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O exame das condições da ação deve ser feito em caráter precário e abstrato e, inclusive, de ofício, pois decorrem de normas de ordem pública. O interesse de agir decorre da necessidade, utilidade e adequação da ação.

No caso “sub judice”, não deve prosperar a alegação de que não havia interesse de agir por inadequação, pois, apesar da ré ter registrado que se tratava do caráter abstrato do pedido em relação à obrigação de fazer; que, de fato, como expressamente referido no pedido, a pretensão se limitava a que fosse exarado um pronunciamento judicial determinando que o réu cumprisse a lei (ID. e189de7 - Pág. 11); que se o réu já estava

obrigado, ex lege, a cumprir a lei, não era dado postular-se que fosse determinado em provimento judicial, em abstrato, o cumprimento da mesma lei; que não havia interesse ou mesmo cabimento; que, do ponto de vista do processo, e da atuação do Poder Judiciário, que devia ser sempre in concreto, no máximo seria dada a parte requerer ao Poder Judiciário eventual pronunciamento sobre as consequências de eventual inadimplência, mas nunca, nunca, a mera repetição em decisão judicial do que já está abstratamente previsto em lei, como se pretendia no presente caso (ID. e189de7 - Pág. 12); que o ato jurisdicional era um ato dirigido, necessariamente, a uma situação concreta, o que quereria dizer, portanto, que o – “raciocínio do órgão jurisdicional é sempre

problemático: ele é chamado a resolver um problema (ID. e189de7 - Pág. 12) concreto”;

que se distinguia-se, assim, a função legislativa da função jurisdicional; que, enquanto à primeira incumbia a elaboração de normas genéricas, a todos impostas, a segunda se ocupava da garantia de sua observância nas situações individuais, assegurando as posições jurídicas de vantagem eventualmente existentes entre as partes; que não estava compreendida na atividade jurisdicional a confirmação, em ato de provimento judicial, do teor da lei de forma abstrata, como talvez pretendia o Ministério Público do Trabalho; que precedia, necessariamente, ao provimento judicial o exame das circunstâncias de fato que indicassem a lesão ou ameaça à lesão do direito, devendo o provimento judicial impor

obrigações – de dar, fazer ou não fazer – que tivessem o condão de restaurar a força imperativa da norma; que, em relação à lesão ao direito, nenhuma perplexidade havia;

que, ofendido o direito, ao magistrado incumbiria impor as sanções necessárias tanto à recomposição do direito como à indenização pelos prejuízos decorrentes, considerando os específicos fatos revelados no processo; que a dificuldade surgia, no entanto, quando defrontado o julgador com pretensão destinada a evitar a lesão a direito, cuja ameaça se afirmava no processo; que, algumas vezes, parecia ao Ministério Público do Trabalho ser suficiente a repetição genérica, em provimento judicial, do comando já estatuído na lei, em raciocínio que confundia o conteúdo do ato legislativo – no (ID. e189de7 - Pág. 13) caso, regulamentar – com o ato jurisdicional; que, nesses casos, muitas vezes era formulado pedido de que fosse imposto ao réu, por comando judicial, o mero dever de cumprir a lei; e que, como visto, não estava compreendida na atividade jurisdicional a mera enunciação de que o direito material devia ser observado; que a ordem de cumprimento do direito material era algo que lhe era inerente, de forma que, descumprido, recairia sobre o ofensor as sanções já estabelecidas, não se pode olvidar que a ação civil pública somente foi proposta porque chegou ao conhecimento do MPT, em razão de

notícia de fato sigilosa, a informação da ocorrência, no dia 21.07.2019, de acidente de trabalho fatal do Sr. Aguinaldo Junior de Sousa, de 21 anos, em obra na fachada do acionado, decorrente de queda do andaime de aproximadamente 03 (três) metros de altura, assim como porque a Polícia Civil de Colniza/MT, após buscas junto ao CAGED, pelo CPF da vítima, verificou que o último vínculo de emprego formal do trabalhador acidentado tinha sido muito anterior ao acidente, autorizando concluir que o referido trabalhador não estava registrado pela empresa que o havia contratado, motivo pelo qual não houve também emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT, afora ter sido observado que o contratante não tinha garantido a implementação das medidas de segurança estabelecidas na NR-35 em virtude de não ter sido feita a análise prévia de riscos, obtido permissão de trabalho em altura e sequer instalada a linha de vida nos locais onde se realizava o trabalho em altura, demonstrando-se, assim, que não se tratava de mera abstração, mas de necessária ação para que o Poder Judiciário interviesse no caso concreto, a fim de fazer cumprir a regra de ordem pública que não estava sendo observada no local de trabalho dos colaboradores.

Além dos pedidos estarem fundados em caso concreto e serem determinados e certos, como já explanado nesse capítulo, bem como de inexistir qualquer alegação ou pedido de adicional de periculosidade e, muito menos, pleitos decorrentes do vínculo de emprego mantido pelo falecido e pelos demais operários junto ao seu real empregador, verifico que nenhum dispositivo da Constituição Federal, da Lei n. 7.347, de 24.07.1985, e da Lei n. 8.078, de 11.09.1190 (Código de Defesa do Consumidor), teria limitado o exercício do direito de ação a eventual quantidade de ocorrência ou sinistro, tornando, assim, sem impacto jurídico o fato de ter ocorrido apenas um falecimento junto ao local em que os obreiros estavam trabalhando, até porque não razoável e proporcional que se esperasse a morte de inúmeros outros trabalhadores para que as normas de medicina e segurança do trabalho fossem cumpridas.

Havendo claro interesse de agir pela adequação da via eleita, diante da fundamentação aqui lançada e do teor do inciso I do artigo 129 da Constituição Federal, do inciso I do artigo 5º da Lei n. 7.347, de 24.07.1985, e do inciso I do artigo 82 da Lei n. 8.078, de 11.09.1190 (Código de Defesa do Consumidor), não haveria falar em lesão ao inciso XXXV da Constituição Federal, ao artigo 95 do CDC, ao artigo 324 e artigo 330, § 1º, inciso II, do CPC, ao quantum debeatur (valor da condenação) e ao cui debeatur (titular da reparação).

à prestadora de serviços demonstrou esse cumprimento e se não teria qualquer responsabilidade em relação aos fatos ocorridos, tudo isso é mérito e com ele será analisado, não se devendo confundir questão processual com material.

Portanto, havendo defesa útil da reclamada nos autos, não há prejuízo à parte litigante ou eventual lesão ao princípio do contraditório e da ampla defesa, motivo pelo qual rejeito a preliminar, nestes particulares.

APLICABILIDADE DA LEI N. 13.467/2017, INCLUSIVE COM AS

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