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Exposição 2: A Invenção de Limoeiro do Norte através das gravuras e capas

As poesias de Társio Pinheiro, de Luciano Maia e de Irajá Pinheiro, assim como as músicas de Eugênio Leandro, pintaram (através dos versos e das notas musicais) uma geografia e uma história. Mas, nos livros existem imagens que ajudam a direcionar o pensamento dos leitores. Ao longo de vários capítulos é possível encontrar mapas, desenhos e fotografias que apresentam uma espécie de cartografia existencial. Os símbolos que aparecem são quase sempre os mesmos: as carnaúbas, os cata-ventos, as igrejas, os carros de boi, as onças, os casarões, os vaqueiros, os bois, os rios, etc. Mas, também podem surgir alguns retratos de parede, com o rosto dos coronéis, dos padres e dos bispos, formando uma espécie de galeria. Em outras ocasiões podem surgir painéis, como aquele presente no livro Na Ribeira do Rio das Onças (LIMA, 1996, 52) onde várias imagens e símbolos, que pertencem a épocas diferentes, aparecem no mesmo desenho.

Essas mesmas representações, que também surgem no texto escrito e nas outras ilustrações, estão presentes nas capas dos livros de memória e de poesia que mostram a natureza paradisíaca, as carnaúbas, os rios e os riachos. A maioria das capas são compostas exatamente por essas imagens, alimentando a memória dos padres e dos coronéis, das famílias, da igreja e dos partidos, criando a poética e a estética da ilha-pátria, da terra de Parapuã ou do Limoeiro de Dom Aureliano Matos. As capas dos livros de Irajá pinheiro, por exemplo, representam a infância do próprio autor, como se quisesse mostrar a época em que ele era criança. Mas, ao mesmo tempo é uma imagem atemporal, já que o menino olha para uma ilha cristalizada, que pertence a vários tempos.

Na capa do livro O Menino da Ilha é possível ver a fotografia de uma das telas da artista limoeirense Márcia Maia Mendonça, intitulada O garoto de Rua, da década de 1960. Mas, a intenção do autor não era mostrar a pobreza ou a mendicância dos garotos; era, antes, apresentar a infância na época desses e de outros casarões antigos. Na capa de Sonetos do Menino da Ilha, surge o desenho de outro garoto, dessa vez do lado de uma carnaúba na beira de um rio olhando em direção a outra margem, observando a igreja e outras arquiteturas, como se quisesse dizer que o rio é a fronteira dessa ilha. Embaixo desse desenho aparecem dois mapas, um do Brasil, onde está em destaque o Ceará, e outro do Ceará, onde está Limoeiro do Norte. Ao lado direito da imagem aparece o título, O Menino da Ilha e abaixo,

entre os dois mapas, os seguintes textos: Limoeiro do Norte, cidade ilha e Princesa do Vale do Jaguaribe. A capa e suas legendas, em si, já apontam o percurso que o livro quer desenhar.

Nesse caso específico o que está em destaque são as paisagens. Mas, existem outras situações onde o que está em foco são as pessoas, principalmente os poderosos das famílias tradicionais. Em Judite (1906-2006), de Maria das Dores Vidal e Maria Lenira de Oliveira e em Centenário de Nascimento de Franklin Gondim Chaves (10.02.1908-10.02.2008), de Maria Eunides Maia Chaves, temos as imagens das pessoas biografadas. Os dois livros, que falam sobre o centenário de nascimento de Judite e Franklin Chaves, usam retratos de parede, representando a tradição secular da família Chaves.

Em Limoeiro em Fotos e Fatos, de Maria das Dores Vidal e Maria Lenira de Oliveira, é possível ver uma mistura desses dois estilos, juntando quadros e arquiteturas urbanas. Em Francisco de Assis: O Pitombeira temos a técnica da montagem e a imagem do padre é colocada sob a de São Francisco, sugerindo uma espécie de aproximação entre a vida dos dois. Em O Limoeiro da Igreja: A História de Limoeiro do Norte a partir dos seus párocos, de Padre João Olímpio, e A Antiga Freguesia do Limoeiro: Notas para a sua história, de Pompeu Bezerra Bessa, aparecem desenhos das Igrejas, com destaque para a Catedral de Limoeiro do Norte. Em Na Ribeira do Rio das Onças e Sistema Escolar de Limoeiro do Norte: da colônia a escola que revolucionou o município, de Lauro de Oliveira Lima, é possível perceber, respectivamente, a imagem de uma onça, que aparece como símbolo das Ribeiras, e uma sala de aula, representando o Colégio Diocesano Padre Anchieta.

Na capa da autobiografia de Antônio Pergentino Nunes, Minha Vida... Minha Luta, ele também optou por uma montagem. Mandou colocar uma foto pessoal dentro de um círculo azulado no topo de uma carnaubeira, dentro de um carnaubal, entre o verde das árvores e o azul do céu. Em O fiel da Balança: Elucidário Histórico dos poderes administrativos de Limoeiro do Norte e Dom Aureliano: Pastor, Educador e Operário, a autora (Avani Fernandes Maia) optou por duas montagens. Na primeira, colocou um anjo da justiça com uma balança na mão dentro de um carnaubal e, na segunda, uma estátua de Aureliano Matos na frente da Igreja Matriz. Nas capas de O Limoeiro de Dom Aureliano Matos; Coronéis: Ascensão e Queda; Os Valentões e Padre Misael Alves de Sousa, Magister Magnus, de Antônio Nunes Malveira, vemos uma fotografia (representando as fazendas onde viviam os coronéis), quadros oficiais (de Aureliano Matos e Misael Alves de Sousa) e desenhos de homens armados (representando os cabras-machos do nordeste).

Na oitava edição de Jaguaribe: Memória das Águas, em português, o autor (Luciano Maia) mandou colocar uma série de desenhos representando o rio, que foram espalhados ao

longo da obra. Em Padre João: Fidelidade a um ideal aparece outra montagem, o mural de fotografias, com imagens de Padre João Olímpio, foi editado e colocado sobre um fundo azul, aproximando as várias faces do padre do imaginário em torno do céu. Em O Seminário Cura D’Ars ao longo do tempo temos mais uma fotografia, dessa vez da fachada da própria instituição. Em Uma pequena história de cinquenta anos: Colégio Diocesanos Padre Anchieta, Limoeiro do Norte – CE, organizada por Padre Pitombeira em 1992, aparece o desenho (em preto e branco) do Colégio Diocesano Padre Anchieta.

Para fazer a capa da autobiografia Minhas Madrugadas a autora (Maria Florinda de França), encomendou um quadro ao artista plástico Júlio Pitombeira, que pintou um carnaubal com as cores da madrugada. Mais uma vez a imagem da carnaúba e do casarão estão presentes. Em A Arte em Dois Mundos, organizado pela mãe e a irmã da pintora e escultora Márcia Maia Mendonça (Francisca Maia Mendonça e Marcise Mendonça Vital) a capa é representada pelo pincel. Essa última imagem, que representa uma artista, pode ser usada para falar de todas as capas, esse é o sentido principal de todas elas, são construções artisticas carregadas de sentido, produções imaginativas.

As capas precisam dizer em poucas palavras ou em poucas tintas o que pretendem falar ao longo das páginas. Elas nasceram em épocas diferentes e poucas vezes foram colocadas no mesmo espaço, como na Biblioteca Municipal de Limoeiro do Norte. Mas, mesmo nessas prateleiras, elas ficam do lado ou em cima uma das outras, escondendo algumas delas. A maioria dos leitores não olham todos os livros e quando observam é de maneira separada, sem perceber que existe uma conexão entre as capas. A longa lista descritiva apresentada nos parágrafos anteriores serve também para apontar a ideia de conjunto dessa produção livresca.

Ao fotografar todas elas e colocar uma do lado da outra, sem sobrepô-las, percebi que estava diante de uma exposição que nunca foi feita, pelo menos não da maneira como eu estava tentando fazer.