• Nenhum resultado encontrado

3.2 Planície litorânea

3.2.7 Falésias e paleofalésias

As falésias são feições geomorfológicas litorâneas que exibem face abruta ou escarpada decorrente da abrasão marinha por via do solapamento da base e desmoronamento do topo (GUERRA & GUERRA, 2007). Conforme a legislação brasileira, em artigos da Resolução 303 do CONAMA e da Lei nº 12.651 de 2012, as falésias são Áreas de Preservação Permanente, enquadrando-se como borda de tabuleiro em até 100 m em projeções horizontais. Todo o litoral do Município de Icapuí apresenta feições em formas de falésias, que são escarpas íngremes associadas à ação atual ou pretérita das ondas e marés. Estas feições possuem até 70 metros de altura e representam ambientes instáveis de vulnerabilidade elevada, como ocorre nas praias de Retiro Grande, Ponta Grossa, Redonda e Peroba (MEIRELES, 2012). É possível individualizar dois setores: os de falésias vivas ou ativas e o de falésias mortas, inativas ou paleofalésias. Em um setor a escarpa íngreme está submetida atualmente à ação das ondas e marés e em constante evolução e modelamento, caracterizado pelo solapamento basal e desmoronamento da parte superior e ocasionando blocos e plataforma de abrasão no perfil praial. No outro setor, o das paleofalésias, a ação das ondas e marés não atinge atualmente está feição, todavia, no passado recente ou mesmo no passado geológico (Quaternário) esta estrutura foi submetida a este fluxo energético.

Verificou-se a ocorrência de falésias vivas no setor oeste da planície litorânea, desde a praia de Vila Nova até a praia de Ponta Grossa, onde um acúmulo recente de sedimentos nos últimos 30 anos (observado em imagens LANDSAT) associado ao promontório gerou uma extensa faixa de deposição de sedimentos ao leste do promontório e impossibilitou a ação das ondas na rocha, e nas proximidades da praia de Retiro Grande.

Conforme Sousa et al. (2009), a litologia das falésias da zona costeira de Icapuí é constituída por i) unidade de rochas carbonáticas correlacionadas à Formação Jandaíra (base das falésias); ii) unidades de rochas siliciclásticas relacionadas as Formações Barreiras e Tibau (lateral e verticalmente nas falésias) e iii) rochas da Formação Potengi (topo das falésias) (FIGURA 23).

Figura 23 - Perfil esquemático representativo das formações que compõem as falésias em Icapuí.

Fonte: Sousa et al. (2009).

Meireles (2012) associou as energias modeladoras como as correntes pluviais e ação das ondas com as características sedimentológicas e estruturais das falésias, além das interferências humanas, para explicar a origem das falésias em distintos níveis (terraços), como se observa em Icapuí, em três níveis, sendo eles: i) o mais elevado, zona de cimeira do tabuleiro; ii) mais inferior, com sedimentos argiloarenosos (fácies basal) e contato entre sedimentos arenoargilosos e conglomeráticos na fácies superior; e iii) plataforma de abrasão atual, originada pela ação das ondas e marés. A fácies arenosa é afetada pela erosão pluvial enquanto os sedimentos arenoargilosos são relativamente mais resistentes. A fácies argilosa é mais afetada pela ação das ondas. A ação humana aliada à erosão pluvial também promove o festonamento e voçorocas no primeiro nível.

As paleofalésias foram identificadas desde o limite com o Município de Tibau, no extremo leste de Icapuí até a praia de Vila Nova, sendo esta estrutura associada às flutuações do nível do mar e às mudanças climáticas no Quaternário. Também se evidência um pequeno

trecho de paleofalésias entre as praias de Ponta Grossa e Retiro Grande, estando relacionadas à deposição de sedimentos nos últimos 30 anos.

Meireles (2012) associou a existência das paleofalésias às mudanças climáticas e flutuação do nível do mar durante o Quaternário, o que condicionou um nível do mar até 8 m mais elevado do que o atual em 123.000 anos A.P. Durante o período transgressivo, a linha de costa esteve posicionada até 3 km de distância continente adentro (considerando a linha de costa atual), promovendo o recuo da formação rochosa. O período regressivo posterior possibilitou a formação sequencial de cordões arenosos e, consequentemente, das paleofalésias e terraços marinhos, já que a ação direta das ondas e marés sobre a rocha não é mais possível.

No que se refere às formas de uso e ocupação destas feições, percebeu-se que estão conservadas em alguns setores sendo destruídas somente por fatores naturais. Ao longo do litoral existem ocupações de comunidades locais, casas de veraneio e pousadas na base, na face (entre os patamares) e principalmente no topo destas feições. Conhecidas pela população local

como “serras”, as paleofalésias e as falésias vivas são ambientes instáveis e sua ocupação

representa um risco decorrente da instabilidade associada ao ataque das ondas e à erosão pluvial.

Ao longo do litoral cearense, algumas áreas de falésia estão indevidamente ocupadas e em situações de risco como na praia de Canoa Quebrada, em Aracati, enquanto em outros locais existem Unidades de Conservação, como é o caso do Monumento Natural das Falésias de Beberibe.

A integração destes ambientes com outros sistemas ambientais da zona costeira permite compreender sua importância quando relacionados à evolução da linha de costa. As falésias vivas contribuem com significativo aporte de sedimentos para a faixa de praia e deriva litorânea desde a ação pluvial e das ondas e consequentes movimentos de materiais como os desmoronamentos e quedas de blocos, o que está diretamente relacionado com a quantidade de areia disposta na faixa de praia. Portanto, há um sistema de retroalimentação, de modo que, quando a faixa de praia dispõe de areia suficiente para o equilíbrio, o ataque das ondas na falésia é menor, e o inverso acontece quando há um défice de areia, o ataque das ondas é maior e o recuo da falésia se intensifica, havendo maior aporte de sedimentos para a deriva litorânea, mas podendo acarretar riscos locais em áreas ocupadas.