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3.1 HISTÓRIA DOS PRIMEIROS IMPERADORES DO BRASIL

3.1.5 Família Bragança

Portugal foi um dos primeiros dos chamados Estados modernos a formar-se, após a expulsão dos mouros em 1139 por D. Afonso Henriques.

A família Bragança assumiu o trono português após as revoltas contra a União Ibérica (1580-1640), promovidas pela nobreza e burguesia lusitanas que eram contra o domínio espanhol. O nobre responsável pela revolta de 1640 foi D. João II, duque de Bragança, que assumiu o trono como D. João IV, rei de Portugal. A Casa de Bragança foi a quarta e última dinastia a ocupar o trono português.

O título de duque de Bragança foi instituído no século XV para D. Afonso I. A partir de 1640, passou a ser o principal título nobiliárquico português, até a proclamação da república, em 1910.

A Revolução Francesa, no final do século XVIII, e as invasões napoleônicas do início do século XIX fizeram com que a família real portuguesa aceitasse os “conselhos” da Inglaterra e partisse para sua colônia na América, o local conhecido como Brasil. Em 27 de novembro de 1807, a família real rumava para a América escoltada pela Marinha Real Britânica. A decisão pela partida não foi da rainha D. Maria I (1734-1816), mas de D. João, seu filho. O estado emocional da Rainha fora abalado pela morte do marido, D. Pedro III de Portugal, em 1786, e de seu filho, D. José, príncipe da Beira, duque de Bragança e herdeiro do trono, em 1788, quando estava com 26 anos, além dos falecimentos de seu pai, em 1777, e de sua mãe, em 1781.

Em 1792, a rainha passou a ser acometida por estados de apatia e melancolia. Tratamentos médicos foram ministrados, porém não houve melhora. Em 1799, depois de uma avaliação feita por uma junta médica, inclusive com a participação de médicos britânicos, a doença foi declarada oficialmente como incurável. Foi então recomendado que seu segundo filho, D. João (1767-1826), então herdeiro do trono com a morte do irmão mais velho, fosse declarado Regente. Por esses distúrbios psicológicos, a rainha ficou conhecida por D. Maria, a Louca (SANMARTINI, 1998). Com relação ao Brasil, seu reinado representou um grande atraso industrial e intelectual, além, é claro, da repressão à Inconfidência Mineira.

A família real atracou em Salvador em 22 de janeiro de 1808. Pela primeira vez na História, uma colônia tornava-se metrópole. Nessa cidade começaram as primeiras mudanças no Brasil. O príncipe regente D. João decretara a Abertura dos Portos, beneficiando

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principalmente os comerciantes ingleses com taxas de impostos mais baixos que os demais, mesmo portugueses. A família real chegou ao Rio de Janeiro em 7 de março do mesmo ano.

Em 1815, D. João, ainda como príncipe regente, elevou o Brasil à condição de Reino Unido de Portugal. Foi essa a forma encontrada para que a família real pudesse permanecer no Brasil enquanto Portugal participava do Congresso de Viena.

O príncipe D. João apresentava fortes indícios de que gostaria de ter seguido a carreira eclesiástica, mas ,casou-se com D. Carlota Joaquina (1775-1830), filha do rei da Espanha, em 1785, ele com 18 anos e ela com apenas 10 (LIMA,1996). Dessa união, nasceu, em 12 de outubro de 1798, o segundo filho do casal: D. Pedro, cujo nome completo era Pedro de Alcântara Francisco Antônio Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Serafim de Bragança e Bourbon. O primogênito, D. Antonio, nascido em 1795, faleceria em 1801. Assim, D. Pedro passou a ser o primeiro na linha de sucessão ao trono português com o título de príncipe da Beira (SOUZA, 1972). Quando a família chegou ao Brasil, em 1808, ele tinha nove anos.

D. Carlota Joaquina sempre teve problemas com o marido, não conjugais comuns, mas de luta pelo poder. A rainha transmitiu isso para os filhos. Quando D. Miguel nasceu, em 1802, ela passou a demonstrar uma predileção pelo menino, fomentando a disputa entre ele e D. Pedro que culminou na guerra civil em Portugal anos mais tarde.

Há uma lenda sobre os primogênitos dos Bragança. Ela diz que, no século XVII, um rei português, cujo nome não é apontado, teria dado um pontapé em um frade franciscano que havia lhe pedido esmola. O religioso teria rogado uma praga na família para que nenhum primogênito governasse. É claro que não há relatos sobre a veracidade desse episódio, nem sobre seus personagens. Entretanto, nenhum primogênito do sexo masculino da dinastia Bragança sobreviveu o bastante para governar, inclusive no Brasil. A suposta maldição deixou de vigorar com D. Maria II, filha de D. Pedro I do Brasil ou Pedro IV de Portugal, que se casou em um primeiro momento com o tio D. Miguel, depois com o príncipe Augusto, irmão de D. Amélia, segunda esposa de Dom Pedro e, por fim, com D. Fernando, de quem teve descendência. Seu primogênito, D. Pedro V, conseguiu reinar de 1855 até 1861, quando morreu em uma epidemia de febre tifoide, aos 24 anos. Os herdeiros da princesa Isabel sobreviveram, mas não governaram (AMARAL, 2009).

Quando chegou ao Rio de Janeiro, em 1808, D. João teve que primeiro acomodar as 15 mil pessoas, entre cortesãos e funcionários do governo, que acompanhavam a família.

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A cidade contava nessa época com uma população de aproximadamente 50 mil habitante e tinha 46 ruas, 19 largos, 6 becos e 4 travessas. Não havia uma corte, as pessoas não tinham muitos hábitos de higiene, comiam muitas vezes com as mãos. Os vários tipos de dejetos eram jogados quase sempre em qualquer lugar. Não havia acomodações para todos que vieram de Portugal. O príncipe logo tratou de acomodar sua corte “requisitando” algumas das melhores casas da cidade. As portas eram marcadas com as letras PR (Príncipe Regente), que, para a população local, era simplesmente o “Ponha-se na Rua” (LUCCOCK, 1951).

Com a transferência do centro de poder para o Brasil, D. João teve que criar uma máquina administrativa e educacional na antiga colônia. Assim, ainda em 1808, surgem a Escola de Cirurgias e Marinha, o Banco do Brasil e o Jardim Botânico; em 1813, a Academia Médico- Cirúrgica. Foram criadas também várias instituições culturais, como teatros e a Academia de Belas Artes, além do apoio à Missão Artística Francesa e à Missão Científica Austríaca em 1817 (DONATO, 2005; LUCCOCK, 1951; LUSTOSA, 2006).

Para alojar a própria família, o príncipe usou a casa dos vice-reis do Brasil, uma construção de 1743, que foi transformada por ele em sede do governo até a adaptação do casarão da Quinta da Boa Vista.

Com a morte da mãe, D. Maria I, em 20 de março de 1816, Dom João assumiu em definitivo o trono como rei D. João VI.

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