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DIVERSIDADE FITOPLANCTÔNICA NA ZONA LITORÂNEA DA BAÍA DE TODOS OS SANTOS

VI. Físico-química dos Sedimentos

No momento da abertura dos testemunhos coletados nas estações de (1) a (7) pôde-se observar a presença de diferentes tipos de sedimentos, com coloração que variavam entre marrom, marrom acinzentado e cinza escuro, assim como vários tipos de compactação, material lenhoso e restos de conchas. A avaliação qualitativa dos sedimentos coletados teve como principais aspectos analisados: a cor, pois esta demonstra a natureza física e algumas vezes química do ambiente no qual estava inserido, podendo também refletir a presença ou ausência de matéria orgânica; a

consistência do sedimento que esta relacionada com o seu tipo de granulação que varia de arenoso a argiloso e com sua fluidez; e a presença de raízes e carapaças que demonstram a vegetação assim como, os diferentes estágios de decomposição.

Nas estações de Coqueiro Grande, Caípe, Suape e Madre de Deus (BTS), os horizontes superficiais foram mais compactos e havia menos água intersticial do que na Ilha das fontes, Ilha de Cajaíba e Ilha de Itaparica que apresentaram horizontes superficiais mais fluídos (Figura 1.2).

Quanto a cor houve uma predominância do cinza que em alguns casos escureciam à medida que aumenta a profundidade. Na maioria deles também se pode observar a presença de conchas de todos os tamanhos e em diferentes estágios de deterioração, assim como raízes e carapaças.

Normalmente, quando se fala de manguezal imagina-se um terreno com material fluido, argiloso, pegajoso e saturado em água, entretanto, a evolução das pesquisas em zonas de manguezal tem mostrado que o substrato desse ecossistema reflete alguns aspectos influenciados diretamente por ações humanas, as quais vêem descaracterizando uma série de parâmetros naturais desse ambientes. Espera-se que em regiões de baía, pelas próprias características hidrodinâmica intrínsecas, que seus manguezais estejam em substratos predominantemente lamosos. Mas Feijtel et al. (1988) levanta a hipótese, que a acumulação de sedimentos em zonas de manguezal localizadas no interior de baías, não se processa de maneira uniforme, assegurando que fatores como velocidade e direção de corrente de água, geomorfologia e batimetria, dentre outros, interagem e afetam a acumulação dos sedimentos. Também é sabido que a corrente do Brasil penetra na BTS transportando para o interior material fino em suspensão, lançados ao mar pelos rios e riachos da costa atlântica de Salvador. Evidências da efetividade da ação desta corrente são apontadas (Leão & Dominguez, 2000), com a presença das carapaças de radiolários e foraminíferos em sedimentos do fundo da parte norte da baía, que teriam sido trazidos de mar aberto.

Os resultados das análises granulométricas, com os respectivos valores percentuais mínimos, máximos, médias e desvio padrões, em cada fração granulométrica analisada, para os sedimentos das zonas de manguezal são mostrados na tabela 1.5.

Tabela 1.5 - Valores descritivos de granulometria por estação – BTS.

Estação Descritiva % de Argila + Silte % de Areia

Mínimo / Máximo 14,49 / 33,99 66,01 / 85,51 Média 26,35 73,65 Coqueiro Grande Desvio Padrão 7,64 7,64 Mínimo / Máximo 15,38 / 30,16 69,84 / 84,62 Média 20,48 79,52 Caípe Desvio Padrão 4,06 4,06 Mínimo / Máximo 26,28 / 40,85 59,15 / 73,72 Média 31,67 68,33 Suape Desvio Padrão 4,94 4,94 Mínimo / Máximo 14,95 / 30,31 69,69 / 85,05 Média 23,20 76,80 Madre de Deus Desvio Padrão 6,60 6,60 Mínimo / Máximo 64,19 / 98,45 1,55 / 35,81 Média 86,22 13,78

Ilha das Fontes

Desvio Padrão 12,41 12,41 Mínimo / Máximo 21,23 / 48,14 51,86 / 78,77 Média 26,13 73,87 Ilha de Caraíba Desvio Padrão 7,44 7,44 Mínimo / Máximo 21,63 / 37,27 62,73 / 78,37 Média 26,44 73,56 Ilha de Itaparica Desvio Padrão 4,90 4,90

As características granulométricas observadas nos sedimentos mostraram que, com exceção de Ilha das Fontes (Figura 1.2), todas as estações concordaram com a hipótese da heterogeneidade no tamanho do grão dos sedimentos que formam o substrato desse manguezal, provavelmente por estarem em zona de influência mais direta da movimentação das marés. A maioria das frações granulométricas apresentou predominância para as areias, podendo ser produtos do intemperismo de

arenitos e folhelhos. Já na Ilha das Fontes a predominância é de lama. Acredita-se derivada principalmente da erosão marginal a da desagregação das rochas sedimentares do Super Grupo Bahia, formadas dentre os mais freqüentes por folhelhos e siltitos cinza esverdeados e arenitos finos, os quais se alteram em argilas em clima tropical sempre úmido.

Quanto à geoquímica dos sedimentos, os resultados mostram em média maior teor de matéria orgânica e carbono orgânico na região da Ilha das Fontes e menor na região de Madre de Deus (Figura 1.2), como mostra a tabela 1.6. Os resultados das análises foram submetidos a tratamento estatístico através da técnica ANOVA que constatou a existência de diferenças significativas no que diz respeito à %M.O. e %C.O. entre as sete estações, p < 0,05 e p < 0,05 respectivamente.

Tabela 1.6 – Percentual (%) médio de Matéria Orgânica (M.O.) e Carbono Orgânico (C.O.) para a BTS.

Matéria Orgânica (%) Carbono Orgânico (%) Estações

Média Desvio padrão Média Desvio padrão

Coqueiro Grande 1,77 0,56 1,03 0,32

Caípe 0,78 0,50 0,45 0,29

Suape 1,62 0,44 0,94 0,25

Madre de Deus 0,67 0,26 0,39 0,15

Ilha das Fontes 2,32 0,62 1,35 0,36

Ilha de Cajaiba 1,14 0,40 0,66 0,23

Ilha de Itaparica 1,10 0,45 0,64 0,26

Também se observou diferença no percentual médio de matéria orgânica e carbono orgânico na estratificação que foi feita em profundidade, apresentando grande variação nos valores ao longo dos perfis.

Os resultados da razão C/N dos sedimentos de manguezais da BTS, com respectivos valores mínimos e máximos, médias e desvio padrão, estão apresentados na tabela 1.7. Os resultados se inserem naqueles estabelecidos por Lerman (1979 apud Santos & Camargo, 1999), onde padrões de relação C/N menores do que 30 identificam organismos e fácies orgânicas marinhas e maiores do que 50 indicam depósitos formados em ambientes de águas doces a salobras. Portanto, a BTS é dominada por condições francamente marinhas (salinidades entre 35 e 32) e que todos os resultados da razão C/N ficaram abaixo de 30.

Na tabela 1.7 observa-se que os maiores valores C/N em relação à estação controle (Jiribatuba – Ilha de Itaparica) foram identificados em Suape e Ilha de Cajaíba com valores médios de 15,9 e 14,9 podendo encontrar valores de até 27,8 e 25,4 respectivamente. Isso pode mostrar uma matéria orgânica pouco decomposta ou uma mudança de fonte de M.O. em relação à estação controle (Ilha de Itaparica) considerada sem agressões antrópicas. As demais estações mostraram valores baixos da razão C/N demonstrando uma boa evolução da decomposição da matéria orgânica e um possível padrão biogeoquímico em torno de um agrupamento de compostos orgânicos similares.

Tabela 1.7 – Valores descritivos da Razão C/N por estação na BTS.

Estações Média Mínimo Máximo Desvio Padrão

Coqueiro Grande 7,3386 3,6381 16,5543 3,4099

Caípe 10,0013 0,0000 15,4082 3,8611

Suape 15,9250 11,1500 27,7674 4,4629

Madre de Deus 13,2361 8,3125 16,9688 2,8567

Ilha das Fontes 6,2618 3,6325 10,4350 1,9441

Ilha de Cajaíba 14,8793 5,6000 25,3750 5,4677

Ilha de Itaparica 14,1615 10,6618 19,2353 2,7785

Total 11,5919 0,0000 27,7674 5,1756

Apesar de Suape e Ilha de Cajaíba (Figura 1.2) apresentarem os maiores valores de C/N, Suape apresentou um aparente comportamento decrescente com a profundidade, com exceção da fração

que corresponde a profundidade 42 a 44 cm, enquanto que Ilha de Cajaíba um leve comportamento crescente. Caípe também se mostrou levemente decrescente com a profundidade. As demais estações mostram um comportamento desordenado. As anomalias observadas podem corresponder simplesmente a períodos de desnitrificação mais intensiva ocasionando sedimentos com baixa preservação de compostos nitrogenados.

Para avaliar se existe diferença estatística significativa da Razão C/N, a um nível de significância de 5%, entre a estação controle (Ilha de Itaparica) e às demais estações utilizou-se a Análise de Variância (ANOVA) para Experimentos Inteiramente ao Acaso.

A tabela 1.8 abaixo nos mostra que foi identificada diferença estatística em pelo menos uma estação em relação à estação controle, pois o nível descritivo do teste (p) foi menor que 0,05 (nível de significância), ou seja, p < 0,05.

Tabela 1.8 – Análise de Variância para a Razão C / N em sedimentos de manguezal da BTS.

Fonte de variação SQ GL SQM F p

Entre Estações 2129,3736 6 354,8956 25,4961 <0,05

Dentro da Estação 2129,6976 153 13,9196

Total 4259,0712 159

Para identificar qual estação difere em média de Razão C/N da estação controle, utilizou-se o teste de Dunnett a um nível de significância de 5%. Na tabela 1.9 observa-se que nas estações Coqueiro Grande, Caípe e Ilha das fontes (Figura 1.2) foram identificadas diferenças significativas em relação à ilha de Itaparica (controle), pois seus valores de p foram menores que 0,05.

Tabela 1.9 – Valores de p do Teste de Dunnett para cada estação em relação à estação controle.

Estações Estação Controle p

Coqueiro Grande Ilha de Itaparica <0,05

Caípe Ilha de Itaparica ,0006

Suape Ilha de Itaparica ,3871

Madre de Deus Ilha de Itaparica ,9596

Ilha das Fontes Ilha de Itaparica <0,05

Ilha de Cajaíba Ilha de Itaparica ,9627