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Explicações neurológicas

No documento Portal Luz Espírita (páginas 88-91)

Explicações naturais (científicas)

3. Explicações neurológicas

A neurologia é a especialidade médica que cuida das causas, diagnóstico e tratamento de doenças do sistema nervoso (isto é, do cérebro, espinha e nervos). Fenômenos semelhantes aos relatados por pessoas que quase morreram aparecem também em certas condições neurológicas. Assim, alguém pode propor explicações neurológicas das experiências de quase morte em termos de supostas disfunções do sistema nervoso das pessoas que estão morrendo. Consideremos os paralelos de casos neurológicos para dois dos mais notáveis eventos da experiência de morrer: a "recapitulação" instantânea dos eventos da vida do moribundo e o fenômeno estar fora do corpo.

Encontrei um paciente de uma enfermaria de neurologia de hospital que descreveu uma forma peculiar de ataques nos quais via flashbacks de eventos de sua vida pregressa.

"A primeira vez que aconteceu, eu estava olhando para um amigo no outro lado do quarto. O lado direito da face dele como que começou a ficar distorcido. De repente, houve uma intrusão na minha consciência de cenas de coisas que tinham decorrido no passado. Eram exatamente como tinham sido quando aconteceram realmente — vívidas, coloridas e tridimensionais. Me senti enjoado, e fiquei tão assustado que tentei evitar as imagens. De lá para cá, tenho tido muitos desses ataques, e aprendi a deixar que sigam seu curso até o fim. A comparação mais próxima que posso fazer é com os filmes que passam na

televisão no Ano Novo. Cenas de coisas que aconteceram durante o ano são projetadas tão rapidamente, que quando se tenta pensar sobre uma delas, já desapareceu. É assim que acontece com esses ataques. Vejo alguma coisa e penso: 'Ah, eu me lembro disso'. E tento estabilizá-la na minha mente, mas qual nada, aparece imediatamente outra.

"As imagens são coisas que realmente aconteceram. Nada foi modificado. Quando acabam, no entanto, é muito difícil lembrar quais foram as imagens que eu vi. Algumas vezes são as mesmas imagens, outras vezes, não. Quando aparecem eu lembro: 'Oh, estas são as mesmas que eu já vi antes', mas quando desaparecem é impossível lembrar quais eram. Não parecem ser eventos particularmente significativos na minha vida. De fato, nenhum deles é. Todos parecem ser muito triviais. Não aparecem em nenhuma ordem, nem mesmo na ordem em que aconteceram. Chegam como que ao acaso.

"Quando as imagens vêm, ainda posso perceber o que está acontecendo em volta, mas a consciência fica diminuída. Não é exata. É quase como se metade da minha mente ficasse tomada pelas imagens, e a outra metade com o que estou fazendo. Pessoas que já me viram durante esses ataques me dizem que duram cerca de um minuto, mas para mim parece que foi um tempão."

Existem certas semelhanças óbvias entre esses ataques, sem dúvida causados por um foco de irritação no cérebro, e as lembranças panorâmicas relatadas por alguns dos meus pacientes de quase morte. Por exemplo, os ataques deste homem tomam a forma de imagens visuais que eram incrivelmente vívidas e também tridimensionais. Além disso, as imagens parece que vinham a ele de forma totalmente independente de qualquer evocação voluntária. Relata também que as imagens chegavam e iam embora com grande rapidez e acentua a distorção do sentido do tempo que acompanhava os ataques.

De outro lado, há também notáveis diferenças. Diversamente das imagens vistas nas experiências de quase morte, as cenas da memória não ocorrem na ordem em que foram vividas, nem foram vistas todas de uma vez, numa visão unificada. Não eram pontos altos, nem mesmo eventos significativos de sua vida; ele acentua a trivialidade delas. Assim, não parecem ter sido apresentadas com propósitos de avaliação ou educativos. Enquanto muitos pacientes de experiências de quase morte indicam que depois da "recapitulação" podiam lembrar os eventos de suas vidas com maior clareza e mais detalhes do que antes, este homem declara que não podia lembrar quais eram as imagens depois dos ataques terem passado.

As experiências fora do corpo têm uma analogia neurológica nas assim chamadas "alucinações autoscópicas" (ver a si mesmo), que são assunto de uni excelente artigo do Dr. N. Lukianowicz na revista especializada Archives of

Neurology and Psychiatry. Nestas estranhas visões, o paciente vê uma projeção

expressões faciais e os outros movimentos corporais do original, que fica completamente aturdido e confuso quando de repente vê uma imagem de si próprio a certa distância, em geral bem na frente.

Embora essa experiência seja algo análoga com as visões fora do corpo antes descritas, as diferenças são muito maiores que as semelhanças. O fantasma autoscópico é sempre percebido como vivo — algumas vezes o paciente pensa que é até mais vivo e consciente que ele próprio —, enquanto nas experiências fora do corpo o corpo é visto como algo sem vida, como uma concha. O sujeito autoscópico pode "ouvir" sua cópia falando com ele, dando instruções, provocando-o, etc. Enquanto nas experiências fora do corpo o corpo todo é visto (a menos que esteja parcialmente coberto ou de outra forma oculto), a cópia autoscópica é bem mais frequentemente vista só do peito ou do pescoço para cima.

De fato, cópias autoscópicas têm muito mais aspectos em comum com o que chamei corpo espiritual do que com o corpo físico que é visto pela pessoa que está morrendo. Cópias autoscópicas, embora sejam algumas vezes vistas em cor, são mais frequentemente descritas como transparentes, vaporosas e incolores. O paciente pode mesmo ver sua imagem passar através de portas fechadas ou outros obstáculos, sem dificuldade aparente.

Apresento aqui um relato de aparente alucinação autoscópica que me foi descrita. É o único a envolver duas pessoas simultaneamente.

"Cerca das onze horas da noite, há dois anos, no verão, antes de minha mulher e eu nos termos casado, eu a estava levando para casa no meu carro conversível. Parei o carro na rua mal-iluminada defronte à casa dela, e ambos ficamos estarrecidos quando, ao olhar ao mesmo tempo para cima, vimos enormes imagens de nós mesmos, da cintura para cima e sentados uma ao lado da outra, nas grandes árvores que sombreavam a rua, cerca de trinta metros bem na frente da gente. As imagens eram escuras, quase que silhuetas, e não se podia ver através delas, mas eram, de qualquer modo, réplicas exatas. Nenhum de nós teve dificuldade em reconhecê-las imediatamente. Elas se moviam, mas não imitando nossos movimentos, pois só estávamos sentados quietos olhando para elas. Faziam coisas assim: minha imagem apanhou um livro e mostrou algo nele à imagem da minha mulher, que se inclinou e o olhou mais de perto.

"Sentados ali, durante algum tempo eu ia narrando a cena — dizendo a minha mulher as coisas que eu via as imagens fazendo —, e o que eu estava dizendo correspondia exatamente ao que ela também estava vendo as imagens fazerem. Aí trocávamos. Ela me contava o que estava vendo as imagens fazerem, e era exatamente o que eu estava vendo.

"Ficamos sentados ali bastante tempo — pelo menos meia hora —, olhando e falando acerca do que estávamos vendo. Acho que poderíamos ter continuado a noite toda. Mas minha mulher tinha que entrar, assim finalmente subimos juntos os degraus que levavam à casa dela. Quando voltei, vi as imagens outra vez, e ainda estavam lá quando dei a partida e me afastei.

para-brisa porque o carro estava com a capota levantada e estávamos olhando o tempo todo por cima do para-brisa. Nenhum de nós bebeu — somos abstêmios até hoje —, e isso aconteceu muitos anos antes que tivéssemos ouvido falar em LSD ou coisa assim. Também não estávamos cansados, ainda que fosse bem tarde, e por isso não estávamos dormindo, nem sonhando. Estávamos bem acordados, alerta, espantados e excitados enquanto víamos as imagens e conversávamos sobre elas."

Concedo que as alucinações autoscópicas são, sob muitos aspectos, como o fenômeno fora do corpo nas experiências de quase morte. Entretanto, mesmo que só focalizássemos as semelhanças, negligenciando completamente as diferenças, a existência de alucinações autoscópicas não nos daria uma explicação para a ocorrência de experiências fora do corpo. Pela simples razão de que também não existem explicações para as alucinações autoscópicas.

Muitas explicações conflitantes têm sido propostas por diferentes neurologistas e psiquiatras, mas ainda estão sendo debatidas, e nenhuma teoria ganhou ainda aceitação geral. Assim, tentar explicar todas as experiências fora do corpo como sendo alucinações autoscópicas seria apenas substituir a perplexidade pelo enigma.

Finalmente, há um outro ponto que é relevante para a discussão das explicações fisiológicas das experiências de quase morte. Em um dos casos encontrei um paciente que tinha um problema neurológico residual derivado de um quase encontro com a morte. O problema consistia em uma ligeira deficiência causando paralisia parcial em um pequeno grupo de músculos de um lado do corpo. Embora eu tenha frequentemente perguntado se havia qualquer deficiência residual, esse foi o único exemplo que encontrei de dano neurológico posterior a um encontro quase mortal.

No documento Portal Luz Espírita (páginas 88-91)