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4.2 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

4.2.3 Vantagens da Participação

4.2.3.6 Falta de visão compartilhada

A falta de uma visão compartilhada do desenvolvimento local é um fator sério para desenvolver projetos e criar mecanismos que permitam sua efetiva realização. Este fato, normalmente, é causado pelas organizações locais, como será visto a seguir.

Quando as organizações presentes em uma região ou município observam as outras como concorrentes, isto pode criar dificuldades ao desenvolvimento local, pois o que acaba acontecendo é que uma organização procure minimizar as ações das outras. Tal comportamento se verifica tanto nas organizações públicas, quanto nas organizações privadas. Um exemplo na esfera pública é quando o governo federal (ou estadual) destina recursos para desenvolver atividades profissionalizantes com jovens, e duas organizações públicas disputam estes recursos sem pensar na possibilidade de desenvolver o trabalho em conjunto, e com isto barganhar maiores verbas.

Na iniciativa privada ocorre, principalmente nas pequenas empresas, como, por exemplo, na indústria moveleira, que um grupo de empresas, se trabalhasse em conjunto, poderia desenvolver uma ampla propaganda das indústrias da região. Isto ocorre em Gramado, Rio Grande do Sul: todo mundo conhece os móveis de Gramado, embora não conheça as empresas que os fabricam. Pode-se identificar a existência da causa quando as organizações não trabalham em conjunto.

Outro aspecto que leva a esta falta de visão compartilhada é o desconhecimento das funções das organizações. Cada uma tem seu papel e seus objetivos; contudo, muitas vezes as organizações locais não conhecem o papel das outras do seu próprio município, região e muito menos de seu estado. Assim, as organizações passam a temer todas as outras, encarando-as como concorrentes, sem saber a quem recorrer para superar suas dificuldades. Isto pode ser verificado questionando as organizações locais sobre quais são as atividades de outras organizações presentes na mesma região. Pode-se notar que, segundo o entrevistado 16, muitos atores não se envolvem no processo participativo, dentre outras razões, porque: "...falta conhecimento do projeto e possuem pouca

A prevalência da competitividade é nociva ao desenvolvimento local, porque cria a visão de que uma organização só obtém sucesso quando está sozinha, seja no mercado, seja na iniciativa pública. Atualmente, fica evidente este aspecto na iniciativa pública, pois, com as constantes mudanças de políticas e a extinção de empresas e órgãos do governo - com o objetivo de diminuir gastos - muitas das organizações a ele vinculadas procuram se sobrepor às outras.

Os fatores político-partidários, como se observou anteriormente, também interferem na construção de uma visão compartilhada no processo de desenvolvimento local. No caso de Rancho Queimado, o entrevistado 3 faz uma declaração neste sentido sobre o comportamento da Câmara Municipal:

Existe uma oposição que em vez de ajudar, inclusive atrapalha. Não usam sua força política para buscar recursos fora do município. Muitas vezes quando a prefeitura vai conseguir recursos eles tentam bloqueá-los, chegam ameaçar sair do partido caso os recursos sejam liberados. A administração no governo estadual passada isto não ocorria.

Todas estas causas se devem ao fato de que as organizações têm uma visão setorial do sistema de desenvolvimento local. Assim, ao não entenderem seu papel dentro do sistema, passam a ver as outras organizações como concorrentes, desconhecendo suas funções e prevalecendo a competição com crescimento individual. Esta visão setorial é evidente nos casos em que a própria comunidade desconhece seu papel neste desenvolvimento. Com isso, diminui-se o voluntariado e aumenta a "participação interesseira", ou seja, de grupos que mantêm nos conselhos representantes com a tarefa de se responsabilizar por ações que lhes tragam benefícios. O entrevistado 7, ao falar sobre a forma de envolvimento comunitário no desenvolvimento do município, diz:

Sempre que é tomada uma decisão em uma reunião é repassada sua execução para uma autoridade porque quando se repassa para a comunidade ela tem dificuldade de assumir. Não existe uma tendência ao voluntariado. Você pode observar que os conselhos municipais não conseguem pessoas diferentes para se envolverem, as pessoas são movidas por interesses.

No caso da comunidade, a falta de uma visão compartilhada com o processo de desenvolvimento é muito comum. Segundo diversos entrevistados, o povo só participa depois de ver algum resultado. Para o entrevistado 8, o não-envolvimento da comunidade nas decisões sobre as políticas de desenvolvimento ocorre "porque

não há vontade política e falta reciprocidade da comunidade quando é convidada a participar. Por outro lado a comunidade deixa de participar porque o que é proposto não é realizado".

Torna-se difícil a criar uma visão compartilhada na comunidade quando esta não possui saneamento básico, porque este tipo de comunidade já pode ser considerado periférico, portanto não tem recursos suficientes para ela própria construir seu sistema de fossa ou esgoto e muito menos para colaborar financeiramente para a implementação de um sistema de drenagem e pavimentação de suas ruas. Sua participação, porém, seria essencial, justamente pela falta de recursos financeiros, pois o fator humano depende, em geral, da maior quantidade de recursos das prefeituras. Infelizmente, estas comunidades são tratadas de maneira excludente pela maioria das prefeituras nos processos de participação de desenvolvimento local. Para se buscar o desenvolvimento deste tipo de visão, é preciso que haja um padrão mínimo de qualidade de vida.

O entrevistado 5 levanta a necessidade de o poder público desenvolver um projeto para que todos tenham acesso a um sistema de tratamento de dejetos. Segundo ele, todos devem participar. No caso da comunidade, faz a seguinte colocação:

No caso da comunidade é combatendo os borrachudos. No meu caso, por exemplo, eu tenho fossa em casa, mas muitos agricultores não tem, necessitaria fazer um projeto para que todos tenham acesso à construção de fossas.