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Capítulo 2 – Farmácia Hospitalar

6. Farmácia Clínica

“A farmácia clínica é um conceito que transforma a farmácia hospitalar de fabricante e dispensador de medicamentos, para uma intervenção farmacêutica baseada no doente e na melhor maneira de lhe dispensar os cuidados farmacêuticos com os menores riscos possíveis” [3].

6.1. Acompanhamento da visita médica

Atualmente a visita médica é efetuada por uma equipa multidisciplinar, que visa reunir em si o maior conhecimento possível com o intuito de beneficiar o doente e a sua rápida recuperação. Neste âmbito, a equipa é composta pelos vários profissionais que prestam cuidados de saúde hospitalares, como os médicos, os farmacêuticos e os enfermeiros, sendo que, pelo menos uma vez por semana, estes elementos realizam uma visita aos doentes com o objetivo de avaliar a evolução do estado destes e determinar em um ambiente multidisciplinar qual a melhor opção a tomar para o benefício do doente. Neste contexto, o farmacêutico hospitalar é cada vez mais um elemento essencial à composição destas equipas. Enquanto profissional do medicamento o farmacêutico deve disponibilizar os seus conhecimentos em matérias relacionadas com a terapêutica instituída ao doente, tomando uma posição critica e fundamentada sobre qual a posologia, forma farmacêutica ou via de administração são as mais indicadas para o doente. Além disso, o farmacêutico também deve estar atento para a deteção de RAM ou de interações medicamentosas, assim como verificar se a utilização de antibióticos é justificada e se estes estão a ser corretamente utilizados. Durante o estágio, tive a oportunidade de acompanhar uma farmacêutica na visita médica ao serviço de ortopedia. Esta iniciou-se com a reunião dos profissionais de saúde que constituem a equipa no serviço em questão, seguindo-se a visita individual a cada doente, onde os médicos apresentam a história clínica de cada doente assim como evolução do seu estado clínico ou novos dados relevantes. O farmacêutico anota dados relativos ao seu campo que sejam pertinentes de ser analisados, intervindo quando seja necessário e em benefício do doente. Terminada a visita o farmacêutico reúne-se com o enfermeiro-chefe e em conjunto fazem uma revisão da terapêutica do doente, realizando ajustes onde estes sejam apropriados. Um exemplo de ajustes que testemunhei foi a troca da via de administração de um doente que estava a receber medicação por via venosa, quando poderia estar a fazer a mesma por via oral. Ainda durante a visita médica houve uma questão médica relacionada com o medicamento Ibustrim® que um doente, recentemente internado, trazia de casa com receita do médico de família. A farmacêutica indicou que o medicamento em questão era um antiagregante plaquetário, pelo que na eventualidade de ser necessária cirurgia, o mesmo teria de ser suspenso, por norma pelo menos 8 dias prévios ao procedimento.

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6.2. Ensaios Clínicos

A Lei n.º 21/2004, de 16 de abril, define «Ensaio clínico» como "qualquer investigação conduzida no ser humano, destinada a descobrir ou verificar os efeitos clínicos, farmacológicos ou os outros efeitos farmacodinâmicos de um ou mais medicamentos experimentais, ou identificar os efeitos indesejáveis de um ou mais medicamentos experimentais, ou a analisar a absorção, a distribuição, o metabolismo e a eliminação de um ou mais medicamentos experimentais, a fim de apurar a respetiva segurança ou eficácia" [26].

Infelizmente, os ensaios clínicos que estavam a decorrer na ULSCB, terminaram durante a minha primeira semana de estágio e como tal não tive a oportunidade de entrar em contato com esta vertente na farmácia hospitalar. Apesar de tudo, pude constatar que no HAL, por norma os SF selecionam dois farmacêuticos para participarem nos EC, um deles é a Dra. Rita Gardete, que é a farmacêutica designada para acompanhar estes estudos e o outro é por norma, o farmacêutico responsável pelo serviço clínico onde sobre o que irá incidir o ensaio. Durante o decorrer do EC, o farmacêutico hospitalar tem à sua responsabilidade os medicamentos experimentais, destinados à utilização no EC, cabendo-lhe a tarefa de controlar e monitorizar o circuito destes medicamentos, sendo diretamente responsável, pela sua receção, armazenamento, preparação, distribuição e devolução/destruição. Além disso, os SF devem também elaborar um documento descritivo do circuito destes medicamentos assim como manter registos detalhados sobre o mesmo [26].

6.3. Farmacovigilância

“Farmacovigilância é a atividade de saúde pública que tem por objetivo a identificação, quantificação, avaliação e prevenção dos riscos associados ao uso dos medicamentos em comercialização, permitindo o seguimento dos possíveis efeitos adversos dos medicamentos” [27].

Todos os profissionais de saúde, são parte integrante do Sistema Nacional de Farmacovigilância, tendo o dever de notificar todas as reações adversas que ocorram do uso de medicamentos. Neste circuito o papel do INFARMED, passa pelo acompanhamento, coordenação e aplicação do SNF [3]. Neste âmbito, o farmacêutico hospitalar, pelas particularidades do ambiente em que se encontra inserido, onde os doentes são constantemente monitorizados por profissionais de saúde, tendo controladas a sua alimentação, terapêutica e o estado clínico, faz com que a deteção e identificação de RAM, assim como a sua rastreabilidade ao agente causador seja mais precisa e eficaz. Além disso, as caraterísticas já referidas do ambiente hospitalar ajudam ainda a que os erros na

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administração de medicamentos sejam menores, assim como diminuem a existência de casos de automedicação que possam dificultar a identificação de RAM. Desta forma, o farmacêutico hospitalar, enquanto profissional do medicamento está particularmente capacitado para a realização desta tarefa de saúde pública.

A notificação de uma RAM deve ser comunicada ao SNF, através do preenchimento do formulário em papel (ANEXO IX) ou informaticamente através do “Portal RAM – Notificação de Reações Adversas a Medicamentos11”, para que o SNF possa avaliar o caso. Para que uma

notificação seja válida é necessário fornecer 4 informações consideradas indispensáveis, a reação adversa em questão, a dentificação do medicamento ou medicamentos suspeitos, os dados do doente, os dados de contato do notificador. Para facilitar a avaliação do caso devem ser incluídos o maior número de dados possível na notificação.