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FACTORES RELACIONADOS COM O CONSUMO DE DROGAS

FACTORES MICRO-SOCIAIS

Cada vez ganham maior importância o conjunto de variáveis que podemos denominar por micro-sociais (determinantes familiares, escolares e grupais), ao ter-se estabelecido empiricamente a sua associação com o consumo de drogas na adolescência. Cada jovem tem um ambiente interpessoal e social que é único abarca os pais, os irmãos, os colegas e outros adultos importantes na sua vida e desenvolvimento. Desta forma, o meio exerce uma influência que pode ser favorável ou desfavorável ao uso e abuso de drogas; as condições do ambiente familiar, as normas culturais, a política escolar, etc., representam esse contexto social em que se realiza o comportamento.

Com carácter geral, podemos afirmar que a maioria das investigações (Mendes et ai.,1999) demonstraram que os jovens cujos pais têm atitudes favoráveis ao consumo (ou consomem) de tabaco, bebidas alcoólicas, ou outras drogas, tem maior probalidade de consumir alguma destas substâncias. Face

Capítuloil ao grupo de pares, associação com jovens consumidores durante a adolescência é um dos factores predictivos mais poderosos ao uso de drogas, uma vez que os jovens procuram uma união com o grupo, um sentido de pertença.

No âmbito dos factores micro-sociais, Fuente (1983) estabelece os seguintes determinantes familiares, escolares e grupais: a) Consumo inicial instaurado e a existência de abusos de substâncias praticados por adultos; b) pressão do grupo; c) insuficiente formação dos pais e educadores; d) deficiências na comunicação familiar; e) Conflitos familiares; f) práticas educativas incorrectas e g) inadaptação escolar.

a) Consumo inicial instaurado e a existência de abusos de substâncias praticados por adultos

Tanto na população adulta como juvenil verifica-se um importante consumo de álcool e tabaco, e de outras substâncias em menor medida (haxixe, psicofármacos, etc.), existindo uma aceitação social generalizada do consumo destas substâncias. Desta situação decorre que o jovem esteja continuamente exposto a modelos que apresentam comportamentos adictivos.

De igual forma, muitos educadores vêm-se obrigados a manter atitudes contraditórias e ambíguas no tocante ao consumo de álcool, tabaco, medicamentos, etc., uma vez que eles próprios são consumidores. Noutros casos nem chega a dar-se essa atitude contraditória, uma vez que se incita o jovem para que consuma.

b) Pressão do grupo

Por grupo entende-se qualquer número de pessoas que partilham uma consciência de pertença e de interacção (Horton e Hunt, 1986). Através da experiência de grupo o adolescente interioriza as normas sociais, partilhando os valores metas e sistemas de trabalho na nossa cultura. Na medida em que adquire consciência das suas necessidades sociais - adquirir prestígio e amigos, ser aceite pelo grupo, relacionar-se com o sexo oposto - e uma vez que a segurança em si próprio depende disso, a sua ansiedade social vai aumentando.

Capítuloll O grupo de pares exerce uma pressão sobre cada um dos seus componentes, decorrendo desta situação diferentes factores que podem influenciar a tendência para o consumo de drogas. Os interesses, a pressão e as expectativas dos elementos do grupo contribuem em grande medida para determinar que o jovem ensaie, ou não, o consumo de uma determinada droga. A maioria dos jovens consumidores de drogas obtêm-nas de pessoas da sua idade e não de adultos. É provável que seja um amigo, ou grupo de amigos, que informe os potenciais consumidores sobre as possibilidades de obtenção de drogas e os seus supostos efeitos (Macia, 1994).

O grupo proporciona apoio e segurança para novas experiências: do desejo de integração no grupo e dos intercâmbios sociais que nele se formam, pode resultar o inicio e a manutenção do uso de drogas se algum dos membros mais influentes desse grupo for consumidor regular. Em contrapartida, se um membro do grupo deseja abandonar o consumo será muito provavelmente dissuadido pelas pressões dos outros membros.

c) Insuficiente formação dos pais e educadores

Basicamente, nem uns nem outros foram formados para educar para a saúde em geral, nem para o uso ou abuso de substâncias, em particular. A falta de recursos educativos para fazer face a este problema é manifesta em muitos casos; as escolas inibem-se perante o problema e os pais situam-se algures entre a angustia e o desespero.

d) Deficiências na comunicação familiar

É frequente ouvir falar pais, educadores ou adultos em geral, da dificuldade que existe na comunicação com adolescentes. É comum também, ouvir queixas sobre o poder que estes exercem em casa, não só nas "suas coisas" mas no tocante a horários, compras, forma de vestir, etc. Quantos pais e educadores se viram prisioneiros de "pseudo-acordos" que sabem de antemão que são falsas manobras para ganhar tempo, preparar desculpas e justificar o injustificável. Se estes problemas de comunicação são graves noutras áreas da família, serão absolutos em campos como as drogas, o sexo, a ruptura das normas, a violência, o estudo.

Capítulo II A falta de comunicação real entre pais e filhos faz como que estes últimos se distanciem pouco a pouco do ambiente familiar ao não encontrar aí respostas para os seus problemas .Se a comunicação é escassa, resultará difícil para os pais saber o que pensam os seus filhos e quais são os seus problemas; por sua vez, estes recorrerão a outras pessoa, fundamentalmente os amigos, nem sempre encontrando princípios e valores partilhados pela família.

e) Conflitos familiares

A conflitividade entre alguns dos seus membros gera um clima de tensão pouco favorável para que se estabeleçam relações de autentica comunicação e, de uma forma mais geral, para uma correcta educação dos membros da família. Uma maior proximidade à família e a existência de laços afectivos com adultos, diminui a necessidade de dependência do grupo, diminuindo assim a probabilidade de que o jovem venha a utilizar drogas.

f) Estilos de educação incorrectos

A falta de dedicação por parte dos pais à educação dos seus filhos (excesso de trabalho, falta de tempo) ou um deficiente controle devido a um excessivo "liberalismo" educativo, são factores geralmente relacionados com uma inadequada formação dos jovens. Nestes casos, não raras vezes se descuidam os aspectos educativos, sendo estes delegados noutras pessoas ou instituições (caso da escola).

As atitudes rígidas ou de sobreprotecção são também estilos incorrectos. As primeiras, ao bloquear e inibir as crianças, farão com que estas tardem (ou nunca cheguem) a descobrir as suas potencialidades. As segundas, impedem que a criança alcance autonomia funcional, criando-lhe sentimentos de insegurança e inferioridade: pais demasiado atentos, temerosos "dos perigos que espreitam os filhos", dificultam o processo de tomada de decisões, o estabelecimento de critérios próprios e o exercício da responsabilidade pessoal (Macia, 1994).

Capítulo II Na sociedade actual, escola é a instituição que assume um protagonismo cada vez maior nas funções formativas e educativas. Muitas investigações estabelecem relações entre o consumo de drogas por adolescentes e o baixo rendimento académico, o elevado grau de absentismo, o abandono escolar, os baixos índices de actividades extra-escolares e escassas aspirações educativas.

Tanto o tipo de formação recebida como o próprio ambiente escolar podem, ou não, favorecer o contacto com determinadas substâncias psicoactivas. Uma escola que não responda às necessidades educativas dos seus alunos está a contribuir, em certa medida, para o consumo de drogas, uma vez que não lhes oferece recursos para enfrentarem os problemas da sociedade actual, em que o consumo de substâncias (legais ou ilegais) ocupa um lugar cimeiro.

Não raras vezes a escola gera entraves ao desenvolvimento pessoal e social dos jovens, sem por à sua disposição oportunidades para a resolução dos seus problemas. A rigidez das estruturas escolares e a sua não adequação às necessidades individuais, origina nos adolescentes sentimentos de rejeição à escola e aos seus conteúdos, passando a ser vivenciada como uma instituição pouco útil e gratificante.

As a) atitudes autoritárias e pouco compreensivas por parte dos professores; b) relações excessivamente distantes e racionais com os alunos, descuidando aspectos humanos; c) ausência de recursos, quer humanos quer materiais, para a aprendizagem e d) a despersonalização dos alunos, são características do actual contexto escolar que desvirtuam o papel que a escola tem na vida dos jovens. Tudo isto determina a existência de falta de comunicação com os alunos e que se desenvolva uma crescente falta de interesse e motivação pelo conteúdo das matérias e pelo desejo de conhecimentos.

A Escola, tal e como funciona na actualidade, não prepara os seus alunos face ao futuro. A transmissão de uns conhecimentos e a avaliação pelo sistema de notas parecem ser, na prática, os principais objectivos do sistema educativo.