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4 ABORDAGEM DA GESTÃO DO CONHECIMENTO: caminhos para

4.3 Modelos processuais de Gestão do Conhecimento

4.3.4 Facetas da gestão do conhecimento propostas por Cianconi (2003)

Cianconi (2003) propõe um modelo de GC que busca integrar a visão do todo, sendo conhecida por meio de oito facetas conforme representada na Figura 8:

Figura 8 – Facetas da gestão do conhecimento

Destaca-se a cultura no âmbito das organizações; os relacionamentos internos, promovendo a troca de conhecimentos tácitos; o gerenciamento das competências dos colaboradores de uma organização, bem como o processo de aprendizagem; os relacionamentos externos, de dentro para fora da organização; aborda também as melhores práticas exercidas dentro das organizações; a gestão dos acervos buscando tratar, organizar, armazenar e preservar os conhecimentos explícitos da organização; o gerenciamento dos sistemas de tecnologias da informação como promoção da GC e, por fim, a mensuração de ativos intangíveis, ou seja, é um aliado à gestão de competências para compreender o capital intelectual.

Uma pesquisa realizada por Duarte et al. (2015) para identificar como se caracterizam os processos de gestão de conhecimento das organizações a partir de estudos realizados por pesquisadores do Grupo de Trabalho em Gestão da Informação e do Conhecimento (GT-4) do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB), apresenta os indicadores essenciais das facetas propostas por Cianconi (2003).

Quadro 4 – Facetas e Indicadores da Gestão do Conhecimento

Facetas Indicadores

1ª. Gestão da cultura

organizacional

Incentivar a cultura de compartilhamento. Adotar iniciativas de inteligência competitiva. Promover boa receptividade a ideias. Adotar estrutura flexível. Promover a avaliação sistemática das políticas de GC. Valorizar o capital intelectual.

2ª. Gestão de talentos e dos relacionamentos internos

Buscar a satisfação das pessoas. Manter a cooperação criativa e relações agradáveis. Identificar os relacionamentos interpessoais. Adotar política de recursos humanos. Incentivar a política de permanência. Apoiar a aprendizagem continuada. Selecionar pessoas considerando a multidisciplinaridade dos perfis e a interdiscipliniaridade nas equipes. Estimular a rotatividade interna. Alocar recursos para o aprendizado organizacional com foco no desenvolvimento de competências.

3ª. Gestão de competências e aprendizagem organizacional

Adotar ações de aprendizagem através da educação corporativa. Incorporar funções de ensino a distância aos portais corporativos. Implantar tecnologia apropriada. Estimular a ampliação dos conhecimentos de forma democrática. Estimular a inovação. Usar ética e respeito às opiniões e às ideias para gerar confiança. Intensificar a interatividade e a troca entre os indivíduos.

4ª. Gestão de relacionamentos externos

Ouvir os clientes para formular estratégias. Estender a aprendizagem organizacional aos clientes. Estimular e manter redes de relacionamentos. Promover o acesso dos funcionários às histórias realizadas com os clientes. Registrar e recuperar as narrativas de casos de modo integrado à rede de relacionamentos internos.

5ª.Gestão dos processos e das

Analisar e acompanhar a busca por melhoria dos processos. Promover a documentação dos processos além dos modos tradicionais e incluir base de

melhores práticas organizacionais

dados, sistemas especialistas, vídeos. Promover a documentação dos processos acompanhada de narrativas e melhores práticas. Capturar processos em tempo real, por meio de conferências por computador e fóruns de debate. Adotar bancos de melhores práticas, conferência de vídeo ou áudio, e-mail, embora este último não permita a interação em tempo real.

6ª.Gestão dos acervos e conteúdos informacionais

Considerar aspectos de usabilidade e navegabilidade dos portais corporativos. Criar categorias para classificar e organizar a informação pela indexação, estabelecer padrões, normas e vocabulário. Empregar tecnologias: GED, workflow, data mining e outras. Estabelecer critérios para todo o ciclo da informação. Construir bases de dados contendo melhores práticas, narrativas, guias e documentos diversos. Gerenciar a informação por meio de registro, acesso, seleção, guarda de informações registradas em mídias, garantir a disseminação, consultar fontes de informação, ofertar, elaborar e manter taxonomias, organizar e categorizar conteúdos e valorizar o uso da informação.

7ª.Gestão da tecnologia e dos sistemas de informação

Adotar TI para apoiar o livre fluxo de informações, tais como: portais corporativos, sistema de gestão integrada e ferramentas de trabalho colaborativo. Adotar infraestrutura adequada para armazenar, copiar e transmitir informações em qualquer tipo de mídia.

8ª. Mensuração de ativos intangíveis

Identificar indicadores de competência dos funcionários. Monitorar estrutura interna e externa. Criar mecanismos para motivar as pessoas a assimilarem a cultura de compartilhamento.

Fonte: Duarte et al. (2015, grifo nosso) baseado em Cianconi (2003)

Considera-se que as facetas apresentadas por Cianconi (2003) e os indicadores apresentados no Quadro 4, são essenciais para a efetivação do processo de gestão do conhecimento e, consequentemente, para formação e preservação da memória no âmbito das organizações. Para fins desta pesquisa destacam-se as Facetas Gestão de talentos e dos relacionamentos internos de Gestão de Acervos e Conteúdos Informacionais que abrangem um conjunto de práticas que buscam selecionar, organizar, tratar, armazenar e preservar o conhecimento possibilitando nesse processo, a formação da MO.

Em síntese, a segunda faceta da GC sugerida por Cianconi (2003) é centrada nos seres humanos, nos colaboradores de uma organização, na seleção destes em meio individual ou em grupo para o compartilhamento de seus conhecimentos. A sexta faceta, visa gerenciar o conhecimento explícito (a informação) para que seja selecionada, organizada, armazenada e atualizada sempre que necessário, dependendo da realidade da organização.

Levando em consideração todos os modelos aqui apresentados, os processos da GC que mais contribuem para formação e preservação da MO podem ser destacadas em Seleção do conhecimento; Organização do conhecimento; Retenção, Armazenagem ou Arquivamento do conhecimento e Atualização do

conhecimento. Esses processos foram extraídos dos modelos de Stollenwerk (2001); Probst, Raub e Romhardt (2002); Bergeron (2003) e por Cianconi (2003), como pode ser visualizado no Quadro 5.

Quadro 5 – Processos que compõem a gestão do conhecimento no contexto da memória

organizacional

AUTOR (ES) PROCESSOS ELEMENTOS ESSENCIAIS

Probst, Raub e Romhardt (2002); Cianconi (2003) SELEÇÃO DO CONHECIMENTO

Identifica e seleciona pessoas para compartilharem conhecimentos levando em consideração a multidisciplinaridade dos perfis e a interdisciplinaridade das equipes, bem como documentos de conhecimento; informações e experiências da organização com vistas à promoção da memória organizacional; É necessária a seleção de documentos de sucesso, das histórias que deram certo ao longo das atividades das organizações, das lições aprendidas, dos processos realizados pelos colaboradores da organização. Stollenwerk (2001); Cianconi (2003) ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO

Possibilita a recuperação rápida, fácil e correta do conhecimento que está formalizado em algum documento; Cria critérios, políticas e categorias para classificar e organizar a informação pela indexação, estabelecer padrões, normas e vocabulário; elabora e mantém taxonomias; organiza e categoriza conteúdos e, valoriza o uso da informação. Emprega tecnologias, como: Gestão Eletrônica de Documentos (GED), workflow, data mining e outras.

Stollenwerk (2001); Probst, Raub e Romhardt (2002); Bergeron (2003) RETENÇÃO/ ARMAZENAMENTO/ ARQUIVAMENTO DO CONHECIMENTO

Corresponde ao armazenamento de conhecimentos formalizados e registrados em ambiente físico e/ou tecnológico sob uma forma e um formato para ser preservado ao longo do tempo; Constrói bases de dados contendo melhores práticas, narrativas, guias e documentos diversos; guarda informações registradas em mídias. Probst, Raub e Romhardt (2002); Bergeron (2003) ATUALIZAÇÃO DO CONHECIMENTO

Estabelece mecanismos de atualização, avaliação e eliminação, para que os conhecimentos criados e armazenados não sejam ultrapassados; evita que àquilo que a organização já sabe seja perdido; avalia o que deve ser preservado e o que deve ser descartado ao longo do tempo; rever os conhecimentos que estão sendo criados no presente, visando sua guarda posterior. Fonte: Elaborado pelo autor (2018)

Conforme apresentado no Quadro 5 os processos da GC são essenciais para a formação e preservação da MO, desde a identificação e seleção de pessoas detentoras de conhecimentos e dos conteúdos de conhecimento (seleção do conhecimento) à sua possível avaliação do conhecimento, havendo descarte ou não

(atualização do conhecimento). Se colocadas em prática, a preservação do conhecimento pode estar bem realizada e poderá atender aos objetivos fundamentais que a memória possui no âmbito organizacional.

Após apresentar uma síntese dos processos da GC no contexto da MO, pode- se levar em consideração que estas se relacionam com as práticas exercidas nos arquivos das organizações baseadas em conhecimento, ou seja, que valorizaram o conhecimento para exercerem suas atividades de acordo com sua visão, missão e objetivos. Assim, é importante a apresentação das possíveis contribuições dos arquivos e suas práticas nesse processo.