. 204)

“Não é importante. É sinal que a pessoa estudou e que está segura, no entanto para mim não significa muito. Para mim interpretação, afinação, sonoridade, tudo o que está envolvido, a partitura é simplesmente um meio.” (P6, pág. 208)

“Não, nada disso. Aponto sempre, toca de memória. Acontece que há problemas técnicos, falhas de memória e estão a desesperar, a sofrer tanto por acharem que não sabem aquilo assim tão bem e ter de tocar de cor pode ser um fracasso total. É completamente irrelevante estar-se a ver alguém a tocar de memória ou não.” (P8, pág. 215)

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