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2 Revisão da literatura e fundamentação teórica 1 Requalificação Fluvial

2.2 Serviços Ambientais

Os ecossistemas terrestres, dulcícolas e marinhos são capazes de fornecer para a sociedade uma quantidade enorme de serviços, entre eles, água potável, terras produtivas, biodiversidade e sequestro de carbono. Segundo ODUM (2009), os ecossistemas são ricos em redes de informação, que compreendem fluxos de comunicação físicos e químicos que interligam todas as partes e governam ou regulam o sistema como um todo. A Hipótese de Gaia sustenta que os organismos, principalmente os micro organismos, evoluíram junto com o ambiente físico, formando um sistema complexo de controle, o qual mantém favoráveis à vida as condições da Terra (LOVELOCK, 1979). No entanto, BROWN (1978) afirma que:

À medida que a economia global se expande, aumentam as pressões sobre os sistemas biológicos da Terra. Em grandes áreas do mundo, as demandas humanas sobre estes sistemas estão atingindo um nível insustentável, um ponto onde a sua produtividade está sendo prejudicada. Quando isto ocorre, as indústrias pesqueiras entram em colapso, as florestas desaparecem, os campos naturais são convertidos em ermos estéreis, e as terras agrícolas deterioram-se, juntamente com a qualidade do ar, da água e de outros recursos de manutenção da vida.

Atualmente, estudos apontam a degradação dos ecossistemas, como mostra o relatório do MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT (2005), que constatou que mais de 60% (sessenta por cento) dos serviços ambientais estudados estão sendo degradados mais rapidamente do que a sua capacidade de recuperação. Diante da preocupação gerada pela necessidade de disponibilização dos serviços fornecidos pelos ecossistemas, essenciais para o bem estar humano, vê-se o crescimento de um mercado para os serviços ambientais em todo o mundo, como forma de incentivar o uso correto desses serviços. Até o momento atual, o desenvolvimento econômico, científico e tecnológico vem induzindo o homem a dominar a natureza sem o reconhecimento de seu valor econômico e social e, muitas vezes, sem o conhecimento dos seus limites.

ODUM (2009) destaca que o valor econômico de um recurso natural só entra em cena quando é convertido em bens fabricados ou serviços humanos, assim deixando sem preço o trabalho da natureza que sustenta o recurso inteiro.

23 BOYD (2014) afirma que, diante da escassez de recursos disponíveis para medir, modelar e monitorar as condições ecológicas e ambientais é necessário focar esses esforços em indicadores que têm demonstrado relevância biofísica e social. Fundamenta-se assim a formulação do princípio do “protetor-recebedor” para os pagamentos de serviços ambientais, pois o objetivo seria transferir recursos dos beneficiários àqueles que promoveram a “ajuda” à natureza.

NUSDEO (2012) afirma que a expressão “serviços ambientais” pode ser utilizada para designar duas categorias: os chamados produtos ambientais utilizados diretamente pelo ser humano para consumo ou comercialização, tais como água, frutos, madeira, carne, sementes e medicinais ou os serviços relativos ao suporte da natureza, tais como a polinização natural, a ciclagem de nutrientes do solo, o fluxo de genes, a manutenção do volume e da qualidade dos recursos hídricos, o sequestro de carbono que permite a estabilização climática, entre outros.

Para que ocorram transações sobre serviços ambientais é necessário que haja compradores e vendedores, ou seja, uma relação de oferta e demanda, entre pelo menos um comprador e um vendedor do serviço ambiental, e essas transações devem ser voluntárias, tanto para quem está disposto a pagar como para quem está disposto a receber. Esses serviços podem ser divididos em quatro grupos, como apresenta a Tabela 2.2.

Tabela 2.2 - Tipos de Serviços Ambientais

Florestas Oceanos Terras Agrícolas/ Cultivadas Bens Ambientais Alimento

Água fresca Madeira Fibras Alimento Alimento Combustível Fibras

Serviços de Regulação Manutenção do clima Manutenção do clima Manutenção do clima Prevenção de enchentes Controle de doenças Purificação da água Controle de doenças

Purificação da água

Serviços de Apoio Ciclagem de nutrientes Ciclagem de nutrientes Ciclagem de nutrientes Formação do solo

Fotossíntese

Produção primária Formação do solo

Serviços Culturais Benefício estético Benefício estético Benefício estético Espiritualidade Espiritualidade Benefício cultural Benefício cultural Benefício cultural

Benefício recreativo Benefício recreativo

24 No Brasil, apesar de não existir uma lei federal específica que regule o Pagamento por Serviços Ambientais, é possível extrair da Lei 12.114/2009, que cria o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (BRASIL, 2009) alguns serviços ambientais específicos, como os contidos no Artigo 50, incisos V, XI, XII e XIII:

V – Projetos de redução de emissões de carbono pelo desmatamento e degradação florestal, com prioridade a áreas naturais ameaçadas de destruição e relevantes para estratégias de conservação da biodiversidade; XI – pagamento por serviços ambientais às comunidades e aos indivíduos cujas atividades comprovadamente contribuam para a estocagem de carbono, atrelada a outros serviços ambientais;

XII – sistemas agroflorestais que contribuam para redução de desmatamento e absorção de carbono por sumidouros e para geração de renda;

XIII – recuperação de áreas degradadas e restauração florestal, priorizando áreas de Reserva Legal e áreas de Preservação Permanente e as áreas prioritárias para a geração e garantia da qualidade dos serviços ambientais.

No âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), com a adoção da Convenção sobre Mudança do Clima, e através do Protocolo de Quioto, que começou a vigorar em 2005, criou-se um mecanismo denominado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que é uma alternativa que implica na redução das emissões de poluentes com a promoção do desenvolvimento sustentável do país onde é implantado. O objetivo do MDL é auxiliar os países desenvolvidos, que assinaram o Protocolo, a cumprir suas metas de redução de emissão dos gases de efeito estufa (GEE), através da implantação de projetos em países em desenvolvimento. Um dos requisitos para que um projeto seja elegível como MDL é que reduza as emissões de GEE de forma adicional ao que ocorreria na ausência da atividade do projeto de MDL, e que proporcione benefícios reais e de longo prazo, relacionados com a mitigação da mudança climática. A proposta do MDL, descrita no Artigo 12 do Protocolo de Quioto – Tratado Internacional para Redução das Emissões de Gases de Efeito Estufa – (UNFCCC, 1997) consiste em que cada tonelada de CO2 equivalente que deixar de ser emitida, ou for retirada da

atmosfera, por um país em desenvolvimento, poderá ser negociada no mercado mundial, criando novo atrativo para a redução das emissões globais e consolidando o Mercado de Carbono. Assim, é pertinente associar o MDL à indução de práticas de PSA, considerando que o intuito de ambos os mecanismos é de apoio às práticas ambientalmente corretas, contribuindo para a mitigação da mudança do clima.

No Anexo I, é possível verificar a diversidade de leis, decretos e projetos de lei, na esfera estadual, que institui o PSA em diversas localidades no Brasil.

Os serviços ambientais podem ser remunerados de formas diversas, além da remuneração monetária. BORN & TALOCCHI (2002) apud NUSDEO (2012) citam

25 que as formas de remuneração pelos serviços ambientais são amplas, incluindo, além da transferência direta de recursos, também o favorecimento à obtenção de créditos, à isenção de taxas e impostos, ao fornecimento de serviços coletivos, à disponibilização de tecnologias e capacitação técnica e o subsídio a produtos. No Anexo II apresentam-se as principais características de alguns programas de PSA que ganharam destaque em diversos países e, inclusive, alguns implantados no Brasil.

2.3 Instrumentos Econômicos da Política Ambiental