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As doenças, na maior parte das sociedades ditas primitivas, eram vistas como uma maldição de bruxos, ou uma punição dos deuses ou mesmo uma possessão do demônio. A etiologia e o tratamento das doenças eram determinados pelo ‘homem medicinal’, que se responsabilizava pela aplicação de elementos mágicos a fim de poder libertar o doente de demônios e maldições. Entre esses elementos, a música sempre ocupava um lugar preponderante nas cerimônias e dependia, em termos de suas modalidades, da natureza do espírito que invadia o corpo amaldiçoado, tomado pela doença (Davis, 1992).

A música é reconhecida como meio terapêutico desde a Antigüidade. Registros em papiros dos egípcios, que datam de 1550 anos a.C., revelam a influência da música sobre a fertilidade feminina. Personagens históricos representaram cenas que diziam do papel fundamental da música em certas situações; por exemplo, David tocando lira, para acalmar o rei Saul; Josué e as trombetas que derrubaram as muralhas de Jericó... (Baranow, 1999).

Na Grécia Antiga, a música também era concebida como uma força que produzia efeitos sobre o pensamento, as emoções, e a saúde física das pessoas. Em 600 a.C., em Esparta, dizia-se que Thales havia curado uma praga com seus poderes musicais.

Os exércitos antigos utilizavam a música como um componente essencial para elevar o patriotismo dos soldados. Assim, os escoceses tocavam as gaitas de fole; os ingleses, trompetes; e os franceses, tambores. Conforme Napoleão Bonaparte dizia: “Um povo pode ter um grande exército, mas se não tiver uma banda marcial boa nunca ganhará uma guerra” (Baronow, 1999: 1).

Mesmo nos dias atuais, pajés e curandeiros de tribos indígenas fazem uso da música como um caminho de comunicação com deuses e espíritos, no sentido de obterem a cura de doenças e soluções para seus problemas (Baranow, 1999).

No séc. XVIII, apareceram os primeiros artigos sobre os efeitos da música em diferentes doenças. Em “Music Physically Considered”, artigo publicado na revista Columbia Magazine, de 1789, um autor anônimo fala dos efeitos exercidos pela música na mente humana. Em 1796, o artigo “Remarks by the Cure of a Fever by Music”, escrito por autor também anônimo, narra a história de um professor de música, cuja febre alta o atormentava por semanas, e foi curado por um concerto de música. Antigas descrições dos efeitos terapêuticos da música receberam, via de regra, um sentido anedótico.

A primeira menção à terapia pela música, feita pela American Medical Association (AMA), foi em 1914, com a publicação de uma carta do médico Evan O’Neil Kane, que relatou o uso de um fonógrafo para “acalmar e distrair os pacientes” durante as cirurgias.

Alguns anos depois, Eva Vescelius, fundadora da National Therapeutic Society de New York City, predisse: “Quando o valor terapêutico da música for compreendido e reconhecido, ela será considerada tão necessária no tratamento de doenças quanto o ar, a água e os alimentos”. Ela previu uma época em que todo o hospital, presídio e asilo teria um departamento de música. De fato, em 1929, o Hospital da Dulce University tornou-se a primeira instituição do gênero a oferecer música aos doentes, por meio de rádios e auto-falantes (Campbell, 2001: 134).

Em 1918, a Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, ofereceu o primeiro curso de Musicoterapia, ministrado por Margaret Anderson, uma musicista

britânica, que havia trabalhado com soldados feridos durante a Primeira Guerra Mundial.

Nas décadas de 30 e 40, o uso da música e dos sons para mascarar ou reduzir a dor em procedimentos cirúrgicos e odontológicos proliferou nos Estados Unidos. A Universidade de Chicago financiou pesquisas de larga escala, incluindo o uso da música como anestésico antes de cirurgias para úlceras pépticas, uma doença que não reagia bem à medicação convencional.

A moderna Musicoterapia, desenvolvida nos finais dos anos 40, progrediu a partir do uso da música para o tratamento da fadiga de combate entre soldados por ocasião da Segunda Guerra Mundial. Ao lado da penicilina, quinina ou radiação, a música teve seu lugar no leque de medicamentos do Exército. O primeiro centro de treinamento em Musicoterapia do país foi na Universidade do Kansas e na Clínica Menninger de Topeka. No período pós-guerra, hospitais, clínicas e asilos para idosos convidavam músicos locais para audições (Campbell, 2001: 135).

O primeiro plano de estudos em Musicoterapia nos Estados Unidos foi elaborado em 1944, em Michigan. Em 1950, foi fundada a Associação Nacional para a Terapia Musical.

Na Argentina, em 1968, aconteceu a Primeira Jornada Latino-Americana de Musicoterapia. No Brasil, iniciaram-se, em 1971, cursos no Rio de Janeiro e no Paraná. Em 1980, a Universidade Federal do Rio de Janeiro deu início à prática clínica da Musicoterapia, carreira de nível superior, e reconhecida pelo Conselho Federal de Educação desde 1978.

Atualmente, realizam-se nos Estados Unidos, investigações qualitativas e quantitativas, publicadas pela Associação de Musicoterapia Americana (AMTA),

com a finalidade de explicar os diferentes efeitos que a música exerce em pessoas doentes, de diferentes idades. A AMTA define Musicoterapia como:

O uso controlado da música com o objetivo de restabelecer, manter e incrementar a saúde mental ou física. É a aplicação sistemática da música, dirigida por um musicoterapeuta, em um ambiente terapêutico, com o objetivo de chegar a mudanças de estados ou de condutas. Estas mudanças auxiliam o indivíduo que participa dessa terapia a adquirir uma melhor compreensão de si mesmo e do mundo que o rodeia, podendo adaptar-se melhor à sociedade. Como membro de um grupo de profissionais, o musicoterapeuta participa da análise dos problemas do indivíduo e da previsão de um tratamento global antes de desenvolver qualquer atividade musical. As avaliações periódicas determinam a efetividade das técnicas utilizadas.51