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Experiencia e argumenta<;:ao

No documento SARLO Beatriz Tempo Passado - Ufmg 2007 (páginas 35-47)

Existem outras maneiras de trabalhar a experiencia. Alguns textos partilham com a literatura e as ciencias sociais as precau<yoes diante de uma empiria que nao tenha sido construida como pro- blema; e desconfiam da sinceridade e da verdade da primeira pes- soa como produto direto de urn relato. Recorrem a uma modalida-

de argumentativa porque nao acreditam de todo no fato de que 0

vivido se tome simplesmente visivel, como se pudesse fluir de uma

narra<yaoque acumula detalhes no modo realista-romantico. Sao

textos raros e me refiro a dois: "La bemba", de Emilio de tpola, e

Poder y desaparici6n: Los campos de concentraci6n en Argentina, de

Pilar Calveiro.

Eles pressupoem leitores que buscam explica<yoesnao apoia- das apenas no pedido de verdade do testemunho, nem no imp acto moral das condi<yoesque colocaram alguem na situa<yaode ser tes-

temunha ou vitima, nem na identifica<yao. Pressupoem autores

que nao pensam que a experiencia confere diretamente uma inte-

lec<yaodos elementos que a compoem, como se se tratasse de uma

uma narra<;:aomemorialistica concorre com a hist6ria e ap6ia sua exigencia nos privilegios de uma subjetividade que seria sua garantia (como se pudessemos voltar a crer em alguem que sim- plesmente diz: "Palo a verdade do que aconteceu comigo ou do que vi que acontecia, do que fiquei sabendo que aconteceu com meu amigo, meu irmao"), ela se coloca, pelo exerdcio de uma imagina- ria autenticidade testemunhal, numa especie de limbo interpre- tativo.

4.

Experiencia e argumenta<rao

Existem outras maneiras de trabalhar a experiencia. Alguns textos partilham com a literatura e as ciencias sociais as precau<;:oes diante de uma empiria que nao tenha sido construida como pro- blema; e desconfiam da sinceridade e da verdade da primeira pes- soa como produto direto de urn relato. Recorrem a uma modalida- de argumentativa porque nao acreditam de to do no fato de que 0

vivido se tome simplesmente visivel, como se pudesse fluir de uma narra<;:aoque acumula detalhes no modo realista-romantico. Sao textos raros e me refiro a dois: "La bemba", de Emilio de tpola, e Poder y desaparicion: Los campos de concentracion en Argentina, de Pilar Calveiro.

Eles pressupoem leito res que buscam explica<;:oesnao apoia- das apenas no pedido de verdade do testemunho, nem no impacto moral das condi<;:oesque colocaram alguem na situa<;:aode ser tes- temunha ou vitima, nem na identifica<;:ao. Pressupoem autores que nao pensam que a experiencia confere diretamente uma inte- lec<;:aodos elementos que a compoem, como se se tratasse de uma especie de dolorosa compensa<;:ao do sofrimento. Contra a ideia

exposta por Arendt, de que sobre certos fatos extremos so e possi- vel uma reconstitui<;:aonarrativa, reservam-se 0direito, que Arendt

tambem fez seu, de buscar prindpios explicativos alem da expe- riencia, na imagina<;:ao sociologica ou historica. Afastam-se de uma reconstitui<;:ao s6 narrativa e da simples no<;:aoconsoladora de que a experiencia por si so produz conhecimento.

Calveiro e Ipola escolheram procedimentos expositivos que implicam urn distanciamento dos "fatos': Em primeiro lugar, nao privilegiam a primeira pessoa do relato nem dao uma posi<;:aoespe- cial a subjetividade daquele que 0enuncia; as remissoes teoricas e a perspectiva exterior ao material sao tao importantes quanta as refe- rencias empiricas; a visualiza<;:aoda experiencia se sustenta num momenta analitico, num esquema ideal anterior a narra<;:ao.Em segundo lugar, a experiencia e submetida a urn controle epistemo- logico que, e claro, nao surge dela, mas das regras da arte pratica- das pela historia e pelas ciencias sociais. A perspectiva e fortemen- te intelectual e define textos que buscam urn conhecimento, antes de urn testemunho. Diferentes em quase todos os aspectos, tanto Ipola como Calveiro se separam do discurso memorialistico ao aceitar restri<;:oesno uso da primeira pessoa, da anedota, da narra- <;:aode forte linha argumental, do sentimentalismo, da invectiva e dos tropos.

Por isso, trata-se de textos excepcionais, nao simplesmente em termos de qualidade intelectual, mas tambem porque exigiram autores previamente exercitados (Emilio de Ipola) ou decididos a se exercitar para a escrita e para as fun<;:oesque esta cumpriria (Pilar Calveiro).IComo se pudessem par provisoriamente em sus-

penso 0fato de terem sido vitimas em termos diretos e pessoais da

repressao, ambos escrevem com conhecimento disciplinar, ten- tando se ater as condi<;:oesmetodologicas desse saber. Justamente por isso man tern uma distancia exata em rela<;:aoa experiencia de seus proprios sofrimentos. Tambem por isso nao sao os textos mais

difundidos. De toda maneira, 0livro de Calveiro foi amplamente discutido, ao passo que0artigo de Ipola esta esquecido, como que escondido em outra dobra do tempo.

A primeira versao de "La bemba"2foi escrita em maio de 1978, quando Emilio de Ipola praticamente saia da prisao onde estivera preso quase dois anos.3 Foi urn desafio; ele procurou provar que 0

autor continuava a ser urn cientista social, alguem que nao perde- ra seus conhecimentos e podia continuar a exerce-Ios. Ipola quis recuperar urn passado universitario e empregar suas capacidades, demonstrando que a prisao nao havia conseguido anular as habi- lidades adquiridas numa epoca anterior a repressao. 0 texto poe em cena urn drama da identidade so na medida em que e produto da reapropria<;:ao de urn capital intelectual cuja utiliza<;:aonao se limita a defesa de uma primeira pessoa narrativa. Ipola escreve da posi<;:aode quem analisa seus materiais, nao de quem quer teste- munhar como vitima ou denunciador.

Na "Introdu<;:ao" do volume em que se inclui "La bemba': urn texto hiperteorico, com grande afinidade com os que fpola escre- veu no inicio dos anos 1980, chama aten<;:aoque 0estudo seja

caracterizado "simplesmente como urn testemunho e tambem como uma especie de materia-prima para elabora<;:oesulteriores (nossas ou de outros)". A condescendencia com que, em 1983, fpola julga seu artigo po de explicar-se de duas maneiras: hel,de urn lado, a modestia de urn autor que preferiria evitar as obje<;:oesdis- ciplinares que seu artigo poderia evocar em futuros leitores (fun- <;:aoconvencional de uma introdu<;:ao,em que a captatio benevolen-

tia procura antecipar criticas); mas, de outro lado, tambem e possivel aceitar essa modestia como propria de urn primeiro mo-

mento dos textos sobre a repressao e a violencia de Estado, quando ainda nao se podia saber que0testemunho ia ser hegemonico, dei- xando de lado outras perspectivas sobre os fatos.lpola diz que seu texto (como Levi afirma do dele) e uma "materia-prima". Natural- mente, quando escreveu "La bemba" ele nao podia conhecer os tex- tos futuros nem ter ideia de quais seriam 0tom e a ret6rica com que a literatura testemunhal apresentaria sua "materia-prima". No entanto, a "Introdw;:ao" deixa supor que0texto come<;:oua ser escri- to na cadeia, "cumprindo 0papel pr6prio aos 'intelectuais' na pri- sao [...

J,

isto e,0de se constituirem em analistas e comentadores, mais que em produtores de bembas':* Nessa divisao entre produ- tor e analista se ap6ia todo 0trabalho e tambem minha leitura.

Na "Introdu<;:ao",Ipola examina nao s6 as no<;:oesde verossi- milhan<;:ado rumor (bemba) com aquelas em que0artigo trabalha explicitamente, mas, julgando insuficiente a perspectiva te6rica inicial, desenvolve "algo que [...] e apenas insinuado: 0processo de produ<;:ao-circula<;:aodas bembas tern uma clara analogi a com 0 que a psicanalise chama de 'elabora<;:ao secundaria'. Do mesmo modo que0paciente, na narra<;:aode urn sonho, tende a apagar seu aparente absurdo, preenchendo os brancos e construindo urn rela- to continuo e coerente, 0trabalho das bembas consiste em elimi- nar progressivamente os absurdos aparentes ('duas milliberda- des!') de uma pre-versao inicial, para ir dando forma, por esse caminho, a uma versao aceitavel: verossimil". A "Introdu<;:ao" salienta, na verdade, que 0artigo nao foi suficientemente te6rico ou que, dentro do espa<;:ote6rico, nao acentuou uma dimensao que, no momenta de publica-Io em livro, interessa em especial a Ipola: a psicanalftica. Em suma, a introdu<;:ao de 1983 volta a "La

*Bemba: discursos fragmentarios, rumores. A origem da palavra seriam as radio-

bembas, os boatos que circulavam de boca em boca antes da Revoluyao Cubana.

(N.T.)

bemba" com a desculpa de que e urn texto preso demais a urn momenta descritivo da experiencia.lpola exige mais dele. Os lei- tores, daquela epoca e de hoje, tern a impressao contraria: trata-se de urn texto fortemente inspirado em teorias, em que a experien- cia da prisao e construida como objeto (te6rico, como se diria nos an os 1980) que permite 0estudo do rumor e das condi<;:oescarce- rarias que possibilitam sua difusao e sustentam sua verossimilhan- <;:a.Oque Ipola considera, em 1983, muito pr6ximo ao testemunho e, comparado com qualquer testemunho realmente existente, uma sofisticada analise em que0eu da testemunha nunca aparece, nem mesmo como lugar importante de enuncia<;:ao.

o

rumor e urn tema caracterfstico da semiologia e da teoria da comunica<;:ao,disciplinas de vanguarda nos anos 1960 e 1970, as quais Ipola chegava a partir de uma forma<;:aofilos6fica e social. Embora incorpore outras influencias, "La bemba" se ap6ia em do is textos caracterfsticos da epoca: Internados, de Goffman, sobre 0 sanat6rio psiquiatrico como institui<;:aototal (e, por conseguinte, como espelho da prisao), e Vigiar e punir, de Foucault (embora 0 rumor seja uma fissura no controle absoluto). Mas, citados na bibliografia, os trabalhos sobre semiologia e ideologia sao tambem urn quadro dentro do qual as no<;:oesvindas do campo da comuni- ca<;:aose cruzam com as do marxismo estruturalista. Esse era urn dos nucleos de uma nova semiologia, com outra vertente que che- gava da antropologia estrutural de Levi-Strauss. Menciono esses nomes e a que era entao a Teoria (Althusser dominava 0espa<;:o marxista) nao simplesmente para reconstituir as fontes te6ricas de "La bemba", mas para assinalar de que modo 0texto corresponde a urn espirito de epoca marxista -estruturalista e semiol6gico, cujo denso aparelho te6rico opera como defesa diante de qualquer ver- sao ingenua e "realista" da experiencia.

Dessa experiencia carceraria, Ipola analisa s6 um aspecto da dimensao comunicativa da vida cotidiana. 0 "objeto te6rico" (pro-

duto de uma constru<;:ao,e nao da experiencia, porque esta nao e uma cirvore de onde se po de arran car urn fruto) vem de urn saber anterior a prisao: fpola conhecia os estudos semiol6gicos antes de ser preso e, por isso, nao escolhe urn aspecto qualquer de sua expe- riencia, mas justamente aquele para 0 qual pensa estar preparado e que e interessante em term os te6ricos. Em sintese, fpola tinha os instrumentos analiticos para escutar "cientificamente" a bemba. Nao se fecha em sua experiencia, mas a analisa como sefosse a expe-

riencia de outro, colocando-se no extremo oposto do testemunho,

embora sua materia-prima seja testemunhal.

o

que mais chama aten<;:aoem sua estrategia expositiva- algo que nao se repete em nenhum dos textos escritos nas ultimas decadas - e que ele divide a materia do artigo registrando sua experiencia de prisao em notas de pe de pagina, ostensivamente fora do corpo principal do texto em que ocorrem as opera<;:6es s6cio-semiol6gicas, as analises e as hip6teses. A experiencia em nota de pe de pagina e letra miuda e uma base empirica indispen- savel, mas mostrada em corpo menor.

fpola descreve aspectos da produ<;:ao, circula<;:aoe recep<;:ao do rumor carcerario, comparando esses tres momentos com 0 esquema anal6gico da produ<;:ao e circula<;:ao de mercadorias mediante 0 qual, em fins dos anos 1960, alguns semi610gos tradu- ziam 0 modelo classico de Roman Jakobson. 0 circuito comunica- cional da bemba apresenta anomalias no vinculo entre produ<;:ao, circula<;:aoe recep<;:aodas mensagens porque nao e uma produ<;:ao comunicativa em condi<;:6esnormais, e, por conseguinte, a rela<;:ao entre os tres momentos esta distorcida pela escassez de informa<;:ao confiavel, verossimil ou verdadeira, pelas dificuldades materiais da comunica<;:aoe pela forte pressao de urn tema (0 da liberdade ou a transferencia) que, se anuncia mudan<;:as,pode entorpecer ou des- truir as pr6prias condi<;:6esde circula<;:aodas mensagens.

o

carater excepcional do meio onde se produz a comunica<;:ao

confere as mensagens tra<;:osque nao se atem ao modelo tripartite em que a produ<;:ao (como na produ<;:aode mercadorias) define a difusao e a recep<;:ao.fpola for<;:a(exagera) 0 carater anal6gico do modelo comunicacional inspirado no modelo economico, che- gando as raias do desmedido, como ao citar 0 capital para definir o processo de circula<;:aoda bemba como parte de seu processo de produ<;:ao:"Em certo sentido, caberia dizer do 'trabalho' das bem-

bas algo muito parecido com 0 que Marx (0 capital, vol.2) afirma sobre 0 transporte de mercadorias, isto e, que esse trabalho se manifesta como 'a continua<;:aode urn processo de produ<;:ao den-

tro do processo de circula<;:aoe para este": Seria possiveller nessa

cita<;:aode Marx uma perspectiva ironica se ela nao estivesse em total sintonia com os esfor<;:osrealizados entao por semi610gos e marxistas que sublinhavam a subordina<;:ao de to do processo social sob 0 capitalismo as condi<;:6esdefinidas pelo trabalho assa- lariado na produ<;:aode mercadorias.

Por sua excepcionalidade, a bemba nao corresponde ao modelo que, numa conjuntura te6rica de modelos fortes, implica levar em conta uma for<;:a<;:aofpola analisa a partir desses modelos.

fortes e, por conseguinte, a bemba the apresenta problemas a resol- ver. 0 rumor carcerario e uma instancia de prova das possibilida- des da teoria porque e diferente de todas as outras mensagens, mas ao mesmo tempo e descrito naquilo que corresponde e naquilo que se desvia de suas regras.

E

isso justamente que permite desco- brir em que consiste sua excepcionalidade, ou seja, a persistencia da comunica<;:aonUll espa<;:ode proibi<;:6esquase totais. Para con- siderar essa excepcionalidade, fpola nao toma 0 caminho do estu- do etnografico da inventiva dos presos; nada esta mais distante de sua perspectiva do que uma reconstitui<;:ao que coloque no centro os sujeitos. Antes, no centro ele coloca uma estrutura de rela<;:6es exposta conceitualmente. Nao estuda os presos escutando ou

significar alguma coisa. E interessam-Ihe particularmente os pres- supostos da verossimilhanc;:a do rumor. Com sua analise ele nao quer provar que sempre, em todas as condic;:oes, uma pequena sociedade consegue alcanc;:arurn pequeno mas significativo obje- tivo, e sim que a bemba altera as sequencias normais da circulac;:ao de mensagens de urn modo que a teoria sera obrigada a considerar.

Trata-se do estudo de uma excec;:aocomunicacional, nao simples-

mente de uma experiencia comunicativa.

fpola caracteriza a prisao como urn espac;:oem que"a qual-

quer momento pode acontecer qualquer coisa".Essa indetermina-

c;:aodo esperado em termos comunicativos e uma marca impos-

ta pelo poder carcerario para que os sujeitos vivam num regime

semiol6gico de escassez. A qualquer momento pode acontecer

qualquer coisa por do is motivos: a fragmentac;:ao da informac;:ao que chega de fora, distorcida par redes de difusao fracas ou amea- c;:adas,e a escassez de mensagens que podem se produzir dentro, agravada por urn regime de proibic;:oes fortes mas oscilantes, to-

do-poderosas e, ao mesmo tempo, instaveis. 0 rumor e a respos-

ta

a

escassez e

a

indefinic;:ao das condic;:oes comunicativas.

Como resposta a uma proibic;:ao e a uma escassez, a bemba se caracteriza por seu "nomadismo". A mensagem nao se estabiliza em lugar nenhum nem pode ser armazenada em nenhum registro

de mem6ria. Se nao circular, morre.

A

diferenc;:a das mensagens

"normais", a bemba sempre sobrepoe a produc;:ao e a difusao, por- que nao ha bembas guardadas pelos sujeitos, como eles podem guardar as mensagens subtraidas do circuito comunicativo. Fora deste, a bemba nao existe. E, assim como nao po de ser guardada como conteudo de mem6ria, essa pr6pria impossibilidade garan- te que os temas da bemba (mas nao as mensagens) possam se repe- tir sem que se esgote seu interesse, diferentemente do que aconte-

ce em condic;:oes"normais", em que a repetic;:aoafeta0interesse por

desgaste da novidade informativa.

Naturalmente, 0grande tema da bemba san as liberdades, os

indultos e as transferencias. 0 espac;:ocarcerario de sua produc;:ao

define cruamente 0elenco de argumentos; e, como as bembas

nunca se concretizam, 0carater desses argumentos faz com que

todas as mensagens com os mesmos tern as devam ser esquecidas para dar lugar a novas mensagens com os mesmos temas, que mais

uma vez serao esquecidas. Sem esse drculo em que0novo apaga0

anterior, desde 0infcio0rumor estaria marcado pelo descredito.

A bembae, basicamente, uma promessa de futuro que envelhece e

morre no mesmo dia, para dar lugar a outra promessa identica, mas fraseada com variac;:oesargumentais obrigat6rias.

fpola se interroga sobre as condic;:oesde verossimilhanc;:a e as bases da crenc;:a,e, ao faze-Io, processa de modo analftico e inter- pretativo a circulac;:aode rum ores que ele enfrentou como preso.

Em seu estudo, 0vivido de uma experiencia se faz presente s6

numa configurac;:ao descritiva que corresponde a normas discipli- nares. Por exemplo, quando, em agosto de 1976, se espalha a bemba

da libertac;:aode 2 mil presos, fpola analisa como 0exagero, 0cara-

ter "imoderado" desse rumor impediu que se acreditasse nele. Na "lntroduc;:ao", ele volta a essa regra da moderac;:ao, que the parece uma chave para explicar a verossimilhanc;:a do rumor. Mas a rejei-

c;:aode uma bemba que comunica uma transferencia em massa

exige explicac;:ao diferente: assim como se desconfia das bembas otimistas demais, nao se acredita naquelas de negatividade exage- rada, que excluem qualquer esperanc;:a.

Nessa recusa, fpola observa algo mais importante: uma trans- ferencia em massa destruiria as pr6prias condic;:oesde circulac;:ao de qualquer bemba, porque sua difusao s6 e possivel entre pessoas muito conhecidas. Portanto, a resistencia em aceitar urn rumor de

transferencia vem do fato de que ele ameac;:a0circuito e as condi-

c;:oesde produc;:ao comunicativa.A observac;:aofaz pensar que0cir-

nele intervem. A bembae0"grau zero" da resistencia ao processo

de desinforma<;:ao carceniria. Nesse grau zero, "essas pobres miga- lhas de informa<;:ao"devem estar sempre inscritas na logica de seu processo de produ<;:aoe circula<;:ao,porque ali tambem alcan<;:am urn grau de verossimilhan<;:aque evita sua transforma<;:ao em men- sagens frustradas, completamente descartaveis, na medida em que contradizem tanto as expectativas da recep<;:aocomo as condi<;:6es em que devem ser produzidas e difundidas.

No papel de sociologo da prisao, tpola afirma que a recep<;:ao dabembadepende das categorias de presos que a escutam e difun- dem. A cren<;:ano rumor esta ligada as qualidades e habilidades intelectuais de seus receptores, que tpola define, na estrutura da sociedade carceraria, recorrendo a uma tipologia sociologica organizada com incisos identificados de aa h: membros organi- cos de partidos de esquerda ou revolucionarios; sindicalistas de

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