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Projeção dos regimes de bens sobre a quota

Quem vota se houver usufruto sobre a quota? Vejamos este texto meu publicado na Revista de Direito Mercantil nº 142:

Também é perfeitamente admissível, no Direito pátrio, o usufruto de cotas ou de ações, pois é típico do usufruto que possa recair sobre os mais variados tipos de bens, desde os mais determinados até sobre universalidades.13 É extremamente comum a sua utilização nestes termos em acordos de separação, bem como a sua instituição por via testamentária, como forma de garantia de renda ao herdeiro, ou mesmo por ato inter vivos.

A primeira dúvida a se avizinhar sobre o usufruto de cotas é se há necessidade de autorização prévia do contrato social para a sua realização. Quanto às sociedades anônimas, consta a previsão expressa no art. 40 da Lei das S.A.

Arnoldo Wald,15 ainda sob a égide do Código anterior, defendeu a aplicação

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subsidiária da Lei das S.A. às limitadas. O Atualmente, não é mais tão simples a questão, pois o art. 1053, parágrafo único, do Código Civil, estabelece que o contrato social poderá prever a regência supletiva pela Lei das S.A; a contrário, se nada prever, não se pode aplicar o art. 40 da Lei das S.A.

Entretanto, não concluímos ab initio pela impossibilidade de constituição de usufruto sobre a cota no silêncio do contrato social. Se o direito do usufrutuário for encarado tão-somente no seu caráter frutuário, é possível a constituição do usufruto no silêncio do contrato, não se caracterizando, contudo, o usufrutuário como administrador dos bens, sendo inaplicável no caso o art. 1394 do Código Civil.

Entendemos que o controle, como regime de gestão contratual e patrimonial, é exceção natural ao princípio da livre disposição patrimonial — ademais, usufrutuário não é sócio, e não será, portanto, sujeito do controle, a não ser que motivo outro o justifique. Apenas é necessário ressalvar que o exercício do controle não pode embaraçar os direitos frutuários do usufrutuário, sob pena de abuso dos direitos decorrentes do controle.

Outra questão diz respeito ao exercício do direito de voto: entendemos que permanece com o acionista. Usufrutuário, como vimos, não deve exercer controle, de modo que a situação do usufruto de ações representa exceção ao art. 1394 do Código Civil. Ressalva-se apenas que o exercício desse direito é condicional, nos termos do art.114 da lei das S.A, que impõe o prévio acordo entre o nu-proprietário e o usufrutuário.

Aprofundando a questão, Luiz Gastão Paes de Barros Leães defende que “o poder de administrar não corresponde necessariamente ao poder de voto, já que o estatuto pode deixar de conferi-lo, ou conferi-lo com restrições a certa espécie de ação, e nem por isso priva o usufrutuário do direito de administrá-la. Por outro lado, o voto proferido em assembleia pode ultrapassar, e frequentemente ultrapassa a administração ordinária, afetando a estrutura da sociedade e modificando o conteúdo da ação, em desacato à sua substância, que remanesce com o proprietário. ”

Consideramos o argumento de grande definitividade; o poder de voto realmente tem abrangência muito distinta da mera administração; o que o legislador tentou evitar, mesmo que de modo em nosso entender imperfeito, foi o exercício do

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direito de voto que viesse a esvaziar os direitos do usufrutuário. Por isso a necessidade de acordo.

Arnoldo Wald, por outro turno, defende que o direito de voto deve ser exercido pelo usufrutuário, posição da qual discordamos. O autor, em ilações sobre a natureza do controle, conclui que o usufrutuário deve ser equiparado ao verdadeiro controlador, sendo o titular da ação um portador de direito futuro. Entendemos sua afirmação de que o controle é uma situação de fato; todavia, o controle não se confunde com o direito ao voto, que existe independentemente dele. Demais disso, o direito de voto, como brilhantemente observou Barros Leães, importa em jus abutendi, em direito de dispor, modificando o conteúdo da ação, o que é incompatível com o instituto do usufruto.

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