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A expulsão camponesa no PA Diamantina: uma das faces da contrarreforma agrária em curso

CAPÍTULO III A REFORMA AGRÁRIA NO MUNICÍPIO DE TABULEIRO DO NORTE (CE) E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO

Mapa 1 – Localização do PA Diamantina

3.5 A expulsão camponesa no PA Diamantina: uma das faces da contrarreforma agrária em curso

Segundo Oliveira (2001b), o desenvolvimento capitalista se dá na produção de suas próprias contradições, onde o capital cria o trabalho assalariado, pela expropriação e, concomitantemente, (re)cria o trabalho familiar camponês, para que sua produção (do capital) possa ocorrer por meio da sujeição da renda da terra ao capital. Dentro deste arcabouço teórico, do desenvolvimento contraditório, desigual e combinado do capital e seu caráter rentista, é que se busca compreender a questão agrária no Brasil, consequentemente, a reforma agrária, a discussão dos assentamentos rurais e a expulsão de camponeses destes. Nesse sentido, as palavras de Fernandes (2010), na epígrafe introdutória deste trabalho, as quais se faz questão de reproduzir a seguir, são pistas para refletir acerca da questão da expulsão camponesa nos assentamentos:

A precariedade da reforma agrária e das políticas agrícolas para o setor camponês – marca iniludível de todos os governos que assumiram o Estado brasileiro – está expulsando famílias assentadas. No lugar dessas famílias excluídas surgem novas famílias assentadas. O problema não se resolve em si, se reproduz em si (Ibidem, p. 192).

185 A realidade do PA Diamantina dá concretude as palavras do autor, pois o que se constata é uma expulsão de camponeses assentados e no lugar destes expulsos, novos camponeses assentados surgem para ocupar a vaga, ou melhor, a terra do assentamento. Nesse processo é mister fazer a seguinte indagação: como ler essa reforma agraria a partir da lente do desenvolvimento contraditório do capital aludido acima? A resposta a essa indagação passa pelo entendimento de que a reforma agrária nos moldes como está sendo executada, e o PA Diamantina é um claro exemplo, atende totalmente os anseios do capitalista rentista no tocante à produção do capital, através da extração da renda da terra absoluta, realizada por meio da indenização no ato de desapropriação do imóvel para a reforma agrária. Nesse ponto, os escritos de Martins (1981) são esclarecedores quando, ao criticar a reforma agrária distributivista afirma que na sociedade capitalista “a propriedade fundiária não se concentra nem se divide sem a mediação do capital” (Ibidem, p. 168), bem como assevera que: “[...] é muito importante discernir entre produção do capital e reprodução capitalista do capital. A produção do capital nunca é capitalista, nunca é produto de relações capitalistas de produção, baseada, pois no capital e no trabalho assalariado” (Ibidem, p. 170). Esse é um pressuposto basilar para se entender a dinâmica no Estado na construção dos assentamentos rurais frente as indenizações garantidas aos latifundiários e pagas pelo INCRA, ou seja, a produção do capital via renda da terra, ainda hoje, é um mecanismo que dinamiza sobremaneira o modo de produção capitalista no Brasil.

Nesse contexto, a reforma agrária implementada no país, seja via a luta pela terra, seja pela negociação, ao materializar a construção do atual modelo de assentamento alimenta o rentismo com a indenização - mesmo sendo uma parte paga em Títulos da Dívida Agrária (TDA) resgatáveis em até 20 anos, no caso da terra nua, e as benfeitorias em dinheiro. Ao passar desta fase de proporcionar a produção do capital com a indenização, ou seja, com a apropriação da renda absoluta da terra pelo capital, o assentamento perde a razão de ser para o Estado, pois o capital já foi beneficiado. Dito de outra forma: o Estado já cumpriu seu papel de atender os interesses dos proprietários e nesse momento tem início a agonia dos camponeses assentados ao se depararem com a situação de precariedade e abandono que leva uma ampla maioria a deixar a terra, como será visto aqui no caso do PA Diamantina.

Os dados apresentados a seguir, foram resultados de um trabalho detalhado sobre o histórico de famílias assentadas no Assentamento Diamantina com foco, principalmente, no levantamento de dados sobre as famílias expulsas: quantificação e periodização desse processo. Os referidos dados foram obtidos a partir do Sistema de Informações de Projetos de Reforma

186 Agrária (SIPRA/INCRA); por meio de pesquisas no Livro de Registro de Atas da Associação do referido Assentamento; contatos com as famílias assentadas mais antigas e as ex-assentadas, além dos técnicos que trabalharam na ATES e os que ainda prestam os serviços de ATER no Assentamento. Através da análise dos mesmos, foi possível mensurar a dimensão do problema da expulsão dos camponeses assentados.

Inicialmente foi constatado que as primeiras famílias homologadas pelo INCRA para serem assentadas no PA ocorreram no final do ano de 2004. No referido ano, ocorreram quatro datas diferentes de homologação das mesmas, quais sejam: em 22/10, 09/11, 30/11 e 06/12, com 24, 6, 9 e 4 famílias homologadas, respectivamente, totalizando 43 famílias. Ao analisar os dados de famílias desistentes e a relação de beneficiários do SIPRA/INCRA, constatou-se que 100% das famílias homologadas inicialmente pelo INCRA em 2004 deixaram o PA ao longo dos anos, sendo 41 desistências e 2 evasões. O gráfico a seguir, explicita como ocorreram estes processos ao longo dos anos.

Gráfico 18 – Desistência e evasão das famílias homologadas em 2004

Fonte: INCRA (2014) – Org.: Claudemir Martins Cosme, 2014.

Ao analisar o gráfico acima, verifica-se que do total geral de 43 famílias desistentes/evadidas, em relação às homologadas em 2004, o ano de 2005 é o que apresenta o maior índice de desistência, com 58% das famílias, seguido pelo ano de 2004, com 25% das famílias desistentes. Por fim, os anos de 2007 e 2008 com, 7% e 5%, respectivamente e apenas

25% 58% 7% 5% 5% Desistentes em 2004 Desistentes em 2005 Desistentes em 2007 Desistentes em 2008 Evadidos em 2013

187 5% a evasão, em 2013. É importante destacar que o ano de 2005 foi quando se iniciou o trabalho de construção das moradias, conforme está registrado no Livro de Atas da Associação do Assentamento, no trecho da Ata do dia 08 de julho de 2005: “[...] dando continuidade foi levantado o nome de uma pessoa responsável pelo material e estabelecer um horário para entregar este material. Ficou acertado que um topógrafo irá demarcar a área das casas no dia 15 (quinze) de julho de 2005 (dois mil e cinco) [...]”.

A maioria das famílias foram homologadas em outubro do ano de 2004, aproximadamente 56% das homologadas deste ano. Ou seja, cerca de 8 meses depois, em julho de 2005 conforme ata acima, ainda estava sendo discutida a questão da vinda de um topógrafo para a demarcação dos locais para a construção das moradias, demonstrando a lentidão do processo. Lentidão fruto da burocratização e inoperância do INCRA, como o estudo de Carter e Carvalho (2010) destaca, quando se refere à lentidão e a burocratização dos processos administrativos na criação dos assentamentos rurais:

Mesmo com a pressão social, os procedimentos burocráticos de implantação de um assentamento podem durar vários anos. A velocidade do processo varia em grande medida segundo a vontade política do governo e a ocorrência de entraves judiciais. Na média nacional, a demora entre o início da mobilização pela terra e a desapropriação do imóvel é de quatro anos. Durante esse tempo devem-se cumprir diversos ritos administrativos que vão desde a vistoria formal de uma fazenda para sua caracterização como latifúndio até a assinatura do decreto presidencial que desapropria a área por interesse social para fins de reforma agrária. O Poder Judiciário pode interromper esse processo a qualquer momento a partir de recursos impetrados pelo proprietário da terra. Tudo isso reflete o fato de que uma reforma agrária conservadora é feita sob uma arquitetura legal e burocrática desenhada para proteger os interesses dos grandes proprietários antes que favorecer a redistribuição da terra (Ibidem, p. 292).

José Fábio da Silva Oliveira, um dos assentados com cadastro homologado em 2004, teve duas passagens pelo assentamento, ou seja, duas entradas e duas desistências, sendo a primeira ocorrida no ano de 2005. Ao ser indagado sobre como era à vida das famílias neste período e quais os problemas que as mesmas tinham que atravessar, ressalta o processo lento de construção das moradias e a ausência de apoio do INCRA ás famílias.

Quando a gente chegou lá só era mato, nós comecemos arrancando de chibanca, limpar o canto das casas lá. Demorou lá muito para chegar algo, quando eu saí de lá não tinha nem começado ainda, quando eu sai a primeira vez, não tinha nem começo de casa lá, só mato. As reuniões eram feitas lá na sede, hoje onde é a sede do assentamento, uma casinha da fazenda lá em cima. Nós ía de manhã e vinha a tarde, todo santo dia, nós ia de bicicleta, ninguém tinha moto na época, de carroça com compadre Xisto, era uma dificuldade medonha. Arrancar tronco de chibanca pra limpar o canto das casas. A dificuldade de acesso que não tinha, pra gente não tinha transporte pra levar. Falta de recursos que o INCRA também num dava assistência também, era cada qual por conta própria. Tudo isso era dificuldade pra gente [...], estrada em péssima qualidade [...], a água consumível não [tinha], só mesmo pra

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construção de casas tinha, lá na frente, lá na fazenda. Pra beber tinha que ser levada daqui ou pegada lá no Sítio do Góis [...]. Eu sai de lá num tinha começado nem a encostar material pras casas175.

Maria do Socorro Freire da Silva, assentada no momento deste depoimento e, atualmente, ex-assentada, ao descrever o período de construção das moradias, enfatiza a extrema dificuldade pelo que passou as famílias nos anos iniciais (2004-2005), privadas de condições mínimas, como por exemplo, acesso à água para o consumo, uma necessidade básica.

Pois bem, umas famílias que vinha da Sucupira, esses vinham, trabalhavam aqui o dia, a tarde ia voltando. E outros, que nem outros que vieram de Limoeiro, não, esses se arrancharam aqui debaixo deste pé de Juazeiro, era debaixo deste pé de Juazeiro e mais umas Juremas que tinha aqui pra trás. Ficaram parece que três famílias aqui [...]. Estes vieram de morada e construíram a casa e só foram buscar as coisas, ficaram todo tempo era aí debaixo [das árvores]. Nunca faltavam, era dificilmente fechar, como se diz aqui, de dia e de noite tinha gente aqui [...]. Foi muito difícil viu [...] porque, quando as famílias vinham, muitas vez vinha só o homem, num vinha a mulher, ai a gente diz no popular, duas panelas né. Aí já muito pobre, houve muita dificuldade aqui dentro. A dificuldade da água, que era água salgada [...] além da água ser limitada, era salgada. Aí tinha pra construção, [mas] num tinha pra beber [...]. Era muito sofrido, eles sofreram muito, os primeiros fundador dessas casas [...] eles sofreram. Tudo foi com sacrifício, num foi nada de graça não, tudo foi com muito suor, com muita garra, com força de vontade mesmo, se num tivesse sido, nós num tinha chegado onde chegamos não176.

Com base nos depoimentos das famílias, tem-se a dimensão da precariedade das condições de vida nas quais o INCRA assentou as mesmas, deixando claro que o imóvel desapropriado não possuía as condições mínimas para viabilizar a construção de um assentamento rural, consequentemente, era necessário uma intervenção inicial urgente do órgão, algo que não ocorreu. E o que agravou mais a situação foram: a longa espera, a lentidão do processo para construção das moradias, onde as famílias foram homologadas nos últimos meses de 2004 e no segundo semestre de 2005 ainda não tinham sequer construído suas casas. Um longo tempo de espera numa situação totalmente degradante para a vida humana, como resume Antônio Marcos Ferreira dos Santos, assentado atualmente, “período muito difícil né. Que nessa época num tinha água nem pra beber e nem pra construir uma casa dessas [...]”177.

O tempo de permanência no assentamento das famílias homologadas e, posteriormente, que desistiram/evadiram, também fez parte das análises dos dados, demonstrado no gráfico 17, com relação ainda as famílias homologadas em 2004.

175 Entrevista realizada no dia 05 de junho de 2011, Comunidade de Sucupira, município de Limoeiro do Norte,

Ceará.

176Entrevista realizada no dia 14 de junho de 2011, PA Diamantina, município de Tabuleiro do Norte, Ceará. 177Entrevista realizada no dia 14 de junho de 2011, PA Diamantina, município de Tabuleiro do Norte, Ceará.

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Gráfico 19 - Tempo de permanência no assentamento das famílias homologadas em 2004

Fonte: INCRA (2014) – Org.: Claudemir Martins Cosme, 2014

Ao analisar o gráfico acima, pode-se concluir que 35% das famílias homologadas permaneceram no assentamento de 6 a menos de 12 meses; 2% de 12 a menos de 24 meses e que 12% delas permaneceram mais de 24 meses, ou seja, somando estes três percentuais percebe-se que 49% das famílias permaneceram, ao menos, mais de 6 meses assentadas. E que, na outra ponta, 51% permaneceram menos de seis meses no assentamento. Esse foi exatamente o período onde se inicia a construção das moradias com todo o quadro de dificuldade já citado anteriormente, ou seja, 51% das famílias deixam o PA nesse período com menos de 6 meses, enquanto 49% seguiram resistindo.

Ao analisar os dados referentes aos cadastros homologados pelo INCRA durante o ano de 2005, temos um total geral de 28 famílias. Homologações essas, realizadas em quatro datas diferentes: 24/06 com 17 famílias homologadas; 28/06, 01 família apenas; 11/08, 6 famílias e, por fim, 4 famílias em 07/10. Destas 28 famílias homologadas em 2005, apenas 3 delas permanecem ainda hoje no assentamento, ou seja, 25 famílias (89%) engrossam a lista de desistentes (23) e evadidos (2). 9% 16% 26% 35% 2% 12% Inferior 1 mês De 1 a menos de 2 meses De 2 a menos de 6 meses De 6 a menos de 12 meses De 12 a menos de 24 meses Acima de 24 meses

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Gráfico 20 – Desistência e evasão das famílias homologadas em 2005

Fonte: INCRA (2014) – Org.: Claudemir Martins Cosme, 2014.

O gráfico acima aponta o ano de 2007 com a mais elevada taxa de desistência neste grupo de famílias cadastradas no ano de 2005, atingindo um percentual de 44% (11 desistências). 2008 é um ano que também concentra bastante desistentes, onde cerca de 24% deixam a comunidade, seguido pelo ano de 2005 e 2006, com 12 % cada e, por fim, 2009 e 2010, com apenas 4% cada e 2013 com 8% de evasão. O contexto verificado neste período do ano de 2007 é o das moradias já concluídas, mas com um precário abastecimento de água para o consumo, onde as famílias eram atendidas por carros-pipa, assim mesmo com enorme dificuldade.

O próximo Gráfico, evidencia o tempo de permanência no assentamento das famílias homologadas no ano de 2005. 12% 12% 44% 24% 8% Desistentes em 2005 Desistentes em 2006 Desistentes em 2007 Desistentes em 2008 Evadidos em 2013

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Gráfico 21 - Tempo de permanência no assentamento das famílias homologadas em 2005

Fonte: INCRA (2014) – Org.: Claudemir Martins Cosme, 2014.

A partir dos dados apresentados no gráfico, constata-se que 56% das famílias homologadas no ano de 2005, permaneceram de 12 a 24 meses e que 32% delas, resistiram mais de 24 meses. Somando os dois índices, temos 88%, ou seja, uma ampla maioria das famílias sobreviveram na terra pelo menos 12 meses e um índice baixo de apenas 12%, que permaneceram menos de 2 meses no assentamento. Acredita-se que, em meio à tamanha precariedade, 88% das famílias permaneceram pelos menos 12 meses, representa um forte indicativo do compromisso e desejo das famílias em permanecer na terra.

O ano de 2006 foi marcado por um número muito baixo de homologações, onde apenas 3 famílias foram cadastradas pelo INCRA. Destas, apenas 1 família permanece no assentamento e 2 desistiram já em 2007, tendo 1 ficado 4 meses e a outra 11 meses na condição de assentadas. Vale salientar que a única que permanece assentada já desistiu uma vez e ao arrepender-se retornou ao assentamento, sendo aceita pela comunidade.

Em 2007 o INCRA retoma as homologações com 18 novas famílias cadastradas no Assentamento Diamantina. Destas, 16 desistiram e 1 evadiu-se178, ou seja, aproximadamente 95%, 17 famílias das 18 homologadas em 2007 deixaram a comunidade, permanecendo apenas

178 No sistema do INCRA consta que 8 assentados evadiram-se em 2013. Nas realidade, a partir do diálogo com

as famílias percebeu-se que os processos de evasão/desistência foram bem antes. Ocorre que o INCRA demora bastante para atualização dos dados, por isso, apesar de trabalhar neste item com os dados oficiais, sempre que a realidade acusa o equívoco do dados/datas, segue-se aqui as informações colhidas em campo.

8% 4% 56% 32% Inferior a 1 mês De 1 a menos de 2 meses De 12 a menos de 24 meses Acima de 24 meses

192 1 assentada atualmente. O gráfico a seguir demonstra como se efetivou esse processo ao longo dos anos.

Gráfico 22 – Desistência e evasão das famílias homologadas em 2007

Fonte: INCRA (2014) – Org.: Claudemir Martins Cosme, 2014.

Pode-se visualizar através do referido gráfico, uma grande concentração de desistências de famílias no ano de 2008, com 35% dos casos. Seguido do ano de 2010, com 29%. Ficando o ano de 2007 com 12%, 2009, 2011 e 2012 com apenas 6% cada e 2008 apresentando 6% de evasão. É relevante ressaltar que o ano de 2008 é marcado ainda por graves problemas de acesso a água para o consumo humano, continuando o atendimento através de carros-pipa, isso de forma bastante precária e demorada, conforme relatos das famílias e anotações do diário de qualquer tipo de planejamento, como ainda não existe, para a comunidade. Como ressaltado nesse texto, o PDA foi elaborado, mas não foi dado nenhum parecer final pelo INCRA, estando o mesmo em alguma gaveta do órgão desde 2008.

O gráfico a seguir, explicita o tempo de permanência dessas famílias desistentes, que foram cadastradas no ano de 2007.

12% 35% 6% 29% 6% 6% 6% Desistentes em 2007 Desistentes em 2008 Desistentes em 2009 Desistentes em 2010 Desistentes em 2011 Desistntes em 2012 Evadidos em 2008

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Gráfico 23 - Tempo de permanência no assentamento das famílias homologadas em 2007

Fonte: INCRA (2014) – Org.: Claudemir Martins Cosme, 2014

O desejo das famílias em permanecer na terra, em meio a todas as dificuldades já elencadas ao longo deste texto, se faz presente também ao analisar os dados do gráfico acima, referente ao ano de 2007. Ou seja, 70% das famílias resistiram na terra ao menos 12 meses, E 41% mais de 24 meses, mostrando um indicativo forte de que existia nas famílias um desejo de permanecer na terra.

Com isso chega-se ao ano de 2008 e o que se percebe é que o INCRA paralisa mais uma vez as homologações, assim como o fez em 2006. Nenhuma família foi homologada naquele ano (2008). Paralisia que continua em 2009 com apenas 01 família homologada, que veio a desistir no mesmo ano. Nos anos pós 2009 até a presente data179 ocorreu uma paralisia total. A única homologação em 2009 foi a última efetuada no PA Diamantina até então. Diante de tal fato, indaga-se: Qual o motivo do INCRA não realizar novas homologações, se existem no assentamento famílias que estão há 4 anos à espera do órgão para efetivar seus cadastros?

Maria Elisomar Maia, servidora aposentada do INCRA, ao ser questionada sobre esses fatos, deixa evidente a incapacidade operacional do órgão, com relação ao quadro de servidores ser insuficiente para atender a demanda dos assentamentos do Ceará180.

179 Foi tido acesso aos dados do SIPRA/INCRA da Superintendência do Ceará até janeiro/2014.

180 Sobre o desmantelamento sofrido pelo órgão responsável em executar a reforma agrária no Brasil e o reflexo

nos assentamentos implantados, a Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA) divulgou um artigo no dia 15 de abril de 2011, intitulado “A crise do INCRA”, no qual faz a seguinte afirmação: “A crise do Incra, que se expressa no acúmulo de anomalias e déficits diversos e profundos [...é uma crise essencialmente política agravada

30% 29% 41% De 6 a menos de 12 meses De 12 a menos de 24 meses Acima de 24 meses

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[...] o INCRA, seu quadro está diminuindo todo ano em função das aposentadorias. Fez um concurso público mas que não atendeu a demanda ainda [...]. O quadro de servidores que o INCRA tem hoje, ele não tem condições de dar assistência aos quatrocentos e tantos projetos que nós temos hoje [...]181.

Raimundo Cruz Pinto, servidor e ex-superintendente INCRA, ao ser questionado sobre o quadro vivenciado pelo PA Diamantina, especialmente, no tocante ao cadastramento de famílias, mais uma vez remete-se a ideia de uma contrarreforma agrária. Para ele, tudo parece está sendo pensado e arquitetado dentro do governo para não dá certo a implementação das decisões que possibilitem solucionar os problemas nos assentamentos.

Não justifica de novo, que depois de tantos anos, dez anos depois, o pessoal não tenha PDA [...]. É porque, às vezes, eu acho que é proposital, sabe? Por maior esforço que a gente faça, a gente não consegue fazer, acontecer. Ai eu tô falando de PDA, eu tô falando dos projetos, dos cadastros. É uma coisa que vem emperrada, você se esforça, você toma a decisão, mas ela não se efetiva, entendeu? Então, eu digo assim, eu acho que as coisas são pensadas pra não acontecer. Outro ponto da minha decisão [Pedido