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DIVERSIDADE FITOPLANCTÔNICA NA ZONA LITORÂNEA DA BAÍA DE TODOS OS SANTOS

VIII. Metais na Vegetação

O potencial do ecossistema manguezal como sumidouro antropogênico oirundos de atividades antropogênicas nas áreas tropicais e subtropicais tem sido amplamente reconhecido. Existem várias evidências derivadas de trabalhos de campo e experimentos controlados de vestígios de metais contaminantes retidos por sedimentos colonizados por vegetação de mangue (Harbison, 1986; Lacerda et al., 1991; Badarudeen et al., 1996; Tam & Wong, 1996; Clark et al., 1998). É interessante notar que a maioria dos estudos demonstra que, geralmente, uma parte relativamente pequena da transferência de metais está vinculada a sedimentos para plantas do manguezal (Ragsdale & Thorhaugh, 1980; Silva et al., 1990; Chiu & Chou, 1991; Sadiq & Zaidi, 1994). Isso sugere uma tendência de exportação de metal traço das florestas de mangue através de detritos vegetais (Lacerda et al., 1988; Silva et al., 1998), bem como uma pequena contaminação das cadeias alimentares baseadas no permanente biomassa e detritos do manguezal.

Comparando os teores de metais (Tabela 1.11) analisados entre as espécies consideradas, observou-se que a R. mangle apresentou maiores concentrações do que a L. racemosa. Esse fato destaca-se já que os mecanismos fisiológicos das rhizophoraceas são mais rudimentares do que os da L. racemosa. A primeira, não possui glândula de sal, estrutura que possibilita controlar a absorção e retenção de metais pelas espécies vegetais de manguezais (Lacerda, 1997). No entanto, a ausência dessa estrutura em R. mangle, não impede seu controle na absorção e retenção de metais, já que esta espécie é capaz de filtrar a água salgada, com o objetivo de manter a pressão osmótica.

Tabela 1.11 – Valores médios (µg/g) para concentrações dos metais em folhas de Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa e Avicennia schaueriana em manguezais da BTS e do Estado da Bahia.

Local Espécie Fe Al Mn Pb Zn Cu Cr Cd Ba R. mangle 118 na 78 na 8,7 4,4 na na na L. racemosa 121 na 25 na 16,5 5,4 na na na BTS (1) A. schaueriana 183 na 123 na 20,6 6,9 na na na R. mangle 160 na 195 0,5 24,1 11,7 na 0,1 na Baía de Aratu (2) L. racemosa 157 na 111 0,6 26,6 11,4 na 0,1 na Joanes (3) A. schaueriana 129 46 61 0,04 19,3 7,3 nd na 1,1 Alcobaça (4) A. schaueriana 187 111 114 13,5 19,5 4,7 1,5 na na R. mangle 71 59 328 1,0 9,0 7,0 0,4 nd 3,6 L racemosa 130 97 44 0,5 22,0 7,0 0,2 nd 9,0 Baía de Camamu (5) (Centro da Baía) A. schaueriana 186 167 180 5,0 22,0 5,0 1,0 nd 32,0 R. mangle 70 70 202 3,0 5,8 1,5 0,6 nd 2,3 L. racemosa 191 180 22 3,5 15,0 3,0 1,0 nd 4,0 Baía de Camamu (5) (Zona de Estuário) A. schaueriana 117 93 138 1,0 21,0 0,8 0,5 nd 1,0

(1) Souza et al., 1996; (2) Leão, 2000; (3) Filardi, 1999; (4) Araújo, 2000; (5) Oliveira (2000). na = não analisado; nd = não detectado

A análise de correlação entre os teores de metais em folhas e em sedimentos de manguezal, determinada neste estudo, não demonstrou boas associações estatísticas, apesar de se verificar altas concentrações de alguns metais em folhas e sedimentos.

O conteúdo de Pb, Zn, Cu, Cr e Ba nos três tipos de vegetais, apresentou-se nitidamente maior nas estações correspondentes à região das ilhas, comparativamente aos teores verificados na região do entorno da baía (Oliveira, 2000). O Cd não foi considerado nas discussões, pois apresentou teores abaixo do limite de detecção. Dentre as espécies estudadas, a Avicennia foi aquela que, comparativamente a Rhizophora e a Laguncularia, apresentou teores mais elevados de Pb, Cr, Mn, Fe e Al. Lacerda (1998) comenta que espécies que segregam sal, como acontece caracteristicamente com a Avicennia, possuem mecanismos que devem ser mais eficientes no aprisionamento de metais traço, que espécies que excretam sal, como a Rhizophora.

Para melhor dimensionar a disponibilidade de metais do substrato para as plantas de manguezais, alguns autores (Oliveira, 2000; Lacerda,1998; Lacerda et al., 1986, dentre outros), sugerem o estudo do Fator de Concentração (FC), que consiste na razão entre a concentração do metal na folha e no sedimento. O FC em espécies vegetais típicas de manguezais, normalmente, não ultrapassa uma unidade.

Observa-se que o FC para os metais Fe, Zn, Cu, Pb e Cd foram inferiores a 1,0 para as duas espécies analisadas: R. mangle e L. racemosa (Leão, 2000). No entanto, o Mn revelou um comportamento diferenciado dos outros metais. Nas folhas de R. mangle, a concentração desse metal foi cerca de duas vezes maior do que no sedimento, confirmando as expectativas já registradas na bibliografia, onde o Mn é considerado instável no compartimento sedimentar de manguezal, possibilitando maior mobilidade e grande absorção e translocação pelas espécies vegetais (Oliveira, 2000; Lacerda, 1998; 1994), podendo apresentar concentrações na ordem de até quatro vezes nas folhas em relação ao sedimento (Lacerda, 1998). Também se registrou que apenas o Mn apresentou concentrações mais elevadas em folhas, enquanto os demais metais apresentaram- se mais concentrados em raízes. Taylor (1987) atribui esse fato a existência de um mecanismo desenvolvido pela espécie vegetal, que impede a translocação de metais para outros compartimentos, quando esses vegetais são submetidos a substratos com altas concentrações de metais.

As condições redutoras dos solos de manguezal podem expor os vegetais a fitotoxinas, inibindo ou até impedindo seu desenvolvimento. Lacerda (1994) chama atenção para a elevação da

solubilidade de metais como Fe e Mn pelo potencial redox deste ambiente, da mesma forma que a redução dissimilatória do sulfato, que gera grandes quantidades de sulfetos. Esse autor concluiu que plantas crescendo sob tais condições, estão permanentemente expostas a essas fitotoxinas.

Apesar das altas concentrações de Cd nos sedimentos (p. ex. Baía de Aratu), as espécies vegetais apresentaram baixas concentrações em suas folhas. As relativas baixas concentrações de metais em folhas podem estar relacionadas com a formação de microambientes oxidados, promovidos pela liberação de oxigênio pelas raízes, determinando a oxidação de metais como o Fe e Mn. Essas reações podem formar óxidos e hidróxidos, reduzindo a presença de sulfetos que são transformados em sulfatos, diminuindo a toxicidade. Vários autores acreditam que esse mecanismo culmina com a formação de “placas de ferro” próximo das raízes (Lacerda, 1998; Taylor, 1987; Armstrong, 1978; Ponamperuna, 1972), que alteram as condições físico-químicas ao redor desse compartimento vegetal. Nestas condições, as “placas de ferro” desempenham importante papel na manutenção de espécies vegetais, impedindo a absorção e transporte de metais para as plantas.

Além do mecanismo de formação das “placas de ferro”, outras condições podem dificultar a incorporação de metais em plantas de manguezal, tornando-os indisponíveis, tais como: a complexação dos metais pela matéria orgânica e a formação de sulfetos estáveis.

Uma vez que os manguezais recobrem praticamente toda a costa brasileira, principalmente as regiões próximas às áreas urbanizadas e industrializadas, eles se colocam como receptores naturais de poluentes (metais traço, hidrocarbonetos, pesticidas, entre outros), carreados pelas águas fluviais ou pelo ar.