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4.3 FINANCIAMENTO E ARRANJOS INSTITUCIONAIS DA PESQUISA

4.3.1 Experiências internacionais

Com base nas experiências dos países Austrália, Nova Zelândia, Canadá e EUA, o CGEE31 elaborou um relatório buscando identificar nestes países os principais instrumentos e

fontes públicas ou privadas de financiamento. O Quadro 14, de forma resumida, ilustra as principais características encontradas nestes países. Foi enfatizado que o crescimento do mercado internacional provocou a necessidade de mudanças do modelo jurídico-institucional para facilitar a construção de novos arranjos.

Outro modelo que será abordado nesta seção é a Unidade Mista de Pesquisa, implementada na França. Os arranjos institucionais apresentados poderão solucionar problemas de gestão e governança por possuírem características de interações entre atores em formato de rede, estimularem a participação do setor privado na pesquisa, proporcionarem alternativas de captação de recursos, contribuírem para definições de agendas públicas e privadas de pesquisa, etc.

Quadro 14 Principais características da política PD&I

País Orientação geral da política para PD&I agrícola Objetivo Implicações Austrália Foco na reforma do Estado e no Estatuto das RDC (ICT)

Maior eficiência na operação das ICTs, incrementar captação e parceria no PD&I com o setor privado Inalterada com maior participação do setor público. Nova Zelândia

Foco na reforma do Estado e no Estatuto das CRIS (ICTs).

Maior eficiência na operação das ICTs, incrementar captação e parceria no PD&I com o setor privado.

Inalterada com maior participação do setor público.

Canadá

Foco na reforma do Estado e no desenvolvimento regional - Governança das ICTs compartilhada com as províncias e setor privado.

Setorização e regionalização da PD&I, aproximar com produtores locais e maior participação das províncias.

Amplia participação das províncias e do setor privado no modelo checkoff. EUA Foco na produção de PD&I. Não há reforma institucional.

Reconhecimento que as grandes empresas de insumos nacionais têm interesses subordinados à lógica do mercado internacional. Modesto incremento dos investimentos públicos e privados. Fonte: CGEE (2015, p. 350)

Nos países Austrália, Nova Zelândia e Canadá, as reformas jurídico-institucionais foram causadas pela contenção dos investimentos públicos, pela ampliação da participação do setor privado e pela necessidade de maior interação entre instituições públicas e produtores (CGEE, 2015, p. 295).

Um dos fatores limitantes para que as Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) contratem instrumentos financeiros e ampliem os fluxos de capital é a natureza da personalidade jurídica (pública ou privada) e a natureza da atividade (com ou sem fins lucrativos). A abordagem a seguir refere-se à descrição de algumas das características dos modelos encontrados nos países.

Austrália

A Austrália promoveu mudanças jurídico-institucionais destinando investimentos em pesquisas que contribuíssem para o aumento da competividade. O instituto de Ciência e Tecnologia Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization (CSIRO) e os programas de pesquisas Research Development Companies (RDC), que podem ser empresas ou instituições que mantêm parcerias com o Governo, são os atores mais importantes da PD&I e foram os mais influenciados pelas mudanças do sistema de inovação. A Austrália instituiu um fundo para captação de recursos aos RDCs por meio de taxas provenientes da exportação. A reforma jurídico-institucional se deu nos moldes de rede de centros de pesquisa voltados à agropecuária envolvendo o setor privado, os setores de indústria e ciência, agricultura, agências de regulamentação, o instituto CSIRO, as RDCs e Conselho de Pesquisa Agrícola.

Um importante modelo32 é o Programa de Centros de Pesquisas Cooperativas (CRC),

que objetiva enfatizar a pesquisa em cooperação entre o conhecimento científico, setor público e privado por meio da centralização local das atividades de pesquisa ou do trabalho em rede. A parceria público-privada CRC Water Sensitive Cites, a título de exemplo, iniciou com um orçamento de 120 milhões de dólares australianos. Mais de 80 parceiros envolvidos, entre eles 12 organizações de pesquisa, 14 governos estaduais, 30 governos locais, oito companhias de serviços de água, duas organizações training, quatro companhias privadas e

32 FRAUNHOFER. Public Private Partnership in Research and Innovation – Cases studies from Australia, Austria, Sweden and United States. Germany. 2015. Disponível em: <http://www.isi.fraunhofer.de/isi-

quatro organizações de desenvolvimento agrário. O Centro é uma combinação multidisciplinar.

Nova Zelândia

Na Nova Zelândia, a regulamentação foi um mecanismo utilizado para promover alteração das estruturas das organizações, adequando-as à dinâmica da nova economia. Um exemplo do efeito da regulamentação foi a fusão e incorporação das cooperativas, promovendo a organização e integração do mercado.

As regulamentações, ainda, equipararam o modelo de organização e prestação de contas das instituições públicas e privadas, estabelecendo normas de controle, auditoria e responsabilização dos acionistas pelos resultados.

[...] a reforma da agropecuária na Nova Zelândia é profunda porque se alteram os marcos legais, a estrutura de mercado, organização da produção, comercialização e exportação e integra nova estrutura de instituições de pesquisa. Consequentemente, o financiamento e o fluxo de recursos às atividades de PD&I se moldam ao novo sistema de produção do desenvolvimento e conhecimento no setor. (CGEE, 2015, p. 308).

Há dois fundos destinados à PD&I, o Foundation Research Science and Technology (FRST) e a agência de fomento Callaham Innovation. De acordo com CGEE, o perfil dos investimentos em PD&I Agropecuário em 2013 consistia em 24,9% privado e 75,1% público.

Canadá

O Canadá possui um modelo descentralizado e regionalizado, formado por uma rede de universidades e centros de pesquisas. A fonte de recursos proveniente do setor privado é de 56%. A reforma institucional consistiu em privatizações e inspirações ao modelo checkoffs (fonte de recursos constituída por meio de taxa para financiamento de uma determinada atividade agropecuária por setor e região). A instituição pública Agriculture and Agri-Food Canada (AAFC) atua em programas, em financiamento, coordenação de centros de pesquisa e transferência de tecnologia. Existe, ainda, a Farm Credit Canada (FCC) que atua na concessão de crédito.

O National Research Council (NRC), organização de tecnologia e pesquisa do Governo canadense, realiza cooperação com outras agências e departamentos científicos para compartilhamento de laboratórios de pesquisa. O Canadá possui uma ampla rede de universidades e centros de pesquisa distribuída por seu espaço geográfico. Há ainda as Crown Entities – Entidades da Coroa, que são organizações não estatais e instituídas pelo Governo para executar seus programas ou atuar como agências de fomento.

Os Governos das províncias recebem recursos financeiros, mas também são obrigados a darem contrapartida.

Esta nova regulamentação começa a descentralizar as atribuições do governo central para o setor privado, províncias e territórios [...] a reforma institucional, no caso do Canadá, ocorre através da mudança de orientação política no sentido da descentralização e de escopo de atuação das instituições existentes (CGEE, 2015, p. 316)

Estados Unidos da América

O Programa de Governo PD&I prevê o direcionamento dos recursos financeiros a áreas prioritárias nas quais não há atuação do setor privado ou maior impacto social.

Nos Estados Unidos da América, há maior participação do setor privado nos investimentos totais e as agências públicas se voltaram para ações estruturantes, conhecimento básico e área de fronteira. Os recursos são aportados pelo Governo Federal, por meio do Departamento de Agricultura (USDA), Estados e setor privado. Outra fonte são os checkoffs, que seguem os normativos do USDA e são considerados recursos privados. No caso, os checkoffs americanos são como fundos constituídos por taxas incidentes sobre determinado produto e parte da arrecadação é destinada à PD&I.

França

Um modelo de arranjo institucional implementado na França é a Unidade Mista de Pesquisa (UMP). Para se constituir uma UMP, os interessados devem desenvolver um projeto de pesquisa em consórcio entre o Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNPC), organizações públicas de pesquisa e instituições privadas e submetê-lo ao Ministério do Ensino Superior e da Pesquisa, que analisa, dentre outros aspectos, a pertinência, a infraestrutura e a excelência em pesquisa. As condições básicas que regem as UMP estão

estabelecidas no documento denominado Convenção de Criação. Este estabelece que é uma contratualização celebrada por um período de quatro anos, com possibilidade de renovação por igual período, sendo o objeto a realização conjunta de pesquisa científica, tendo os participantes a obrigatoriedade de assegurarem os recursos materiais e humanos. Este arranjo é interessante no sentido em que os parceiros se habilitam a realizar uma determinada pesquisa, sendo o objeto e as formas de interações entre os parceiros sujeitos ao ambiente institucional criado por eles e com pouca interferência do Governo, mas com seu apoio.