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3.2 Planície litorânea

3.2.5 Planície fluviomarinha

O Município de Icapuí não possui grandes sistemas fluviais, somente pequenos rios e riachos que nascem no tabuleiro pré-litorâneo e desembocam nas praias de Manibu (rio Arrombado) e Retiro Grande, além do estuário da Barra Grande, que é um canal estuarino ocasionado pela ressurgência do lençol freático no sopé das paleofalésias e que percorre destas em direção ao oceano, perpassando terraços marinhos, flechas de areia e o delta de maré. A desembocadura destes canais no mar propicia a formação de planícies fluviomarinhas, ou seja, áreas em que a água do mar adentra o continente pelo curso fluvial, o que é ocasionado pelas oscilações da maré.

Nessas áreas, desenvolvem-se o ecossistema manguezal e a sua vegetação característica, o mangue, que é uma APP conforme o Código Florestal Brasileiro (BRASIL, 2012), com predominância das espécies de mangue vermelho ou sapateiro (Rhizophora mangle), mangue branco ou manso (Laguncularia racemosa), mangue preto (Avicennia schaueriana e Avicennia germinans), mangue ratinho (Conocarpus erectus), além de espécies características dos apicuns (SILVA, 1993; SILVA, 2012)

O rio Arrombado tem nascentes em áreas de tabuleiro nas localidades de Mata Fresca, em Aracati, e Gravier, em Icapuí, e deságua entre as praias de Peixe Gordo e Manibu, tendo um curso de aproximadamente 18 km. A influência da maré ocorre vários quilômetros continente adentro até as proximidades da comunidade de Gravier. Campos de dunas de 2ª e 3ª geração nas proximidades das comunidades de Córrego do Sal e Manibu, respectivamente, migram em direção ao leito fluvial (de leste para oeste), contribuindo para o retorno destes sedimentos à faixa de praia na porção leste do Município.

Em sua foz, dada a sua baixa capacidade no transporte de sedimentos e associada à dinâmica climática e aos barramentos, o canal pode ser temporariamente fechado pelos sedimentos em deriva litorânea e reaberto quando houver energia fluvial suficiente para o rompimento da barreira natural de sedimentos, o que pode acontecer em um curso diferente do anterior. Estes fatores e a dinâmica das ondas e marés deslocaram a foz no sentido noroeste e promoveram o surgimento de uma flecha litorânea.

Conforme o Diagnostico Geoambiental do rio Arrombado, elaborado pela Prefeitura Municipal de Icapuí, identificou-se um conjunto de geradores de impactos ambientais na planície fluvial do rio Arrombado, alguns deles com influência direta na planície fluviomarinha e na faixa de praia e pós-praia, como a construção de barragens. Além disso, foram mencionados a degradação das nascentes, o desmatamento das margens, a ocupação de APPs e o desenvolvimento de atividades turísticas (PREFEITURA DE ICAPUÍ, 2013).

Destaca-se o fato de que a migração periódica da desembocadura fluvial associada a construções irregulares de residências sobre o perfil praial, dunas e terraços, ocasionaram situações de risco e a destruição de residências (FIGURA 17).

Figura 17 -Desembocadura do rio Arrombado, no litoral de Icapuí.

Fonte: Souza (2014).

O estuário da Barra Grande é um canal fluviomarinho que ocorre em virtude da ressurgência da água doce do lençol freático nas paleofalésias nas proximidades das comunidades de Mutamba, Cajuais e Berimbau, e que alimenta sistemas lacustres (lagoa do Carapicu ou Cajuais) principalmente no primeiro semestre do ano (estação chuvosa) (SILVA, 2012).

Conforme Meireles e Souza (2015), o estuário da Barra Grande é um indicador das variações do nível do mar, pois este sistema estuarino está relacionado com a linha de paleofalésias, demarcando o limite máximo da penúltima transgressão marinha, a progradação da linha de costa, originando os terraços marinhos e a evolução do delta de maré.

A planície fluviomarinha propicia a formação do ecossistema manguezal nas proximidades da comunidade de Requenguela, com uma área de aproximadamente 135 hectares de vegetação de mangue (SILVA, 2012) e com atuação de projetos socioambientais vinculados à Estação Ambiental Mangue Pequeno.

Defronte ao exutório, ocorre o delta de maré, o que propicia uma extensa faixa de areia (estirâncio), durante a maré baixa, de aproximadamente 2 km, e possibilita visualizar a continuação dos canais, sugerindo uma dinâmica de transporte e deposição dos sedimentos e bancos de areia por meio da deriva litorânea (FIGURA 18). O aporte de água doce da Formação Barreiras também ocasiona ressurgências no delta de maré na forma de olhos d’água utilizados pelo peixe-boi marinho (MEIRELES & SOUZA, 2015)

Figura 18 - Estuário da Barra Grande e delta de maré durante a baixa-mar.

Fonte: Souza (2014).

O estuário da Barra Grande, no entanto, também está degradado por atividades como as salinas e a carcinicultura, que afetam diretamente o ecossistema manguezal. Conforme Silva (2012), existem relatos de uma primeira salina na região em 1894, outros em 1920, e a carcinicultura ocupou o estuário desde 2000. Essas duas atividades econômicas continuam em funcionamento.

A importância ambiental da área foi oficialmente reconhecida pelo poder público com a criação de uma Área de Proteção Ambiental (APA), através da Lei Municipal N° 298/00 de 12 de maio de 2000, que criou a APA do Manguezal da Barra Grande, com 1260,31 hectares (SEMACE, 2015). Apesar do nome, abrange não somente o ecossistema manguezal, mas também os terraços marinhos, faixa de praia e delta de maré (FIGURA 19).

Figura 19 - Limites da APA do estuário da Barra Grande.

A planície fluviomarinha e o ecossistema manguezal da Barra Grande estão associados ao delta de maré e são influenciados pela dinâmica das marés e fluxos de sedimentos que contribuem para o equilíbrio dinâmico destes sistemas e para a biodiversidade local, além de promover o sustento e a qualidade de vida para comunidades locais (pesca e mariscagem). Em direção ao extremo oeste do Município, ocorrem novamente ressurgências do lençol freático em falésias e paleofalésias e formações de canais de maré entre as praias de Ponta Grossa e Retiro Grande, com a existência de pequenos trechos com vegetação de mangue.

No limite do Município de Icapuí com Aracati, há um pequeno curso fluvial que corta o tabuleiro e a falésias, associada a um graben por Torquato, Torquato & Moraes (1996). O rio possui baixa vazão em virtude de alguns barramentos, inclusive no exutório, com a formação de um pequeno açude pertencente a uma casa de veraneio, contribuindo para que ele não deságue no mar, exceto em eventos de alta vazão em chuvas intensas (FIGURA 20).

As planícies fluviomarinhas e sistemas fluviais e estuarinos associados desempenham funções ambientais e ecológicas imprescindíveis para a manutenção do equilíbrio dinâmico e sistêmico da zona costeira, manutenção da biodiversidade e dos modos de vida tradicionais, além de serem ambientes fundamentais para amortecimento dos futuros impactos das mudanças climáticas e elevação do nível do mar.

Figura 20 - Exutório de pequeno curso fluvial na praia de Retiro Grande.

Fonte: Souza (2010).