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1 PROBLEMATIZAÇÃO E CAMINHOS DA PESQUISA

2.3 Fóruns de EJA do Brasil

A partir da iniciativa do Fórum de EJA do Rio de Janeiro (RJ) de participar das reuniões preparatórias à V Conferência Internacional sobre Educação de Jovens e Adultos (V CONFINTEA, Hamburgo, Alemanha, julho de 1997), percebeu-se a grande desarticulação entre as três esferas da federação em torno das políticas públicas de EJA. Diante desse quadro, constatou-se a necessidade da constituição de um espaço de organização nacional dos diversos grupos e segmentos país afora que fazem parte da EJA.

Depois da experiência carioca, muitos outros fóruns foram surgindo (alguns já existiam com nome e/ou formato diferente do que são hoje, como é o caso do GTPA-Fórum EJA/DF).

Somente em 1999, o movimento criou o Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos (ENEJA) que ao mesmo tempo em que impulsionou novos Fóruns EJA teve sua existência impulsionada por eles. O primeiro ENEJA foi realizado no Rio de Janeiro-RJ, com periodicidade anual até o XI ENEJA, em 200918, na cidade de Belém-PA. Depois deste, com periodicidade bianual até a sua última edição, o XIII ENEJA, em 2013, Natal-RN. Essa mudança foi uma demanda dos próprios fóruns para que eles pudessem alavancar a organização regional da EJA. Portanto, a partir de 2009, foram criados os Encontros Regionais de Educação de Jovens e Adultos (EREJA‘s), cuja regularidade e formato variam conforme a organização regional.

Vale lembrar que em 2005 os Fóruns de EJA do Brasil, em parceria com a UNESCO, criaram o Portal dos Fóruns de EJA do Brasil, reunindo informações e possibilitando a comunicação entre os diversos fóruns e segmentos da EJA. Sobre o portal retomaremos mais adiante.

Hoje, os fóruns estão espalhados nos 26 estados mais o Distrito Federal. A organização do movimento é feita pela Coordenação dos Fóruns de EJA, composta de um representante de cada fórum estadual e distrital. Os Fóruns de EJA

18 Essa mudança foi deliberada no X ENEJA em 2008, Rio das Ostras-RJ, mas o próprio relatório final

do encontro apontava a necessidade de que essa regra começasse a vigorar, estrategicamente, após 2009 no XI ENEJA Belém-PA, pois os fóruns avaliaram que o encontro seria bastante importante na articulação das etapas estaduais, regionais e nacional preparatórias à VI CONFINTEA. A VI CONFINTEA também foi sediada em Belém, no ano de 2010.

se fazem representar na Comissão Nacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos (CNAEJA19), por um representante e suplente dos fóruns escolhidos através dos critérios (apresentamos apenas os critérios que entendemos serem mais relevantes): rodízio entre fóruns estaduais e distrital, rodízio por região e rodízio entre segmentos que compõem os fóruns. Atualmente o representante e suplente na CNAEJA são o Fórum de EJA de Minas Gerais (MG) como titular e o Fórum de EJA do Amazonas (AM) como suplente. Vale lembrar que a representação dos Fóruns de EJA na comissão está em fase de transição para a escolha de novos representantes.

Em nossa avaliação os Fóruns e os ENEJA‘s vêm passando por dificuldades que precisam ser enfrentadas, tais como:

1- Pouca participação do segmento de educandos. Os fóruns, e nos incluímos nessa crítica, pois também fazemos parte, não estão conseguindo mobilizar esse segmento que representa milhões de brasileiros e brasileiras, razão de existir das políticas públicas de EJA;

2- Grande participação do segmento de gestores20. O movimento não consegue se desprender da agenda governamental e, por isso, muitas vezes adota posicionamentos pautados no que o Governo Federal já propõe e isso é totalmente danoso ao movimento social que deixa de cumprir sua razão de existir, que é lutar para que sua pauta específica avance cada vez mais, para além do que é apresentado pelos governantes, do contrário não haveria necessidade de movimentos sociais reivindicatórios.

A participação de gestores é importante para fortalecer a luta pela EJA, até porque muitos vieram do próprio movimento social e não o oposto, mas é preciso compreender os limites e limitações desta participação. Por exemplo, em momentos cruciais de tensionamento, próprio do movimento social, o/a gestor/a se encontra numa posição de conflito de interesses muitas vezes inconciliável: ou ele defende o posicionamento dos fóruns e deixa o cargo ou defende o posicionamento do governo. Essa discussão precisa ser aprofundada pelos fóruns, pois acreditamos ser um dos pontos centrais no avanço da organização e da luta da EJA;

19 Comissão de caráter consultivo do Ministério da Educação, criada pelo Decreto n° 4834, de 8 de

setembro de 2003 (até então denominada apenas de Comissão Nacional de Alfabetização) e modificada pelo Decreto n° 6093, de 24 de abril de 2007.

20

Entende-se gestor aquele que de fato define ou é parte da definição da agenda e política pública nas esferas federal, estadual, distrital ou municipal (Secretários de Educação, Coordenadores de EJA etc)

3- Certa dependência em relação aos recursos do Governo Federal para a manutenção da organização dos fóruns. Entendemos que por um lado os recursos são resultados da luta pelo orçamento público, mas por outro nos parece que o movimento teria dificuldades de se organizar sem eles. O movimento precisa reavaliar essa situação de fragilidade e construir mecanismos (pautados na solidariedade entre a classe trabalhadora) que minimamente dêem capacidade de auto-organização (política e financeira), pois com qualquer mudança conjuntural menos favorável aos movimentos sociais, corre-se o risco de termos a nossa luta prejudicada por falta de recursos outrora mais abundantes;

4- Pouco engajamento dos sindicatos de trabalhadores para a mobilização e luta pela educação de jovens e adultos. É no espaço sindical que os trabalhadores se organizam para lutar por seus direitos, dentre eles o direito à educação, de modo que é de suma importância que os sindicatos estejam presentes nos fóruns de EJA, uma vez que muitos trabalhadores não são alfabetizados ou não concluíram a educação básica e superior.

3 POLÍTICA PÚBLICA PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO