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Discurso, le discours. Como afirmamos, uma palavra materializou o fantasma de Barthes: ela atravessa os Problemas, sendo matizada, experimentada, redefinida. Aparece em alguns artigos, é

mencionada em conferências, mas seus limites nunca foram absolutamente definidos por Benveniste. A noção vai sendo explorada ao longo desses textos, que vão da década de 1930 a 1970, até se tornar sinônimo de enunciação (FLORES & TEIXEIRA, 2009) – termo que se tornou sobremaneira conhecido especialmente pelo texto ―O aparelho formal da enunciação‖ (1970), que consta nos Problemas de Linguística Geral II, de 1974.

―Discurso‖ e ―enunciação‖ vão sendo utilizados sem o extremo rigor (às vezes até entediante de alguns linguistas com fervor terminológico) e vão sendo ensaiados e definidos à medida que Benveniste formula suas noções (FENOGLIO, 2010). Na verdade, os primeiros textos, isto é, os que constam nos Problemas de Linguística Geral I trazem majoritariamente o termo ―discurso‖ com a formulação a que visamos aqui. Tanto é que Barthes anota nos manuscritos do ―Seminário sobre a Retórica‖, de 1965-1966, o seguinte:

Ora Benveniste: frase: limite linguístico, pois além: puro predicativo (enquanto que na frase: tema e predicado). Além da frase: o tema está fora da linguagem, está no discurso e na sua situação – De onde vem a necessidade de uma nova linguística: Translinguística (Retórica), cujo objeto é o discurso. (Fonds RB NAF 28630, folio 6)20 (grifo nosso)

Vemos que Barthes percebe a relação entre frase e discurso. Com ela, entra-se em um novo domínio, ele aprende com Benveniste no artigo ―Os níveis da análise linguística‖. Eis aí o encontro fundamental: buscando a escritura, Barthes encontra intuitivamente a frase, sem ainda saber que ela é a instância total do discurso; com Benveniste, ele tem as ferramentas para tal, pois foi com ele que encontrou a palavra para materializar seu fantasma.

Nesse texto, o linguista inicia justificando o procedimento metodológico utilizado na linguística, a saber, a distinção de ―níveis‖. Ora, só a noção de nível, diz Benveniste, ―pode fazer-nos reconhecer, na complexidade das formas, a arquitetura singular das partes e do todo‖ (BENVENISTE, 2005, p. 127).

Partindo dos níveis mínimos, gradativamente Benveniste vai subindo aos níveis superiores, sempre a partir do princípio dos traços distintivos – isto é, os merismas. Assim vai-se dos fonemas aos morfemas, dos morfemas aos lexemas (ou às palavras, como afirma Benveniste) e desses às

20 "Or Benveniste : phrase : seuil linguistique, car au-delà : pur prédicatif (alors que dans la phrase : thème et prédicat).

Au-delà de la phrase : le thème est au bien hors du langage, au bien dans le discours et sa situation – D‘où nécessité d‘une nouvelle linguistique : Translinguistique (Rhétorique), dont l‘objet est le discours" (Fonds RB NAF 28630, folio 6).

frases. A maneira pela qual as palavras integram a unidade superior, isto é, a frase, é que é singular. O fato é que a frase não pode ser definida em termos de soma de todas as palavras que a constituem, diferentemente do que ocorre nos níveis inferiores. Isso decorre da significação que cada palavra tem e que é distinta da significação que o todo da frase instaura. Isso se deve ao fato de que a frase, em seu entendimento, não participa somente do sistema da língua, mas avança em direção ao discurso:

Os fonemas, os morfemas, as palavras (lexemas) podem contar-se; existem em número finito. As frases, não.

Os fonemas, os morfemas, as palavras (lexemas) têm uma distribuição no seu nível respectivo, um emprego no nível superior. As frases não têm nem distribuição nem emprego.

Um inventário dos empregos de uma palavra poderia não acabar; um inventário de empregos de uma frase não poderia nem mesmo começar.

A frase, criação indefinida, variedade sem limite, é a própria vida da linguagem em ação. Concluímos que se deixa com a frase o domínio da língua como sistema de signos e se entra num outro universo, o da língua como instrumento de comunicação, cuja expressão é o discurso. (BENVENISTE, 2005, p. 139)

Nessas frases saborosas do linguista, vemos realmente como a frase é de ordem distinta dos outros níveis da língua. Ela revela por seu próprio agenciamento um traço do sujeito que as enuncia. A partir de elementos comuns e repetidos (fonemas, morfemas, lexemas), a frase rompe uma fronteira que extrapola a repetição e o controle. Enquanto aqueles elementos participam do sistema da língua, a frase acena com seu caráter único e particular, como lemos em uma distinção apresentada por Benveniste em ―Observações sobre a função da linguagem na descoberta freudiana‖:

A língua fornece o instrumento de um discurso no qual a personalidade do sujeito se liberta e se cria, atinge o outro e se faz reconhecer por ele. Ora, a língua é uma estrutura socializada, que a palavra sujeita a fins individuais e intersubjetivos, juntando-lhe assim um perfil novo e estritamente pessoal. A língua é um sistema comum a todos; o discurso é ao mesmo tempo portador de uma mensagem e instrumento de uma ação. Nesse sentido, as configurações da palavra são cada vez únicas, embora se realizem no interior – e por intermédio – da linguagem. Há, pois, antinomia no sujeito entre o discurso e a língua. (BENVENISTE, 2005, p. 84) Quando do uso da língua pelo sujeito, entra-se no espaço do discurso. Esse é sempre situacional, ligado a configurações e ocorrências únicas, ainda que realizado por meio dessa estrutura

socializada que é a língua. O discurso é sempre esse espaço em que o sujeito se realiza, se apresenta e se cria. Não é insignificante o fato de todas as considerações transcritas acima dizerem respeito ao texto sobre a linguagem na análise de Freud e Lacan. Nele, Benveniste aponta como o espaço analítico se constitui a partir dessa criação do sujeito através de sua própria fala. É por meio do que ele diz ao analista, e não exatamente pelo caráter de verdade/ficção que todo o seu dito encerra, que se pensa o processo de constituição da imagem de si pelo analisando. É seu discurso, ou seja, o exercício da língua realizado por um sujeito particular, dentro de uma situação única e constitutivamente intersubjetiva que interessa.

É justamente por todos os elementos apresentados acima que a frase é reconhecida como espaço do discurso: ―A frase pertence bem ao discurso. É por aí mesmo que se pode defini-la: a frase é a unidade do discurso‖ (BENVENISTE, 2005, p. 139), Benveniste afirma em ―Os níveis da análise linguística‖. Ora, é por esse movimento de colocar a língua em atividade por um sujeito, que se diz – por meio de frases –, que se representa e tem uma imagem de si a partir das frases mesmas, que o discurso se funda. Vejamos em mais uma passagem como Benveniste reformula a noção de discurso, adicionando a ela mais uma nuance entre língua e discurso, no artigo ―A Natureza dos pronomes‖:

É essa propriedade [o exercício da linguagem] que fundamenta o discurso individual, em que cada locutor assume por sua conta a linguagem inteira. O hábito nos torna facilmente insensíveis a essa diferença entre linguagem como sistema de signos e a linguagem assumida como exercício pelo indivíduo. Quando o indivíduo se apropria dela, a linguagem se torna em instâncias do discurso, caracterizadas por esse sistema de referências inteiras cuja chave é eu, e que define o indivíduo pela construção linguística particular de que ele se serve quando se enuncia como locutor. (BENVENISTE, 2005, p. 281) (grifo nosso).

Em relação à nuance adicionada pelo linguista, fazemos referência à ideia de ―instâncias de discurso‖: o espaço da frase é entendido como espaço do discurso, que Benveniste vai chamar de primeiramente de ―instâncias de discurso‖ (e, posteriormente, de discurso e enunciação). A ele se vincula automaticamente um ―eu‖ que se serve do sistema de signos da língua pela apropriação. Essa noção é que cria uma espécie de passagem entre língua e discurso. Juntamente com a ideia de exercício, o locutor tem o poder de assumir ―por sua conta a linguagem inteira‖ e é disso que se trata a apropriação: valendo-se de um sistema abstrato, que é a língua enquanto sistema de signos, o sujeito dele se apropria, se individualiza, enfim, assume a linguagem como exercício individual ao produzir seu discurso.

Para Barthes, o encontro oportuno com a noção de Frase, discurso ou enunciação pode tê-lo ajudado a conformar seu pensamento sobre a escritura como produção, pois a Frase, para Benveniste, desloca as noções puramente gramaticais do fato linguístico ao inserir produtividade à tal noção. Laurent Mourey contrasta as noções de Frase de Benveniste e a da gramática normativa, citando a Grammaire méthodique du français e a definição dada por Jean Dubois e André Lagane:

Portanto esse ponto de vista implica uma teoria do todo e um método de análise que transborda largamente uma definição de frases como ‗sequência de palavras ordenadas de um certo modo, que estabelecem entre si certas relações, isto é, que respondem a certas regras de gramática e que tem um certo sentido‘. De fato, esse tipo de definição impõe uma perspectiva estática da linguagem e da língua: a linguagem provindo sobretudo de um código linguístico, da competência do locutor em respeitar o uso através da aplicação de regras.21 (MOUREY, 2009, p. 58)

Para tal concepção da frase como sequência de palavras ordenadas segundo a aplicação de regras, o fato linguístico tem caráter apenas normativo. Também é um tipo de definição escolar, que descarta o aspecto produtivo, dinâmico, inédito e sempre particular que constitui a apropriação do sistema da língua pelo sujeito e que caracteriza a noção de enunciação de Benveniste. ―Neste sistema, a frase aparece como alavanca maior, a frase, que por ser ligada 'às coisas da língua' não é nada menos do que a atividade mesma em linguagem do locutor nesta língua.‖22 (MOUREY, 2009, p. 56).

A ênfase no aspecto da apropriação e no caráter de atividade que Benveniste insere na sua concepção é fundamental para promover uma visada absolutamente distinta do olhar puramente gramatical.

Mourey afirma que tal proceder pode ser compreendido porque Benveniste não pensa apenas a forma e o sentido, mas ―‗formas de vida‘ nas e pelas ‗formas de linguagem‘‖ (MOUREY, 2009, p. 56). Ora, é um pensamento que se constitui pela noção de que a língua serve para viver, que está fundamentalmente atrelada à criação de significação e de mais vida:

A frase, criação indefinida, variedade sem limite, é a própria vida da linguagem em ação. Concluímos que se deixa com a frase o domínio da língua como sistema de signos e se entra num outro universo, o da língua como instrumento de comunicação, cuja expressão é o discurso. (BENVENISTE, 2005, p. 139)

21 ―Alors ce point de vue implique une théorie d‘ensemble et une méthode d‘analyse débordant largement une définition

des phrases comme « suites de mots ordonnés d‘une certaine manière, qui entretiennent entre eux certaines relations, c‘est-à-dire qui répondent à certaines règles de grammaire et qui ont un certain sens ». En effet ce type de définition impose une statique du langage et de la langue : le langage procédant davantage du code linguistique, de la compétence du locuteur à en respecter l‘usage au travers de l‘application des règles.‖ (MOUREY, 2009, p. 58).

22 ―Dans ce système, la phrase apparaît alors comme le levier majeur, la phrase qui pour être liée ‗aux choses de la langue‘

O dinamismo, a produtividade e o caráter sempre particular da frase concorrem para compreendê-la nesse espaço que liga a vida à língua: ambas são perenes, sempre renovadas, têm no presente seu modo absoluto de criação e realização. Esses elementos certamente ecoam na produção de Barthes, como veremos na Parte III.

Com esse dinamismo é que também pretendemos nos valer das noções de Benveniste em relação à Frase, discurso e enunciação. Sabemos que elas apresentam diferenças entre si, mas é do contínuo entre elas de que nos valeremos. Benveniste foi elaborando tal noção durante um longo período de produção, sendo que a noção de discurso antecede o uso do termo ―enunciação‖. Há, sem dúvida, uma proximidade da noção de ―instâncias de discurso‖ (em ―A natureza dos pronomes‖, de 1956) e a noção de enunciação proposta formalmente em 1969, em ―O aparelho formal da enunciação‖ (ENDRUWEIT & FLORES, 2012, p. 205). No entanto, tal ―como a própria enunciação preconiza: nada é perene. Em decorrência desse fato, não há apenas um único conceito do termo discurso na obra de Benveniste e tal fato é definidor para o entendimento da teoria‖ (ENDRUWEIT & FLORES, 2012). Compreendendo essas diferenças, vamos nos valer do aspecto produtivo que todas as noções têm, e utilizaremos de modo leve ora discurso, ora enunciação.

Enquanto tratávamos da noção de discurso em relação à frase, outros pontos fundamentais do trabalho benvenistiano entraram em cena, como a ideia de língua e a noção de sujeito. Deve-se ter em mente que a própria fortuna crítica do linguista assume a dificuldade de tratar um aspecto sem adentrar outras questões, como lemos adiante:

Em suma, pensamos que a teoria de Benveniste precisa ser lida como uma complexa rede de termos, definições e noções que estão interligados entre si através de relações hierárquicas (...), paralelas, transversais, entre outras. (...) Admitido este raciocínio, pode-se dizer que é difícil, nesta teoria, estudar-se um elemento isolado de outro. (ENDRUWEIT & FLORES, 2012, p. 201)

Desse modo, a menção a uma noção específica encaminha para algumas definições que, por sua vez, geram uma série de outras associações. A ―complexa rede de termos‖ puxa um termo, que puxa outro e outro: frase, discurso, língua, sujeito, apropriação, eu, exercício da linguagem, e assim por diante. O fato é que o sujeito é quem efetua a passagem entre língua e discurso, uma vez que ele apenas é o responsável por colocar em exercício a linguagem. Nesse sentido, acabamos retomando a discussão acerca da introdução do sujeito na linguística operada por Benveniste, apresentada no

tópico ―Em torno dos Problemas de Linguística Geral I – 1966‖. Em sua compreensão, a noção de sujeito, tanto filosófica quanto psicológica, torna-se fundamental no pensamento da língua, porque ele é quem se apropria desse sistema e o atualiza a cada vez por meio de suas frases. Pensar a instância do discurso é, inevitavelmente, pensar a subjetividade em relação à língua. A seguinte passagem de Benveniste, extraída do artigo ―Da subjetividade na linguagem‖, aclara o que acabamos de dizer:

É na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito. A subjetividade de que tratamos aqui é a capacidade do locutor para se propor como sujeito. Define-se não pelo sentimento que cada um experimenta de ser ele mesmo (esse sentimento, na medida em que podemos considerá-lo, não é mais que um reflexo) mas como a unidade psíquica que transcende a totalidade das experiências vividas que reúne, e que assegura a permanência da consciência. Ora, essa ‗subjetividade‘, quer a apresentemos em fenomenologia ou em psicologia, como quisermos, não é mais que a emergência no ser de uma propriedade fundamental da linguagem. É ‗ego‘ quem diz ego. Encontramos aí o fundamento da ‗subjetividade‘ que se determina pelos status linguístico da ‗pessoa‘. (BENVENISTE, 2005, p. 286) A partir de seus estudos comparativos, Benveniste conclui que todas as línguas possuem pronomes.23 Isso o leva à admissão de que a noção de pessoa, instaurada a partir dos pronomes, é

universal. Pela emergência dessa subjetividade, instaurada pela e na língua, institui-se automaticamente a intersubjetividade, que é a necessidade de se tomar um outro como alocutário. Assim, pois, é que ele postula que a noção de sujeito atinge sua unidade psíquica nos quadros da língua quando aquele que diz ―ego‖ (eu ou je, ich, I, Io, Jo etc.) se endereça a outro sujeito, tomando-o por você (tu/vous, du/Sie, you, tu, tu/usted etc.). Muito menos pela sensação de ser quem se é do que pela permanência da consciência, assegurada pela unidade psíquica instituída através da noção de ―ego‖ e de ―outro‖, é que o homem constitui-se como sujeito. Ora, ainda em ―Da subjetividade na linguagem‖, lemos:

A consciência de si mesmo só é possível se experimentada por contraste. Eu não emprego eu a não ser dirigindo-me a alguém, que será na minha alocução um tu. Essa condição de diálogo é que é constitutiva da pessoa, pois implica reciprocidade – que eu me torne tu na alocução daquele que por sua vez se designa por eu. Vemos aí um princípio cujas consequências é preciso desenvolver em todas as

23 ―É notável o fato – mas, familiar como é, quem pensa em notá-lo? – de que entre os signos de uma língua, de qualquer

tipo, época ou região que ela seja, não faltam jamais os ‗pronomes pessoais‘. Uma língua sem expressão de pessoa é inconcebível.‖ (BENVENISTE, 2005, p. 287).

direções. A linguagem só é possível porque cada locutor se apresenta como sujeito, remetendo a ele mesmo como eu no seu discurso. Por isso, eu propõe outra pessoa, aquela que, embora seja exterior a ‗mim‘, torna-se meu eco – ao qual digo tu e que me diz tu. (BENVENISTE, 2005, p. 286)

Vemos, portanto, através da rede complexa de termos que Benveniste inventaria, que a noção de sujeito está absolutamente vinculada à ideia de discurso, uma vez que esse é instituído quando um falante se toma por eu e instaura um outro perante o qual vai atualizar o sistema da língua. Em ―Estrutura das relações de pessoa no verbo‖, ele aponta que essa relação entre o eu e o tu, esta correlação de subjetividade é fundamental para a instituição do discurso. Coisa diferente se passa com a noção de pessoa, ou a correlação de pessoalidade, outro termo que emerge dessa rede tramada por Benveniste. Ora, se eu e tu são admitidos como pessoas do discurso porque são ontologicamente constitutivos do diálogo (mesmo no monólogo, concebe-se a instauração de um tu, ainda que ausente), a terceira pessoa efetivamente não o é: ele (il, he, er, lui, él) é na verdade a não-pessoa, uma vez que está sempre ausente do quadro do discurso.

Da rede complexa, vislumbramos uma parte essencial, da qual decorrem outros termos transversais. Em relação ao discurso, sendo a subjetividade o ponto essencial, outros índices emergem dessa relação, como lemos em ―Da subjetividade na linguagem‖:

Os pronomes pessoais são o primeiro ponto de apoio para esta atualização da subjetividade na linguagem. Desses pronomes dependem por sua vez todas as outras classes de pronomes que compartilham o mesmo estatuto. São os indicadores da dêixis, demonstrativos, advérbios, adjetivos que organizam as relações espaciais e temporais em torno do ‗sujeito‘ tomado como referência: ‗isto, aqui, agora‘ e suas numerosas correlações: ‗aquilo, ontem, o ano passado, amanhã‘.

Qualquer que seja a língua, constatamos em todos os lugares também certa organização linguística da noção de tempo. Pouco importa que esta noção seja marcada na flexão de um verbo ou por palavras de outras classes (partículas, advérbios; variações lexicais, etc.), isso é questão de estrutura formal. De uma maneira ou de outra, uma língua distingue sempre o ‗tempo‘. (…) a linha em comum é uma referência ao presente. (BENVENISTE, 2005, pp. 288-289)

Estruturado ao redor do sujeito que funda a instância do discurso, emergem marcadores de espaço e tempo, quais sejam: demonstrativos, advérbios, adjetivos, verbos, variações lexicais etc. Qualquer um desses se organiza em referência ao sujeito que se enuncia, flexionando, concordando

com ele. Tendo em mente que é sempre a partir do presente que as relações são instituídas, uma vez que é sempre no presente que se fala, esse tempo é por excelência o tempo da instância do discurso. Passado e futuro são, portanto, decorrentes desse ―presente eterno‖, de onde se concebe o exercício da linguagem.

De modo bastante breve, apresentamos as bases da noção de discurso que perpassa os Problemas de Linguística Geral I. Esses elementos serão melhor desenvolvidos à medida que forem evocados por Barthes, a partir das fichas do seminário 65-66, momento em que seu fantasma aponta para ele com o dedo.

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