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2 Revisão da literatura e fundamentação teórica 1 Requalificação Fluvial

2.6 Valoração dos serviços ambientais

2.6.3 Falhas de mercado

Através de uma perspectiva econômica pode-se afirmar que a poluição é uma falha de mercado que distorce os parâmetros de um mercado perfeito. Conceitualmente, falha de mercado é a situação em que o custo marginal social não é igual ao benefício marginal. São situações nas quais o desejo individual pode acabar prejudicando a sociedade caso não haja um intervencionismo. Cabe ao governo agir como um mediador para corrigir as falhas de mercado.

Em se tratando de bem público, já conceituado anteriormente, a falha de mercado ocorrerá em função de uma externalidade, e identificando-se essa falha de mercado, os incentivos poderão ser restaurados através de uma política ambiental. Segundo THOMAS (2012), os bens públicos geram uma falha de mercado porque as características de não rivalidade e não exclusividade impedem que os incentivos naturais de mercado alcancem um resultado alocativamente eficiente. O autor destaca ainda que, os economistas moldam problemas ambientais como falhas de mercado utilizando tanto a teoria dos bens públicos como a teoria das externalidades. Se o mercado for definido como “qualidade ambiental”, a fonte da falha de mercado é o fato

57 de a qualidade ambiental constituir um bem público, ou se o mercado for definido como o bem cuja produção ou o consumo gera prejuízo ambiental, a falha de mercado será em função de uma externalidade. Sendo assim, o PSA é uma ferramenta que foi criada, segundo DE CARLI (2017), para corrigir falhas de mercado ligadas à externalidade do serviço ecossistêmico, respondendo à necessidade de melhorar a eficiência e equidade distributiva na produção de um serviço ecossistêmico determinado, em relação a um nível de base de referência.

As externalidades ambientais podem afetar a terra, o ar, a água, ou seja, os bens públicos, e podem ultrapassar fronteiras de regiões ou países. Entretanto, se os efeitos estiverem definidos em uma área mais restrita, estes podem ser solucionados de forma mais eficiente através da internalização das externalidades, induzindo os stakeholders a dar suporte aos custos ou benefícios externos através de políticas e programas governamentais, com o objetivo de proteger a saúde e o bem estar da sociedade. Sendo assim, o governo necessita avaliar e gerir os riscos que envolvem a tomada de decisões diante das incertezas e implicações para a saúde humana e dos ecossistemas no longo prazo. Pela visão econômica, a gestão dos riscos ambientais deve ser orientada pelos custos e benefícios da redução da externalidade.

DALY (1991) propôs um Produto Nacional Líquido Socialmente Sustentável (PNLSS) que considera o custo das medidas de proteção e a depreciação do capital natural, onde:

PNLSS = PNL – CMP – DCN

que se lê: Produto Nacional Líquido (PNL); Custo das medidas de produção (CMP); Depreciação ou empobrecimento do capital natural (DCN).

O depauperamento do capital natural é, em muitos casos, o mais sério problema, porque diminui os estoques reduzindo o fluxo sustentável dos recursos e serviços obtidos dos ecossistemas. Estes devem ser avaliados através do custo de reposição ou de disposição a pagar atribuindo-lhes valor e serem subtraídos do PNL (THOMAS, 2012). PEARCE et al. (1989) sugere correções quanto ao uso de recursos defensivos contra poluição e/ou degradação as quais provocam impactos negativos sobre o bem estar econômico da sociedade. Assim, ele sugere:

58 que se lê: Bem estar corrente (BEC); Consumo total medido (CM); Dispêndio defensivo dos habitantes (DDH); Danos oriundos da poluição residual (DPR).

A análise de riscos também é parte importante para a eficácia de políticas públicas, ao se considerar que uma política pública é uma resposta formal aos riscos que a sociedade está submetida. Sendo assim, cabe uma definição de risco ambiental, que vem a ser o risco involuntário da exposição a perigos, sendo que alguns perigos são relativamente de menor impacto, mas afetam uma grande parte da população, e outros são perigos de elevado impacto, mas a exposição a eles é limitada. Diante do importante papel que a análise de riscos desempenha na tomada de decisões, os formuladores de políticas públicas utilizam métodos para avaliar, caracterizar e reagir ao risco ambiental como mostra a Figura 2.1.

Figura 2.1 – Processo de Avaliação de Risco

Fonte: NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES( 1983)

Após a identificação de um perigo faz-se necessário investigar o seu potencial e quantificar a reação humana ou ambiental aos variados níveis de dosagem. A relação dose-resposta é uma relação quantitativa entre as dosagens de um dano e as reações correspondentes. Através da utilização dos dados coletados no estágio de identificação do perigo, a análise dose-resposta busca mostrar um perfil dos danos. THOMAS (2012) destaca que um aspecto importante da análise é determinar se algum nível de exposição ao perigo é seguro, que é denominado de nível de limiar de exposição, que é o ponto até o qual não existe resposta baseada em evidência científica.

AVALIAÇÃO DE RISCO

Avaliação Qualitativa e Quantitativa do Risco

Identificação do perigo

Análise dose - resposta

Análise da exposição e vulnerabilidade

Caracterização do risco Pesquisa científica

e coleta de dados

GESTÃO DE RISCO

59 A implementação do processo da gestão de riscos envolve uma série de decisões que visam duas tarefas principais, segundo THOMAS (2012):

 Determinar qual o nível de risco é “aceitável” para a sociedade;  Avaliar e selecionar o “melhor” instrumento de política para alcançar esse nível de risco.

A partir daí, deve-se observar o nível de risco estabelecido, os custos e os benefícios impostos à sociedade em consequência da implantação ou não, da política escolhida.

Ao longo do tempo, várias estratégias da gestão de riscos foram desenvolvidas para avaliação, como a análise comparativa de riscos, a análise risco benefício e a análise custo benefício. No trabalho corrente, utilizar-se-á a análise custo benefício para avaliar a implantação do PSA como instrumento para prevenção de enchentes.