• Nenhum resultado encontrado

É esclarecedor relatar alguns resultados obtidos no campo educacional através da prática da entrevista de explicitação em diferentes instituições de ensino na França, país onde se originou essa metodologia de investigação.

A seguir, serão apresentadas algumas experiências que resultaram em ações de ajuda aos alunos e que possibilitaram a tomada de consciência de como eles procederam para realizar um exercício ou uma determinada tarefa em disciplinas como matemática, prática esportiva (natação) e lógica.

De acordo com a pesquisadora Maurel (1997)35, por meio da EE é possível seguir o pensamento de um aluno e identificar sua lógica, com o objetivo de ensiná- lo a descobrir o que ele faz quando aprende matemática. Nesse processo que envolve as estruturas metacognitivas é esperada tanto a construção da autonomia de pensamento do aluno como a prática reflexiva.

Para tanto, um dos questionamentos adotados pelos entrevistadores é este: E quando você não sabia fazer (referindo-se a uma determinada tarefa proposta), você fazia o quê? Essa estratégia adotada pelos entrevistadores tem como objetivo descrever o desenvolvimento de uma ação sobre matemática que o aluno acabou de realizar para permitir ao discente verbalizar essa ação com o intuito de corrigir, reproduzir ou integrá-la em outras estratégias de resolução de problemas. Aqui, tem- se o uso da EE como ferramenta didática que permite ao aluno aceder a seus conhecimentos e de trabalhar com seus erros.

Nesse sentido, a técnica é empregada para a construção de saberes conceituais e experimentais pela tomada de consciência do percurso mental que

determinada pessoa empreende para aprender, para descobrir o funcionamento de seu próprio pensamento, ou seja, usar a metacognição.

As perguntas da entrevista de explicitação são elaboradas, então, para colocar o aluno em evocação em relação a uma atividade passada e não apenas para conferir se ele conhece o assunto em questão. Nessa perspectiva metacognitiva, as perguntas são elaboradas visando à que o aluno saiba o que ele fez para conhecer um determinado tema durante um evento passado.

O foco do método está em fazer com que o aluno aprenda a se auto-informar e a construir metaconhecimentos. O trabalho proposto é o de possibilitar ao depoente, pouco a pouco, a reflexão sobre o que ele faz, como ele faz para construir estratégias de estudo e resolução de problemas. Essa tendência epistemológica promove uma revolução no pensamento sobre o conhecimento e sobre as diferentes possibilidades de estilos intelectuais, em oposição à determinação de uma maneira uniforme e única de aprender.

Outro objetivo apontado pela professora que fez uso da EE no exemplo descrito acima é expresso pela constatação de que os alunos descobrem o aspecto social da matemática e a importância da interação com os outros colegas (convenção, linguagem comum, definições comuns, notações simbólicas comuns, compreender e ser compreendido pelos demais alunos).

Seguindo essa linha de raciocínio, a professora Claudine Martinez (1997) 36, que leciona prática esportiva – EPS –, expõe um exemplo de contribuição da EE numa atividade envolvendo um aluno durante as aulas de natação. Utilizando-se de teorias da didática da natação sob uma ótica construtivista (p. 63) em conjunto com a EE, foi possível orientar o aluno em questão a conhecer sua dificuldade na coordenação de sua ação motora (voluntária) com a ação de reequilibração automática (bacia, pernas) durante o nado.

Essa experiência evidencia que a EE permite mais que um retorno reflexivo, pois os alunos e professores podem acessar informações pré-refletidas sobre o vivido da ação e o sujeito pode passar do vivido anterior para uma reflexão racional sobre esse vivido.

Contextualizando, é nos anos 80 que aparece uma nova necessidade: compreender o funcionamento intelectual do aluno singular, poder descrever e

analisar a coerência intrínseca da produção de seus erros (no lugar da pura descrição pelo desvio/erro de uma norma). Porém, para responder a essas questões, é necessário que os docentes adquiram informações que só o aluno pode fornecer (MARTINEZ, 1997, p. 23).

Contudo, a análise por comparação com a resposta esperada, ou seja, a referência à norma, dá uma informação sobre a diferença entre esta e o resultado, mas geralmente não permite compreender como o erro se produziu para então produzir uma correção. Por trazer uma ajuda específica, é necessário conhecer as etapas da realização do exercício. Para isso, além dos traços de que podemos dispor (rascunhos, resultados intermediários), numerosas informações podem ser dadas pelo aluno, se ele descrever seu processo (passos) com detalhes suficientes para permitir ao docente compreendê-los e então responder de maneira mais adaptada.

Nesse processo, é relevante sistematizar a identificação de todas as atitudes que fecham os professores à escuta do aluno, seja pela vontade de se identificar com o problema do aluno ou a intenção de lhe dar conselhos antes mesmo de deixá- lo formular sua dificuldade.

Portanto, é comum encontrar nos docentes uma surdez sobre o que o aluno diz, por uma filtragem permanente operada em função do aspecto normativo daquilo que era esperado ocorrer, ou seja, obter do discente a resposta esperada pelo professor, trazendo pouca contribuição ao processo de aprendizagem.

Apesar de, no âmbito desta pesquisa, não ter sido experimentada a metodologia da Entrevista de Explicitação como suporte ao processo de ensino e aprendizagem, como meio de fazer com que o aluno aprenda a se auto-informar e a construir metaconhecimentos, pela reflexão sobre os processos mentais envolvidos em suas estratégias de estudo e na resolução de problemas, a metodologia da EE permitiu avançar mais profundamente nas investigações, durante as entrevistas de campo com os sujeitos pesquisados.

O capítulo IV, a seguir, apresenta os resultados da pesquisa com os docentes de séries iniciais de escolas públicas pela descrição dos dados colhidos por meio de entrevistas e por observação de aulas nas quais foram utilizadas ferramentas computacionais. Articulada com os dados obtidos, encontra-se a análise dos dados à luz do referencial teórico levantado no capítulo anterior (III).

4 ANÁLISE E RESULTADOS DA PESQUISA

4.1 Introdução

Para a realização da presente pesquisa foi entrevistado um público alvo37 composto de professores do ensino fundamental – séries iniciais das escolas públicas do município de Biguaçu, localizado na microrregião da grande Florianópolis.

Foram entrevistados oito docentes lotados em três escolas de ensino fundamental que dispunham de laboratório de informática – cobrindo o percentual de 100% dos estabelecimentos dotados de espaços informatizados do município. Os docentes dessas escolas foram escolhidos para a gravação da entrevista de campo por fazerem uso desse ambiente informatizado em suas atividades laborais. Além dos oito entrevistados, foram pesquisados 11 docentes por meio de questionário quantitativo, conforme Apêndice B, totalizando 19 professores.

Portanto, os dados relativos à entrevista de explicitação e os relacionados a investigação direta das aulas ministradas com o uso de tecnologias informatizadas, referem-se aos oito sujeitos pesquisados. Já os dados referentes ao levantamento qualitativo totalizam um grupo maior composto de 19 docentes.

A pesquisa orientou-se pela necessidade de investigar o uso pedagógico dos recursos tecnológicos, em especial a utilização da informática na prática de ensino dos professores de 1ª a 4ª série, com o intuito de trazer contribuições à pedagogia das tecnologias de informação e comunicação.

As perguntas dessa pesquisa qualitativa baseiam-se nas impressões registradas na memória dos sujeitos pesquisados sobre a utilização de tecnologias em ambientes de aprendizagem, as diferentes concepções dos sujeitos sobre tecnologia nos discursos dos docentes. Buscou-se a investigação sobre as ferramentas tecnológicas mais usuais, as articulações entre os conteúdos técnicos e os pedagógicos em ações planejadas pelos docentes com recursos informatizados.

37 Docentes graduados ou graduandos em pedagogia e que planejam aulas para serem

A análise dos dados, coletados por meio das entrevistas de explicitação e por meio de levantamento quantitativo (conforme modelo de questionário presente no apêndice B) e qualitativo (ficha de relato de aula – apêndice C), teve como eixos norteadores a investigação sobre a relação dos usuários das NTIC com as ferramentas utilizadas na gestão de suas atividades pedagógicas na condição de docentes das séries iniciais do ensino fundamental, durante as aulas programadas para serem desenvolvidas nos laboratórios de informática das escolas pesquisadas.

Portanto, as questões desta pesquisa visam a compreender qual a relação dos usuários da tecnologia educacional com as ferramentas informatizadas utilizadas na gestão de suas atividades laborais na condição de professores e se esses usuários estão utilizando o potencial dos softwares empregados de forma responsável.

A escolha do tema da presente dissertação originou-se da confrontação das concepções de educação e dos usos das ferramentas informatizadas nas séries iniciais do ensino fundamental, observadas pelo pesquisador desta dissertação que atua, há três anos, como professor de educação e tecnologia nos cursos de pedagogia direcionados à formação de professores das séries iniciais do ensino fundamental.

Documentos relacionados