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3. ATUAÇÃO DOCENTE EM CONTEXTO ESPECÍFICO: PARTE INTEGRANTE DO SABER DOCENTE

3.5. A experiência do relacionamento

Procura a identificação do produto com o cliente a partir dos sentimentos individuais, pessoais, privativos aumentando as experiências pessoais, relacionando o indivíduo consigo mesmo e com outras pessoas e culturas. Trata-se aqui do planejamento de roteiros individuais, elaborados a partir das experiências anteriores, necessidades e

expectativas dos clientes de maneira que privilegiem as ações de interação com pessoas e culturas. Podem ser roteiros clássicos, ambientalistas, exóticos, culturais, ecoturistas e até de aventura. Mas todos eles, sob o viés de expectativas, necessidades, ritmo, disponibilidade financeira e temporal próprias de cada cliente. O turismo, nesse caso significa a possibilidade de agregar informações e vivências que mudem o status de cultura original de modo personalizado. A viagem possibilita, nesse caso, conhecer com detalhes as nuances do destino escolhido, adentrar em suas particularidades, vivenciar suas características. Eu mesma tive a experiência de um roteiro personalizado com destino Rússia, onde pude experimentar ser parte, mesmo que momentânea dessa cultura: comer suas comidas, visitar suas igrejas, museus e atrativos, ouvir seus sons, ver suas imagens, observar suas vidas, entender sua história recente nas entrelinhas do comportamento e reler a história na versão oficial nos catálogos dos museus. Conversar com as pessoas e interagir com sua cultura. Uma experiência significativa, única e inolvidável.

Fonte GAETA, 2006

A análise anterior aponta que os padrões do turismo continuam se alterando em uma dinâmica constante. Nesse texto analisamos turismo de experiência cuja concepção agrega uma boa dose de complexidade e abrangência à pratica e conseqüentemente aos serviços turísticos. Essa é a tendência mais recente. Inúmeras anteriores poderiam ser citadas, visto que a sobrevivência da atividade turística, enquanto prestadora de serviços, depende do atendimento das expectativas do cliente e, portanto, da adaptação às mudanças sociais, econômicas, políticas, educacionais e tecnológicas.

Diante desta realidade os representantes do mercado turístico, nas áreas de viagens, entretenimento, hospedagem, transporte e gastronomia têm sido unânimes em apresentar suas preocupações e procurar adequar seus equipamentos, atividades correlatas e serviços agregados de modo a proporcionar uma experiência marcante aos turistas. Márcia Sztajn, consultora de revista especializada na área, aponta que “percebemos que no palco das relações entre agentes de turismo e

nossos clientes – turistas, viajantes, aspirantes a Almir Klink, o front é totalmente novo”. 14

Além da preocupação de adequar equipamentos e estratégias, as atenções se voltam concomitantemente à qualificação dos recursos humanos. Está claro que novas concepções de serviços turísticos exigem atuação profissional competente e responsável e consequentemente um efetivo preparo para responder aos novos desafios de forma criativa e empreendedora. Ao profissional caberá a difícil tarefa de assegurar equilíbrio entre a eficiência no processo e eficácia nos resultados, o comercial / técnico / financeiro e a necessidade de ter os sentimentos de experiência pessoal de seus clientes atendidos.. Os conhecimentos e competências a serem desenvolvidos dizem respeito às capacidades pessoais que transcendem as técnicas e sobrevivem às transformações nos cenários do turismo, acrescentando complexidade à tarefa de formação e qualificação.

No caso do ensino superior, a formação do “turismólogo15” pressupõe, portanto, estudo mais aprofundado do tema: expõe novas maneiras de levar em consideração o turismo, de entender novos conceitos e teorias e de fundamentar e construir um corpo de conhecimento. Nesse contexto a expectativa sobre os professores é que desenvolvam com seus alunos a compreensão do fenômeno turístico e suas variações; que ajudem a ampliar seu espectro e superar a técnica; que ultrapassem os limites da prática profissionalizante rumo a uma educação que estimule competência mais ampla que compreenda, valorize e permita atuação eficaz no contexto atual do turismo; ao mesmo tempo, que o prepare para detectar e adequar- se às mudanças futuras. O professor, para alcançar esse objetivo, além de conhecer, deve estar envolvido intensamente nesse contexto. Somente ao compreender as peculiaridades de sua área de atuação terá condições de propor ações pedagógicas que contribuam para o desenvolvimento de profissionais competentes e críticos. Somente após ter analisado e vivenciado, por exemplo, uma viagem centrada em “pontos turísticos e lembrancinhas”, o professor terá condições de facilitar a aprendizagem de seus alunos no planejamento de roteiros turísticos que proporcionam experiências “únicas” de uma viagem cultural. E assim por diante.

O que defendemos, através da exemplificação com a área de turismo, é que desconsiderar a relevância da expertise específica de cada área de conhecimento pode comprometer a docência qualificada. Sem essa interação teoria e prática específica e particular a formação pode tomar um viés excessivamente conceitual e afastado da realidade do campo de trabalho, e, a docência pode se utilizar de abordagens, processos e metodologias sem significado e eficácia. Concluímos então que a sabedoria docente compõe-se, inclusive, do domínio do conhecimento específico da área de estudos nas quais o professor irá atuar, o que envolve segundo Garcia (1999), idéias, informações, definições, convenções, estrutura organizacional e até, as diversas interpretações de um mesmo fenômeno.

Acrescentamos mais um elemento que vem aumentar a complexidade e abrangência do “ser professor”. À medida que caminhamos em nossas reflexões fica mais evidente que a atuação docente não é uma tarefa simples como pode parecer à primeira impressão. Ultrapassa, em muito, a perspectiva de transmitir conhecimentos ou participar esporadicamente de um curso trazendo as experiências que anos de vivência acumularam. Exige uma expertise que só pode ser obtida através de um processo de desenvolvimento profissional adequado.

4. LATO SENSU: OPÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO PROFESSOR DO