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5 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

5.1 Experiência empírica

A experiência junto à produção artesanal teve início na cidade de Bezerros, interior de Pernambuco, ainda durante a graduação em design. Nessa ocasião, trabalhamos com um grupo de marceneiros que integravam a AAB – Associação dos Artesãos de Bezerros, com a finalidade de expor regras sobre desenho técnico, desenho de representação, leitura de plantas, criação de peças, entre outros elementos e normas. Essa experiência foi o ponto de partida para as próximas cinquenta e sete ações, em grupos distintos, realizadas em quarenta e oito cidades do estado de Pernambuco18, aproximadamente 26% dos municípios desse estado.

18 Segundo o site oficial do estado, Pernambuco é dividido em 185 municípios. Realizamos

consultorias em 48 municípios incluindo alguns distritos ou povoados como em Alagoinha, Brejo da Madre de Deus, Gravatá, Garanhuns, Salgueiro e Sertânia.

No total dessas ações, desempenhamos a função de designer de produto em doze grupos produtores, a função de designer de produto e gestora em trinta, e o papel apenas de gestora aconteceu em quinze produções. Mesmo nesse último formato de atuação, não deixamos de participar da etapa de criação das peças artesanais.

Um fato importante sobre essas intervenções, que deve ser exposto, é que muitos grupos atendidos envolviam uma produção heterogênea, por apresentarem vários processos de produção e tipologias de artefatos. Trabalhamos também com uma grande variedade de materiais e técnicas, os quais representam efetivamente a diversidade da produção artesanal da nossa região. Atuamos com diversos parceiros, incluindo instituições como Associações, ONG’s, Secretarias do Governo do Estado de Pernambuco, SEBRAE, EMBRATUR, Centros de Design, como também com empreendedores individuais. Para que se tenha um panorama quanto à realização dessas ações, dispomos no apêndice a Tabela 10 – Consultoria design e artesanato em PERNAMBUCO, durante o período de 1998 a 2015 - que apresenta as ações concretizadas, as cidades envolvidas, os parceiros, os materiais, as técnicas e os produtos. A experiência vivenciada com cada grupo nos trouxe elementos fundamentais para discutirmos sobre proposta de intervenção de design, e sobre como trabalhar e articular a gestão de um grupo. Esses elementos foram fundamentais para a formatação do modelo proposto nessa pesquisa.

A construção dessa tabela nos traz informações sobre o público atendido, os parceiros envolvidos, a tipologia dos materiais empregados, as técnicas utilizadas, a classificação das produções, além de dados que auxiliaram na discussão, envolvendo métodos aplicados, resultado obtido e avaliação pós-fato relacionada às ações. A tipologia dos materiais empregados na produção artesanal em Pernambuco é bastante diversificada. Uma das informações sobre a produção, extraída da tabela 10, está apresentada no gráfico abaixo, onde trazemos os principais materiais empregados nos grupos atendidos, no período de 1998 a 2015. Comprovamos que produtos confeccionados com linhas, empregadas na produção de trabalhos manuais como bordados, crochês, tapeçarias, renascenças, aparecem em primeiro lugar. A utilização das fibras surge em segundo lugar, e são usadas na produção de artesanato a partir da fibra da banana, palha do milho, sisal, palha da costa, caroá, taboa, entre outros. O tecido acompanha, em muitos casos, a produção de trabalhos manuais e aparece em terceiro lugar quando utilizado na produção artesanal.

Gráfico 02 - Lista dos materiais empregados pelos grupos atendidos em ações de design

Fonte: a autora

Tomando como referência a classificação utilizada pelo Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), juntamente com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), percebemos que a produção artesanal aqui exposta enquadra-se nos conceitos de trabalho manual e artesanato. Nas experiências com os cinquenta e sete grupos, tomados como referência, tivemos 40% dos produtores atendidos produzindo artesanato, 23% produzindo trabalhos manuais e 37% dos grupos com uma produção mista, ou seja, artesãos produzindo trabalhos manuais e outros artesanatos. A partir dos dados da tabela 10 temos o gráfico a seguir:

Gráfico 03 - Classificação do tipo de produção artesanal dos grupos atendidos

Fonte: a autora

O público de artesãos que participaram das consultorias em design sempre apresentou uma predominância feminina; mesmo quando definimos um grupo como misto, o número de mulheres que os integraram fora superior aos dos homens. Assim, tivemos grupo exclusivamente formado por mulheres, o que corresponde a 35% contra 63% de um grupo misto, também com a participação feminina.

Gráfico 04 - Público de artesãos atendidos

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Fonte: a autora

Outro aspecto importante relacionado às ações expostas na tabela 10 é sobre o tempo de duração investido na consultoria. Tomando como referência o período descrito nas ações em Pernambuco, vimos que nas ações analisadas, 4% dos projetos tiveram duração diária, 61% foram realizados com um tempo abaixo de seis meses, 7% acima de seis meses, 16% tiveram duração de um ano, 7% duraram dois anos e quatro anos e 5 % dos projetos tiveram duração de três anos. No gráfico 05, visualizamos que a maioria das ações foi realizada num tempo curto, com menos de um ano, e diversas de maneira pontual, com poucos encontros em alguns meses ou dias.

Gráfico 05 - Duração das ações nos grupos produtores

Fonte: a autora

Para o desenvolvimento das seções 3.1 e 3.2, escolhemos quatro consultorias realizadas com grupos distintos. O tempo da ação em cada grupo, a participação e manutenção do artesão no período da oficina, o tipo da produção e o público de artesãos foram os critérios para esta seleção. Tais critérios foram definidos porque ilustram aspectos e elementos importantes, referentes às relações entre os atores envolvidos e a

obtenção dos resultados nas ações de design. Iremos descrever as experiências e as relações junto aos grupos da ASSOCIAPE, Cupira, CAATINGA e Ilha de Deus.

5.2. Descrição dos estudos de caso de intervenção de design e artesanato: