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4 BABAÇU: uma palmeira e seus múltiplos usos

4.1 Extrativismo Vegetal do Babaçu

Como mencionado anteriormente o Babaçu é um recurso natural utilizado em atividades extrativistas, dessa maneira, ao adentrar na temática das atividades extrativistas no Brasil, sabe-se que o país se destaca nessa área por possuir uma extensa variedade de biodiversidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dentro da produção da extração vegetal no Brasil, são apontadas informações sobre a coleta de produtos alimentícios, borrachas, ceras, fibras, madeiras, oleaginosos, entre outros (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2018), nesse cenário que se insere a extração do Babaçu, como produção da extração vegetal não madeireira (Figura 2).

Figura 2 - Variação anual do valor de produção dos principais produtos não madeireiros do extrativismo

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2018).

A atividade extrativista no Brasil se desenvolve desde a sua fundação, quando os portugueses começaram a explorar os recursos naturais que o país detinha com fins lucrativos e mercantis. Ela possui três subdivisões: extrativismo vegetal; extrativismo mineral; extrativismo animal. Como o Babaçu integra o extrativismo vegetal, o enfoque do estudo se deu nele, que pode ser definido como a extração de materiais provenientes de plantas, englobando tudo o que pode constituí-las, como frutos, folhas, cascas e madeiras dos troncos, dentre outros.

Conforme Freitas (2019), o extrativismo vegetal foi a primeira atividade econômica com objetivos mercantis estabelecida no Brasil, devido a exploração do pau brasil, por isso tornou-se um dos alicerces da economia primária exportadora do país. Contudo, o surgimento de normas para regulamentação e controle da extração de recursos naturais veio somente mais de 100 anos depois do descobrimento do Brasil, ainda no período colonial. Apenas em 1934, foi instituído o Código Florestal Brasileiro por meio do Decreto n. 23.793 de 23 de janeiro de 1934, que foi

[...] considerado o marco inicial de preocupação com o meio ambiente no Brasil. Posteriormente foi assinado pelo Presidente da República, Humberto de Alencar Castelo Branco, a Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, que estabeleceu o segundo Código Florestal Brasileiro, que foi alterado pela Lei nº 7.803, de 18/07/1989. Após a vigência de 47 anos, foi promulgada a Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, pela Presidente da República Dilma Rousseff, que estabeleceu o terceiro Código Florestal Brasileiro,

que contou com a participação popular, sofreu algumas alterações por leis posteriores, encontrando-se em vigor atualmente. (FREITAS, 2019, p. 17).

Assim também emergiram, a partir da década de 80, os movimentos sociais ambientais. Por causa do cunho devastador que a exploração de recursos naturais pode possuir, esses movimentos buscavam reconhecimento de pautas sobre políticas públicas voltadas para luta pela terra, condições de trabalho, conservação dos recursos naturais, além de atuarem também pelos camponeses, indígenas, seringueiros e todas as outras comunidades tradicionais envolvidas em atividades extrativistas (JESUS, 2010). Nesse aspecto que reflete o extrativismo de sistemas de subsistências, ou seja, a atividade extrativista realizada por comunidades tradicionais, povos indígenas e agricultores familiares para seu próprio sustento, o extrativismo de produtos como: coquilhos de açaí, amêndoas de babaçu, fibras de piaçava, erva-mate nativa, pó cerífero de carnaúba e castanha-do-pará se encaixam nessa esfera (NEGRELLE, ANACLETO, 2012).

O extrativismo do Babaçu vem desse sistema de subsistência, onde pequenos produtores têm a comercialização da amêndoa do Babaçu como uma fonte de renda. Segundo Gouveia (2015, p. 12) sua coleta é realizada “[...] em formações florestais com diferentes estádios de sucessão natural, que geralmente se inicia em áreas desmatadas ou pastagens plantadas invadidas pela espécie.”, ou seja, segue o caminho contrário do extrativismo de muitos produtos vegetais, uma vez que não há necessidade de investimentos em plantios ou um plano de extração sistematizada, pois a atividade extrativista segue o fluxo natural da palmeira.

Ainda no processo de coleta, geralmente realizado pelas mulheres quebradeiras de coco, ocorre quando os frutos caem espontaneamente ou quando as quebradeiras de coco sacodem as palmeiras para fazerem os frutos caírem. Em seguida vem o processo da quebra do coco Babaçu para extração das amêndoas, efetuado com a utilização de um machado pelas mulheres quebradeiras. Esse processo representa

[...] a tradição, o valor e a cultura das comunidades extrativistas do babaçu e que são transmitidos histórica e socialmente pelas quebradeiras de coco –, considerados agentes fundamentais de geração de riquezas, empregos, desenvolvimento socioeconômico, respeito, valorização e ampliação de valores das comunidades [...] (FEITOSA FILHO, 2019, p. 74).

Em meio a esse cenário, é fundamental assegurar o reconhecimento jurídico desse território e da apropriação desses valores (PEREIRA, 2019). As quebradeiras de coco, enquanto uma comunidade tradicional, vem organizando movimentos sociais e adquirindo espaço político, discutindo pautas referentes a conservação ambiental, ao desmatamento ilegal do Babaçu e a modelos sustentáveis de produção (GOUVEIA, 2015). Como resultado dessas manifestações sociais têm-se a Lei do Babaçu Livre, referenciada anteriormente, que regulamenta e protege as atividades das quebradeiras de coco no Estado do Maranhão. Percebe-se então, que “A organização social das quebradeiras de coco passou a constituir um fator diferencial para a continuidade da produção extrativista.” (GOUVEIA; ÂNGELO, 2017, p. 3).

Do ponto de vista econômico, compreende-se que o extrativismo do Babaçu chama atenção das indústrias de produtos alimentícios, cosméticos e de limpeza, exatamente por esse motivo as possibilidades de exploração desse recurso natural por empresas e instituições estrangeiras é latente. O Babaçu é um patrimônio genético brasileiro e no país existem mecanismos legais para assegurar os direitos de proteção desse patrimônio. O Ministério do Meio Ambiente do Governo Federal assegura toda a estrutura institucional de proteção ao patrimônio genético brasileiro e do conhecimento tradicional associado a este patrimônio (MICHEL, 2019). Dessa maneira, é essencial entender essa legislação que protege a biodiversidade nacional e regulamenta sua exploração.