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7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.1 Descrição dos casos

7.1.2 Casos de telarca precoce

7.1.2.2 Família 3

Data da entrevista: 05/07/2017 Criança

Informações gerais: ISX, sexo feminino, 4 anos e 11 meses, natural e procedente

de Limoeiro do Norte (CE).

História obstétrica e gestacional da mãe: engravidou uma vez, teve um parto

(vaginal), não teve nenhum abortamento. O diagnóstico da gravidez de ISX aconteceu quando a mãe tinha 21 anos de idade. Realizou o pré-natal no PSF do Tomé, 5 consultas, e em um consultório de obstetrícia particular, 7 consultas. Não houve intercorrências durante a gestação, no entanto, refere que o médico que realizou o acompanhamento pré-natal informou, desde o começo da gestação, que a criança era grande para a idade gestacional. Nega o uso de medicamentos durante a gestação, com exceção dos medicamentos prescritos no posto de saúde (sulfato ferroso e ácido fólico). Fez uso de anticoncepcional via oral antes da gestação (Ciclo 21), durante 3 anos. ISX nasceu no dia 13/08/2012, pré-termo (com 31 semanas e 6 dias), em boas condições vitais (3,5kg e 50cm). A criança recebeu alta hospitalar com a mãe após 48h do nascimento. Após alta hospitalar, ISX desenvolveu um quadro de bronquiolite que necessitou internamento para realizar tratamento endovenoso durante 10 dias. Depois deste episódio, não teve mais nenhum problema grave de saúde.

História do problema de saúde atual (puberdade precoce): mãe refere que

quando a criança tinha em torno de um ano e três meses de idade, ela e as demais pessoas que conviviam com a criança perceberam um aumento volumétrico e um endurecimento das mamas (bilateralmente, porém mais significativo à direita). A mãe procurou atendimento médico para investigar esse achado, realizou exame ultrassonográfico das mamas, que resultou no laudo de telarca precoce. Foi informada que se tratava de um quadro sugestivo de telarca prematura isolada, por isso, não era recomendado iniciar nenhum tratamento medicamentoso, somente realizar modificações na dieta da criança e continuar o acompanhamento. Ao longo do tempo, a mãe e a médica responsável pelo acompanhamento da criança perceberam que as mamas estavam involuindo. Quando a criança tinha a idade de 1 ano e 9 meses, o novo exame ultrassonográfico confirmou a regressão dos brotos mamários.

Após esse período, a criança não realizou mais o acompanhamento com a médica pediatra. A mãe relata que, por volta de uma semana antes da realização da entrevista, a avó de ISX começou a perceber que a mama direita voltou a aumentar de volume. A criança não se queixa de dores na região. A família ainda não havia procurado atendimento médico após a reincidência deste achado. Nega o aparecimento de outros caracteres sexuais secundários na criança (pubarca e menarca).

História patológica pregressa: no período em que estava realizando

acompanhamento médico com a pediatra, apresentou uma elevação sanguínea nos níveis de colesterol. Não foi prescrito tratamento medicamentoso, apenas realizadas orientações alimentares. Não possui outras co-morbidades e não faz uso de medicamentos de rotina.

História nutricional: aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade;

aleitamento misto até os dez meses de idade. Nega a administração de alimentos à base de soja. A única preparação que ela tomava após os seis meses era à base de maisena (milho transgênico?).

História familiar de puberdade precoce: nega outros casos semelhantes na

família. Mãe refere que apresentou desenvolvimento puberal dentro dos padrões de normalidade (menarca aos 13 anos e telarca aos 11 anos).

História do desenvolvimento neuropsicomotor da criança: desenvolvimento

dentro dos parâmetros esperados para a idade gestacional em que a criança nasceu. Sentou com dez meses e começou a andar com um ano e três meses de idade.

Estado de saúde atual da criança: bom estado de saúde.

História de exposição da criança aos agrotóxicos durante e após a gestação:

antes de engravidar e durante toda a gestação, a mãe da criança morava na comunidade de Tomé, região cercada por plantações onde há uso de agrotóxicos. Mãe relata que no período antes de engravidar, ocorreram alguns episódios de pulverização aérea dos agrotóxicos na região, entretanto, não lembra de ter visualizado nenhum. Durante a gestação, nega ter presenciado episódios de pulverização aérea dos agrotóxicos e ter se exposto diretamente a produtos químicos, entre eles os agrotóxicos.

Dados relevantes no exame físico da criança: estágio 2 de Tanner em mama

direita e estágio 1 de Tanner em mama esquerda; ausência de pubarca.

Mãe da criança

Informações gerais: AMX, sexo feminino, 26 anos, psicóloga, natural e

procedente de Limoeiro do Norte (CE). Nega a existência atual ou pregressa de problemas de saúde, assim como o uso de medicamentos de rotina, com exceção do anticoncepcional. Nega

tabagismo, etilismo e o uso de substâncias ilícitas. Não possui nenhum grau de parentesco com o pai da criança.

Informações sobre os locais de moradia e a exposição aos agrotóxicos: desde o

nascimento, AMX mora na comunidade de Tomé, região cercada por plantações onde há uso de agrotóxicos, em poucas ocasiões residiu em outros locais. Refere que, na infância, quando possuía em torno de 10 anos, apresentou um quadro de lesões em placa, eritematosas e pruriginosas, localizadas principalmente nas regiões das pernas e genitália, que foi sugestivo de intoxicação cutânea por agrotóxicos (devido ao contato com a água contaminada da região do Tomé). No domicílio em que reside atualmente, não há plantação, porém é cercado por locais onde se faz rotineiramente a pulverização de agrotóxicos.

Informações sobre os locais de trabalho e a exposição aos agrotóxicos:

começou a trabalhar com 14 anos, no mercantil da família. Posteriormente, aos 23 anos, começou a trabalhar como psicóloga, inicialmente na cidade de Limoeiro (durante 10 meses), e, em seguida, na comunidade de Lagoinha, localizada em Quixeré (durante 2 anos e 10 meses), onde trabalha até o momento atual. Nega já ter trabalhado com a exposição direta a produtos químicos, inclusive agrotóxicos.

Pai da criança

Informações gerais: VLL, sexo masculino, 37 anos, natural e procedente de

Baraúna (RN), agricultor. Nega co-morbidades e o uso de medicamentos de rotina. Nega tabagismo e o uso de substâncias ilícitas. Refere etilismo.

Informações sobre os locais de moradia e a exposição aos agrotóxicos: nasceu

e viveu durante a maior parte da vida no município de Baraúna (RN), em uma zona rural cercada por plantações em que havia o uso de agrotóxicos. Nos arredores do sítio onde mora, há muitas empresas de fruticultura irrigada. Entre os anos 2011 e 2017, morou na região da Chapada do Apodi (CE), na comunidade de Tomé, retornando em abril de 2017 para o município de Baraúna (RN), onde vive até o presente momento.

Informações sobre os locais de trabalho e a exposição aos agrotóxicos: entre

os anos de 2007 e 2010, trabalhou em uma empresa de fruticultura (melão, banana, pimentão), no estado do Rio Grande do Norte, onde ocupava a função de “encarregado de galpão”. Relata que possuía um contato indireto com os agrotóxicos quando realizava a contagem das frutas na plantação, pois os agrotóxicos eram pulverizados à noite e a coleta ocorria na manhã seguinte. Notava a presença dos agrotóxicos nos produtos devido ao odor forte que exalava deles. Em 2010, saiu da empresa e começou um cultivo próprio de banana na região da Chapada do Apodi (CE). Relata que, anualmente, a partir de 2012, faz uso de agrotóxicos nas

plantações (mistura de óleo mineral com o produto comercial Opera - substância química: Epoxiconazol).

Exames complementares relevantes para o caso: a família não portava mais os

documentos médicos da criança, estamos tentando resgatá-los com a pediatra que acompanhava ISX.

Discussão sobre o caso

Trata-se do caso de uma criança com diagnóstico confirmado de telarca precoce (desenvolvimento das mamas estágio 2 de Tanner), que manifestou os sinais em uma idade muito inicial da vida. Conforme registramos na descrição do caso, a família toda apresenta histórico relevante de exposição ambiental aos agrotóxicos. Sobre o pai da criança (VLL), registramos o histórico de longa data de exposição aos agrotóxicos.

Apesar de VLL não ter lembrado dos nomes de todos os produtos aos quais já foi exposto ocupacionalmente, o mesmo referiu trabalhar, desde 2012, em contato direto com o ingrediente ativo Epoxiconazol (fungicida pertencente à classe toxicológica II – muito tóxico). Pesquisas demonstram que essa substância possui efeito de desregulação no sistema endócrino, caracterizando-se como um inibidor fraco de estrogênio endógeno. Além disso, inibe a enzima aromatase, diminuindo a produção de estrogênios e aumentando os andrógenos disponíveis (HURST; SHEAHAN, 2003; TROSKEN et al., 2004).

7.1.3 Discussão conjunta dos casos de puberdade precoce