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Factores com diferenças significativas na análise da qualidade da relação

4. RESULTADOS

4.5. Perfil da imagem do treinador

4.5.4. Factores com diferenças significativas na análise da qualidade da relação

No quadro seguinte, e tal como aconteceu quando efectuámos a análise multivariada (Manova) para as vinte e três características do I.I.T.A. (Teste Wilks’ Lambda), podemos observar que o estatuto é a única variável com peso significativo para explicar a variação nos quatro factores considerados. O Wilks’ Lambda dá um resultado de 0,795 para F (8;380) = 5,768, p <0,000. Esta situação vem demonstrar que, ao nível dos factores encontrados, a diferença de idades e os anos de prática da modalidade não influenciam a imagem que os atletas possuem do seu treinador e a autopercepção dos treinadores e, sim, o facto de serem titulares ou suplentes.

Quadro 87 – Wilks’ Lambda dos 4 factores do I.I.T.A.

VALOR F GRAU LIBERDADE SIGNIFICÂNCIA

ESTATUTO 0,795 5,768 8;380 0,000

ESCALÃO 0,962 1,870 4;190 0,117

ESTATUTO*ESCALÃO 0,954 1,141 8;380 0,334

Procedemos, de seguida, à comparação dos valores médios relativamente aos 4 factores encontrados, em função do estatuto, escalão e a auto-percepção dos treinadores. Como podemos observar no quadro seguinte, existem diferenças significativas para os quatro factores em relação ao estatuto.

Quadro 88 – Diferenças significativas dos factores do I.I.T.A. em relação ao Estatuto (Valores F da Manova).

ESTATUTO F Sig.

CARACTERISTICAS INTRINSECAS DA PERSONALIDADE 6,315 0,002

CARACTERISTICAS RELACIONAIS 4,774 0,009

CARACTERISTICAS DE LIDERANÇA 6,325 0,002

CARACTERISTICAS DE EXPERIÊNCIA 3,263 0,040

O facto de o estatuto apresentar três níveis categóricos (titulares, suplentes e treinadores) exigiu a realização do Teste de Bonferroni (em anexo, no quadro n.º 25) para verificarmos entre que estatuto é que existem diferenças significativas.

Podemos, no quadro seguinte, observar nos quatro factores onde é que existem as diferenças significativas em função do estatuto e quais os valores médios que estes apresentam (a negrito encontramos o valor médio mais elevado e com asterisco as variáveis onde existem diferenças significativas).

Quadro 89 – Valores médios dos 4 factores do I.T.T.A., com diferenças significativas em relação ao Estatuto

TITULARES SUPLENTES TREINADOR

CARACT. INTRINSECAS DA PERSONALIDADE 5,5170 5,1559*a 6,0114*a

CARACTERISTICAS RELACIONAIS 5,4986* 5,0520* 5,5227

CARACTERISTICAS DE LIDERANÇA 5,5909* 5,0028* *a 5,6705*a

CARACTERISTICAS DE EXPERIÊNCIA 5,7992*b 5,5281 5,3182*b

Legenda: *- Diferenças significativas entre titulares e suplentes; *a- Diferenças significativas entre suplentes e treinadores; *b- Diferenças significativas entre titulares e treinadores

Tal como observamos no quadro anterior, ao nível do que considerámos como factores relacionados com a personalidade, ou seja, nas Características Intrínsecas da Personalidade, existem diferenças significativas entre os suplentes e os treinadores, apresentando os treinadores um valor médio superior. De facto, os treinadores têm uma auto-percepção da sua personalidade significativamente diferente da percepção que os suplentes têm dos seus treinadores. Aqui poderá estar patente o auto-conceito que os suplentes têm do seu valor, como possuindo uma noção das suas potencialidades e capacidades diferente das que são observadas pelos seus treinadores (desacordo com o facto de jogarem pouco), ou eventualmente não concordando com a forma como a equipa é conduzida.

No que se refere às Características Relacionais, surgem diferenças significativas entre os titulares e os suplentes. O valor médio mais elevado pertence aos treinadores (os treinadores percepcionam-se a si próprios como possuindo um nível de relacionamento mais elevado do que os jogadores percepcionam), seguido do valor médio dos titulares e, por último, o dos suplentes. A diferença entre titulares e suplentes pode ser interpretada pelo facto de os titulares, ao terem mais tempo de participação na competição, interagirem mais com os treinadores. Ou seja, os treinadores durante a competição e, eventualmente, durante as sessões de treino dão mais atenção aos seus jogadores mais influentes ao contrário dos suplentes.

Do ponto de vista da liderança, os valores entre os titulares e suplentes são significativamente diferentes, possuindo os titulares um valor médio superior. Essa situação também se verifica entre os suplentes e os treinadores, possuindo estes um valor médio superior. A auto-percepção dos treinadores é, aliás, superior em termos das características de liderança em relação aos jogadores. Os treinadores julgam que praticam técnicas de liderança semelhantes, independentemente do estatuto dos seus jogadores, mas os jogadores suplentes não partilham dessa opinião e possuem o valor médio mais baixo, inclusivamente quando comparados com os titulares. O facto de serem menos utilizados pelo

técnico poderá estar na origem desse valor tão baixo quando comparados com a percepção dos titulares e com a auto-percepção dos treinadores. Provavelmente não reconhecem no treinador uma pessoa com um carisma especial, pelo qual toda a equipa deveria estar em sintonia e com a qual todos os elementos da equipa o deveriam ter como referência.

Nas Características de Segurança existem diferenças entre os titulares e os treinadores, apresentando os titulares um valor médio superior.

Com a utilização deste questionário verificámos que a percepção da qualidade da relação treinador – atleta é superior nos treinadores em relação à qualidade percepcionada pelos atletas. No que se refere ao escalão, são os seniores que apresentam uma percepção mais elevada da qualidade da relação interpessoal na relação com o treinador.

Verificámos que só o estatuto funciona como variável influenciadora da percepção da qualidade da relação treinador – atleta, tanto quando analisámos os 23 itens do questionário, como quando efectuámos uma análise factorial dos mesmos, de maneira a reduzirmos para um número mais restrito de variáveis a análise da qualidade treinador – atleta.

No que se refere aos factores que encontrámos, baseados nas características do inventário de interacção treinador atleta, e no que se refere ao que denominámos características da personalidade, encontrámos diferenças significativas entre os suplentes e os treinadores. Estes resultados vêm contrariar os vários estudos consultados (Jackson, Tatem, Larry & Kirby, 1984; Craighead, Privette, Vallianos & Byrkit, 1986; Garland & Barry, 1990 e Stefanello, 1990), onde todos os resultados apontaram para a existência de diferenças significativas entre titulares e suplentes. Pensamos que, no nosso estudo, e analisando as características incluídas neste factor, a diferença existente entre suplentes e treinadores deve-se, essencialmente, à falta de credibilidade que os treinadores depositam nos atletas suplentes, nomeadamente ao nível do rendimento que estes possam vir a dar.

No que se refere às características relacionais, encontrámos diferenças significativas entre os titulares e os suplentes. Tal como Gruber e Gray (1982) e Tripel e Brocks (1985), consideramos que os jogadores titulares têm um relacionamento muito mais estreito e positivo com os treinadores do que os suplentes e têm um conceito mais positivo das suas capacidades e perspectivas próprias do que os suplentes.

Nas características de liderança encontrámos diferenças entre os titulares e os suplentes e entre os suplentes e os treinadores. Consideramos que a diferença existente entre os titulares e suplentes e avaliando de uma forma global as características inerentes a este factor, os titulares estão mais satisfeitos com a frequência aos jogos, a sua situação, o seu rendimento, encontrando-se os suplentes descontentes. Entre os suplentes e os treinadores, as diferenças centram-se no facto de os jogadores suplentes não darem muita credibilidade à forma e ao método utilizado pelos treinadores na condução das equipas. As situações referidas são coincidentes com os estudos de Gruber e Gray (1982), Garland

e Barry (1990), Westre e Weiss (1991), Gardner, Shields, Bredmeier e Bostrom (1996) e Thuram (2003).

No que se refere às características de experiência, as diferenças significativas encontradas foram entre os titulares e os treinadores. Baseados nas características que compõem este factor, o facto dos treinadores possuírem um sentido de responsabilidade elevado e a necessidade de serem possuidores de um grande auto-controlo emocional, leva-os a considerarem-se menos experientes do que eventualmente são, aproximando a sua autopercepção dos jogadores suplentes e afastando-se da percepção dos titulares.