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Factores epidemiológicos

A LESÃO VERTEBRO-MEDULAR

3.5 Factores epidemiológicos

- Quanto ao sexo

Todos os estudos são unânimes em apontar a LVM como um quadro clínico que afecta predominantemente os sujeitos do sexo masculino.

Os dados por nós obtidos (Quadro 2) no Centro de Medicina e Reabilitação do Alcoitão e no Serviço de Medicina Física e de Reabilitação do Hospital Curry Cabral revelam a seguinte distribuição por sexos:

Quadro 2 - Factores Epidemiológicos - Sexo

SEXO n %

MASCULINO FEMININO

1006 73 373 27

CMR Alcoitão e SMFR Hospital Curry Cabral (#=1379)

Também o trabalho realizado por Martins et ai. (1998) na região Centro de Portugal evidencia resultados similares - 77% do sexo masculino e 23% do sexo feminino.

Debruçando-nos sobre os dados epidemiológicos de outros países, verificamos que nos Estados Unidos cerca de 80% dos sujeitos com este tipo de lesão pertencem ao sexo masculino (Nobunaga et ai, 1999; Sipski & Alexander, 1992); no Reino Unido

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representam cerca de 75% do total (Kennedy, 1991); e em Singapura, tendo em conta os doentes assistidos entre 1990 e 1995, 83% eram homens.

- Q u a n t o à i d a d e

Também quanto a esta variável, existe unanimidade nos trabalhos - as LVM ocorrem principalmente em adultos jovens (Gibson, 1992; Nobunaga et ai., 1999; Sipski & Alexander, 1992; Staas et ai., 1992; Trieschmann, 1980; Yen, Chua & Chan, 1998).

Este tipo de lesão é rara nas crianças com menos de 14 anos, circunscrevendo-se mais ao grupo etário entre os 15 e os 24 anos cerca de metade das ocorrências de LVM. Alguns autores (Bracken et ai., 1981; Hadley et ai., 1988; Osenbach et ai., 1992, citados por Vogel & DeVivo, 1994; Price et ai., 1994) referem que os jovens com menos de 15 anos representam 3 a 5% do total de novos casos por ano.

De acordo com Krause (2000), aproximadamente 60% das lesões ocorrem entre os 16 e os 30 anos, salientando ainda que a incidência no grupo etário dos 31 aos 45 anos é de 22.1%, sendo de 10.3% na faixa dos 46-60 anos e de 7% após esta idade.

Relativamente à idade média de ocorrência das LVM, existe uma grande variabilidade - 25 anos (Sipski & Alexander, 1992); 31.6 anos (Burke et ai., 2001); 32.3 anos (Nobunaga et ai., 1999, com base numa amostragem de cerca de 25,000 indivíduos); 40 anos (Yen, Chua & Chan, 1998); e mesmo 50.5 anos (Martins et ai.,

1998). Este último dado, que apresenta um desvio padrão de 21.8 anos, é referido no estudo epidemiológico realizado por investigadores de Coimbra, que justificam este valor médio dizendo que a distribuição de acordo com a idade revela uma curva

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bimodal com um pico entre os 15 e os 24 anos e outro entre os 55 e os 74, apresentando o segundo uma amplitude muito extensa.

Uma vez mais apresentamos os resultados por nós obtidos (Quadro 3) nos locais já atrás referenciados, agora no que concerne à distribuição por idades:

Quadro 3 - Factores Epidemiológicos - Idade

GRUPO ETÁRIO n % <15 5 0.4 1 5 - 1 9 139 10.1 2 0 - 2 9 382 27.7 3 0 - 3 9 232 16.8 4 0 - 4 9 201 14.5 50-59 196 14.3 >59 224 16.2

CMR Alcoitâo e SMFR Hospital Curry Cabral (#=1379)

Da observação da tabela concluímos que o risco de LVM aumenta significativamente na faixa etária dos 20 aos 29 anos, sendo o período compreendido entre os 15 e os 29 anos aquele em que ocorrem 37.8% das lesões medulares. O registo de 16.2% referente a pessoas com 60 anos ou mais é consistente com a literatura, que nos diz que 13% a 20% (Bracken, 1981, e Kalsbeek et ai., 1980, citados por Martins, Freitas & Martins, 1999) das LVM acontecem após os 65 anos.

Relacionando as variáveis idade e agente causal, Stover e Fine (1986, citados por Gibson, 1992) constataram que a frequência das quedas assume maior relevo com a

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idade - 9.4% no grupo dos 0 aos 15 anos; 59.6% nos sujeitos com mais de 75 anos, ao inverso do que acontece com lesões motivadas por práticas desportivas/recreativas. Outros autores corroboraram este facto apontando mesmo as quedas como a principal causa de lesão medular nas pessoas idosas (Nobunaga et ai., 1999), destacando igualmente os factores não traumáticos (Staas, Formal, Freedman, Fried & Read, 1998).

Ainda segundo Stover e Fine (1986, citados por Gibson, 1992), as LVM causadas por acidentes de viação atingem o seu pico (51.5%) entre os 16 e os 30 anos. Este dado vai ao encontro de estatísticas nacionais, segundo as quais os condutores jovens, com idades compreendidas entre os 20 e os 29 anos, foram o grupo etário com maior participação em acidentes rodoviários que causaram vítimas em 2001, com uma percentagem de 32.2% (dados da Direcção-Geral de Viação).

- Q u a n t o a o nível d a lesão

De acordo com Freed (1984), os segmentos medulares que apresentam uma maior frequência de lesões são os situados entre as articulações C5-C6, C6-C7 e D12-L1, salientando ainda que as regiões dorsal superior e lombar inferior são aquelas que se encontram mais protegidas face a este tipo de lesão.

Fife e Kraus (1986, citados por Cushman et ai., 1991) estudaram a distribuição das LVM causadas por acidentes de viação pelos diferentes segmentos da coluna vertebral, tendo concluído que 68% aconteceram a nível cervical, 21% a nível dorsal e

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Estes dados fazem-nos prever a existência de um maior número de tetraplegias, em detrimento das paraplegias. De facto, a frequência das primeiras parece ser ligeiramente maior, variando entre os 51.2% (segundo os dados nacionais de Martins et ai., 1998), 53% (Staas et ai., 1992), 53.7% (Yen, Chua & Chan, 1998) e os 54% (Nobunaga et ai., 1999).

Contrariando os resultados apontados por estes autores, os dados por nós obtidos (Quadro 4) reflectem um maior número de paraplegias (62.8%) do que de tetraplegias (37.2%).

Quadro 4 - Factores Epidemiológicos - Nível da LVM

NÍVEL DA LESÃO n %

TETRAPLEGIA PARAPLEGIA

513 37.2 866 62.8

CMR Alcoitão e SMFR Hospital Curry Cabral (#=1379)

Refira-se ainda que a maioria das paraplegias resultam de lesões na região dorsal compreendida entre Dio- D12 (Pinheiro, 1999) e na junção dorso-lombar (Staas et ai., 1998; Yen, Chua e Chan, 1998).

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- Quanto à extensão da lesão

Vários estudos, ao estabelecerem comparações com o passado relativamente à extensão da lesão, salientam que o número de lesões incompletas tem vindo a aumentar (Nobunaga et ai., 1999; Stover & Fine, 1986, citados por Gibson, 1992). A este facto não será estranha melhoria qualitativa dos cuidados assistenciais no local do acidente, bem como durante o transporte para o hospital.

Enquanto Staas et ai. (1992) referiam lesões completas em 48% das tetraplegias e 60% das paraplegias, trabalhos mais recentes mostram que a proporção entre a completude/incompletude das LVM é praticamente semelhante (Nobunaga et ai., 1999).

Os elementos por nós recolhidos (Quadro 5) reflectem, contudo, um maior predomínio das lesões completas (59%).

Quadro 5 - Factores Epidemiológicos - Extensão da LVM

EXTENSÃO DA LESÃO n %

COMPLETA INCOMPLETA

816 59 563 41 CMR Alcoitão e SMFR Hospital Cuny Cabral (N=13 79)

Estes resultados são semelhantes aos obtidos no estudo realizado na região Centro do país (Martins et ai., 1998), em que também foi encontrado um número superior de lesões completas (55.6%).

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