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2.3 COMPORTAMENTO ELEITORAL

2.3.1 EXPLICAÇÕES MACRO, FENÔMENO MICRO

As explicações que se situam nesse campo de discussões informam que as condições sociais formam o contexto em que as instituições, as ideologias, as práticas e objetivos políticos se formam e atuam (BORBA, 2005). Assim, a participação política dos indivíduos pode ser explicada pelo ambiente sócio-econômico e cultural em que vivem e pela inserção em determinados grupos sociais ou categorias demográficas (DE CASTRO et al., 1992, p. 11). São, por assim dizer, modelos com explicações histórico-contextuais.

A compreensão, portanto, da decisão do eleitor reside em considerações macro, que assentam o indivíduo em sua coletividade, e não em sua individualidade. A agregação das preferências individuais, portanto, é o que interessa para esta corrente explicativa. Assim, grupos sociais, categorias demográficas, e quaisquer outras agregações cultural e socialmente constituídas são agentes de determinação do voto.

Destaca-se, na literatura, a contribuição de Lipset (1967), que advogou que grupos tendem a participar mais quando (i) seus interesses forem afetados, (ii) quando as informações forem disponibilizadas, de sorte que saibam os impactos para seus interesses, e (iii) quando estiverem expostos a pressões sociais. Nesse sentido, as variáveis mais

importantes para se definir o voto seriam condições, como raça, religião, idade, escolaridade, sexo, gênero, dentre outras.

Lipset (1967) chega a afirmar que os padrões de participação eleitoral são praticamente idênticos em diversos países, como Alemanha, Suécia, Estados Unidos e Noruega. Homens, por exemplo, votam mais do que as mulheres; aqueles com mais instrução, mais do que aqueles com pouca instrução; moradores das cidades, mais do que os habitantes rurais e assim por diante. Esses padrões, entretanto, referiam-se especificamente a comparecimento eleitoral. O argumento de Lipset (1967) foi além, evidenciando o padrão geral de votos para os partidos de esquerda e para os partidos de direita, com base em lealdade de classes, na religião, nas divisões étnicas ou nas nacionalidades. Esses padrões gerais de comportamento seriam refletidos no apoio a determinados partidos políticos, a depender dos países.

Parece natural que indivíduos em condições semelhantes se identifiquem como grupo e estabeleçam preferências também congruentes. A maneira como enxergam a realidade que os cerca, bem como a ação desses indivíduos na realidade será guiada por certo grau de similitude. Na área dos estudos eleitorais, há uma longa tradição de estudos que enfocam esses fatores sociológicos para explicar a decisão do voto. Estudos empíricos, mais recentes, baseados em pesquisas de opinião pública, avaliaram variações no comportamento eleitoral de populações e grupos distintos.

Teorias psicológicas – como a evidenciada por Campbell et al. em The American Voter (1980), consolidando a chamada Escola de Michigan, que, com base no desenvolvimento das técnicas de survey – afirmaram que o estágio de socialização, antes mesmo das decisões do voto, é o elemento essencial para a formação das preferências. Algumas categorias políticas normativas estariam, assim, consolidadas no indivíduo. Compreende-se que a formação de preferências políticas é, em certo sentido, um movimento estático, que dificilmente será alterado durante a vida do eleitor. Para este grupo, a identificação partidária acaba sendo o principal fator explicativo do comportamento dos eleitores. Por essa razão, embora aborde o indivíduo, alocamos essa perspectiva dentro da tradição que agrega as preferências dentro de categorias mais amplas.

Mencione-se, ainda, trabalho na área de psicologia social que enfatiza a inteligência coletiva (“the wisdom of crowds”), propondo que a agregação das preferências individuais, ainda que não informadas, pode servir bem à democracia. O eleitor mediano, por um sistema

de coordenação, independência e autonomia, age individualmente no voto, mas o resultado coletivo tende a ser mais inteligente do que se indivíduos com mais informações tomassem, monocraticamente, as decisões. Os mecanismos, contudo, que levam o indivíduo comum (por inferência, o eleitor comum) a agir de forma inteligente seria uma mistura de acaso com condições sociais ótimas. As decisões coletivas, portanto, não precisariam de muita explicação, já que, quase sempre, resultariam em efeitos sociais ótimos (SUROWIECKI, 2005).

Outros estudos no Brasil podem, de certa maneira, se acoplar a esta perspectiva, como os abaixo explicados. O posicionamento ideologicamente orientado dos eleitores, em um continuum esquerda-direita, por exemplo, varia entre eleitores com diferentes graus de escolaridade (DE SOUZA CARREIRÃO, 2002). Essa perspectiva, avaliada por metodologia baseada em surveys, demonstrou que a agregação de eleitores por nível de escolaridade pode influenciar em posicionamentos no espectro esquerda-direita, o que não significa que os eleitores saibam exatamente o que esses termos significam (SINGER, 1999). O que é importante, para nosso estudo, é que a agregação das preferências é tratada de forma macro, sem considerar o nível da individualidade.

A avaliação recente das afinidades ideológicas, do comportamento eleitoral e do perfil sócio-econômico dos eleitores evangélicos em eleições presidenciais suscitou a discussão sobre o comportamento deste grupo social, o qual se vincula naturalmente a posições conservadoras, moralmente orientadas (BOHN, 2004). O resultado da pesquisa aponta que, em geral, o pertencimento a este grupo religioso indica algum tipo de lealdade política a candidatos que comunguem da mesma fé. As posições políticas conservadoras, entretanto, podem afastar esses eleitores de partidos ou de candidatos que apoiem temas notoriamente progressistas, como o aborto e a casamento homossexual. Em questões econômicas, diferentemente, não se constatou uma grande disparidade deste grupo.

Nesse estudo, a despeito da importância que o contexto social e as explicações baseadas nos grupos e nos estratos demográficos representam, será dada maior ênfase às abordagens que consideram o indivíduo como lócus primeiro da formação de preferência. Não se exclui, entretanto, a importância desses fatores, apenas nos concentraremos na abordagem a seguir.

2.3.2 EXPLICAÇÕES MICRO, FENÔMENO MICRO: HEURÍSTICAS DO