• Nenhum resultado encontrado

CAPITULO III – FAMILIA NA PARCERIA DOS CUIDADOS

3.3. FAMÍLIA DA CRIANÇA

No que concerne à criança, a sua necessidade mais basilar, remete-se para a representação materna, que a alimenta, protege e ensina, assim como concebe um apego individual seguro, cooperando para um bom desenvolvimento da família e, consequentemente, para um bom desenvolvimento da criança. A família é, então para a criança, um grupo significativo de pessoas, de apoio, como os pais, os pais adoptivos, os tutores, os irmãos, entre outros. Aqui, a criança assume um lugar proeminente na unidade familiar, onde se sente segura. A nível do processo de socialização, a família assume, igualmente, um papel muito marcante, já que é ela que delineia e projecta o comportamento e o sentido de identidade da criança. Ao prosperarem próximas, família e criança, promovem a acomodação da família às carências da criança, delimitando áreas de autonomia, que a criança experiencia como separação.

Para Gedaly-Duff e Heims (2005) “Os cuidados centrados na família são uma abordagem de sistema amplo para cuidados de saúde infantil, baseada na ideia de que as famílias são a principal fonte de força e de apoio das crianças” (p. 262).

Qualquer que seja o tipo de família, esta possui uma história própria de vida, que se manifesta através de diferentes fases de desenvolvimento, quer dos indivíduos, quer da própria família, adaptando-se às mudanças.

Quando duas pessoas, homem e mulher, decidem ter um filho, inicia-se o ciclo vital da família, depois surge o momento do nascimento do primeiro filho. O nascimento deste filho vai ser gerador de alterações a nível individual e familiar, surgindo dois novos subsistemas: o parental e o filial. Isto implica uma reorganização da estrutura familiar, no sentido de se definir novos papéis parentais.

O nascimento do primeiro filho vai fazer com que a família estabeleça relações com o exterior, nomeadamente com as famílias de origem, que funcionam como apoio.

Consequentemente, surge a educação dos filhos e a socialização, visualizados através do subsistema parental, em que a criança aprende através dele, negoceia dentro do ambiente familiar, assim como se apercebe quais os comportamentos desejados e os

não desejados. Apesar do poder paternal, este não deve limitar a tomada de decisão da criança, deve respeitar, possibilitar e encorajar algumas atitudes e posturas de vida.

Com o nascimento de outros filhos, os interesses familiares são diferentes, reorganizam-se padrões e paralelamente aos subsistemas existentes cria-se um novo subsistema fraternal. A criança, nesta etapa, aprende a socializar com outras pessoas criando amigos e inimigos.

Com o desenrolar da vida e com estes subsistemas (conjugal, parental, filial e fraternal) da família, vão-se efectuando os diferentes momentos do seu desenvolvimento, de acordo com o ciclo vital da família

Mas o ciclo vital da família continua, e o seu desenvolvimento leva ao aparecimento de novos eventos que vão provocar mudanças e alterações na estrutura familiar.

Outra abordagem da criança na família é realizada, segundo o modelo de interacção familiar sendo que, Gedaly-Duff e Heims (2005) “O modelo de interacção familiar utiliza os conceitos de carreira familiar, desenvolvimento individual, e padrões de saúde, doença, e envolvimento da família face à doença” ( p. 262).

Este modelo provém da teoria de interacção simbólica e da teoria do desenvolvimento, fundamentado por George Herbert Mead (1934) referenciado por Hanson (2005). Orienta-se por interpretação e tomadas de posições face à saúde, doença e ao envolvimento familiar, sendo estes em parte incutidos pelo desenvolvimento familiar e individual.

As famílias que têm no seu seio membros adultos e pediátricos, tal como nos orienta o modelo do desenvolvimento familiar, (Barros, 2003) passam por diferentes estádios. Paralelamente ao desenvolvimento destes estádios por parte da família; dá-se também a passagem por vários estádios de desenvolvimento face aos seus membros. A perspectiva de desenvolvimento sugere que quer as famílias, quer os seus membros, se modificam no percurso de vida.

Tal como supra mencionado, o modelo de interacção familiar utiliza três alicerces de conceitos (Gedaly-Duff e Heims 2005).

 Carreira familiar que se baseia nas vivências activas de desenvolvimento da família face a determinados períodos da vida, interpretando as diferentes etapas e transições;

 Desenvolvimento individual características que se relacionam com as alterações sofridas ao longo das diferentes faixas etárias;

 Padrões de saúde, doença, e envolvimento da família face à doença estabelecendo as condutas desejadas nesta conjuntura.

A noção destes conceitos e as suas ligações permitem colaborar na compreensão do que pode ser a saúde e doença nas relações familiares.

A carreira familiar, para além de considerar o desenvolvimento do ciclo vital familiar, engloba também as diferentes transições, mudanças ao nível do sistema familiar (exemplo: divórcio, formação de novas famílias…) ou seja, as transições de desenvolvimento ao longo do percurso de vida não acontecem de uma forma linear. Por exemplo, a construção de uma família em que um dos cônjuges tem filhos e o outro pode nunca ter vivenciado o nascimento de uma criança e presenciado todos os estádios de desenvolvimento que lhe estão associados ou, então, uma família que tem no seu meio um dos seus filhos com alterações mentais em que o seu desenvolvimento não vai ser efectuado de uma forma sequencial.

A carreira familiar torna-se um meio vantajoso, permitindo-nos considerar os diferentes tipos de famílias, e a sua dinâmica funcional. Segundo Ausloos (1996) esta orienta-se pelas vivências das famílias.

O desenvolvimento individual é o segundo conceito do modelo de interacção familiar. Considerando que as famílias com filhos são constituídas por adultos e crianças, e face ao seu progresso familiar, é de considerar quer os aspectos inerentes ao progresso do adulto, assim como os relacionados com a criança fazendo o binómio fulcral para um saudável crescimento da família. Assim, alguns estádios de progresso da família estão interligados com o desenvolvimento individual de cada um dos seus constituintes e com as diferentes necessidades de prosperar do ser humano.

A terceira premissa do modelo de interacção familiar focaliza-se nos padrões de saúde, doença, e envolvimento da família face à doença. No que concerne à saúde a família adopta medidas de prevenção e promoção. No seu quotidiano elegem comportamentos que lhes permitem definir padrões de saúde para a família, em que o bem-estar físico, psíquico e emocional é fomentado quer por actividades de lazer, quer por medidas que previnem o aparecimento da doença (exemplo as vacinas), e desenvolvem ferramentas de protecção do agregado familiar e bem-estar da família. Todos os dias, as actividades paternais nutrem e socializam as crianças para se tornarem adultos saudáveis.

Uma das funções da família, é criarem filhos saudáveis, proporcionar-lhes um grau de instrução, inseri-los no meio social, protegê-los e cuidar deles, quando na presença da doença. As tarefas familiares diversificam-se desde a prestação de cuidados de saúde para manter o equilibro saudável para a criança, pois deste equilibro emerge um equilibro saudável para a família.

A família é a peça fundamental e determinante no bem-estar das crianças, e a promoção da sua saúde ocorre durante as actividades paternais. No entanto muitas famílias são assistidas na paternidade por outros cuidadores (avós, tios, infantários, escolas…) que ficam com as crianças e contribuem para o seu bem-estar.

As questões da saúde para as famílias com crianças são influenciadas pela dinâmica interactiva dos três princípios do modelo de interacção familiar. A avaliação deste modelo facilita desenvolver intervenções que ajudam as famílias a cuidar da saúde dos seus filhos.

Em caso de doença, pode-se considerar que são padrões anormais, não normativos, que implicam alterações físicas, sociais, económicas e familiares. Torna-se relevante valorizar as atribuições de significado às experiências de saúde e doença, durante o processo de desenvolvimento global. A valorização da componente emocional e diferenças pessoais, perante situação saúde - doença, as próprias crenças e atitudes expressas pelo meio familiar e cultural mais próximo, chamam atenção para os diferentes níveis de significação expressas pela mesma criança em situações diferentes.

A ideia que a criança tem da doença é, na maioria das vezes, influenciada pelos adultos, quer ao nível das diferentes dimensões, quer pelo seu próprio desenvolvimento cognitivo, quer por expectativas dos que lhe são mais próximos, quer ainda pelo que lhe é incutido pelas próprias crenças (Barros, 2003).

Crianças que vencem outros domínios da sua vida cognitiva, utilizam conceitos característicos do período pré-operatório, quando confrontadas com uma situação de doença ou de tratamentos assustadores.

O reconhecimento das significações na sua complexidade cognitiva e emocional ajuda a compreender o processo de interacção e determinação mútua entre pais e filhos. Ao longo da vida, e por vivências traumáticas, pais e filhos vão-se influenciando mutuamente nos processos de aquisição e transformação de significados sobre saúde e doença, sobre adesão aos tratamentos e sobre as melhores formas de confrontar a ansiedade, o stress e o sofrimento. Hanson (2005) “os pais muitas vezes precisam de cuidados especiais quando os seus filhos estavam a passar por procedimentos desagradáveis” (p. 262).

Se consideramos uma situação de hospitalização de uma criança, por vezes, as consequências negativas desta vivência estão associadas a outros factores de risco, tais como: ausência de experiências prévias positivas de separação, perturbação e carências básicas na família anteriores ao processo, ansiedade parental, a separação do ambiente familiar, a interrupção nos cuidados básicos por um adulto responsável. É de todo relevante que se efectue uma preparação prévia de uma situação que gera stress, de forma a se definirem conceitos e responsabilidades quer para os pais, quer para as crianças. Hanson (2005) “A hospitalização também causa stress e ansiedade nos pais das crianças doentes Melnyk (1998); Miles et al (1989); Tiedeman (1997) e nos irmãos Morrison (1997)” ( p. 261).

O envolvimento da família face à doença, segundo Hanson, (2005), citando Corbin e Strauss, (1988), “são os processos pelos quais as famílias passam a lidar com um problema de saúde ou doença, e os tratamentos médicos, que se tornam parte integrante das suas vidas diárias. Conforme a gravidade da doença, a família adopta comportamentos que adequa face a cada situação, e reorganiza-se para que os problemas sejam minimizados” (p. 270).

Neste contexto de doença surgem, muitas vezes, os avós que, sendo a base para a família nuclear, influenciam com os seus próprios valores, os valores que os pais têm no exercício da paternidade. Contudo, os avós durante uma situação de doença, servem de apoio para acompanharem as crianças com condições de segurança, proporcionando tanto às crianças como aos pais protecção e amparo.