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CAPÍTULO 5: Análise e Discussão dos Dados

5.1 Affordances presentes nas narrativas

5.1.3 Explorar músicas

A categoria emergente com essa affordance não poderia ter outro verbo senão o

explorar. Isso se deve à multiplicidade de formas como a música é explorada por cada aprendiz,

não se restringindo apenas a ouvir uma canção. Cabe aqui a discussão sobre atividades envolvendo músicas em ambientes formais, as quais são pouco exploradas. Um exemplo é a recorrente tarefa de ouvir a música e preencher os espaços em branco com as palavras que foram ouvidas. A atividade em si não é um problema, refiro-me ao uso exaustivo dessa estratégia, porque é possível trabalhar de outras maneiras que explorem mais affordances proporcionadas pela música.

Muitos autores tratam a música como uma estratégia positiva a ser utilizada em sala de aula e se voltam para abordagens pedagógicas aos professores nas aulas de inglês (MURPHEY, 1992; GOBBI, 2001; KAWACHI, 2008; LIMA; BASSO, 2009; FERRAZ; AUDI, 2013; BONATO, 2014; MOBBS; CUYUL, 2018). Poucos estudos, contudo, versam sobre a aprendizagem informal de inglês através da música. Uma dessas pesquisas é a de Ala-Kyyny (2012), que avaliou a presença informal da música em língua inglesa em estudantes finlandeses. Segundo a autora:

Para os aprendizes autônomos que desejam aprender uma língua estrangeira, as músicas podem representar um material significativo, motivador e parte da "vida-real". Além

disso, o tamanho médio de uma música não é exaustivo, logo, a aprendizagem pode

ocorrer aos poucos.24 (ALA-KYYNY, 2012, p.39 tradução nossa)

E aqui, novamente, aparece o fator que envolve o contexto autêntico de produção em língua inglesa. Afinal, praticar o inglês de maneira mais próxima da fala dos nativos é o objetivo de muitos estudantes desta pesquisa. Portanto, é comum que se busquem contextos reais de uso do idioma. Ademais, a música envolve um aspecto afetivo que interfere favoravelmente na aprendizagem. Isso se deve ao fato de que “[a] música une as pessoas. A música permite que os alunos relaxem em uma atmosfera de aprendizagem: a música ajuda a criar um ambiente calmo e agradável para aprender”25 (MASHAYEKH; HASHEMI, 2011, p. 2189). Ainda que

os autores estivessem se referindo à música dentro da sala de aula, fato é que ela se torna um instrumento prazeroso de aprendizagem seja no ambiente formal ou informal, especialmente quando consideramos que, no âmbito informal, é o aprendiz quem busca os meios pelos quais vai aprender.

Se a música foi um recurso muito presente nas narrativas de aprendizagem informal, isso ocorreu porque os participantes escolheram esse meio como relevante para aprender inglês. Alguns trechos exemplificam o interesse desses aprendizes:

Mas o meu contato com inglês começou antes mesmo de entrar no Ensino Fundamental II. Eu sempre tive muito interesse em, por exemplo, ouvir uma música em inglês, ir lá e pesquisar a letra, ler a letra em inglês, tentar pronunciar as palavras, ver a tradução. (Bruna, 19)

E também por causa da música, porque eu comecei na verdade a gostar de música quando eu tinha 10 anos. A maioria dos meus CDs tinha uma capa que possuía as letras das músicas daquele CD e eu normalmente lia essas letras. (Rodrigo, 26)

A partir dos excertos destacados, observamos que as narrativas trazem um aspecto positivo da aprendizagem de inglês por meio da música, visto que Bruna e Rodrigo têm interesse nessa atividade. No caso da Bruna, a participante teve a oportunidade de cantar as músicas e, assim, treinar a pronúncia e, também, traduzir a canção, contribuindo para o seu vocabulário e conhecimento do inglês.

24

For autonomous learners who desire to learn a foreign language, songs can represent meaningful, motivating, “real-life” material. Moreover, an average song length is not exhaustive, and therefore learning can be done in smaller portions.

25

Music brings people together. Music enables learners to relax in a learning atmosphere: Music helps to create a soothing and enjoyable environment for learning.

Já Rodrigo ressalta as capas dos CDs, que tinha como possibilidades de leitura das letras das canções, o que novamente retrata o design como parte da percepção das affordances. Os dois participantes lembram-se de quando começaram a ter contato com o inglês, que ocorreu antes do Ensino Fundamental II para Bruna e aos 10 anos no caso de Rodrigo, reforçando a memória afetiva que os aprendizes têm da língua. Temos outros exemplos das relações entre aprendizes e música:

Eu gosto de tocar o violão e cantar, isso me ajudou. Isso é mais eficiente para aprender verbos e palavras soltas (inaudível), pronúncia, ainda estou praticando. (David, 44) Comecei a estudar inglês na escola e, depois disso, eu fiz alguns cursos particulares. O que me ajudou a aprender inglês foi a música porque eu sempre gostei de ouvir músicas internacionais conhecidas. Ouvir e cantar músicas em inglês me ajudou muito a aprender a pronúncia das palavras. (Juliana, 21)

E fazer algo que você goste, se você gosta de ouvir música, tente ouvir em inglês, assim fica fácil porque você não sente que é só uma obrigação, é prazeroso também. (Adriana, 20)

David conta que explorou a música de uma outra maneira, visto que gosta de tocar violão e cantar, o que o ajudou a praticar o inglês de maneira prazerosa. Já a participante Juliana fala do seu interesse por músicas internacionais famosas, o que a levou a aprender a pronúncia das palavras quando as ouvia e cantava. Adriana ressaltou também o caráter de lazer enquanto se tem contato com o inglês por meio de músicas.

O que há em comum em todos os relatos é o fato de que os participantes aprenderam por intermédio de algo que lhes dava prazer. Ler a letra de uma canção não foi tratado como algo maçante, e sim como uma forma atraente de compreender a história contada na música. Cantar foi percebido como uma forma de melhorar a pronúncia e sentir-se mais próximo da fala do cantor, sendo isso uma atividade também positiva.