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2. POLÍTICAS DE GOVERNO PARA O TURISMO E O MEIO AMBIENTE

2.1. Política Nacional de Turismo 1994 –

2.1.1 Experiência da implantação do PNMT no município de Arraial do Cabo

O Governo Federal, por meio da EMBRATUR, do Ministério dos Esportes e do Ministério do Turismo, implantou o Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), como parte da Política Nacional de Turismo 1996-1999.

O PNMT foi concebido como um programa de gestão do turismo com foco na conscientização e na sensibilização da sociedade para a importância do turismo como instrumento de crescimento econômico, de geração de empregos, de

melhoria da qualidade de vida da população e de preservação do patrimônio natural e cultural.

Para atender a finalidade a que se propôs, o Programa previu a capacitação de monitores municipais, indicados pelos governos locais, que teriam a função de, entre outras coisas, despertar nos munícipes a importância e a dimensão do turismo como gerador de emprego e de renda, conciliando crescimento econômico com a preservação e com a manutenção dos patrimônios naturais e histórico-culturais.

As comunidades raramente têm visões uniformes, especialmente sobre fatores como turismo, que são vistos como capazes de provocar mudanças consideráveis para a comunidade e dentro dela. O turismo, como qualquer atividade, é capaz de gerar uma faixa imensa de emoções, desde o apoio entusiasta ao antagonismo radical. (BUTLER, 1998, p. 90).

A autora deste estudo participou, como Monitora Local, das Oficinas organizadas pela EMBRATUR — representando o município de Arraial do Cabo —, juntamente com outros monitores dos demais municípios do Estado do Rio de Janeiro.

O Governo Federal, que, naquela época, era influenciado pela teoria do neoliberalismo, utilizou-se do PNMT como instrumento para direcionar as ações dos atores públicos e privados envolvidos no setor (FRATUCCI, 2008). Buscava, por meio da parceria com municípios e com estados, a organização do turismo no seu núcleo, descentralizando e invertendo o sentido das decisões; ou seja, a gestão do turismo caberia ao município destino e, para isso, seria necessário que todos os atores locais — governo municipal, iniciativa privada e comunidade — estivessem imbuídos do compromisso de priorizar ações que propiciassem as condições satisfatórias para que o turismo acontecesse, envolvendo todos os atores sociais e contemplando a sociedade como um todo, e obtendo, como resultado, a participação e a gestão de todos no Plano Municipal de Desenvolvimento do Turismo Sustentável.

A comunidade tinha papel preponderante nesse processo, cabendo ao município a função de gestor do turismo local, responsável pela implantação de

infraestrutura adequada e da capacitação dos atores sociais, a fim de atender às necessidades e às expectativas dos visitantes.

O Estado, dessa forma, cumpria um importante papel de articulação entre os governos federal, estadual e municipal, buscando a promoção do turismo como instrumento de diminuição das desigualdades por meio de um processo participativo.

Uma das estratégias do PNMT consistia em oferecer oficinas que eram conduzidas por um Moderador, profissional capacitado para utilizar o método ZOPP (Planejamento de Projetos Orientados por Objetivos), o qual auxiliava o grupo nas discussões, facilitando o intercâmbio horizontal e estimulando o debate entre participantes.

Essa forma participativa de conduzir os trabalhos era facilitada pelas técnicas apresentadas, e as ideias e contribuições de cada um dos participantes ficavam expostas em tarjetas nas paredes, dando, a todos, a oportunidade de se expressar, de repensar seus valores, comparando-os e propiciando, aos diversos atores municipais, a oportunidade de confrontarem seus pontos de vista e de adotarem uma postura mais propositiva. Nesses trabalhos, as ideias contraditórias deveriam ser negociadas, a fim de se chegar a um posicionamento comum que seria apresentado aos demais participantes. Tudo isso ocorria em um ambiente de cooperação, preconizado pelas oficinas.

A metodologia adotada nos debates era extremamente apropriada para a proposta, pois todos os envolvidos contribuíam com suas experiências, eliminando as dispersões geradas pelos conflitos, na medida que todo o trabalho baseava-se na busca do consenso no grupo. As idéias que não conseguiam apoio dos demais eram descartadas, sob anuência do próprio grupo, ou simplesmente deslocadas para discussões futuras.

Percebia-se que esse método despertava, na iniciativa privada, o comprometimento com o planejamento das ações e, na comunidade, despertava a

importância de seu engajamento. Além disso, a sistemática apontava caminhos que não tinham sido considerados com profundidade pelo poder público local, caminhos relativos a um turismo que promovesse o bem-estar social, em consonância com os anseios da comunidade, e que fosse viável economicamente.

Em seu livro Sociologia do Turismo (2003), Krippendorf cita um modelo utilizado pelos nativos do Senegal para maximizarem os benefícios advindos do turismo e para minimizarem seus impactos negativos:

No Senegal, por exemplo, há dez anos adota-se esta fórmula. Bem perto de sua vila, os nativos construíram moradias no estilo e com os mesmos materiais de suas próprias casas, campo de cabanas possível de receber cerca de trinta turistas ao mesmo tempo. As receitas que provém do turismo são lançadas numa caixa comum e utilizadas no desenvolvimento da própria vila...O objetivo: que os estrangeiros não conheçam o país e seus habitantes através desses hotéis-guetos e desses safáris-fotográficos, mas tenham a oportunidade de participar da vida da aldeia, que de alguma forma possam viver durante certo tempo nas mesmas condições e no mesmo ritmo dos nativos. (KRIPPENDORF, 2003, p. 83).

O município de Arraial do Cabo participou de todas as oficinas propostas, e seus representantes levantaram problemas, sugestões, oportunidades e ameaças para o desenvolvimento do turismo na localidade.

Os resultados dessas oficinas foram sintetizados em relatórios que estão disponíveis para o norteamento de políticas públicas de turismo. As ideias surgidas nessas oficinas fomentaram a criação do Conselho Municipal de Turismo e do Fundo Municipal de Turismo, aprovados pela Câmara e sancionados pelo prefeito, em 1998.