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Família e Escola: a primeira e a segunda casa 3.2.4

No documento Rumo que um dia escolhi... (páginas 39-43)

“A família e a escola são parceiros na educação”.

(Estanqueiro, 2012, p.11)

A criança começa a estabelecer os primeiros vínculos antes de entrar na escola com aqueles que lhe são mais próximos, que lhes fornecem cuidados e estímulos para o seu crescimento. Assim, a família surge como o principal e primeiro habitat

socializante que lhe transmite um variável conjunto de conteúdos, hábitos, normas e estruturas (Diogo,1998). É no seio familiar que cada indivíduo encontra normas, onde aprende a viver, a ser e a estar em sociedade.

O conceito de família sofre profundas alterações com as variações a nível económico, social, político e cultural que a sociedade tem sofrido (Leandro, 2001).

Alguns dos principais fundamentos teóricos associados à evolução e à mudança levaram ao estabelecimento de diferentes conceções de família, de novos valores, construindo uma história de vida que não se pode replicar. As transformações levaram, assim, a alterações na família. A família deixou de ser um modelo tradicional prevalente, aparecendo novas formas de organização familiar (Dias, 2011). O divórcio e a entrada da mulher no mundo do trabalho, este último implica menos tempo por parte da mãe para com a criança, são fatores que, segundo Diogo (1998), justificam as alterações familiares de hoje.

Hoje em dia a conceção de família como “pais e filhos, que convivem no lar familiar sem outros parentes” (Gimero, 2001, p.43) já não é a realidade de todas as crianças. Em meios socioeconómicos mais complexos, verifica-se que muitas crianças vivem com avós, tios, irmãos e muitas vezes companheiros dos mesmos, o que leva ao romper do modelo tradicional de família dando lugar a outros modelos de organização família (Gonçalves, 2003).

Perante a multiplicidade de estruturas familiares que hoje estruturam a nossa sociedade, torna-se complexo encontrar uma única definição de família. Contudo, seja qual for o modelo de família, esta é sempre um conjunto de pessoas consideradas como uma unidade social onde se estabelecem relações entre os seus membros e o meio que os rodeia sendo um sistema dinâmico. A mesma desempenha funções importantes na sociedade, por exemplo, o afeto, a educação, a socialização e a função reprodutora do ser humano (Dias, 2011).

Apesar de todas as dificuldades, a família é “vulgarmente considerada o núcleo central do desenvolvimento moral, cognitivo e afetivo, no qual se “criam” e

“educam” as crianças, ao proporcionar contextos educativos indispensáveis para cimentar a tarefa de construção de uma excelência própria” (Diogo, 1998, p.37).

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A partir de um certa idade, as crianças começam a fazer parte de uma segunda casa: a escola.

Ao longo do tempo, a instituição educativa foi ganhando cada vez mais cedo protagonismo no seio das famílias, e consequentemente, das crianças tornando-se um complemento cognitivo, emocional e afetivo tal como a estrutura familiar. Esta é uma das razões pela qual escola e famílias devem desenvolver um relacionamento recíproco e constante de cooperação e colaboração para que se propiciem às crianças melhores contextos de aprendizagem (Diogo, 1998). Muitas vezes, o insucesso escolar está diretamente relacionado com a estrutura familiar do estudante e por isso se torna indispensável a necessidade de se conhecer a família e toda a sua estrutura para que se compreendam atitudes e comportamentos da criança (Nogueira, 2005). Uma conversa entre a família e a escola poderá delinear estratégias, em conjunto, que favoreçam a criança no seu todo como ser humano.

Segundo os Direitos da Criança a família é: “elemento fundamental da sociedade e meio natural para o crescimento e bem-estar de todos os seus membros e em partícula das crianças” (Convenção sobre os Direitos da Criança, Preâmbulo). Os docentes surgem como colaboradores no sentido que promovem o desenvolvimento da criança, dos seus talentos e aptidões mentais e físicas, dentro das suas potencialidades (Convenção sobre os Direitos da Criança art. 29º, ponto 1alínea a).

Houve alterações ao longo do tempo sobre este caráter de cooperação entre a família e a escola, sendo o 25 de abril de 1974 o seu grande marco. Em 1976 consagra-se a necessidade de cooperação entre o Estado e as famílias (Diogo, 1998).

Até ao final dos anos 70 foram dados passos importantes, neste âmbito, sendo criada e regulamentada a Associação de Pais que comporta um carater crucial na relação escola-família (Barbeiro & Vieira, 1996).

Em 1986, com a entrada em vigor da LBSE (Lei nº 46/86, de 14 de Outubro), a família ganha um maior espaço na vida escolar. Este documento evidencia a importância de articular a família com a escola: “Proporcionar no processo de informação e orientação educacionais em colaboração com as famílias” (Lei nº 46/86, de 14 de Outubro, artigo 7º).

O regulamento do Conselho Pedagógico concede à relação escola-família o Conselho de Diretores de Turma e os Diretores de Turma como as principais estruturas de orientação educativa, esperando que esses sejam a ponte entre estas duas casas responsáveis pela socialização da criança (Diogo, 1998).

Hoje em dia é evidente o esforço legal para fomentar a participação da família na escola, mas nem sempre é fácil aplicar estes esforços em todos os contextos educativos. Há pais que, embora manifestem vontade de participar na vida escolar dos seus educandos, muitas vezes não aceitam a intervenção da escola no seu seio familiar pois assumem-na como intrusa em assuntos familiares (Musitu, 2003). Por outro lado, ouvimos professores dizerem que os encarregados de educação não aparecem na escola mesmo convocados pelos mesmos a reuniões de avaliação ou por motivos particulares dos seus educandos. Deste modo, o sucesso educativo dos estudantes só é possível com a participação ativa de todos e em que nenhum elemento substitui o outro. Todos os incentivos, elogios e reforços positivos são estimulantes para a criança no seu percurso escolar, muito mais quando provém de pessoas que os estudantes admiram: pais ou professores, como tal o envolvimento da família em projetos e atividades desenvolvidas na escola só trará uma maior segurança às crianças (Estanqueiro, 2012).

O aumento da taxa de sucesso escolar e a diminuição de abandono escolar estão intimamente ligadas às interações estabelecidas entre a escola e a família, sendo o ponto-chave na melhoria da qualidade do ensino português (Diogo, 1998).

Resumindo, para que toda a criança se torne um adulto ativo e capaz de agir nas diversas situações a que a sociedade o expõe, de forma autónoma, responsável e crítica, é fundamental que a ligação entre estas duas “casas” educativas, escola e família, seja reforçada por parte do sistema legal, de um modo macro, mas também por cada docente, de um modo micro, fazendo o docente a diferença no contexto em que aplica estas ideias.

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O professor como agente reflexivo e investigador na ação

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