• Nenhum resultado encontrado

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL PODER JUDICIÁRIO FEDERAL - JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª REGIÃO Vara do Trabalho de Juína MT

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL PODER JUDICIÁRIO FEDERAL - JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª REGIÃO Vara do Trabalho de Juína MT"

Copied!
88
0
0

Texto

(1)

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL - JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª REGIÃO

Vara do Trabalho de Juína – MT

PROCESSO N.º 0000283-12.2020.5.23.0081 Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO Réu: BANCO BRADESCO S.A.

RELATÓRIO

MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO, qualificado nos autos, propôs a presente ação civil pública em face da BANCO BRADESCO S.A., igualmente qualificado, aduzindo, dentre outros, que, por meio da Procuradoria do Trabalho no Município de Alta Floresta/MT, havia instaurado o Inquérito Civil n.º 000182.2019.23.004/8 em desfavor do acionado, em razão de notícia de fato sigilosa, na qual informou a ocorrência, no dia 21.07.2019, de acidente de trabalho fatal em obra na fachada do acionado, decorrente de queda do andaime de aproximadamente 03 (três) metros de altura; que o acidente tinha ceifado a vida de Aguinaldo Junior de Sousa, de 21 anos; que havia sido expedido ofícios à Polícia Civil de Colniza/MT, Gerência da POLITEC de Juína/MT e a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego – SRTE, sendo que o Boletim de Ocorrência n. 2019.215800 consignou que, após buscas junto ao CAGED, pelo CPF da vítima, tinha sido verificado que o último vínculo de emprego formal do trabalhador acidentado ocorreu no ano de 2016, em momento muito anterior ao acidente (21.07.2019), autorizando concluir que o referido trabalhador não estava registrado pela empresa o havia contratado, motivo pelo qual não houve também emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT. Asseverou, inclusive, que era possível observar que o contratante não tinha garantido a implementação das medidas de segurança estabelecidas na NR-35, na medida em que não tinha sido feita a análise prévia de riscos e sequer havia permissão de trabalho em altura; que o trabalhador não utilizava os equipamentos de proteção individual e não havia linha de vida nos locais onde se realizava o trabalho em altura, postulando os pedidos de ¨A” até “D” e de “1” até “2”. Fez requerimentos de “A” até “E”. Juntou documentos. Atribuiu à causa o valor de R$ 5.000.000,00.

(2)

Contestando o feito, a ré alegou ilegitimidade ativa, inépcia da inicial, e, no mérito, afirmou que o Parquet tinha articulado na exordial exclusivamente um único fato para, daí, evoluir para uma série de obrigações de fazer a serem observadas pelo Banco Bradesco como dono da obra (ID. e189de7 - Pág. 19); que era irrelevante, na invocação do acidente do dia 21.06.2019, que vitimou o Sr. Aguinaldo Junior de Souza, perquirir sobre eventual existência de culpa do Banco Bradesco no acidente; que, mesmo sendo o réu incontroversamente o dono da obra, o autor entendia que o banco já seria diretamente e objetivamente responsável pelo acidente ocorrido, independentemente de culpa; que, segundo a tese do MPT, parecia ser irrelevante qualquer discussão sobre a existência de culpa do Banco Bradesco no acidente que vitimou o Sr. Aguinaldo Junior de Souza, mesmo sendo o mesmo dono da obra, ante a invocação de uma responsabilidade solidária; que, para o Ministério Público do Trabalho, só fato de o Sr. Aguinaldo, acidentado, ter prestado serviços à empreiteira que prestava serviços ao Banco Bradesco já seria razão suficiente à configuração da responsabilidade da ré; que este magistrado, com base no exclusivo evento do acidente, em si, já tinha presumido, antes de ouvir o réu, que este teria conhecimento das supostas condições inadequadas de trabalho – também

presumidas, diga-se – e que nada teria feito para coibir tal estado de coisas (fls. 83 dos

autos) (ID. e189de7 - Pág. 20); que toda a prova do Ministério Público do Trabalho se resumia, exclusivamente, ao que consta no Boletim de Ocorrência lavrado perante a Delegacia de Polícia, sendo a única prova produzida nos autos (fls. 54 dos autos); que não havia nada nos autos que apontasse, em primeiro lugar, para condições de trabalho inadequadas; que o boletim de ocorrência não referia ao uso ou não de Equipamentos de Proteção Individual, não se referia a ausência de boas condições de trabalho, não se referia à existência ou não de treinamento; não se referia, em absoluto, à observância ou não de regras da NR 35, e, certamente, não se referia absolutamente a nenhuma conduta do Banco Bradesco; que, a despeito disso, este magistrado havia entendido que os documentos, sem mencionar quais, apontavam para o conhecimento e omissão do Banco Bradesco (ID. e189de7 - Pág. 21); e que a inicial e a decisão liminar tinham afirmado a responsabilidade objetiva do Banco Bradesco pelo acidente do Sr. Aguinaldo Junior de Souza, independentemente de sua incontroversa condição de dono da obra, de modo que, partindo-se dessa premissa, evoluiu-se para a cominação de uma série de obrigações que não se conectavam com a causa de pedir apontada; que tal conclusão foi afirmada sem qualquer oitiva prévia do Banco Bradesco, inclusive ao longo do ICP. Asseverou, inclusive, que era evidente a contrariedade com a Orientação Jurisprudencial nº 191 da

(3)

C. SBDI-1 do TST; que, além da jurisprudência sumulada, por si só, já desautorizar a pretensão do Ministério Público, faltava-lhe não só embasamento fático, porquanto decorrente apenas do Boletim de Ocorrência juntado, como também jurídico; que para além da desconformidade legal, havia também grave desconformidade constitucional; que, mesmo se o Banco Bradesco fosse o empregador do Sr. Aguinaldo, não seria autorizada a precipitada tese oferecida pelo Parquet (ID. e189de7 - Pág. 22); que a regra de responsabilização no âmbito da relação de emprego era a responsabilidade subjetiva, nos termos do artigo 7º, inciso XVIII, da Constituição da República; que o Código Civil, por sua vez, tinha criado a possibilidade de reconhecimento de responsabilidade meramente objetiva para as hipóteses de verificação de criação, pelo autor do dano, de risco para os direitos de outrem; que o Supremo Tribunal Federal, ao examinar a compatibilidade dos dois dispositivos para o âmbito da relação de emprego, tinha deixado assente que a regra para a aplicação da responsabilidade objetiva no âmbito do contrato de trabalho era a verificação de exposição habitual do empregado a risco especial, segundo tema 932 de repercussão geral consolidado (ID. e189de7 - Pág. 23); que para além de apontar a necessidade de exposição habitual a risco especial, o Supremo Tribunal Federal tinha tomado o cuidado de definir, desde já, o que devia se entender por risco especial, estabelecendo que risco especial era aquele que expunha o trabalhador a ônus maior do que estavam expostos os demais membros da coletividade; que, para que fosse possível se aplicar a teoria da responsabilidade objetiva ao âmbito das relações trabalhistas, por força do artigo 7º, inciso XVIII, da Constituição, não seria suficiente que houvesse qualquer risco, em simples aplicação do parágrafo único do artigo 927 do Código Civil, mas um risco desproporcional, quando tomado o nível médio de riscos a que se expunha os membros da coletividade; que na exordial não tinha sido discutida sequer a questão da responsabilidade, tanto que todo o raciocínio proposto pelo Parquet na exordial se limita a afirmação de uma solidariedade nas obrigações trabalhistas entre o empreiteiro e o Dono da Obra, solidariedade esta que, como se sabia, também inexistia; que a responsabilidade decorria, primeiro, do nexo de causalidade, de maneira que era preciso que fosse oferecida algum tipo consideração e comprovação, de uma relação direta entre uma conduta ou omissão do (ID. e189de7 - Pág. 24) do Banco Bradesco no contexto do acidente do dia 21.06.2019; que isso não tinha sido visto nem na inicial e nem na decisão liminar; que, em segundo lugar, a responsabilidade decorria da verificação de um comportamento culposo do empregador (CF, art. 7º, inciso XVIII), o que tampouco tinha sido examinado; que, em momento algum o MPT havia demonstrado

(4)

que a empresa contratada, empregadora, teria agido com culpa no evento; que, apenas excepcionalmente, portanto, quando o empregado exercia atividade de exposição habitual a risco especial, leia-se, risco desproporcional ao que vivenciado por outros membros da coletividade, era possível afirmar a responsabilidade mesmo sem culpa; que não era o dano que levava à responsabilização, uma vez que o que levava a responsabilização era o nexo de causalidade com culpa, ou, alternatividade, o nexo de causalidade em si, quando verificada a circunstância de risco especial, risco desproporcional; que nada disso, contudo, havia sido examinado nos autos desta Ação Civil Pública; que a ação não se justificava, como tampouco não se justificava o provimento liminar, sendo que não havia prova alguma e sequer evidencia que o Banco já não tivesse cumprido qualquer dos aspectos que foi objeto de condenação (ID. e189de7 - Pág. 25); que, no caso, não havia risco desproporcional algum, já que o labor em andaimes em altura de cerca dois metros não oferecia o risco que, segundo o STF, atrairia a aplicação da responsabilidade objetiva excepcional; que o acidente do Sr. Aguinaldo tinha sido uma fatalidade, sem dúvidas, mas não era possível afirmar que o trabalho a dois metros de altura do chão representaria risco desproporcional; que, nos termos da interpretação conferida pelo Supremo Tribunal Federal, nos autos do RE n. 820.040, ao artigo 927, parágrafo único do Código Civil, à luz do artigo 7º, inciso XVIII, da Constituição da República, não era constitucional requerer o MPT em juízo, como se estivesse diante da responsabilidade objetiva, pelo só fato de um trabalhador exercer atividades em andaimes a dois metros do chão; e que se tinha, pois, que também em face da OJ nº 191/SBDI-1-TST, do artigo 7º, inciso XVIII, da Constituição da República e tema nº 932 da repercussão geral do STF, não ser possível acolher-se a pretensão do Ministério Público do Trabalho. Alegou, ainda, que era preciso reconhecer que a iniciativa do MPT era precipitada e mesmo injustificada; que não era crível que uma instituição à altura do Ministério (ID. e189de7 - Pág. 26) Público perseguiria uma condenação em danos morais coletivos no importe de R$ 5 milhões de reais com base exclusiva em um boletim de ocorrência; que, para além da pobreza da prova oferecida e da ausência de realização de qualquer apuração, era fato que o Banco Bradesco não tinha sido ouvido nos autos; que a condenação, mesmo sem o requisito da urgência, tinha sido exarada sem que ao menos se buscasse algum esclarecimento, fático e jurídico, por parte do ora impetrante; que não havia mesmo justificativa alguma para a pretensão do Parquet; que o Banco Bradesco, em todas suas relações jurídicas, civis e trabalhistas, tinha especial apreço pela plena observância da legislação; que em todos os contratos que entabulava, o Banco Bradesco exigia, de maneira formal e explícita, o

(5)

cumprimento e a observância da legislação trabalhista; que se juntava o contrato celebrado com a empreiteira, a J.M da Silva Comércio e Serviços, real empregadora do Sr. Aguinaldo; que se tratava de longo contrato, cujas cláusulas revelavam um CONTRATANTE bastante exigente e comprometido com o cumprimento da legislação e proteção dos trabalhadores, seus e do empreiteiro; que o comando explícito era voltado à empresa CONTRATADA, no sentido de orientar seus empregados a observarem as normas de segurança e medicina do trabalho; que se tratava da cláusula 7.4 do Contrato que obrigava a empresa contratada a orientar seus empregados/prepostos e/ou empregados/prepostos de suas (ID. e189de7 - Pág. 27) subcontratadas a acatarem e respeitarem as normas de segurança e demais regulamentos específicos em vigor, no ambiente de trabalho do CONTRATANTE e/ou das EMPRESAS, assegurando aqueles os direitos que decorreriam da legislação trabalhista em vigor; que o Banco Bradesco fornecia, quando da contratação, documentos voltados ao estabelecimento de conduta adequada em relação ao meio ambiente de trabalho; que era o que decorria da cláusula 7.25 do contrato, tanto que estabelecia que a CONTRATADA declarava estar ciente e de acordo com todas as disposições dos documentos intitulados Memorial de Serviços Padrão, Caderno de Encargos e Manual de Boas Práticas da Construção dos quais lhe era entregue um exemplar no ato, a qual se obrigava a fazer cumprir por seus empregados e/ou prepostos, e empregados e/ou prepostos das subcontratadas; que o contrato também se referia de forma explícita ao compromisso da CONTRATADA em executar os serviços por meio de mão-de-obra não só capacitada, mas adequadamente contratada, e mediante a utilização dos EPIs próprios à atividade; que os serviços seriam executados por meio de mão-de-obra contratada e capacitada, mediante a utilização dos equipamentos de proteção individual compatíveis com a atividade a ser realizada; que a utilização de Equipamentos de Proteção Individual, aliás, era alvo de Cláusula própria, com vários desdobramentos, conforme se depreendia da cláusula 11 do contrato, a qual se referia expressamente à observância das Normas Regulamentadoras da Secretaria do Trabalho (ID. e189de7 - Pág. 28), na medida em que estabelecia que a contratada deveria seguir o estabelecido na Lei n. 6.514/77, regulamentada através das normas regulamentadoras (NRs), aprovadas pela Portaria n. 3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego e posteriores alterações, bem como outras disposições que, com relação à matéria, fossem incluídas em códigos de obras e regulamentos sanitários dos Estados ou Municípios em que se situassem os locais dos serviços, além daquelas oriundas de convenções coletivas de trabalho; que a contratada devia fornecer a seus empregados e/ou prepostos e/ou empregados e/ou

(6)

prepostos de suas subcontratadas, os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) necessários ao trabalho a ser executado; que, ao tempo da contratação, a CONTRATADA declarou e fez prova de que possuía 7 (sete) empregados, possuindo capital social integralizado no montante legalmente exigido, segundo se lia da Cláusula 24.2; que igualmente no Contrato a CONTRADA tinha se comprometido a realizar suas atividades exclusivamente com o auxílio de empregados contratados pelas regras da CLT, tanto que a cláusula 24.6 preconizou que a CONTRATADA garantia que todos os seus empregados, disponibilizados à execução dos serviços contratados, pertenciam ao seu quadro de funcionários regidos pela CLT e gozavam de todos os benefícios e direitos que decorreriam da legislação em vigor, bem como eram responsáveis exclusivamente pelo pagamento de todos os encargos sociais, trabalhistas, previdenciários, fiscais e demais outros determinados por quaisquer órgãos públicos e/ou fiscalizadores, tais como, porém não se limitando, às remunerações mensais, 13° salários, férias, horas extras, (ID. e189de7 - Pág. 29) adicionais, FGTS, verbas rescisórias, indenização por acidente do trabalho, de acordo com a legislação aplicável; que a CONTRATADA conduziria diretamente transmitindo aos seus empregados todas as ordens, orientações explicações, padrões e demais procedimentos necessários à execução dos serviços ora contratados; que como era possível se verificar, portanto, as provas carreadas demonstravam que o Banco Bradesco, como CONTRATANTE, tinha se cercado de todas as cautelas que a referida relação jurídica exigia; que a responsabilidade trabalhista em contratos de empreitada, como decorria da literalidade da legislação trabalhista, incumbia ao empreiteiro, segundo se lia do artigo 455 da CLT; que comprovado, inclusive pela via documental, que o Banco Bradesco, na incontroversa figura de CONTRATANTE, dono da obra, não podia ser responsabilizado pelo só fato do acidente; que, para além de toda a discussão envolvendo o art. 7º, inciso XXVIII, da Constituição da República, bem como o tema 932 da repercussão geral do STF, era certo que o dono da obra não era responsável trabalhista, bastando relembrar a dicção da Orientação Jurisprudencial n. 191 da SBDI-1 do TST (ID. e189de7 - Pág. 30); que, no caso concreto, inclusive, era preciso assinalar que, para além de toda a demonstração de que o Banco Bradesco agiu de forma regular, o Ministério Público do Trabalho não trouxe rigorosamente nenhuma prova de que o Sr. Aguinaldo Junior de Souza não era empregado regular da empresa CONTRATADA ou mesmo de que o mesmo não estava a utilizar os Equipamentos de Proteção Individual necessários; que se impugnava as alegações do Ministério Público do Trabalho, pois, como se sabia, a prova incumbia a quem alegava (CF, art. 5º, incisos LIV e LV e CLT, art. 818); que, no

(7)

particular, era bastante evidente que nenhuma prova tinha sido realizada pelo Parquet; que, como adiantado, a única evidência trazida pelo autor na ACP tinha sido o boletim de ocorrência; que nenhuma outra providência foi tomada pelo MPT no ICP aberto; que se tinha, pois, por todo o exposto, que restava rigorosamente demonstrado que o Banco Bradesco, na condição de CONTRATANTE e DONO DA OBRA, não podia ser responsabilizado pelo o que se passou com o Sr. Aguinaldo; que, como tinha sido possível demonstrar, NÃO HAVIA SENTIDO ALGUM NA COMINAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER porque todas as determinações já eram regularmente cumpridas pelo Banco Bradesco (ID. e189de7 - Pág. 31); que houvesse este magistrado de Primeiro Grau, ou mesmo o Ministério Público do Trabalho, buscado previamente informações, certamente não haveria razão para toda essa movimentação judicial, pois, como visto, as obrigações de fazer impostas no juízo liminar já eram há muito rigorosamente observadas, tanto que, conforme se via definido no contrato anexo, o Banco Bradesco exigia que todas as Normas Regulamentadoras fossem efetivamente cumpridas de seus contratados, inclusive em relação ao empreiteiro relativo ao acidente noticiado na ACP de origem; que, para além da demonstração que ora se fazia de atitude adequada por parte do Banco Bradesco, era preciso relembrar que o Ministério Público ofereceu nos autos desta ACP exclusivamente um boletim de ocorrência, o qual não fazia referência a nenhum aspecto propriamente trabalhista e nem das condições de trabalho (ID. e189de7 - Pág. 32); que se via, fosse da perspectiva eminentemente jurídica, fosse da perspectiva prática e concreta dos autos, que nada justificava a pretensão do Parquet e, por extensão, a concessão da liminar, quanto mais do montante fixado a título de astreintes; que para além de estratosférico e desproporcional, o montante ainda apresentava-se ultra petita; que, como já indicado, o valor apontado na exordial tinha sido de R$ 25 mil reais, tendo este magistrado determinando o desproporcional montante de R$ 500 mil reais; que era preciso reconhecer a absoluta falta de ilícito; que não havia elementos probatórios à altura da gravidade dos pedidos e das alegações; que toda a pretensão era baseada exclusivamente em (ID. e189de7 - Pág. 33) único fato, o acidente havido no dia 21.06.2019, envolvendo o empregado de uma empreiteira, figurando o Banco Bradesco como dono da obra; que, conforme demonstrado, não havia nenhuma demonstração de que o acidente tinha decorrido de algum comportamento culposo envolvendo o empregador do acidentado ou mesmo do Bradesco, na condição de dono da obra; que não havia, aliás, nenhuma prova para além do boletim de ocorrência, documento que se prestava exclusivamente à materialização do acidente; que havia evidência em

(8)

relação aos instrumentos e equipamentos que estavam sendo utilizados no momento do acidente; que o Parquet sequer se tinha dado o trabalho de ouvir as pessoas que estavam presentes no dia do acidente; que não havia, pois, como diante de um cenário probatório tão isolado – toda a ação era baseada em um único acidente – se justificar a condenação no importe de R$ 5 milhões de reais; que, como regra geral adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, prevalecia forte a teoria da responsabilidade civil subjetiva, calcada na teoria da culpa, muito embora o NCCB possa ter excepcionado, com a teoria do risco inscrita no parágrafo único do artigo 927 da Lei nº 10.406/2002 (Código Civil Brasileiro – CCB), a regra geral da responsabilidade civil de índole subjetiva no terreno da infortunística; que, como a que envolvia a pretensão ministerial, a teoria da responsabilidade civil era subjetiva (e não objetiva), mesmo porque no caput do artigo 927 do CCB, havia a consagração, na esteira do antigo artigo 159 do Código Civil de 1916, da responsabilidade subjetiva como regra geral de aferição da culpabilidade, uma vez que o parágrafo único do artigo 927 do CCB excepcionava, tão-somente (em prol da teoria objetiva no terreno da infortunísticas), os casos especificados em lei e o exercício da atividade do autor do dano que implicasse risco por sua própria natureza, a fim de, para essas (ID. e189de7 - Pág. 34) exclusivas situações excepcionadas, abrissem-se as portas para o incremento da responsabilidade civil objetiva; que a atuação do réu, shopping center, não gerava, por si só, riscos, tal como entendidos pelo parágrafo único do artigo 927 do CCB, diante, até, dos termos do artigo 144, caput, da Constituição Federal; que, para que o Ministério Público do Trabalho pudesse pretender a indenização dos prejuízos decorrentes de suposto dano moral coletivo pelo direito comum, fazia-se necessária a comprovação (porque, sendo subjetiva, o ônus da prova era, inclusive, do Ministério Público do Trabalho, nos termos do artigo 818 da CLT e 333, inciso I, do CPC) da presença, cumulativa, dos pressupostos essenciais da responsabilidade civil subjetiva apurável, quais sejam: (i) ação ou omissa do agente; (ii) culpa lato sensu (culpa propriamente dita e dolo) do agente; (iii) dano efetivo experimentado pela vítima; e (iv) nexo de causalidade entre o prejuízo/dano e a conduta, culposa, do agente, conforme tais pressupostos eram alardeados pela doutrina predominante; que não havia possibilidades jurídicas sérias, diante das circunstâncias mediante a qual a pretensão tinha sido apresentada, de se constatar, ao menos, dois dos pressupostos exigidos para a caracterização da responsabilidade civil subjetiva, ou seja, não havia possibilidades de averiguação do elemento da culpabilidade lato sensu de que teria se imiscuído o réu a ponto de se responsabilizar por indenização por suposto dano moral coletivo (culpa stricto

(9)

sensu e dolo) e nem, tampouco, o elemento da ação ou omissão do réu que, diretamente, pudesse ter gerado os supostos danos que se impregnam na pretensão do Ministério Público do Trabalho a ilustrar suposto dano moral coletivo que pudesse ser reparado pelo réu; que era indiscutível que, com o advento da Constituição de 1988, tornava-se induvidosa a reparação pelos danos morais, ou seja, aqueles associados a elementos subjetivos, tais como a emoção, o (ID. e189de7 - Pág. 35) espanto e a dor, por exemplo; que era o fato de que supostas “vítimas” de danos morais, dentre as quais poderia ser incluído o Ministério Público do Trabalho na tentativa de tutela de interesses

Metaindividuais, tinham recorrido ao Poder Judiciário no afã de auferir vantagens indevidas, sem, contudo, apresentar prova substancial alguma, mormente no que dizia respeito ao réu; que justamente para coibir a prática de abusos por parte de supostas “vítimas” de prejuízos morais é que se tinha reconhecido a obrigatoriedade de comprovação dessa espécie de dano; que não bastava pleitear a condenação da outra parte ao ressarcimento por danos morais, se não se fazia prova inequívoca da ocorrência de tais danos, da ilicitude das providências que supostamente os embasavam e, principalmente, da relação com os verdadeiros eventos que se passaram e que se passavam; que sem prova do dano e sem a prova do nexo de causalidade entre o suposto dano moral coletivo e o réu era improcede o pleito por danos morais coletivos, o que, aliás, estava a corroborar a jurisprudência do E. Tribunal Superior do Trabalho, em detrimento da pretendida e esdrúxula responsabilidade que o Ministério Público do Trabalho queria imputar ao réu; que o Ministério Público do Trabalho não só deixou de provar os danos morais coletivos, como não fez prova cabal alguma quanto a inúmeras de suas assertivas, mormente quanto à existência efetiva de ato ilícito por parte do réu e quanto à existência de nexo de causalidade decorrente de conduta do réu; que o Ministério Público do Trabalho não tinha observado o contido no inciso VI, do artigo 282, do CPC, aplicável, por subsidiariedade, à regência da ação civil pública; que, por dever de ofício e atento ao princípio da eventualidade, cumpre registrar que o pedido à condenação do réu ao (ID. e189de7 - Pág. 36) ao pagamento da desproporcional e injustificada quantia de R$ 100 milhões de reais (cem milhões de reais), em condenação solidária aos demais réus, a título de indenização por supostos danos morais coletivos era impertinente, uma vez que desprovido de fundamento legal em relação ao réu em suas condutas acima relatadas, além de não se atentar para o fato de que era o juiz quem devia fixar, por moderna jurisprudência e posicionamentos doutrinários, o valor, se fosse o caso, de possível indenização, após, obviamente, a instrução do feito e após a cognição exauriente que se comportar; que ao

(10)

Ministério Público do Trabalho, fixar a condenação que pretendia ver imposta ao réu, a título de indenização por supostos danos morais coletivos, não podia, tal valor da indenização e, assim, o valor da causa, ser disciplinado, in casu, pelo disposto no artigo 259 do CPC/73, 292, do NCPC; que a circunstância de tais critérios de quantificação serem (ID. e189de7 - Pág. 37) previamente conhecidos das partes e do juiz, somente abonava a tese da possibilidade do pedido genérico; que se o quantum nesses casos, como também demonstrado, devia pautar-se por critérios de razoabilidade e proporcionalidade, estatuídos no plano do direito material e previamente conhecidos das partes e do juiz, a generalidade do pleito, nesse caso, era também autorizada pelos aforismos “da mihi factum, dabo tibi jus” e “jura novit curia”, nenhuma “surpresa” podendo advir para o demandado que, reitere-se, teria oportunidade de amplo debate sobre tais critérios ao longo da instrução (quer no processo de conhecimento condenatório, quer no de liquidação); que em pleitos dessa natureza, exigia-se do autor que fizesse pedido certo seria, ainda que reflexamente, violar a própria regra de proporcionalidade que devia presidir a quantificação do dano moral, porque esse elemento somente poderia ser aferido no curso do processo, não sendo razoável exigir que o autor já o estabelecesse no momento do aforamento; que a posição defendida encontrava eco na doutrina e jurisprudência, as quais eram francamente favoráveis à tese de que se aplica o disposto no Art. 286, II, do CPC ao pleito de dano moral, em que, à toda evidência, ao demandante era facultado pedir a condenação do réu em valor a ser apurado e arbitrado, quer no curso da instrução, quer em liquidação; que não se procedia a tarifação feita pelo Ministério Público do Trabalho para a pretendida indenização por danos morais coletivos, ainda mais na quantia de R$ 100 milhões de reais (cem milhões de reais), em condenação solidária dos réus, apresentada sem qualquer critério jurídico ou de fatos que conferissem alguma legitimidade à providência, que ilustra, o tanto quanto possível, um desconhecimento da própria natureza do (ID. e189de7 - Pág. 38) pedido condenatório e do necessário arbitramento do quantum indenizatório, a ser levada a cabo pelo magistrado que presidia o processamento da demanda, acaso fosse possível o deferimento de um tal pedido; que era desproporcional e desarrazoado, portanto, o valor postulado a título de indenização por dano moral coletivo, que, - “exagerado, DEVIA SER REPELIDO”; que o valor da indenização, por sua vez, era absolutamente astronômico e tomava a feição de um dano punitivo ou aflitivo (punitive damage), que era incompatível com a sistemática da responsabilidade civil no direito brasileiro; que não havia atenção do órgão ministerial aos parâmetros fixados pela conhecida jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça

(11)

na fixação da indenização, a saber: a intensidade da violação ao direito da personalidade em questão e a possibilidade econômica do ofensor de suportar a reparação; que a indenização pleiteada era uma conjectura vislumbrada, sem maiores cuidados no que dizia respeito, principalmente, ao réu, desprovida de qualquer lastro fático calcada na exploração séria da teoria da responsabilidade civil subjetiva (ID. e189de7 - Pág. 39); que estava mais do que pacificado, na doutrina e na jurisprudência especializada, que a fixação do montante correspondente à indenização por danos morais devia estar jungida, única e exclusivamente, ao prudente arbítrio do magistrado, sob pena de, em se defendendo, como fazia o Ministério Público do Trabalho, um sistema de tarifação de danos morais, mediante critérios objetivos de cálculo, restarem violadas as disposições constantes do artigo 5º, incisos V e X, da Constituição Federal; que era preciso consignar as lições de MARIA HELENA DINIZ, citada por LUIZ DE PINHO PEDREIRA DA SILVA, segundo a qual, no Brasil, não são cabíveis, como o são, por exemplo, na América do Norte, esses pleitos por indenizações milionárias (tal como é o do Ministério Público do Trabalho), uma vez que se deve levar – “em conta o contexto econômico do País; no Brasil não haverá lugar para fixação de indenizações de grande porte como as vistas nos Estados Unidos”; que referendar os pedidos do Ministério Público do Trabalho, com os valores por ele tarifados a título de indenização para a reparação de supostos danos morais coletivos significaria prestigiar indenizações escorchantes que representariam, isso sim, uma desproporcional punição ao ofensor, com vantagem imoderada às vítimas, em número não expressivo no contingente de empregados da empresa (ID. e189de7 - Pág. 40); que eram tão exorbitantes, no mais, os pedidos formulados pelo Ministério Público do Trabalho, particularmente no que dizia respeito à tarifação pretendida para a indenização tendente à reparação de supostos danos morais coletivos, que não encontram azo ou sustentáculo na realidade jurisprudencial, mesmo porque a pretensão do Ministério Público do Trabalho ultrapassava a razoabilidade, a proporcionalidade e o senso de prudência e de bom senso; que eventuais valores arrecadados nestes autos à título de astreintes ou mesmo de danos morais coletivos ficariam à disposição da própria Vara do Trabalho, para ser gasto em conformidade com o que decidido em conjunto com o Ministério Público do Trabalho (ID. e189de7 - Pág. 41), que, conforme registrado na decisão, os valores eventualmente arrecadados seriam destinados à “recomposição direta

dos bens lesados à sociedade” por meio de “entidades públicas ou beneficentes” ou

“projetos sociais sem fins lucrativos”, sem, contudo, haver a especificação de quais seriam as tais entidades ou os critérios para tanto; que, aparentemente, tinha-se como

(12)

razoável que as mesmas autoridades públicas que eram responsáveis pela fixação – discricionária, diga-se – do valor a ser pago e mesmo da iniciativa de sua cobrança, fossem as mesmas a decidirem como eram os mesmos despendidos; que parecia tratar-se de comportamento a ser alvo de profunda reflexão por parte do Poder Judiciário Trabalhista; que por expressa determinação do artigo 13 da Lei nº 7.347/85, indenizações decorrentes de ações coletivas devem ser destinadas a Fundo Público e não tornadas livremente disponíveis nos próprios autos (ID. e189de7 - Pág. 42); que, segundo a literalidade da lei, a ausência de Fundo não tornava disponível o valor no âmbito do processo coletivo, devendo o dinheiro ficar depositado em estabelecimento oficial de crédito; que se tratava do § 1º do artigo, o qual impedia, definitivamente, que o valor fosse disponibilizado por procedimentos adotados nos próprios autos; que se tratava de diretriz robusta e amplamente reconhecida no âmbito do Tribunal Superior do Trabalho (ID. e189de7 - Pág. 43); que o excelso Supremo Tribunal Federal, inclusive, em provimento vinculante, já tinha tido a oportunidade de afirmar estar fora das atribuições do Ministério Público – artigo 129 da Constituição – a fixação sobre a destinação de receita pública; que, embora o Excelso STF tenha referido na decisão indicada apenas às funções constitucionais do Ministério Público, era absolutamente necessário relembrar que tampouco ao Poder Judiciário incumbisse ser ordenador de despesas, a escolha da destinação de recursos públicos, como se sabia, decorria de ato próprio da Administração Pública, sendo informado segundo exame de conveniência e oportunidade e sujeita, sempre, à fiscalização do TCU; que não se tratava de ato típico de jurisdição; que nada havia no capítulo III do Título IV da Constituição da República que autorizasse que o Judiciário decidisse como se daria a destinação do que arrecadado com suas decisões; e que na eventual hipótese de confirmação de alguma condenação nestes autos, requeria-se fossem os valores destinados ao Fundo de Amparo ao Trabalhador e nunca, nunca, posto à disposição do próprio Juízo para dar-lhe destinação (ID. e189de7 - Pág. 45); pugnando pela improcedência dos pedidos. Fez requerimentos. Juntou procuração e documentos.

Em 15.09.2020, o despacho de fls. 279 e 280 (ID. 2b4496c - Pág. 1 e ID. 2b4496c - Pág. 2) determinou, dentre outros, que as partes fossem intimadas para que, no prazo preclusivo de 15 dias, manifestassem-se nos autos, indicando as provas que pretendiam produzir, apontando seu objeto, sua pertinência e sua finalidade, inclusive, arrolando eventuais testemunhas que pretendessem ouvir, com a imediata indicação de dados pessoais, endereço e contatos telefônicos de cada qual.

(13)

O confronto da intimação de fls. 281, 282, 283 e 84 (ID. 702ca20 - Pág. 1, ID. 702ca20 - Pág. 2, ID. f61d8a9 - Pág. 1 e ID. f61d8a9 - Pág. 2) com a certidão de fls. 285 (ID. 3bae0a9 - Pág. 1) e as informações constantes da aba “EXPEDIENTES” do PJE, evidenciou que a ordem tinha sido publicada no DEJT em 17.09.2020, assim como que o Ministério Público do Trabalho e o Banco Bradesco S.A. tinham tomado ciência efetiva da ordem, respetivamente, no dia 21.09.2020 e 17.09.2020.

Nos termos da certidão de fls. 296 (ID. df63473 - Pág. 1), foi consignado que o MPT não tinha indicado quaisquer provas a serem produzidas, restando preclusa sua oportunidade.

Nesse contexto, considerando que o réu afirmou às fls. 286 (ID. 255e9e6 - Pág. 1 e ID. 255e9e6 - Pág. 2) que, como o ônus de prova incumbia ao MPT (nos termos do inciso LV do artigo 5º da CF e do artigo 818 da CLT c/c artigo 373, I, do CPC), requerendo apenas o direito de oferecer contraprova ao eventualmente produzido pelo Ministério Público, foi reconhecida a desnecessidade de audiência de instrução, em virtude do MPT não ter requerido qualquer prova dentro do prazo deferido, consoante despacho de fls. 289 (ID. 3d55da8 - Pág. 1 e ID. 3d55da8 - Pág. 2).

Além disso, tendo as partes declarado que não tinham outras provas a serem produzidas, foi encerrada a fase instrutória.

Razões finais escritas pelo réu. Razões finais escritas pelo autor.

Última tentativa de conciliação prejudicada. É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

Havendo questões processuais pendentes que pode ensejar a reabertura da instrução processual, início o julgamento por tais temas.

IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA

Alegando a ré que, por dever de ofício e atento ao princípio da eventualidade, cumpre registrar que o pedido à condenação do réu ao (ID. e189de7 - Pág. 36) ao pagamento da desproporcional e injustificada quantia de R$ 100 milhões de reais (cem milhões de reais), em condenação solidária aos demais réus, a título de indenização por

(14)

supostos danos morais coletivos era impertinente, uma vez que desprovido de fundamento legal em relação ao réu em suas condutas acima relatadas, além de não se atentar para o fato de que era o juiz quem devia fixar, por moderna jurisprudência e posicionamentos doutrinários, o valor, se fosse o caso, de possível indenização, após, obviamente, a instrução do feito e após a cognição exauriente que se comportar; que ao Ministério Público do Trabalho, fixar a condenação que pretendia ver imposta ao réu, a título de indenização por supostos danos morais coletivos, não podia, tal valor da indenização e, assim, o valor da causa, ser disciplinado, in casu, pelo disposto no artigo 259 do CPC/73, 292, do NCPC; que a circunstância de tais critérios de quantificação serem (ID. e189de7 - Pág. 37) previamente conhecidos das partes e do juiz, somente abonava a tese da possibilidade do pedido genérico; que se o quantum nesses casos, como também demonstrado, devia pautar-se por critérios de razoabilidade e proporcionalidade, estatuídos no plano do direito material e previamente conhecidos das partes e do juiz, a generalidade do pleito, nesse caso, era também autorizada pelos aforismos “da mihi factum, dabo tibi jus” e “jura novit curia”, nenhuma “surpresa” podendo advir para o demandado que, reitere-se, teria oportunidade de amplo debate sobre tais critérios ao longo da instrução (quer no processo de conhecimento condenatório, quer no de liquidação); que em pleitos dessa natureza, exigia-se do autor que fizesse pedido certo seria, ainda que reflexamente, violar a própria regra de proporcionalidade que devia presidir a quantificação do dano moral, porque esse elemento somente poderia ser aferido no curso do processo, não sendo razoável exigir que o autor já o estabelecesse no momento do aforamento; que a posição defendida encontrava eco na doutrina e jurisprudência, as quais eram francamente favoráveis à tese de que se aplica o disposto no Art. 286, II, do CPC ao pleito de dano moral, em que, à toda evidência, ao demandante era facultado pedir a condenação do réu em valor a ser apurado e arbitrado, quer no curso da instrução, quer em liquidação; que não se procedia a tarifação feita pelo Ministério Público do Trabalho para a pretendida indenização por danos morais coletivos, ainda mais na quantia de R$ 100 milhões de reais (cem milhões de reais), em condenação solidária dos réus, apresentada sem qualquer critério jurídico ou de fatos que conferissem alguma legitimidade à providência, que ilustra, o tanto quanto possível, um desconhecimento da própria natureza do (ID. e189de7 - Pág. 38) pedido condenatório e do necessário arbitramento do quantum indenizatório, a ser levada a cabo pelo magistrado que presidia o processamento da demanda, acaso fosse possível o deferimento de um tal pedido; que era desproporcional e desarrazoado, portanto, o valor postulado a título de indenização

(15)

por dano moral coletivo, que, - “exagerado, DEVIA SER REPELIDO”; que o valor da indenização, por sua vez, era absolutamente astronômico e tomava a feição de um dano punitivo ou aflitivo (punitive damage), que era incompatível com a sistemática da responsabilidade civil no direito brasileiro; que não havia atenção do órgão ministerial aos parâmetros fixados pela conhecida jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça na fixação da indenização, a saber: a intensidade da violação ao direito da personalidade em questão e a possibilidade econômica do ofensor de suportar a reparação; que a indenização pleiteada era uma conjectura vislumbrada, sem maiores cuidados no que dizia respeito, principalmente, ao réu, desprovida de qualquer lastro fático calcada na exploração séria da teoria da responsabilidade civil subjetiva (ID. e189de7 - Pág. 39); que estava mais do que pacificado, na doutrina e na jurisprudência especializada, que a fixação do montante correspondente à indenização por danos morais devia estar jungida, única e exclusivamente, ao prudente arbítrio do magistrado, sob pena de, em se defendendo, como fazia o Ministério Público do Trabalho, um sistema de tarifação de danos morais, mediante critérios objetivos de cálculo, restarem violadas as disposições constantes do artigo 5º, incisos V e X, da Constituição Federal; que era preciso consignar as lições de MARIA HELENA DINIZ, citada por LUIZ DE PINHO PEDREIRA DA SILVA, segundo a qual, no Brasil, não são cabíveis, como o são, por exemplo, na América do Norte, esses pleitos por indenizações milionárias (tal como é o do Ministério Público do Trabalho), uma vez que se deve levar – “em conta o contexto econômico do País; no Brasil não haverá lugar para fixação de indenizações de grande porte como as vistas nos Estados Unidos”; e que referendar os pedidos do Ministério Público do Trabalho, com os valores por ele tarifados a título de indenização para a reparação de supostos danos morais coletivos significaria prestigiar indenizações escorchantes que representariam, isso sim, uma desproporcional punição ao ofensor, com vantagem imoderada às vítimas, em número não expressivo no contingente de empregados da empresa (ID. e189de7 - Pág. 40); tomo as assertivas como impugnação ao valor da causa.

O valor dado à causa, nesta Justiça Especializada, além de fixar o rito, fixa a alçada, garantindo ou não o duplo grau de jurisdição.

É certo, ainda, que é pelo valor dado à condenação que serão calculados as custas e o valor do depósito recursal.

Assim, inexistem prejuízos imediatos à reclamada em face do valor atribuído a esta demanda, na medida em que se garantiu o processamento do feito pelo rito ordinário e na medida em que a recorribilidade também restou garantida.

(16)

Outrossim, não bastasse a circunstância de inexistir qual pleito de R$ 100 milhões de reais (cem milhões de reais) e, muito menos, de condenação solidária dos réus (até por haver um réu no polo passivo) como aduzido na defesa, bem como do artigo 17 e 18 da Lei n. 7.347, de 24.07.1985 (Lei da Ação Civil Pública) somente ter previsto honorários advocatícios sucumbenciais em caso de litigância de má-fé, tenho que o valor dado à causa corresponde, efetivamente, ao valor dos pedidos liquidados, já que ação civil pública versa sobre outras parcelas.

Não é necessária nem tampouco eficaz a sua redução, sendo que a ré sequer aventou qual seria o valor coerente ou adequado aos pedidos.

Se haverá ou não condenação, quais os critérios a serem usados para a fixação do valor de eventual condenação, a quem devem ser destinados os valores fixados, tudo isso é questão de mérito e com ele será analisado, não se devendo confundir questão processual com material.

Rejeito as impugnações levadas a efeito.

INCISO VIII DO ARTIGO 6º DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – PRINCÍPIO DA APTIDÃO PARA A PROVA)

A despeito de inexistir qualquer pleito do autor em relação ao ônus da prova, passo a tratar do tema, tendo em vista as alegações feitas pelo réu, de maneira a evitar futuras alegações impróprias de omissão, obscuridade e contradição.

O ônus da prova é o dever processual que incumbe ao autor comprovar os fatos constitutivos de seu direito (artigo 818 da CLT c/c artigo 373, I, do NCPC), e ao réu quanto aos fatos modificativos, extintivos e impeditivos (artigo 818 da CLT c/c artigo 373, II, do NCPC), de tal sorte que, não cumprido a contento, gera situação desfavorável à parte que detinha a obrigação de fazer a prova necessária.

Nesse sentido, muito embora o princípio da cooperação, da boa-fé objetiva e da efetividade da jurisdição possam justificar, em tese, a aplicação da Teoria do Ônus Dinâmico da Prova, em contraposição ao Ônus Estático da Prova, o fato é que a inversão do ônus da prova não se confunde com a teoria mencionada, razão pela qual seria indispensável a presença da verossimilhança da alegação patronal.

No entanto, se não bastasse o fato do tema 932 de Repercussão Geral não haver especificado que o ônus da prova no caso do acidente era do empregado/trabalhador

(17)

autônomo ou empreiteiro (mas somente que o artigo 927, § único, do Código Civil era compatível com o inciso XXVIII do artigo 7ª da CF, sendo constitucional a responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de trabalho, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida, por sua natureza, apresentasse exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva e implicasse ao trabalhador ônus maior do que aos demais membros da coletividade - STF. RE 828040. Tema 932 – Possibilidade de responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de trabalho. Relator: Ministro Alexandre de Moraes. Publicado no DJE de 26.06.2020. Acessível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?inci dente=4608798&numeroProcesso=828040&classeProcesso=RE&numeroTema=932. Acesso em 21.03.2021), caso fosse deferida a inversão, romper-se-ia com o Princípio da Paridade das Armas, já que o autor ou o réu teriam que provar absolutamente tudo, inclusive fatos negativos.

Além do mais, ainda que assim não fosse, nem mesmo a Teoria do Ônus Dinâmico da Prova e, muito menos, o Princípio da Aptidão para Prova poderiam autorizar pensamento diverso, seja porque as circunstâncias do caso concreto não justificariam atribuir o encargo probatório a respeito de grande parte dos temas ao litigante que tivesse melhores condições e facilidade de desempenhá-lo, seja porque, nesse momento processual, causaria insegurança jurídica e surpresa às partes, maculando a ampla defesa e o contraditório.

Dessa forma, rejeito.

IMPUGNAÇÃO DE DOCUMENTOS PELA RÉ E PELO AUTOR

A despeito da assertiva da ré impugnando os documentos carreados aos autos pelo autor (ID. e189de7 - Pág. 17 e ID. e189de7 - Pág. 34), bem como do autor impugnando os documentos juntados aos autos pela ré (ID. f4801af - Pág. 1 e ID. f4801af - Pág. 11), nenhum deles tivera o conteúdo especificamente impugnado, de modo a autorizar a intimação da parte adversa para apresentar cópias autenticadas ou o original (parágrafo único do artigo 830 da CLT).

Além do mais, afora o fato do texto celetista prever apenas uma faculdade ao advogado, não podemos olvidar da força normativa dos princípios da simplicidade e da busca da verdade real que regem o processo laboral, de tal sorte a tornar injustificável

(18)

qualquer desentranhamento.

Ademais, se não há na documentação acostada pelo Parquet nenhuma evidência de que não se cumpriam os elementos próprios à NR, se não há nenhuma prova para além do boletim de ocorrência, o qual que se prestaria exclusivamente à materialização do acidente, se sequer há evidência em relação aos instrumentos e equipamentos que estavam sendo utilizados no momento do acidente e se o Parquet sequer se deu o trabalho de ouvir as pessoas que estavam presentes no dia do acidente, assim como se o réu observou ou não todas exigências próprias ao dono da obra, segundo Contrato de Prestação de Serviços (ID. 6cb8db9 - Pág. 1 a ID 44dac4e - Pág. 4) com a empresa J. M. DA SILVA COMERCIO E SERVIÇOS, CNPJ 26.853.296/0001-87, se, diante do princípio da primazia da realidade, aplicado ao Direito do Trabalho, o fato de constar no Contrato que a Contratada deveria observar todas normas e fornecer equipamentos de proteção individual era ou não era fator relevante para análise do caso em comento, se não comprovam a real implementação na prática laboral da empresa em fornecer meio ambiente de trabalho seguro, se a cláusula 11.3 é expressa em dizer que o réu autorizava a prestação de serviços, constando que "A prestação de serviços pela CONTRATADA somente poderá ser iniciada após prévia comunicação ao CONTRATANTE e autorização deste", se, mesmo havendo tal cláusula e de que a Contratada deveria cumprir a NR 18 (cláusula 7.1 do contrato - ID. 5af8afa - Pág. 3), manter um responsável qualificado na execução dos serviços (cláusula 7.1.7 do contrato - ID. 5af8afa - Pág. 4), fornecer equipamentos de proteção (cláusula 11.1 - ID d1e53af - Pág. 5) e orientar os empregados (cláusula 7.4 do contrato - ID. 5af8afa - Pág. 5), o réu não fiscalizou tal prestação de serviços, mesmo sendo responsável solidariamente, tudo é questão de mérito e com ele será analisado, não se havendo confundir questão processual com material.

Rejeito.

INÉPCIA DA INICIAL POR ILEGITIMIDADE, INADEQUAÇÃO POR FALTA DE INTERESSE E POR FORMULAÇÃO DE PLEITO INCERTO E INDETERMINADO

Com efeito, não dispondo a Lei n. 7.347, de 24.07.1985 (Lei da Ação Civil Pública) sobre os elementos que inicial deveria conter, devem ser observados os ditames celetistas neste mister, em virtude de inexistir qualquer omissão nessa seara especializada que justificasse a aplicação do CPC subsidiariamente neste particular.

(19)

Assim, verifico que o parágrafo único do artigo 840 da CLT transfigura a adoção mitigada da Teoria da Substanciação, na medida em que exige apenas uma breve exposição dos fatos de que resulta o dissídio e o pedido correspondente, por conta de viger no processo do trabalho o princípio da simplicidade.

Nesse sentido, tendo o autor asseverado que, por meio da Procuradoria do Trabalho no Município de Alta Floresta/MT, havia instaurado o Inquérito Civil n.º 000182.2019.23.004/8 em desfavor do acionado, em razão de notícia de fato sigilosa, na qual informou a ocorrência, no dia 21.07.2019, de acidente de trabalho fatal em obra na fachada do acionado, decorrente de queda do andaime de aproximadamente 03 (três) metros de altura; que o acidente tinha ceifado a vida de Aguinaldo Junior de Sousa, de 21 anos; que havia sido expedido ofícios à Polícia Civil de Colniza/MT, Gerência da POLITEC de Juína/MT e a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego – SRTE, sendo que o Boletim de Ocorrência n. 2019.215800 consignou que, após buscas junto ao CAGED, pelo CPF da vítima, tinha sido verificado que o último vínculo de emprego formal do trabalhador acidentado ocorreu no ano de 2016, em momento muito anterior ao acidente (21.07.2019), autorizando concluir que o referido trabalhador não estava registrado pela empresa o havia contratado, motivo pelo qual não houve também emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT. Asseverou, inclusive, que era possível observar que o contratante não tinha garantido a implementação das medidas de segurança estabelecidas na NR-35, na medida em que não tinha sido feita a análise prévia de riscos e sequer havia permissão de trabalho em altura; que o trabalhador não utilizava os equipamentos de proteção individual e não havia linha de vida nos locais onde se realizava o trabalho em altura, postulando os pedidos de ¨A” até “D” e de “1” até “2”, entendo inexistir qualquer lesão ao dispositivo celetista mencionado ou ao inciso I do artigo 330 c/c inciso I e II do parágrafo 1º do mesmo dispositivo legal, todos do NCPC, uma vez que houve breve exposição dos fatos e correspondente dedução dos pedidos certos e determinados.

Saliento que as assertivas da ré, no diapasão de que, para além de tudo até aqui considerado, era hora de demonstrar a mais grave das inépcias relativas aos pedidos formulados na ação civil pública ora contestada; que se tratava de clara e flagrante inadequação da pretensão deduzida no presente feito que, não obstante, infelizmente, tinha-se apresentado como lugar comum em variadas petições iniciais de ações coletivas, a demandar ainda mais atenção no exame desta relevante preliminar; que se tratava do caráter abstrato do pedido em relação à obrigação de fazer; que, de fato, como

(20)

expressamente referido no pedido, a pretensão se limitava a que fosse exarado um pronunciamento judicial determinando que o réu cumprisse a lei (ID. e189de7 - Pág. 11); que se o réu já estava obrigado, ex lege, a cumprir a lei, não era dado postular-se que fosse determinado em provimento judicial, em abstrato, o cumprimento da mesma lei; que não havia interesse ou mesmo cabimento; que o pedido era inepto e, ao mesmo tempo, não cumpria com as condições da ação; que, do ponto de vista do processo, e da atuação do Poder Judiciário, que devia ser sempre in concreto, no máximo seria dada a parte requerer ao Poder Judiciário eventual pronunciamento sobre as consequências de eventual inadimplência, mas nunca, nunca, a mera repetição em decisão judicial do que já está abstratamente previsto em lei, como se pretendia no presente caso (ID. e189de7 - Pág. 12); que o ato jurisdicional era um ato dirigido, necessariamente, a uma situação concreta, o que quereria dizer, portanto, que o – “raciocínio do órgão jurisdicional é sempre

problemático: ele é chamado a resolver um problema (ID. e189de7 - Pág. 12) concreto”;

que se distinguia-se, assim, a função legislativa da função jurisdicional; que, enquanto à primeira incumbia a elaboração de normas genéricas, a todos impostas, a segunda se ocupava da garantia de sua observância nas situações individuais, assegurando as posições jurídicas de vantagem eventualmente existentes entre as partes; que não estava compreendida na atividade jurisdicional a confirmação, em ato de provimento judicial, do teor da lei de forma abstrata, como talvez pretendia o Ministério Público do Trabalho; que precedia, necessariamente, ao provimento judicial o exame das circunstâncias de fato que indicassem a lesão ou ameaça à lesão do direito, devendo o provimento judicial impor

obrigações – de dar, fazer ou não fazer – que tivessem o condão de restaurar a força imperativa da norma; que, em relação à lesão ao direito, nenhuma perplexidade havia;

que, ofendido o direito, ao magistrado incumbiria impor as sanções necessárias tanto à recomposição do direito como à indenização pelos prejuízos decorrentes, considerando os específicos fatos revelados no processo; que a dificuldade surgia, no entanto, quando defrontado o julgador com pretensão destinada a evitar a lesão a direito, cuja ameaça se afirmava no processo; que, algumas vezes, parecia ao Ministério Público do Trabalho ser suficiente a repetição genérica, em provimento judicial, do comando já estatuído na lei, em raciocínio que confundia o conteúdo do ato legislativo – no (ID. e189de7 - Pág. 13) caso, regulamentar – com o ato jurisdicional; que, nesses casos, muitas vezes era formulado pedido de que fosse imposto ao réu, por comando judicial, o mero dever de cumprir a lei; que, como visto, não estava compreendida na atividade jurisdicional a mera enunciação de que o direito material devia ser observado; que a ordem de cumprimento

(21)

do direito material era algo que lhe era inerente, de forma que, descumprido, recairia sobre o ofensor as sanções já estabelecidas; que não incumbia ao magistrado, no exercício da atividade jurisdicional, prolatar decisões em que se comandasse à parte, por exemplo, pagar o adicional de periculosidade a todos aqueles que estivessem expostos a agentes perigosos; que tal ordem já emanava do próprio texto legal, como se lia do artigo 193 da CLT; que, no exemplo dado, não se encontrava a imposição de obrigações à parte que, concretamente, importassem na restauração do império do direito material, mas apenas a reafirmação, genérica e abstrata, do prescrito pela lei: pagar adicional de periculosidade àqueles que trabalhavam em condições perigosas; que coisa diversa ocorreria, por exemplo, se afirmado pelo juiz, após exame da circunstância concreta, a obrigação de efetuar o pagamento do adicional periculosidade aos empregados que laborassem no galpão n. 13 de determinada empresa, o que evitaria futuras lesões aos direitos de tais empregados; que, nesta situação, o magistrado, após verificar concretamente que havia, no referido local de trabalho, a efetiva exposição a agentes perigosos, determinava que houvesse o pagamento do referido adicional; que, assim, haveria cominação de uma medida concreta apta a restaurar o império do direito material (ID. e189de7 - Pág. 14); que não estava compreendida na atividade jurisdicional a mera repetição do texto legal, mas sim a cominação de obrigações que, cumpridas pela parte, importassem na restauração do direito material cujo desrespeito tinha sido verificado no processo; que a questão do conteúdo do ato jurisdicional repercutia de forma direta na execução da sentença em ação coletiva relativa a direitos individuais homogêneos, acaso se admitisse possível que o Ministério Público do Trabalho tivesse legitimidade, nas circunstâncias da ação civil pública ora contestada, a tanto; que, conforme se lia no artigo 95 do CDC, a condenação, em tais hipóteses, seria genérica, com a fixação da responsabilidade do réu pelos danos reconhecidos; que a generalidade acima referida dizia respeito a dois específicos elementos da condenação: o quantum debeatur (valor da condenação) e o cui

debeatur (titular da reparação), sendo, no entanto, imprescindível a indicação do dano

que a todos acometia, origem comum do direito individual, que o tornaria homogêneo; que, não obstante devesse ser observada a generalidade no ato jurisdicional relativo a direitos individuais homogêneos, não quereria dizer que seria possível prolatar ato abstrato que se limitasse a repetir aquilo estabelecido pela norma posta, pois, generalidade não era abstração (ID. e189de7 - Pág. 15); que, como se lia na petição inicial, o Ministério Público do Trabalho incorria na pretensão de que lhe fosse conferido provimento abstrato ao pedir fosse o réu obrigado a cumprir o que regulamentado na NR nº 35 do Ministério

(22)

do Trabalho; que tal se dava, era importante mencionar, em razão de não se estar diante de direitos individuais homogêneos, como já demonstrado; que a inadequação da via processual eleita, como não poderia deixar de ser, repercutia por toda a pretensão, dela emanando uma série de incongruências processuais, inclusive pondo em cheque os princípios processuais constitucionais, expressão de direitos fundamentais acolhidos por nosso ordenamento jurídico; que se requeria fosse afirmado, no ato jurisdicional – que devia ser concreto – o que já, abstratamente, era prescrito em lei: era preciso observar a NR nº 35; que em todos os pleitos, não havia qualquer elemento concreto na tutela jurisdicional requerida; que o que era postulado, tão somente, era que o réu fosse condenado a seguir o que já era abstratamente previsto; que se requeria fosse repetido o teor da lei no ato jurisdicional, sendo postular a abstração do que devia ser concreto (ID. e189de7 - Pág. 16); que se a acolhido qualquer um dos pedidos indicados, não haveria nenhuma indicação concreta do dano tido por comum; que, aliás, sequer havia, na petição inicial, descrição de situação fática que se apresentasse como fato constitutivo do direito alegado, o que importava em franca violação à garantia do contraditório; que a eventual liquidação incumbiria a comprovação de todos os elementos concretos próprios da certificação da relação jurídica controvertida; que seria dizer: diante de uma condenação abstrata, apenas na liquidação ocorreria todo o procedimento cognitivo de certificação da posição jurídica de vantagem que autorizava o provimento concreto, este sim, efetivamente jurisdicional; que o extravagante pedido realizado na ação civil pública ora contestada podia, inclusive, ser utilizado como exemplo da mácula que ora se pretendia demonstrar; que em se considerando adequada a ação civil pública ajuizada, ao fundamento de tratar-se de debate sobre direitos individuais homogêneos – equívoco que, em verdade, era a causa de todas as inadequações indicadas e a serem indicadas – imagine-se, ao final, o acolhimento do pedido; que por não se tratar, em seu conteúdo lógico, de um direito individual homogêneo, não haveria, porque impossível ao presente

caso, a indicação de um fato único – origem comum – do dano a repercutir em todas as

esferas individuais; que, assim, na melhor das hipóteses, em exame amostral, nesse caso, exame do único caso apontado na exordial – o acidente do dia 21 de junho de 2019 – seria preciso garantir a observância da NR 35 em todos os contratos de empreitada celebrados pelo reclamado; que não havia na documentação acostada pelo Parquet nenhuma evidência de que não se cumpriam os elementos próprios à NR; que daí o comando judicial: condenação do réu a obrigações de não fazer e de fazer alinhadas na NR n. 35, em conformidade com os (ID. e189de7 - Pág. 17) pedidos, geraria, precisamente, a

(23)

abstração do julgado, conforme especificamente requerido na petição inicial; que era esse este, precisamente, o pronunciamento judicial em urgência já deferido; que não poderia haver outro caminho a seguir; que dada a inadequação lógica da presente medida, a outra alternativa seria impensável do ponto de vista do respeito aos direitos fundamentais do contraditório e ampla defesa, qual seja, afirmar que todos os contratos de empreitada do réu, sem exceção, estariam submetidos a um labor sem observância da NR n. 35; que nesse momento, um novo, e, aí sim, verdadeiro processo judicial teria início; que o liquidante teria que provar os mesmos fatos que ordinariamente comporiam a instrução probatória de uma típica fase de conhecimento; que ante a afirmação de “minha situação

preenche os requisitos da sentença” (leia-se, observe-se a NR 35), poderia haver a

resistência de “nego a alegação, porquanto houve sim tal observância”; que a verdade era que, não se estando diante de verdadeiros direitos individuais homogêneos, como na espécie, era impossível indicar o fato comum, a origem indivisível, que ligavam todos os indivíduos; e que não havendo tal ligação, era inviável a adequada prestação da tutela coletiva; que não era por outro motivo que o E. Tribunal Superior do Trabalho tinha afirmado a impossibilidade de vindicação, por meio de ação civil pública, do pagamento de direitos trabalhistas de índole individual e heterogênea de trabalhadores, o que se aplicava, perfeitamente, ao caso (ID. e189de7 - Pág. 18), também não impediriam a análise do mérito da ação.

De fato, asseverando o autor asseverado que, por meio da Procuradoria do Trabalho no Município de Alta Floresta/MT, havia instaurado o Inquérito Civil n.º 000182.2019.23.004/8 em desfavor do acionado, em razão de notícia de fato sigilosa, na qual informou a ocorrência, no dia 21.07.2019, de acidente de trabalho fatal em obra na fachada do acionado, decorrente de queda do andaime de aproximadamente 03 (três) metros de altura; que o acidente tinha ceifado a vida de Aguinaldo Junior de Sousa, de 21 anos; que havia sido expedido ofícios à Polícia Civil de Colniza/MT, Gerência da POLITEC de Juína/MT e a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego – SRTE, sendo que o Boletim de Ocorrência n. 2019.215800 consignou que, após buscas junto ao CAGED, pelo CPF da vítima, tinha sido verificado que o último vínculo de emprego formal do trabalhador acidentado ocorreu no ano de 2016, em momento muito anterior ao acidente (21.07.2019), autorizando concluir que o referido trabalhador não estava registrado pela empresa o havia contratado, motivo pelo qual não houve também emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT.; que era possível observar que o contratante não tinha garantido a implementação das medidas de segurança estabelecidas

(24)

na NR-35, na medida em que não tinha sido feita a análise prévia de riscos e sequer havia permissão de trabalho em altura; e que o trabalhador não utilizava os equipamentos de proteção individual e não havia linha de vida nos locais onde se realizava o trabalho em altura, tenho por evidente não só tratar-se de questão atinente à medicina e segurança do trabalho, mas ao meio ambiente do trabalho ecologicamente equilibrado, atraindo a insofismável natureza transindividual difusa, já que os direitos postulados seriam indivisíveis e pertencentes a pessoas indeterminadas, ligadas por circunstâncias de fato, nos termos do inciso I do parágrafo único do artigo 81 da Lei n. 8.078, de 11.09.1190 (Código de Defesa do Consumidor).

Ora, não sendo possível verificar quais pessoas são ou serão atingidas direta ou indiretamente no meio ambiente de trabalho desequilibrado e inseguro (em virtude da não observância das normas regulamentadoras atinentes à medicina e segurança do trabalho), qual seja, o mesmo local de trabalho onde ocorreu o sinistro, assim como considerando a dificuldade de se identificar a dimensão dos danos suportada por cada indivíduo (haja vista o fato de que, a despeito do trabalhador AGUINALDO JÚNIOR DE SOUZA haver falecido, outros colaboradores presentes no local de trabalho estariam submetidos às mesmas condições de inobservância e outros obreiros poderiam ser impingidos a laborar dentro das idênticas circunstâncias), inegável que o direito ao meio ambiente laboral sadio e seguro possuía natureza essencialmente difusa, ante sua indivisibilidade, da mesma maneira como inquestionável a legitimação para agir do MPT, ante a força normativa do inciso I do artigo 129 da Constituição Federal, do inciso I do artigo 5º da Lei n. 7.347, de 24.07.1985, e do inciso I do artigo 82 da Lei n. 8.078, de 11.09.1190 (Código de Defesa do Consumidor), e por não se tratar, como ocorre na ação civil pública, de legitimidade extraordinária, mas autônoma, já que o Ministério Público do Trabalho não pode agir “representando” os grupos, categorias, classes ou pessoas dispersamente consideradas na comunidade coletiva direta ligada à ré, justamente por inexistir atuação disjuntiva entre os titulares do direito substancial e os legitimados coletivos, tornando desnecessária qualquer juntada do rol dos empregados e, em decorrência, qualquer lesão aos ditames do artigo 18 do NCPC.

Nesse sentido, os ensinamentos dos professores Dr. Carlos Henrique Bezerra Leite e Dra. Laís Durval Leite.

“...não sendo possível precisar quais pessoas são ou serão direta ou indiretamente atingidas em um meio ambiente de trabalho desequilibrado e insalubre, além da dificuldade de identificar a dimensão dos danos suportada

(25)

por cada indivíduo, inegável que o direito ao meio ambiente laboral sadio e seguro possui natureza essencialmente difusa. Essa dificuldade decorre do fato de tal direito ostentar natureza predominantemente indivisível, ligando seus titulares pela circunstância fática de ocuparem o mesmo local de trabalho, independentemente do vínculo jurídico que possuem com o empregador. [...] Ao constatarmos que o meio ambiente laboral ecologicamente equilibrado é direito fundamental de natureza predominantemente difusa, temos que a legitimação para o ajuizamento de ações coletivas que visem a sua proteção deve ser encarada como autônoma, pois aquele que postula em defesa de direito alheio, mas em nome próprio, está apto a figurar no polo ativo da ação.” (LEITE, Carlos Henrique Bezerra; LEITE, Laís Durval. Legitimidade Ativa para a Tutela Processual do Equilíbrio do Meio Ambiente do Trabalho. In: FELICIANO, Guilherme Guimarães (coord.); SARLET, Ingo Wolfgang (coord.); MARANHÃO, Ney (coord.); FENSTERSEIFER, Tiago (coord.). Direito Ambiental do Trabalho: apontamentos para uma teoria geral. 5. Vol. São Paulo: LTr, julho,2020. p. 525 e 529).

Consequentemente, a questão não seria pressupor que a ré sempre estaria a descumprir normas regulamentadoras, mas sim que a natureza indivisivelmente do meio ambiente de trabalho desequilibrado e inseguro justificaria, como já explicitado, a legitimação do MPT para defender o direito fundamental social difuso ao meio ambiente saído e seguro.

Melhor sorte não merece a alegação de que não havia interesse de agir por inadequação, pois, apesar da ré ter registrado que se tratava do caráter abstrato do pedido em relação à obrigação de fazer; que, de fato, como expressamente referido no pedido, a pretensão se limitava a que fosse exarado um pronunciamento judicial determinando que o réu cumprisse a lei (ID. e189de7 - Pág. 11); que se o réu já estava obrigado, ex lege, a cumprir a lei, não era dado postular-se que fosse determinado em provimento judicial, em abstrato, o cumprimento da mesma lei; que não havia interesse ou mesmo cabimento; que, do ponto de vista do processo, e da atuação do Poder Judiciário, que devia ser sempre

in concreto, no máximo seria dada a parte requerer ao Poder Judiciário eventual

pronunciamento sobre as consequências de eventual inadimplência, mas nunca, nunca, a mera repetição em decisão judicial do que já está abstratamente previsto em lei, como se pretendia no presente caso (ID. e189de7 - Pág. 12); que o ato jurisdicional era um ato dirigido, necessariamente, a uma situação concreta, o que quereria dizer, portanto, que o – “raciocínio do órgão jurisdicional é sempre problemático: ele é chamado a resolver

um problema (ID. e189de7 - Pág. 12) concreto”; que se distinguia-se, assim, a função

legislativa da função jurisdicional; que, enquanto à primeira incumbia a elaboração de normas genéricas, a todos impostas, a segunda se ocupava da garantia de sua observância nas situações individuais, assegurando as posições jurídicas de vantagem eventualmente

Referências

Documentos relacionados

Sentido a necessidade de organizar melhor os louvores de grupo decidi trabalhar neste documento utilizando ferramentas gratuitas.. Por n˜ ao ser vers˜ ao final, n˜ ao deve ser

As inscrições serão feitas na Comissão Permanente de Vestibular da UFMG (COPEVE), situada no Prédio da Reitoria da UFMG, à Av. Presidente Antônio Carlos, 6627 – Campus da

3 Caliente aceite en un wok o una sartén, ponga en él la carne y dórela a fuego vivo unos 2 minutos sin dejar de remover.Añada la pasta de curry y mézclela bien; incorpore luego

Deste modo, estabelecemos que a operação dos dispositivos que fabricamos é do tipo diodo Schottky, para campo elétrico inferior ao de operação do diodo, e para campos elétricos

De fato, a petição inicial arvorou-se na alegação de que o Sindicato de Ribeirão Preto teria recolhido valor irrisório a título de

A avaliação do sistema reator UASB e filtro aerado submerso (FBAS) para o tratamento de esgoto sanitário afigura-se como interessante alternativa para as condições brasileiras e o

Excelentíssimo Senhor Doutor Otavio Amaral Calvet, MMº Juiz Federal da 11ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, no uso de suas atribuições legais e na forma da lei,

Os interessados em participar do leilão devem se cadastrar no site do leiloeiro (www.edgarcarvalholeiloeiro.com.br) e solicitar habilitação com 24 horas de antecedência