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Experiências Para Diminuir o Impacto Negativo da Judicialização na Saúde

3. IMPACTO DAS DEMANDAS JUDICIAIS NO SISTEMA DE SAÚDE NO

3.5 Experiências Para Diminuir o Impacto Negativo da Judicialização na Saúde

JUDICIALIZAÇÃO NA SAÚDE.

Apesar de muitas criticas, e do próprio Sistema Judiciário brasileiro já ter colocado que a excessiva judicialização gera enormes prejuízos à equidade na saúde, pouco ainda foi feito, efetivamente para mudança deste quadro.

Decisões judiciais fragmentadas em casos isolados, escolhas de marcas de medicamentos, ausência de registro na Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), medicamentos e procedimentos experimentais, e o fato de que grande parte dos pacientes autores das demandas contra o poder público são provenientes de hospitais e clínicas particulares corroboram com esta constatação.

Tem-se que ressaltar que nos últimos anos, vários fóruns e debates trouxeram sugestões para a correção dos abusos da judicialização, porém os números não demonstram grandes resultados práticos até o momento.

Recentemente, o maior avanço nesse sentido foi o julgamento do Recurso Extraordinário 566471 pelo Supremo Tribunal Federal. Segundo a decisão o Estado não é obrigado a fornecer medicamentos de alto custo solicitados judicialmente, quando não estiverem previstos na relação do Programa de Dispensação de Medicamentos em Caráter Excepcional, do Sistema Único de Saúde (SUS). Porém as situações excepcionais ainda serão definidas na formulação da tese de repercussão geral. O STF tem a possibilidade de reduzir consideravelmente a judicialização na saúde, a depender das próximas decisões.

Mapelli Júnior (2017) propõe determinadas ações para a redução da crescente judicialização da saúde, dando preferência pela solução extrajudicial: Não se deve confundir o direito à saúde com o seu pedido perante o Poder Judiciário. A saúde é direito que deve ser exigido do Estado, mas não necessariamente por meio de ações judiciais, principalmente as individuais, devendo-se, ao contrario, buscar

formas de resolução dos conflitos de forma extrajudicial, já que o Judiciário é geralmente despreparado para atender e resolver demandas de saúde. Neste sentido, a iniciativa tem de partir dos Gestores do SUS, mediante pactos de todas as esferas de Governo, visando à construção de mecanismos extrajudiciais de triagem farmacêutica e encaminhamentos ao SUS, sem que o paciente opte pela via judicial.

A criação de centros de triagens farmacêutica específicos em cada região de saúde, articulados entrem Municípios, Estados e a União onde os pacientes devam ser recebidos para uma orientação farmacêutica, segundo os protocolos clínicos e as relações de medicamentos. Tais centros deverão contar com médicos e farmacêuticos capacitados para entender o funcionamento do SUS, seus programas e protocolos. Esses centros ajudariam a garantir o direito à saúde e a afastar a interferência judicial desnecessária em muitos casos.

Ainda sobre o assunto:

Tem sido um grande equívoco imaginar que as farmácias públicas, espalhadas, sobretudo nas unidades básicas de saúde (UBS) das Prefeituras Municipais, tenham condições de orientar os pacientes e evitar a via judicial. Há muito despreparo nos servidores públicos, receio de lidar com a prescrição médica e desconhecimento da legislação sanitária, o que provoca, não raras vezes, desinformação que empurra o paciente de um local para o outro, sem conseguir o medicamento. É essencial assim a implementação de um local específico, com profissionais capacitados, para filtrar as prescrições médicas, de acordo com procedimentos técnico- administrativos do SUS e a legislação sanitária (MAPELLI JÚNIOR, 2017, p,173).

Outra proposta é a criação de câmaras técnicas de conciliação extrajudicial, para os casos em que apenas a analise das receitas por parte dos centros de triagem farmacêutica não seja suficiente. Nestes casos, haveria a necessidade de maiores avaliações por parte de médicos e multiprofissionais de saúde especialistas. Para solucionar tais casos, também objetivando filtrar as prescrições médicas, é preciso verificar se existe uma alternativa terapêutica no SUS, para proporcionar ao paciente um tratamento público. Estas câmaras de conciliação extrajudicial, assim como os centros de triagens farmacêutica também deverão ser articulados pelos Estados com a União e os Municípios, devendo ser implantados regionalmente. Porém, ao contrario dos centros de triagem, as Câmaras técnicas não necessitam existir fisicamente, bastando estarem constituídas formalmente para consultas por parte dos centros de triagem. As câmaras técnicas funcionariam como consultoria altamente especializada para os centros de triagem farmacêutica, e seriam

responsáveis por analisar casos mais complexos e orientar o melhor tratamento disponível no SUS. Também em casos excepcionais, em que não haja nenhuma forma terapêutica prestada pelo serviço público de saúde, poderá sugerir junto à CONITEC a atualização de protocolos clínicos correspondentes às patologias.

Tais propostas acima, teoricamente deveriam reduzir o numero de judicializações em busca de tratamento de saúde, e propiciar o acesso seguro e racional aos medicamentos, segundo protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas. Porém, mesmo assim, por motivos diversos, poderemos ter ainda um grande numero de ações, e para isso, Mapelli Júnio (2017) propõem que a criação de câmaras técnicas de conciliações extrajudicial em saúde, envolvam também o Ministério Público, por ser um órgão comprometido com o coletivo.

Devido à alta complexidade que o direito à saúde impõe e ao grande número de ações judiciais que abarrotam os tribunais pelo país, outra sugestão proposta seria a criação de varas especializadas em saúde pública e de câmaras técnicas de conciliação no Poder Judiciário. No primeiro caso, porque não faz sentido exigir de juízes generalistas o julgamento de litígios de saúde pública sem apoio técnico adequado, e tais varas contariam com juízes especializados, mas também com o apoio de profissionais médicos, farmacêuticos e multiprofissionais de saúde, que poderiam atuar no âmbito estadual, atendendo a todas as varas da saúde.

No segundo casos, as câmaras técnicas de conciliação no Poder judiciário, poderiam absorver parte das demandas, como ocorreu em São Paulo, por iniciativa das Secretaria de Estado da Saúde (SES/SP) e do Poder Judiciário paulista. Tal câmara conta com a presença, que pode ser física ou virtual, de médicos e farmacêuticos do SUS para orientação técnica farmacêutica e conhecimento do funcionamento do SUS, promovendo a conciliação e atendimento dos pacientes mediante a sua inclusão na rede publica de saúde. O objetivo é garantir o acesso seguro e racional dos pacientes aos medicamentos, segundo programas oficiais e considerando qual ente federativo deverá custear a obrigação. Lembrando que hoje, grande parte dos gastos dos Estados-membros com judicialização são para prover medicamentos, que de acordo com a RENAME, seriam de obrigação da União.

Ainda na visão de Mapelli Junior (2017, p.176) nos casos de ações individuais, a única forma de compatibilizar o direito individual com os princípios da universalidade e equidade, é que as ações judiciais de tutela individual sejam restritas a medicamentos produtos e procedimentos previstos nas políticas de saúde do SUS. Assim:

No âmbito individual, o juízo de valor do julgador acerca da integralidade deve respeitar os parâmetros dos protocolos clínicos e relações de medicamentos, da tipicidade das ações e serviços de saúde e de obrigatório ingresso nos SUS, sob pena de violação do acesso universal e igualitário.

Atualmente a grande maioria de das patologias existente possuem políticas públicas definidas para seu tratamento. Porém nos casos das exceções, de enfermidades onde não haja nenhum tipo de tratamento especificado no SUS, o Poder judiciário devera priorizar as ações coletivas de saúde, objetivando, da melhor maneira possível, e em conjunto com os gestores do SUS, colaborar para que o atendimento a estas patologias seja disponibilizado, dentro das condições orçamentárias a todos que dela necessitam, e não somente aos que ao Judiciário recorrem, de maneira igualitária sob o Princípio da Universalização.

Somente através de ações civis públicas ou ações coletivas, ajuizadas pelo MP ou outra instituição legitimadas por lei é que se pode discutir judicialmente qualquer política pública de saúde que possa vir a estar equivocada, ou desatualizada. A obtenção de remédios de alto custo, por via judicial de forma individual, e não constantes das políticas públicas de distribuição de medicamentos, ou que pelo menos estejam em estudo para a inclusão pela CONITEC, caracteriza privilégio, e fere o princípio da equidade.

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