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No que se refere à prática da experimentação na sala de aula, é possível encontrar diferentes opiniões e explicações a respeito, muitas delas desfavoráveis e um tanto pessimistas. Enquanto alguns autores a colocam como solução para muitos dos problemas que perpassam o ensino das Ciências, outros já não a veem como panaceia.

Laburú, Lamprin e Salvadego (2011, p. 9) afirmam que “não se pode concluir que um professor que se utiliza de atividades experimentais preserve uma relação ideal com o ofício, sem dificuldades no ensino e aprendizagem dos conceitos.” Hodson (1988, 1993) acrescenta ainda que, em alguns casos, os experimentos podem revelar-se insatisfatórios no que se refere à aquisição e entendimento de conhecimentos.

Entretanto, para Galiazzi et al. (2001) é consenso entre os autores que a experimentação representa atividade fundamental no ensino da ciência, mesmo ainda sendo pouco frequente. De acordo com Hodson (1988, p. 53), “talvez porque os experimentos sejam tão largamente utilizados na ciência que os professores de

ciências fiquem condicionados a considerá-los como parte necessária e integral no ensino de ciências.”

Apesar das muitas dificuldades enfrentadas pelo professor, como ausência de material e preparação, ambiente inadequado, grande quantidade de alunos e má comportamento da turma, dentre outros, a experimentação ainda é um meio que, quando realizado adequadamente e com objetivos e estratégias bem planejadas, sua execução em sala de aula, torna-se um potente aliado no ensino, como auxiliar.

Mesmo que muitos professores comumente afirmem que, para a realização de uma atividade experimental, é necessário local e carga horária específica, além de instrumentos e materiais de última geração, elas “podem ser realizadas a qualquer momento, tanto na explicação de conceitos, quanto na resolução de problemas, ou mesmo em uma aula exclusiva para a experimentação.” (LABURÚ; LAMPRIN; SALVADEGO, 2011, p. 10)

É comum pensar que um experimento pode ser realizado somente em laboratório e que, com isso, os alunos “aprendem ciência” por meio do “fazer ciência.” Entretanto, recorrendo ao que coloca Hodson (1988, p. 60), “nem todo trabalho prático na ciência escolar é trabalho de laboratório, e que nem todo trabalho de laboratório pode ser classificado como experimento”

Assim, é preciso lembrar que existe um caminho ou um espaço entre o experimento na ciência e no ensino de ciência, “uma diferença fundamental entre as „circunstâncias cognitivas‟ dos experimentos conduzidos na ciência e dos realizados na escola”. (HODSON, 1988, p. 60)

Não se pode comparar ou equiparar tais tipos de experimentos, como muitos professores costumam fazer e, por isso, justificam o não uso no ensino. As metas que movem os cientistas para a construção do conhecimento científico são diferenciadas das metas pretendidas por aqueles que buscam apenas aplicar esse conhecimento.

Enquanto os experimentos na ciência são conduzidos principalmente com o objetivo de desenvolver teorias, os experimentos no ensino de ciências têm uma série de funções pedagógicas. Eles são usados pelos professores como parte de seu programa planejado para ensinar ciências, ensinar sobre a ciência, e ensinar como fazer ciência. (HODSON, 1988, p. 60)

Além disso, este mesmo autor alerta, ainda, que não existe método único e que a ciência orientada por experimentação não é o único tipo de ciência. Muitos dos avanços no campo científico não passam necessariamente por experimentação. A teoria também exerce papel fundamental e preponderante, pois experimentos e observações não são eventos neutros e não desencadeia, por si só, o conhecimento. (KIRSCHNER, 1992)

Assim, é preciso estabelecer uma ponte de fluxo constante entre a prática e a teoria quando se estiver utilizando experimentos no ensino. Além disso, é necessário promover a aproximação entre os mundos vivenciados pelo estudante: os conceitos abstratos em sala de aula e a realidade observável do cotidiano.

E nesse ponto, onde se trata das vivências cotidianas, é que as Feiras de Ciências se destacam como espaços para a aplicação de experimentos em que os conceitos na sala de aula e as ações do dia-a-dia são interligados por meio de uma investigação, que visa solucionar questões e ampliar o conhecimento a respeito.

Os projetos da feira de ciências devem ser determinados, em sua maioria, por eventos sociais do que propriamente pela teoria apresentada em sala de aula. Nesse sentido, “as decisões sobre o que investigar devem ser inspiradas tanto por considerações econômicas e sociais, quanto por „problemas‟ teóricos. As decisões sobre como investigar e como comunicar as descobertas também podem ser conduzidas por fatos „externos à ciência‟. (HODSON, 1988, p. 59)

Usar experimentação no ensino de ciências e como meio de trabalho que faz parte de um projeto executado para uma feira científica, é uma forma de educar para além de conceitos estanques e gera um aprendizado que, de acordo com Hodson (1988), ainda florescerá. Para este autor, com a experimentação,

(...) os alunos aprendem muito mais sobre os conceitos e fenômenos sob investigação, pois eles têm maior oportunidade de manipular ideias. [...] adquirem algumas das habilidades de raciocínio dos cientistas criativos. [...] aprendem que a ciência é feita por pessoas que pensam, formulam palpites e tentam coisas que às vezes funcionam e às vezes falham. Por meio de tais experiências podemos começar a desmitificar a ciência e torná-la acessível a todos. (HODSON, 1988, p. 63)

Dessa forma, entende-se que os experimentos vão além do que somente ilustrar e representar concretamente as abstrações prévias, pois são componentes essenciais na aprendizagem da e sobre a natureza da ciência e sua prática.

Depois de apontados alguns pressupostos sobre feiras de ciências, alfabetização científica e experimentação no ensino, presentes nos argumentos e concepções dos autores aqui abordados, buscar-se-á no próximo tópico discorrer sobre os procedimentos metodológicos a serem empregados na execução desta pesquisa.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

De acordo com Severino (2007, p. 117), “a ciência se constitui aplicando técnicas, seguindo um método e apoiando-se em fundamentos epistemológicos.”

Deste modo, a metodologia aplicada na pesquisa científica é de fundamental importância para a produção do conhecimento, sendo um conjunto que envolve método, técnicas e procedimentos (MICHALISZYN; TOMASINI, 2012).