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Trombones 1-3 e Trombone Baixo

4.6. Fórmulas de compasso

Na transcrição da Tocata e Fuga em Dm de Bach feita Stokowski, observa-se que o transcritor optou por reescrever fórmulas de compasso dessa peça com o intuito de clarificar o material rítmico na partitura orquestral. Enquanto no original organístico havia compassos longos contendo improvisos escritos, na versão orquestral Stokowski desmembra esses tipos de passagens em conjuntos de compassos mais curtos. Não foi necessário, na partitura do Rudepoema transcrito para banda sinfônica, lançar mão desse recurso, digamos, mais radical. Porém essas soluções encontradas em abundância na Tocata e Fuga me fizeram crer que certas modificações na maneira de anotar as fórmulas de compassos (mesmo se fossem mais comedidas), seriam bem-vindas e promoveriam a rápida decifração da organização rítmica de certos compassos.

No compasso 38, a fórmula de compasso 9/8 foi reescrita com a formula 2+4+3/8, de maneira a explicitar a subdivisão interna desse compasso. Esse procedimento é especialmente importante para que, na transcrição para banda sinfônica, o quarteto de trompas e o percussionista que ficar incumbido de tocar a caixa saibam exatamente em que ponto do compasso o rallentando deverá ser iniciado. Da mesma maneira, os instrumentistas que tocarão notas longas nesse compasso (graças à subdivisão de uma figura de valor longo em figuras mais curtas) conseguirão saber em que momentos deverão iniciar as diminuições das intensidades sonoras.

Figura 45: O compasso 38, que exemplifica a modificação da fórmula de compasso.

O compasso 474 é um outro caso exemplar da reescrita da fórmula de compasso com a finalidade de facilitar a decifração. A formula de compasso 6/4 original foi substituída para uma formula 2+4/4 pois esta última condiz melhor com a subdivisão rítmica dos materiais musicais escritos por Villa-Lobos nesse compasso. Anotar 2+4 na transcrição para banda sinfônica torna a leitura do compasso 474 mais compreensível, uma vez que essa anotação revela que o compasso precisa ser entendido como a aglutinação de dois compassos mais curtos: um binário e outro quaternário (portanto o esquema de acentuações difere da tradicional subdivisão 3+3). Inclusive, há uma mudança de andamento a partir do terceiro tempo do antigo 6/4 que corrobora para essa substituição da fórmula de compasso. Dessa maneira, o regente poderá optar por um gestual adequado que enfatize esse ponto de vista analítico e, com isso, os gestos do regente aliados à nova notação tornam essa passagem mais fácil de ser decifrada pelos instrumentistas do grupo sinfônico.

Figura 46: O compasso 474, que exemplifica a modificação da fórmula de compasso.

4.7. Tessituras (e problemas nas regiões extremas)

No caso das bandas sinfônicas, especialmente aquelas que contam com grandes instrumentações, a tessitura pode ser amplamente explorada. Algumas particularidades tem de ser consideradas ao transcrever partituras de orquestras sinfônicas para bandas sinfônicas porque os instrumentos de sopro respondem diferentemente dos instrumentos de cordas friccionadas, especialmente em registros extremamente agudos ou graves.

O Rudepoema é uma música que explora toda a tessitura do piano. Para suprir a necessidade de instrumentos que toquem em regiões graves, as bandas sinfônicas (ao menos as profissionais) contam com o contrafagote e/ou clarineta contrabaixo na família das madeiras. O primeiro, relativamente comum em instrumentações grandes de orquestras sinfônicas, não tem potência sonora tão grande quanto o segundo.

As bandas sinfônicas costumam contar com ao menos duas tubas para assegurar que haja representação suficiente no registro grave. As partes para esses instrumentos eventualmente são escritas com divisões do naipe. Essas divisões podem ser feitas para que os instrumentistas possam se revezar em longas passagens (onde a possibilidade de respiração ficasse dificultada sem os revezamentos) ou para que o compositor disponha de uma primeira voz mais agua e

uma segunda mais grave, para otimizar o preenchimento na região grave.

Os trombones também são fundamentais para atribuir mais peso em passagens que se desejam intensidades forte ou fortissimo da transcrição do

Rudepoema para banda sinfônica. O trombone baixo, especialmente, é um

instrumento importante para trechos musicais como o ilustrado com a Figura 47 (compassos 375-380). Repare que o trombone 3 dobra a tuba 1 e metade do naipe de contrabaixos e o trombone baixo dobra a segunda tuba e os contrabaixos que tocam as notas mais graves.

Figura 47: Fragmento que destaca os dobramentos de trombones, tubas e contrabaixos.

Xilofone, glockenspiel e crótalos são do grupo de instrumentos de percussão de altura determinada de suma importância para preencher o registro extremo agudo em orquestrações. Além desses instrumentos de alturas determinadas, os de altura indeterminadas como triângulo, prato suspenso, mark- tree contribuem para acrescentar brilho à orquestração, devido a riqueza de parciais agudíssimos que eles têm.

Nos compassos 592-595 o glockenspiel é empregado para dobrar as notas mais agudas tocadas pelo piano da banda sinfônica (em 592 e 593) e o vibrafone completa o arpejo descendente (em 594-595) a partir da região que o glockenspiel não alcança mais. Os dois piccolos também participam da combinação. O triângulo é utilizado como um pedal agudo, presente nos quatro compassos citados. A figura 48 mostra um fragmento da partitura do Rudepoema para banda sinfônica, destacando o piano e os instrumentos de percussão.

Figura 48: Fragmento dos compassos 592-595 que mostra a atuação do piano e percussão.

Ocasionalmente, é inescapável escrever as passagens originalmente muito graves oitava acima ou as muito agudas oitava abaixo. Há algumas alternativas em orquestração para simular o preenchimento dessas regiões extremas. Uma das principais é a utilização de instrumentos como os tímpanos e bumbo sinfônico, que concedem peso às notas graves. Nos últimos compassos da transcrição do Rudepoema para banda sinfônica, os contrabaixos e o piano tocam no registro gravíssimo, mas eles não proporcionariam peso suficiente para orquestração. Com isso, os fagotes, o contrafagote, a clarineta baixo, o trombone baixo e as tubas foram empregados na oitava superior (em relação ao piano e contrabaixos. O trecho também recebe o reforço estratégico do bumbo sinfônico e do tam-tam. Vide a Figura 49: